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Eneagrama: Tipo Quatro – O Individualista

  • Foto do escritor: 16MM
    16MM
  • 25 de ago. de 2019
  • 41 min de leitura

Atualizado: 19 de ago. de 2020

O tipo sensível e retraído: Expressivo, Dramático, Ensimesmado e Temperamental


  • Medo fundamental: O de não ter nenhuma identidade, nenhuma importância pessoal.

  • Desejo fundamental: Ser capaz de encontrar a si mesmo e a sua importância como pessoa; criar uma identidade a partir de sua experiência interior.

  • Mensagem do superego: “Você estará num bom caminho se for fiel a si mesmo”.


As pessoas do Tipo Quatro costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Dois, Um ou Nove. As dos Tipos Um, Seis e Cinco costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Quatro.


Chamamos este tipo de personalidade de o Individualista porque seus representantes mantêm a própria identidade vendo-se como diferentes dos outros. Eles acham que são distintos dos demais seres humanos e que, por isso, ninguém pode entendê-los ou amá-los adequadamente. Muitas vezes, veem-se como pessoas de raro talento, dotadas de qualidades ímpares, mas também de defeitos ou desvantagens igualmente únicos. Mais que qualquer outro, o Tipo Quatro percebe e concentra-se nas próprias diferenças e deficiências.

Seus representantes mais saudáveis são honestos consigo mesmos: reconhecem seus sentimentos e assumem suas próprias motivações, contradições e problemas emocionais sem negá-los nem dourá-los. Nem sempre eles gostam do que descobrem em si mesmos, mas não tentam racionalizar o que sentem nem escondê-lo de si ou dos outros. São pessoas que não têm medo de ver-se como realmente são: as mais saudáveis estão dispostas, inclusive, a revelar coisas mais particulares e até vergonhosas, pois querem conhecer a verdade de suas experiências para descobrir quem são e aceitar sua história emocional. Essa capacidade lhes permite resistir ao sofrimento com uma força serena. A familiaridade que têm com seu próprio lado sombrio torna-lhes mais fácil que para os representantes de outros tipos a assimilação de experiências penosas.

Entretanto, as pessoas do Tipo Quatro frequentemente afirmam que sentem faltar-lhes alguma coisa, embora não saibam exatamente o que é. Seria força de vontade? Facilidade no trato social? Autoconfiança? Tranquilidade emocional? Tudo isso elas veem nos outros, aparentemente até de sobra. Quando pensam mais a respeito disso, essas pessoas geralmente reconhecem uma certa insegurança quanto a aspectos de sua auto-imagem – sua personalidade ou eu egoico. Elas creem que lhes falta uma identidade clara e estável, principalmente uma persona social com a qual se sintam à vontade.

Se, por um lado, é verdade que as pessoas do Tipo Quatro se sentem diferentes dos outros, por outro, elas não querem ficar sós: embora possam ficar acanhadas e sentir-se socialmente inadequadas, desejam ardentemente relacionar-se com gente que as compreenda e entenda seus sentimentos. Os "românticos" do Eneagrama anseiam por encontrar alguém que saiba apreciar o eu secreto que eles cultivaram e esconderam do mundo. Se, com o passar do tempo, essa validação não acontece, eles começam então a construir sua identidade em torno de sua dessemelhança em relação às outras pessoas. Assim, o "estranho" se consola tornando-se um individualista inveterado: tudo deve ser feito sozinho, à sua maneira, em seus próprios termos. O mantra das pessoas do Tipo Quatro torna-se então: "Eu sou eu. Ninguém me entende. Sou diferente e especial". Apesar disso, no fundo essas pessoas desejam desfrutar da mesma facilidade e segurança que os outros parecem ter.

As pessoas do Tipo Quatro geralmente têm uma auto-imagem negativa e sofrem de falta crônica de auto-estima. Sua tentativa de compensar isso consiste em cultivar um Eu Fantasioso – uma auto-imagem idealizada, construída basicamente na imaginação. Conhecemos um representante do Tipo Quatro que nos revelou passar a maior parte de seu tempo livre ouvindo música clássica e fantasiando que era um pianista tão grande como Vladimir Horowitz. Infelizmente, sua dedicação à prática era muito menor que a auto-imagem fantasiada, o que o fazia reagir com constrangimento quando as pessoas lhe pediam que tocasse. Apesar de não ser pouco, seu real talento tornou-se um motivo de vergonha.

Ao longo da vida, as pessoas do Tipo Quatro podem experimentar diversas identidades, todas baseadas nas características, estilos e preferências que consideram atraentes nos outros. Porém, no fundo, continuam inseguras quanto ao que realmente são. O problema é que sua identidade se baseia muito nos sentimentos. Quando olham para dentro, elas veem um caleidoscópio de reações emocionais com contínua sucessão. Com efeito, essas pessoas captam com precisão uma grande verdade sobre a natureza humana: ela é dinâmica e mutável. Entretanto, como querem criar uma identidade estável a partir de suas emoções, tentam cultivar apenas certos sentimentos: alguns são vistos como "eu", enquanto os demais são rotulados como "não-eu". Tentando manter e refletir determinados estados de espírito, creem estar sendo fiéis a si próprias.

Um dos maiores desafios que essas pessoas enfrentam é o de libertar-se de sentimentos do passado. Elas tendem a lamber as próprias feridas e a cultivar sentimentos negativos em relação aos que as magoaram. Com efeito, podem prender-se tanto às carências e decepções que deixam de reconhecer o quanto há de bom na própria vida.

Leigh, uma mãe que trabalha, luta há muitos anos com esse problema:


“Não consigo viver como todo mundo. Tive uma série de problemas de relacionamento. Odeio a bondade de minha irmã – e a bondade em geral. Passei anos sem ter alegria na vida, só fingindo sorrir. Sempre desejei coisas que não posso ter. Meus desejos nunca podem se realizar porque agora eu vejo que estou presa ao desejar em si, e não a alguma coisa em concreto”.


Há um conto sufista que fala sobre isso: é a história de um velho cão maltratado e quase morto de fome. Um dia ele encontrou um osso, levou-o para um lugar seguro e começou a roê-lo. Estava tão faminto que roeu o osso até tirar dele tudo que havia. Então um velhinho bondoso o viu em sua luta com o que restava do osso e, com pena, deu-lhe um pouco de comida. Mas o pobre cão estava tão agarrado ao osso que não conseguiu abandoná-lo e morreu de fome.

As pessoas do Tipo Quatro padecem do mesmo mal. Enquanto acreditarem que há algo de errado com elas, não conseguirão reconhecer nem desfrutar suas muitas boas qualidades. Reconhecê-las implicaria perder a própria identidade (de vítima sofredora), e não ter uma identidade relativamente consistente é seu Medo Fundamental. Essas pessoas só poderão crescer se aprenderem a ver que boa parte de sua "história" não é verdade – ou, pelo menos, já não é verdade. Os antigos sentimentos começam a esvair-se quando elas param de contá-la a si mesmas: sua velha história então deixa de ser importante para seu novo eu.


O Padrão da Infância


(Favor observar que o padrão da infância aqui descrito não provoca o tipo de personalidade. Em vez disso, ele descreve tendências observáveis na tenra infância que têm grande impacto sobre os relacionamentos que o tipo estabelece na vida adulta.)


As pessoas do Tipo Quatro acham que não são como seus pais. Muitas delas relatam haver fantasiado que haviam sido trocadas no hospital ou adotadas. Isso geralmente se manifesta numa sensação de não haver sido "vistas" pelos pais, de não haver tido com eles uma relação suficientemente próxima. Do ponto de vista psicológico, essas pessoas creem não haver podido contar com espelhamento, pelo menos não o espelhamento de características e qualidades reais que pudessem utilizar na formação de sua identidade. (Conforme a teoria dos sistemas familiares, elas se identificariam com o papel do Filho Perdido.)

Por causa disso, acreditam que há algo profundamente errado com elas, o que as lança a uma eterna "busca do próprio eu". Elas pensam: "Se não sou como meus pais e não consigo ver-me neles, então quem sou eu?" Assim, acabam predispondo-se a concentrar-se naquilo que lhes falta – o que falta em si mesmas, em sua vida e em seus relacionamentos. Sentem-se abandonadas e incompreendidas pelos pais e, posteriormente, por outras pessoas importantes.

Hannah trabalha no setor administrativo de uma universidade. É muito querida pelo marido e pelos filhos, mas ainda sofre crises de alienação periódica, próprias de seu tipo:


“Desde cedo aprendi a não depender de minha mãe, a fazer as coisas sozinha e resolver meus próprios problemas. Meu pai, um homem que, antes de mais nada, tinha dúvidas quanto a querer ter filhos, começou a viajar muito quando eu estava na escola primária, o que me fez sentir ainda mais abandonada.”

Em decorrência desse tipo de padrão, as pessoas do Tipo Quatro reagem intensamente àqueles que deflagram seu desejo de espelhamento, seu desejo de ser vistas e apreciadas pelo que são. No nível mais profundo, estão sempre buscando a mãe e o pai que acham que não tiveram. Assim, poderão ver em tais pessoas os "salvadores" que a redimirão de seu infortúnio. Porém podem também decepcionar-se e encolerizar-se com a falta de apoio e compreensão dessas pessoas com a mesma facilidade. O outro é visto como uma fonte de amor, bondade e beleza – qualidades que elas geralmente creem não possuir –, o que cria o cenário tanto para a expectativa de ser completada pelo outro quanto para terríveis medos de abandono. As pessoas que fogem à possibilidade de enquadramento num desses papéis normalmente têm pouco interesse para os representantes típicos do Tipo Quatro: é como se aqueles que não lhe provocam fortes reações emocionais de certa forma não existissem.

Como têm dúvida acerca da própria identidade, elas tendem a brincar de "esconde-esconde": escondem-se do outro, mas esperam que sua ausência seja notada. As pessoas do Tipo Quatro tentam ser misteriosas e intrigantes para atrair alguém que as perceba e redima com seu amor. Mas, alternando a ocultação e a revelação de si mesmas com tanta intensidade e carência, acabam por afastar inadvertidamente o salvador tão ansiado. Enquanto não reconhecerem esse padrão e não virem o irrealismo das expectativas que nutrem em relação ao mais íntimos, correm o risco de deixar que suas exigências afetivas alienem os outros.


Os Subtipos Conforme as Asas


Tipo Quatro com Asa Três: O Aristocrata


Faixa Saudável: As pessoas deste subtipo aliam criatividade e ambição, desejo de auto-aperfeiçoamento e tino para atingir suas metas, as quais geralmente têm relação com o crescimento pessoal. Seus representantes – mais sociáveis que os do outro subtipo – almejam tanto o sucesso quanto a distinção. Não sendo dotados de espírito propriamente científico, eles são muitas vezes criadores solitários que mesclam paixão e indiferença. Como têm necessidade de comunicar-se e dar vazão à própria criatividade, empenham-se em encontrar o modo correto de expressão e em evitar qualquer coisa que pareça desagradável ou de mau gosto. Criam com uma plateia em mente.

Faixa Média: Essas pessoas são mais inibidas e preocupadas com seu próprio valor e com o modo como se expressam que as do outro subtipo. Elas querem ser reconhecidas pelo que são e por seu trabalho e costumam esmerar-se em tudo aquilo que se relacione a sua auto-apresentação. São mais práticas, mas também mais extravagantes – amam o refinamento, a cultura, a sofisticação, e, preocupadas com a aceitação social, adoram ver-se como pessoas elegantes e de classe. Podem ser competitivas e mostrar-se desdenhosas em relação aos demais; o narcisismo e a pretensão aqui se revelam mais direta e abertamente.

Exemplos: Jeremy Irons, Jackie Onassis, Tennessee Williams, Judy Garland, Vivien Leigh, Sarah McLachlan, Prince, Martha Graham, “Blanche DuBois”.


Tipo Quatro com Asa Cinco: O Boêmio


Faixa Saudável: As pessoas deste subtipo tendem a ser extremamente criativas, aliando emotividade e introspecção à perspicácia e originalidade. Menos preocupadas com a aceitação e o status que as do outro subtipo, elas são altamente personalistas e idiossincráticas na auto-expressão, criando mais para si que para uma plateia. Essas pessoas gostam mais do processo de criatividade e descoberta que do da apresentação e são dotadas de muito espírito de investigação. Para o bem ou para o mal, adotam em geral uma atitude de desafio diante das convenções e da autoridade, rompendo com as regras sempre que o assunto seja a auto-expressão.

Faixa Média: Mais introvertidas e socialmente retraídas que as do outro subtipo, essas pessoas tendem a viver mais na própria imaginação. O mundo real é para elas menos interessante que suas paisagens mentais. Atraídas pelo exótico, pelo misterioso e pelo simbólico, têm geralmente um comportamento incomum e excêntrico. Essas pessoas preferem coisas e ambientes menos rebuscados e um estilo de vida minimalista. Às vezes são extremamente reservadas, vendo a si mesmas como rebeldes "forasteiras". São capazes de brilhantes lampejos intuitivos, mas têm dificuldade de manter a constância na vida prática.

Exemplos: Bob Dylan, Anne Rice, Allen Ginsberg, Alanis Morrisette, Edgar Allan Poe, Johnny Depp, Sylvia Plath, James Dean, Ingmar Bergman.

As Variantes Instintivas


O Instinto de Autopreservação (self-preservation/sp) no Tipo Quatro


O Sensualista: Na faixa média, os Autopreservacionistas do Tipo Quatro tendem a ser os mais práticos e materialistas dentre os representantes de seu tipo. Sendo pessoas que amam as coisas boas da vida, gostam de cercar-se de objetos belos. São muito sensíveis à sensualidade do mundo concreto e, por isso, podem criar um "ninho" cheio de coisas de grande apelo estético e emocional. Como são muito suscetíveis à apresentação e ao simbolismo dos presentes, gostam de presentear (uma rosa para o ser amado, por exemplo). Além disso, tendem a ser os mais introvertidos dentre os representantes de seu tipo: possuir um lar confortável e bonito ajuda-os a atravessar os períodos de isolamento social. Seu grau de exigência em relação ao ambiente pode chegar à obsessão: gostam de texturas agradáveis ao tato, iluminação difusa e temperatura confortável.

Por fim, seu desejo de intensidade emocional acaba por interferir com a vida normal. Essas pessoas muitas vezes jogam a cautela para o alto quando estão sob efeito da euforia de uma emoção qualquer. No outro extremo, tendem a ser auto-complacentes, numa tentativa de aliviar as rebordosas emocionais. Em ambos os casos, é seu costume deixar que os caprichos emocionais lhes ditem o comportamento. As pessoas desta Variante Instintiva por vezes tentam manter um estilo de vida rarefeito em detrimento de sua segurança e bem-estar físico (comprando coisas caras quando ainda não pagaram o aluguel, por exemplo). Como os representantes do Tipo Sete, elas podem tornar-se como divas frustradas, que só querem luxo e banquetes. Muitas vezes, adquirem maus hábitos alimentares e descuidam da saúde, assistindo filmes até tarde da noite, ouvindo música, comendo e bebendo demais, como se pensassem: "Que diferença isso faz?" Esse tipo de coisa se torna uma compensação pela vida não vivida.

Na faixa não-saudável, os Autopreservacionistas do Tipo Quatro tornam-se muito suscetíveis ao alcoolismo e ao uso de drogas, sentindo-se atraídos por situações que põem em risco a estabilidade de sua vida. Essa atração pelo perigo pode levá-los a romances ilícitos ou a outros relacionamentos destrutivos. Além disso, podem tornar-se extremamente irresponsáveis, não se incomodando em manter ou sequer em obter seu próprio sustento. Quando se sentem emocionalmente sobrecarregados, podem faltar ao trabalho ou deixar de pagar as contas. É comum recorrerem a drogas e se desleixarem de si mesmos por longos períodos, numa atitude extremamente autodestrutiva.


O Instinto Social (so) no Tipo Quatro


O Estranho: Os representantes Sociais típicos do Tipo Quatro são, em relação aos das demais Variantes Instintivas, os que mais se veem como diferentes dos outros, como únicos no mundo. Eles vivem a sua singularidade tanto como o que de melhor podem oferecer aos outros como quanto à cruz que têm de carregar. Não é de surpreender que sejam os representantes mais socialmente ativos do seu tipo: desejam envolver-se com as pessoas e ser parte do mundo social, mas muitas vezes não sabem como. Da mesma forma que os do Tipo Três, eles comparam-se constantemente aos demais, embora sempre achem que estão em desvantagem. Apesar de desejarem estar entre os belos, os glamorosos, a elite, duvidam ter recursos para tal.

A sensação de acanhamento em situações sociais acaba por levar os representantes sociais do Tipo Quatro a acreditar que não sabem agir como pessoas normais. Eles invejam a felicidade dos outros, ao mesmo tempo que os rejeitam pelo que consideram grosseria e insensibilidade. Muitas vezes, adotam uma imagem exótica e glamorosa para encobrir sua insegurança no terreno social e, numa tentativa de compensação, começam a fazer parte de grupos com estilo alternativo de vida. ("Buscarei consolo com outros estranhos." Os beatniks dos anos 50 e os adeptos da subcultura gótica do rock nos anos 80 e 90 são exemplos disso.)

Certos representantes desta Variante podem lançar-se agressivamente à busca do sucesso para compensar a constante sensação de inadequação. (“Não vão rir de mim agora!”) Costumam ter violentas reações a tudo que se diz a seu respeito e ruminar conversas passadas em busca de indícios de desprezo nas palavras alheias. Ironicamente, podem tanto defender os próprios defeitos quanto lamentá-los. (“Claro que me sinto distante diante de tanta grosseria e egoísmo – mas bem que eu queria que alguém me amasse!”)

Na faixa não-saudável, o medo da rejeição pode levar essas pessoas a esquivar-se quase completamente ao envolvimento com os outros. A vergonha e as expectativas de humilhação podem crescer a ponto de fazê-las querer até evitar serem vistas. Ao mesmo tempo, as inseguranças as tornam incapazes de trabalhar bem. Por conseguinte, frequentemente tornam-se muito dependentes da família, dos amigos ou do parceiro. O isolamento, juntamente com as fantasias de realização, pode levá-las a desperdiçar sua vida.


O Instinto Sexual (sx) no Tipo Quatro


Paixão: Os representantes Sexuais típicos do Tipo Quatro são o melhor exemplo do romantismo, da intensidade, e do anseio por um salvador que caracteriza seu tipo. Essas pessoas podem ser docemente vulneráveis e impressionáveis, mas também são dinâmicas e agressivas, principalmente na auto-expressão. Há nelas algo de assertivo e extrovertido que as faz mais capazes de realizar suas fantasias que os representantes das outras duas variantes. Em geral turbulentas e temperamentais, sua vida emocional costuma girar em torno daquele que as atrai. Seu objetivo de desejo pode provocar-lhes simultaneamente intensos sentimentos de admiração, falta e ódio. Sedutoras e sensuais, essas pessoas podem ser também ciumentas e possessivas como os representantes do Tipo Dois, pois querem ser a única coisa importante na vida do outro. Como têm grandes dúvidas a respeito de seu poder de atração, lutam por realizações que as tornem aceitáveis aos olhos do outro – querem ser uma estrela – e, ao mesmo tempo têm rancor daqueles que atingem iguais objetivos.

A inveja se torna mais visível nesta Variante. Surgem problemas de relacionamento porque os representantes Sexuais do Tipo Quatro costumam envolver-se romanticamente com pessoas cujas qualidades admiram e querem possuir. Mas depois eles terminam invejando o ser amado e ressentindo-se contra ele justamente por possuir essas qualidades. A idealização é então rapidamente substituída pela rejeição pelos mínimos defeitos. Além disso, muitas vezes sentem-se atraídos por pessoas que, por uma razão ou outra, não estão disponíveis. Assim, podem passar muito tempo desejando ter para si o objeto de desejo e detestando todos aqueles que recebem a atenção deste.

Na faixa não-saudável, a intensidade da inveja que sentem pode levar essas pessoas a desejar sabotar os outros para vingar-se. Inconscientemente, elas vivem conforme o provérbio: “Desgraça pouca é bobagem”. (“Se eu tenho de sofrer, você também sofrerá.”) Os representantes Sexuais do Tipo Quatro criam rivalidades e depois se sentem no direito de desfazer de seus oponentes e magoar os que os decepcionaram. (É impossível não lembrar da inveja que Salieri tinha de Mozart, por exemplo.) Eles estão propensos a rápidas mudanças de sentimentos em relação aos outros, inclusive seus protetores e entes queridos. Seu caos emocional pode levá-los a atos de violência contra si mesmos ou contra aqueles que acreditam haverem frustrado suas necessidades emocionais.


A seguir, alguns dos problemas mais frequentes no caminho da maioria das pessoas do Tipo Quatro. Identificando esses padrões, “pegando-nos com a boca na botija” e simplesmente observando quais as nossas reações habituais diante da vida, estaremos dando um grande passo para libertar-nos dos aspectos negativos de nosso tipo.


O Sinal de Alerta para o Tipo Quatro: O Uso da Imaginação para Intensificar os Sentimentos


A identidade das pessoas do Tipo Quatro baseia-se em seus sentimentos e disposição interior (“Sou o que sinto”.) Portanto, elas tendem a consultá-los mais que as dos demais tipos. (Geralmente, estão mais sintonizadas às reações emocionais provocadas pelas experiências que às próprias experiências em si.)

Mas a única coisa que é certa em relação aos sentimentos é que eles sempre mudam. Se a identidade dessas pessoas baseia-se nos sentimentos e eles estão sempre mudando, então sua identidade também está sempre mudando. A solução que encontram para isso é cultivar os sentimentos com os quais se identificam e rejeitar aqueles que não lhes são tão familiares ou “verdadeiros”.

Em vez de deixar que os sentimentos surjam espontaneamente em cada momento, essas pessoas fantasiam sobre os indivíduos, fatos e situações que lhes despertam emoções que possam refletir sua identidade, mesmo que tais sentimentos sejam negativos ou penosos. Quaisquer que sejam eles, as pessoas do Tipo Quatro procuram intensificá-los para reforçar sua noção de eu. Elas podem, por exemplo, escolher as músicas que mais lhes despertam associações – como as canções que as fazem lembrar um amor perdido – e tocá-las sem parar, a fim de manter os antigos sentimentos ou, pelo menos, um clima emocionalmente forte.

Quando começam a criar e manter esses estados de espírito – o que, num certo sentido, é uma tentativa de manipular os próprios sentimentos –, elas tomam o caminho errado: assim, acabam por criar o hábito desanimador de viver na imaginação, mais do que no mundo real.

Quando mais jovem, Beverly foi uma bela comissária de bordo. Conheceu muitos homens nas viagens que fez, mas nunca se envolveu com ninguém:


“Como eu fazia a rota para Paris, teria sido bem fácil conhecer muitos homens. Depois que as bandejas com as refeições eram recolhidas, dava para conversar e um pouco de flerte ajudava a passar o tempo. Mas eu preferia sentar-me só no fundo do avião e ficar pensando em alguém que vira a bordo ou no aeroporto a falar com uma pessoa que provavelmente só iria me decepcionar. Durante o voo, eu podia apaixonar-me, transar, casar, imaginar a casa e os filhos que teríamos. Assim, não precisaria enfrentar as decepções nem terminar o relacionamento.”


Reconhecendo o “canto de sereia” da fantasia
As pessoas do Tipo Quatro temem que, se as emoções não forem suficientemente intensas, sua criatividade e até sua identidade desapareçam. Procure observar-se ao longo do dia para detectar o funcionamento desse processo de uso da imaginação para provocar sensações. Preste atenção às suas fantasias e aos seus comentários interiores: o que eles estão reforçando? Para que servem? Você acha que certos sentimentos são mais “você” que os outros? Em geral, qual a “linha básica” de seu estado de espírito? Qual a sua reação se não estiver naturalmente nesse estado de espírito? Esteja atento à tendência de comentar seus sentimentos e experiências, como se estivesse se perguntando: “O que essa experiência diz a meu respeito?” Toda vez que você fantasiar, principalmente com potenciais casos amorosos e aventuras sexuais ou com um eu “idealizado”, estará chegando mais perto do transe característico do Tipo Quatro.

Papel Social: A Pessoa Especial


Os representantes típicos do Tipo Quatro insistem em ser eles mesmos e imprimir sua marca pessoal em tudo aquilo que fazem. Sua auto-imagem começa a basear-se cada vez mais na dessemelhança que observam entre si e os outros. (A mensagem de seu superego – “seja fiel a si mesmo” – se intensifica à medida que adentram esse transe.) Da mesma forma, seus estados de espírito geralmente contrastam muito com a atmosfera do ambiente. (“Se os outros estão felizes, eu estou triste. Se estão tristes, tenho vontade de rir.”) Manter sentimentos distintos dos sentimentos dos outros reforça a identidade das pessoas do Tipo Quatro. Assim, seu Papel Social característico é o da Pessoa Especial, o do Estranho Misterioso, e elas não se sentem à vontade na interação com os demais a não ser a partir desse papel.

Ironicamente, quanto mais insistem em ser diferentes e únicas, mais entram numa camisa-de-força que as isola de muitas possibilidades de encontrar satisfação. As pessoas do Tipo Quatro precisam entender que essa insistência provavelmente as levará a negar ou passar por cima de muitas de suas qualidades positivas só porque se parecem às qualidades que veem nos outros, principalmente nos membros da família. Desse modo, sem querer criam uma identidade negativa: “Não sou assim.” “Jamais conseguiria trabalhar num escritório.” “Nunca vestiria nada de poliéster.” “Prefiro morrer a ter de comprar no Kmart.” Elas não entendem que “ser o que se é” não requer nenhum esforço: mesmo que se tente, não se consegue ser outra coisa. Quando deixam de empenhar-se tanto em “ser elas mesmas”, as pessoas do Tipo Quatro se libertam e encontram a beleza daquilo que realmente têm a oferecer.

Riva, talentosa artista gráfica, situa na infância as origens desse problema:


“Quando criança, meu mundo era bastante fechado. Eu não me revelava facilmente e nem procurava tomar a iniciativa no contato com os outros. Sentia-me estranha e rejeitada – talvez pelo modo como era, ou falava, ou pelo fato de ser judia e inteligente. Não sei. Embora uma parte de mim quisesse ser ‘normal’ e simplesmente divertir-se, comecei a ter orgulho de ser ‘especial’ e mais sensível, madura e perspicaz, capaz de compreender mais profundamente as coisas. Comecei a sentir-me uma pequena adulta entre meus colegas de infância. Assim, a divisão inferioridade-superioridade começou bem cedo.”


Quando vai longe demais, o desejo de ser “elas mesmas” pode levar as pessoas do Tipo Quatro a acreditar que as regras e exigências da vida cotidiana não se aplicam a elas. (“Faço o que quero, como e quando quero.”) Sentindo-se eximidas das leis da sociedade e descartando regras e convenções, podem tornar-se secretamente muito presunçosas, imaginando que, graças ao seu imenso – e ainda não descoberto – talento, merecem ser mais bem tratadas que os outros.

Por conseguinte, as pessoas do Tipo Quatro passam a ver em muitos dos aspectos normais da vida – como ganhar o próprio sustento e ter assiduidade no trabalho – impedimentos à sua busca do próprio eu. Elas querem liberdade para deixar-se levar por sua imaginação e seus estados de espírito, embora possam passar meses (ou anos) esperando que chegue a inspiração. A verdade é que talvez estejam desperdiçando seu tempo numa vida improdutiva. Riva continua:

“Pensar em mim mesma como superior e excepcionalmente sensível me faz acreditar que tenho direito a não fazer o que os simples mortais têm de fazer, principalmente quando se trata de algo de mau gosto. Mas esse direito também tem relação com o oposto – ou seja, pensar que sou inferior e incapaz em algum sentido, que não tenho como dar conta das exigências comuns do dia-a-dia, como ter um emprego regular ou manter um relacionamento estável e satisfatório.”


Ser Diferente X Ter Contato
Apesar de sermos todos indivíduos – e dignos de mérito justamente por causa de nossa individualidade – temos muito em comum com os demais seres humanos. Observe sua tendência a concentrar-se automaticamente nas diferenças que vê entre si mesmo e os outros. Quanto isso lhe custa em termos de seu contato, sua relação com as pessoas? Essa tendência o impede de realizar atividades que lhe seriam benéficas?

A Inveja e as Comparações Negativas


Como todas as Paixões (ou “Pecados Capitais”), a inveja surge como uma certa reação à falta de contato com o eu Essencial. Porém, ao contrário da maioria dos outros, o Tipo Quatro ainda mantém um determinado grau de consciência em relação a essa perda de contato com sua Essência. Além disso, seus representantes acreditam serem as únicas pessoas que perderam esse contato. Quando crianças, seus familiares e amigos pareciam-lhes mais completos e adequadamente valorizados, ao passo que eles se sentiam ignorados. O resultado é a tendência à solidão crônica, fortes desejos de aceitação e inclusão e inveja daqueles que as conseguem.

Cass, uma atriz reconhecida, revela-nos alguns dos sentimentos que caracterizaram sua infância:


“Eu tinha 2 anos de idade quando minha irmã nasceu e tornou-se o centro das atenções. Eu me senti abandonada e passei a ver-me como uma estranha, uma criança solitária que olhava pela janela de uma casa cheia de riso e alegria. Na escola, sentia-me intimidada e isolada. Tornei-me então estudiosa, mas isso só contribuiu para fazer-me sentir ainda mais diferente. Sempre tive inveja das garotas que tinham cabelos louros e olhos azuis e odiava meus olhos e cabelos castanhos. Meu pai era frio e distante e costumava dizer-me: ‘Você não sabe o que quer e não será feliz enquanto não descobrir!’”

Quando se tornam adultas, a inveja leva as pessoas do Tipo Quatro a ver todos como normais e equilibrados e a si mesmas como cheias de defeitos ou, na melhor das hipóteses, incompletas. Com efeito, sua maior queixa é não conseguir camuflar as próprias falhas tão bem quanto os outros, deixando transparecer inteiramente a própria vulnerabilidade – e, por isso sentem vergonha de si mesmas. Os outros lhes parecem gostar de si mesmos, ter auto-estima, saber apresentar-se e buscar o que querem da vida. São espontâneos, felizes, desinibidos e cheios de desenvoltura – ou seja, são e possuem tudo aquilo que elas creem não ser nem possuir. Assim, essas pessoas começam a ressentir-se de sua condição e a cobiçar a facilidade no trato social de que os outros parecem desfrutar.

Leigh, a quem já conhecemos, relembra:


“Sentia-me tão isolada. Via todas as outras garotas se divertindo e fazendo amizade umas com as outras, e eu não tinha a menor ideia de como conseguir isso. Por isso, sempre me sentia distante e diferente – alguém à parte. Não me sentia superior; simplesmente me sentia absoluta e irremediavelmente diferente, sem a menor chance de entrar no grupo e compartilhar da diversão, da amizade, da intimidade, de nada.”


Embora às vezes se deixem consumir pela inveja, as pessoas do Tipo Quatro geralmente têm vergonha dela e tentam escondê-la de todas as maneiras. Quase sempre o fazem adotando uma atitude fria e distante. Elas oscilam entre o desejo de manifestar sua aflição – para que os outros vejam o quanto estão decepcionadas – e o de escondê-la. (“Não lhes darei essa satisfação!”) Muitas das pessoas deste tipo resolvem a questão expressando indiretamente seus sentimentos mais sombrios, por meio da arte ou de alusões. Conhecemos um representante do Tipo Quatro que costuma comunicar à namorada o que sente por meio de fitas com canções que contêm mensagens secretas para ela.

Essas pessoas costumam estabelecer comparações que dão ensejo a sentimentos negativos devido à sua tendência a imaginar as reações alheias, em vez de indagar diretamente e descobrir o que os demais de fato estão pensando. A inveja as predispõe a decepcionar-se consigo mesmas e a projetar essa decepção nos outros. Com isso, já esperam ser vistas com maus olhos mesmo por aqueles que gostam delas. Dessa forma, a inveja é capaz de fazê-las perder horas em fantasias melancólicas que as envolvem num véu de tristeza e as fazem sentir-se vulneráveis, feridas e incompreendidas pelo mundo – na maioria das vezes, desnecessariamente.


O Reforço dos Estados de Espírito Por Meio da Estética e da Sensualidade


As pessoas do Tipo Quatro mantêm seus estados de espírito cultivando um ambiente que fomente os sentimentos com que se identificam. Por conseguinte, costumam sentir-se atraídas pelo belo e pelo exótico, procurando cercar-se de beleza nos objetos, na música, na luz, nas texturas e odores que reflitam sua individualidade e, ao mesmo tempo, intensifiquem seus sentimentos. A atmosfera, o estilo e o “bom gosto” assumem importância capital e as tornam muito meticulosas com tudo aquilo que as cerca. Assim, precisam ter a caneta certa, só aceitam o tom exato na parede do quarto e o caimento das cortinas tem de ser o previsto, do contrário não se sentem bem.

Quando não controlam esse desejo de prolongar assim seus estados de espírito, mesmo que sejam negativos, as pessoas do Tipo Quatro podem criar hábitos destrutivos de difícil rompimento. Se, por exemplo, perderem a esperança de chegar a ter um relacionamento mais profundo e prazeroso, podem buscar alívio em prazeres substitutos: sexo casual, pornografia, alcoolismo e drogas ou noites inteiras vendo filmes antigos na TV. As muitas indulgências e isenções que se permitem as fragilizam ainda mais. Nicholas é um escritor que por muitos anos viveu em depressão:

“Quando não sou indulgente demais comigo mesmo, sou demasiado severo. Quando surge algum problema ou dificuldade, eu desisto logo e procuro uma saída dormindo ou bebendo demais. Mas isso só me traz culpa e nojo de mim mesmo. Tinha de escrever uns capítulos para um livro há alguns anos, mas, em vez de simplesmente começar, não conseguia nem olhar para a máquina. Então, bebia, assistia TV e alugava filmes até não aguentar mais. Aí, quando cheguei ‘ao fim do poço’, me recobrei e voltei a trabalhar. Parecia até que tinha necessidade de criar uma crise.”


“Decoração de Interiores”
Observe com atenção o ambiente do lar e de seu trabalho e seu guarda-roupa. Quais são seus “adereços” favoritos? O que você usa para criar atmosferas? Qual o seu grau de dependência delas? Você faz alguma coisa para “criar coragem” para trabalhar? Para conversar com as pessoas? Para relaxar? Para meditar ou exercitar-se?

A Fuga para um Eu Fantasioso


Todos os representantes da Tríade do Sentimento criam uma auto-imagem que acreditam ser preferível ao seu verdadeiro eu. Enquanto a auto-imagem dos Tipos Dois e Três está mais em evidência, a do Tipo Quatro é mais interiorizada, uma auto-imagem que chamamos de Eu Fantasioso.

Conforme dito anteriormente, os representantes típicos do Tipo Quatro passam o tempo a devanear com o próprio talento e as obras-primas que criarão, em vez de aperfeiçoar suas reais habilidades. Naturalmente, essa auto-imagem não é toda ela apenas um produto de sua imaginação – parte dela será posta à prova junto àqueles em quem confiam. Porém, mesmo quando revelam alguns aspectos de sua identidade interior, eles guardam para si a maior parte de seu Eu Fantasioso.

Embora possa emprestar às pessoas do Tipo Quatro uma persona ocasional, o Eu Fantasioso geralmente não tem relação com seus reais talentos e, por isso, tende a provocar a rejeição e o ridículo. O grau de presunção nele investido tende a ser proporcional à profundidade da mágoa emocional sofrida: essas pessoas podem ver-se como criaturas quase mágicas, ao passo que os outros são banais ou inferiores. O Eu Fantasioso em geral se baseia em qualidades idealizadas e praticamente impossíveis de obter, mesmo com esforço e disciplina. Assim, ele é por natureza inatingível e está indissociavelmente ligado à rejeição que essas pessoas dedicam às suas reais qualidades e capacidades.

Quando se encontram muito identificadas com o Eu Fantasioso, as pessoas do Tipo Quatro tendem a repelir todo tipo de interferência com seu estilo de vida, interpretando as sugestões dos outros como uma mal-vinda intromissão ou pura pressão. Quando é preciso agir, sentem-se desanimadas e tendem a adiar ou evitar ao máximo os contatos sociais e os prazos profissionais. Reagem a qualquer questionamento acerca de seu comportamento com desdém, raiva e “ressentimentos”. Anseiam por mais atenção e apoio, mas quase nunca conseguem aceitar os que lhe são ofertados.

Riva comenta:


“Para mim sempre foi muito difícil contar com algo além de mim mesma, tomar a iniciativa de pedir o que preciso. Por um lado, espero que as pessoas leiam meus pensamentos (como esperei de minha mãe). Por outro, não espero encontrar quem se preocupe em querer ajudar-me, em satisfazer minhas necessidades – já que elas não foram atendidas na infância. Então aprendi a usar minha fragilidade, minha hipersensibilidade, para manipular meus pais e induzi-los a fazer as coisas por mim. Assim, não tinha de assumir a responsabilidade por mim mesma, por meus próprios erros.”


Atualizando seus verdadeiros talentos
Que qualidades você fantasia possuir? Observe quais delas você realmente poderia cultivar. Por exemplo, é certo que a música exige talento, mas esse talento não se tornará realidade se você não o cultivar por meio da prática e da disciplina. Da mesma maneira, para estar em forma é preciso exercício e uma dieta equilibrada. Que qualidades são inatingíveis, independente do que você fizer – ser mais alto ou possuir origens diferentes das que tem, por exemplo? O que nelas o atrai? Você é capaz de identificar a auto-rejeição quando deseja coisas assim? E de reconhecer e valorizar as qualidades que de fato possui?

Hipersensibilidade


O constante fantasiar, a absorção em si mesmas e as comparações negativas tiram as pessoas do Tipo Quatro da realidade e lançam-nas num crescendo de emotividade e instabilidade de humor. Em função disso, a sensibilidade aumenta a ponto de torná-las suscetíveis a qualquer ato ou comentário sem importância, causando tremendas reações emocionais.

Cass revela o turbilhão interior que seus sentimentos já criaram às vezes:


“Considero-me imprevisível e, por pensar que não havia nada entre a euforia e o desespero, achava que minha capacidade de raciocínio era falha. Estou eternamente à mercê de influências externas que me afetam o humor e luto para manter a serenidade. (...) Infelizmente, apesar de querer divertir-me como todo mundo, acho que não fui feita para isso.”


À medida que se tornam mais absortas em si mesmas, as pessoas do Tipo Quatro buscam significados ocultos em todas as suas reações emocionais e em cada comentário que os outros façam. Repassam mentalmente conversas do dia ou do ano anterior, tentando chegar ao o que o outro realmente estava querendo dizer, e podem considerar comentários inocentes como ofensas veladas. Palavras como: “Você perdeu peso!” podem ser interpretadas como “Deve pensar que eu era uma baleia”. Um simples comentário como: “Seu irmão é um jovem tão talentoso” pode ser tomado como uma acusação de incompetência e inadequação de tabela.

Com essa disposição de espírito, os representantes típicos do Tipo Quatro mostram-se muito ressentidos e pouco colaboradores – características que pouco provavelmente atrairão amizades ou facilitarão os relacionamentos. E no entanto, como essas características são compatíveis com sua auto-imagem de “sensíveis” e “diferentes”, eles raramente consideram sua hipersensibilidade um problema.

Tendo choques de realidade
Peça às pessoas que confirmem sua impressão quando sentir que o estão julgando, criticando ou rejeitando. Peça-lhes que esclareçam o que querem dizer e aceite a possibilidade de elas estarem dizendo exatamente o que sentem. Evite “ler” ou “interpretar” demais cada gesto ou comentário alheio. É bem provável que as pessoas não estejam fazendo o mesmo em relação a você. Observe também qual o seu grau de interesse pelos outros e qual a natureza de seus próprios pensamentos e comentários a respeito deles: você os acharia aceitáveis se partissem deles para você?

Narcisismo e Auto-absorção


O acanhamento, a inadequação social e algumas formas sutis de chamar a atenção estão relacionados ao narcisismo que se verifica em todos os tipos da Tríade do Sentimento. Nos Tipos Dois e Três, ele se manifesta diretamente no impulso de obter dos outros atenção e legitimação. Já no Tipo Quatro, o narcisismo se expressa indiretamente, pela absorção em si mesmo e pela enorme importância atribuída a cada sentimento. Essa disposição mental pode levar a uma inibição atroz.

Carol, uma pessoa que leva a sério a própria busca espiritual, vem lutando com essas sensações há muitos anos:


“Já sofri muito na vida por me inibir tanto e evitar ir até as pessoas que não conheço ou com quem não me sinto à vontade. Não consigo relaxar e ser eu mesma se não sentir antes que tenho sua aceitação. Isso é uma coisa que eu tenho que superar, agora que estou mais conscientizada, mas ainda assim é uma luta. De repente, me afasto do grupo em que estou e depois me sinto excluída.”


As pessoas do Tipo Quatro concentram-se tanto na fragilidade de seus sentimentos que se sentem inteiramente justificadas em exigir que todas as suas necessidades emocionais sejam atendidas. Ao mesmo tempo, podem esquecer-se completamente dos sentimentos alheios: falam horas sobre cada detalhe de seus sentimentos, sonhos e problemas, mas quase nunca se interessam em saber dos sentimentos e problemas dos outros. De fato, a absorção em si mesmas dificulta-lhes concentrar-se em qualquer coisa que não tenha relação direta com seus interesses afetivos mais imediatos. Elas acham que seus próprios sofrimentos já são o bastante.

Um sinal inequívoco de que se estão deixando absorver por si mesmas é a tendência a deter-se demasiado em sensações desagradáveis. Além de exibir suas mágoas (mostrando-se amuadas ou deprimidas de inúmeras formas) para obter solidariedade, essas pessoas costumam sentir-se profundamente injustiçadas pela vida, principalmente pelos pais ou por aqueles com quem lidam no momento. Parece-lhes que ninguém lhes dá o que merecem nem reconhece suas preferências, necessidades ou sofrimentos especiais; ninguém compreende sua profunda sensibilidade. Por conseguinte, tendem a afogar-se em autocomiseração, o que aumenta seu medo de ser capazes de fazer a própria vida decolar.

Quando afundam em suas próprias reações e estados de espírito, os representantes típicos do Tipo Quatro em geral se esquivam dos outros para evitar expor-se mais e correr o risco de humilhação, da rejeição e do abandono. Porém, retraindo-se, têm menos chances de verificar a realidade e, assim, torna-se cada vez mais difícil perguntar aos outros o que pensam a respeito de suas reações emocionais. Além disso, as poucas pessoas com quem se dispõem a conversar quase nunca são as mesmas com quem tiveram desavenças ou problemas afetivos.


Para que Retrair-se?
Observe quando e como se esquiva de pessoas ou situações, transformando-se num estranho quando não precisa sê-lo, deixando de participar de eventos sociais e interpessoais quando poderia. Você consegue distinguir quando isso é uma opção legitima que está exercendo com imparcialidade e quando é uma reação emocionalmente carregada que provavelmente resulta de um antigo problema de infância? Você é capaz de analisar sua reação o bastante (sem atuá-la) para descobrir o que a está provocando?

Investindo em “Ter problemas” e Ser Temperamental


Por mais estranho que possa parecer, na verdade as pessoas do Tipo Quatro acabam inconscientemente precisando de ter problemas. Entre as faixas média e não-saudável, elas normalmente resistem a renunciar aos sentimentos que mais as fazem sofrer e à autocomiseração, mesmo que lhes causem torturas intermináveis.

Todavia, não é difícil compreender as origens desse comportamento. Quando crianças, as pessoas do Tipo Quatro aprenderam a chamar a atenção na família por meio dos problemas emocionais, mostrando-se temperamentais ou amuadas. Muitas dessas pessoas descobrem que podem obter confirmação de que são amadas fazendo-se de difíceis e esperando que o outro tome alguma iniciativa. Porém, em vez de demonstrar um acesso de raiva, elas preferem fazer beicinho e parar de falar por vários dias, recusar-se a viajar nas férias com a família ou vestir só preto a semana inteira. O mau-humor mostra a todos que elas estão infelizes com alguma coisa sem lhes exigir que digam o quê. Com efeito, talvez nem elas saibam, já que estão quase sempre às voltas com sombrias e complicadas disposições de ânimo que surgem do nada. Geralmente, essas pessoas estão tão identificadas com essas disposições que acham que precisam, antes de mais nada, ocupar-se delas. Infelizmente, esperam que todos façam o mesmo.

William, músico talentoso e criador de sites da Internet, comenta a turbulência emocional que lhe criou dificuldades na carreira e nos relacionamentos:


“Raramente minha noção de eu se mantém inalterável. Passo um tempo enorme tentando permanecer emocionalmente equilibrado, pois qualquer desequilíbrio nessa área me traz grandes sofrimentos. Seja qual for a necessidade emocional que sinta no momento – contato com as pessoas ou depressão –, preciso lidar com ela imediatamente; não posso deixá-la de lado. Gosto de ser do Tipo Quatro, mas acho que se trata de uma situação típica de constante manutenção.”


Entretanto, apresentando-se como carentes, essas pessoas têm a oportunidade de atrair a atenção de alguém que se disponha a ser seu salvador – alguém que cuide das tarefas práticas para que elas tenham tempo e espaço para descobrir-se. Infelizmente, isso só serve para afastá-las da chance de adquirir uma noção mais consistente de responsabilidade pessoal e de viver as experiências que poderiam dar-lhes uma verdadeira noção de seu próprio valor e identidade. Não é difícil perceber que esse padrão também tem suas origens na infância.

William continua:


“Lembro-me que, quando criança, ficava deitado num cobertor em meu quarto fingindo estar adormecido, na esperança de que meus pais abrissem a porta e me vissem. Minha fantasia era a de que eles me achariam tão adorável que me dariam seu amor. Eu ansiava por contato emocional; é o meu alimento. Sempre soube que meus pais me amavam, mas raramente senti que poderiam espelhar as minhas facetas mais profundas e vulneráveis.”


Com sua esquivez e sua intempestiva emotividade, os representantes do Tipo Quatro afastam as pessoas. No entanto, procuram as obter por intermédio dessas mesmas coisas. De várias maneiras, eles insistem em impor certas regras, obrigando todos à sua volta a pisar em ovos. (“É melhor não falar nesse assunto, senão Melissa vai ficar nervosa de novo.”) Sua dramática exigência de solidão é, em si, um pedido de atenção e um convite a que os busquem: no fundo, esperam que alguém os siga até seu solitário covil.


O preço do drama
Muitas pessoas do Tipo Quatro acabam adotando um padrão que consiste em conflitos tempestuosos com as pessoas seguidos de reatamento. Observe sua tendência a criar drama nos principais relacionamentos. O que realmente o está frustrando? Que comportamento você está tentando provocar no outro? Com esse padrão de comportamento, você por acaso já chegou perto de conseguir afastar de fato alguém a quem ama?

Reação ao Stress: O Tipo Quatro Passa ao Dois


Conforme visto, as pessoas do Tipo Quatro tendem a perder-se em meio a fantasias românticas e a evitar os outros tanto para chamar a atenção como para proteger os próprios sentimentos. A passagem ao Tipo Dois representa sua tentativa de compensar os problemas que esses comportamentos acabam inevitavelmente criando. Assim, após um período de retração e auto-absorção, elas podem passar ao Tipo Dois e inconscientemente tentar resolver seus problemas interpessoais com uma amizade um tanto quanto forçada – acabam exagerando um pouco. Como os representantes do Tipo Dois, começam a preocupar-se com os relacionamentos e a buscar formas de aproximar-se mais daqueles de quem gostam, precisando de muita certeza de que as bases da relação são sólidas. Para tanto, manifestam seu afeto com muita frequência e estão sempre lembrando ao outro o quanto aquele relacionamento é importante.

Em casos extremos, as pessoas do Tipo Quatro podem criar cenas emocionais para saber se os outros realmente se importam com elas. Esse tipo de comportamento geralmente desgasta os demais, fazendo-os perder o interesse ou até abandoná-las. Essas pessoas podem então passar ao Tipo Dois e tentar prender os outros agarrando-se a eles. Além disso, como os representantes típicos do Tipo Dois, podem também começar a dissimular a extensão da própria carência e a esconder seus próprios problemas concentrando-se nos problemas dos outros (“Estou aqui para ajudar você.”)

Por fim, essas pessoas precisarão de cada vez mais apoio emocional e financeiro para manter seu modo irrealista de viver. Elas temem que, sem esse apoio, perderão a possibilidade de concretizar seus sonhos. Estressadas, tentando evitar isso, começam a exagerar sua importância na vida dos outros: lembram-nos dos vários benefícios que a relação com elas lhes trouxe, assumem a responsabilidade pela felicidade deles e descobrem formas de aumentar a dependência que têm delas. Além disso, inventam necessidades e tornam-se cada vez mais ciumentas e possessivas com aqueles de quem gostam. Sob a ação do stress, essas pessoas agem como as do Tipo Dois e reivindicam crédito por tudo aquilo que fizeram, enquanto reclamam da falta de gratidão.


A Bandeira Vermelha: Problemas para o Tipo Quatro


Se tiverem sofrido uma crise grave sem contar com apoio adequado ou sem outros recursos com que enfrentá-la, ou se tiverem sido vítimas de constantes de violência e outros abusos na infância, as pessoas do Tipo Quatro poderão cruzar o ponto de choque e mergulhar nos aspectos não-saudáveis de seu tipo. Por menos que queiram, isso poderá forçá-las a admitir que suas fantasias e indulgências emocionais as estão fazendo arruinar a própria vida e desperdiçar as oportunidades.

Por mais difícil que seja, admitir isso pode representar o início de uma reviravolta na vida dessas pessoas. Se reconhecerem a verdade desses fatos, elas poderão, por um lado, mudar sua vida e dar o primeiro passo rumo à saúde e libertação. Mas também poderão, aferrando-se ainda mais às fantasias e ilusões a respeito de si mesmas, rejeitar todos aqueles que não lhes derem apoio em suas exigências emocionais. (“São todos tão egoístas e grosseiros – ninguém me entende.” “Sei que preciso encontrar um emprego, mas agora simplesmente não tenho forças para isso.”) Se persistirem nessa atitude, elas se arriscam a ultrapassar a linha divisória que as separa dos Níveis não-saudáveis. Se seu comportamento ou o de alguém que você conhece se enquadrar no que descrevem as advertências abaixo por um período longo – acima de duas ou três semanas, digamos –, é mais que recomendável buscar aconselhamento, terapia ou algum outro tipo de apoio.


Advertências

• Sensação opressiva de alienação de si e dos demais

• Extrema suscetibilidade e instabilidade emocional (não é uma reação maníaca)

• Dependência de uma ou duas pessoas, com relacionamentos instáveis

• Explosões de raiva, hostilidade e ódio

• Desesperança e depressão crônica persistente

• Episódios de auto-sabotagem e rejeição de influências positivas

• Obsessão com a morte, morbidez e ódio de si mesmo

Potencial Patológico: Grave depressão, Distúrbios de Personalidade Narcisista e Fugidia, crimes passionais – assassinato e suicídio.


Práticas que Contribuem para o Desenvolvimento do Tipo Quatro


• Lembre-se do dito que afirma que os sentimentos não são fatos. Seus sentimentos podem ser muito fortes e dar-lhe, às vezes, a chave para compreender melhor seu próprio caráter. Porém eles nem sempre fornecem informações precisas acerca das motivações e dos sentimentos alheios. Muitas de nossas reações emocionais do presente são bastante influenciadas por relacionamentos da infância, independentemente do tipo a que pertencemos. Fique especialmente atento à “leitura” de intenções aparentemente negativas nos comentários que as pessoas fazem a seu respeito.

• Instabilidade no humor e nas emoções não é o mesmo que sensibilidade. Além de tudo, a instabilidade é uma boa indicação de que nosso coração está fechado. As qualidades inerentes ao coração são mais sutis e profundas; não são reações a ações externas. As reações emocionais geralmente impedem que nossas experiências nos afetem mais profundamente. Ironicamente, elas indicam um medo ou falta de vontade de explorar os sentimentos mais verdadeiros, mais profundos, que as contingências presentes podem despertar.

• Esforce-se por detectar os aspectos de seu Eu Fantasioso que não se coadunam com a realidade de sua vida. Ter metas criativas é maravilhoso. Procrastinar porque sente que seu “gênio” é pouco reconhecido ou porque não tem as ferramentas de que precisa ou porque é mais fácil devanear com o talento é contraproducente. Aprenda a aceitar seus verdadeiros dons, ao invés de rejeitá-los porque são menos glamorosos ou desejáveis do que queria. Esse tipo de inveja é o mais autodestrutivo que pode haver.

• Procure encontrar amigos sinceros, que possam servir-lhe de espelho. Procure pessoas que reconheçam suas verdadeiras qualidades e o ajudem a cultivá-las – e que também possam falar sobre seus pontos cegos com compaixão e objetividade. Como quase todo mundo, as pessoas do Tipo Quatro só têm a ganhar quando os sentimentos que nutrem a seu próprio respeito e os interesses românticos se expõem à prova da realidade.

• Cuidado com a expectativa inconsciente de que as pessoas mais íntimas sirvam de amortecedor para seus tormentos emocionais. Os que gostam de você naturalmente desejarão ajudá-lo sempre, mas você não pode exigir que eles assumam sua paternidade nem que arquem com o ônus de seus traumas de infância. Lembre-se que essas pessoas também têm seus problemas e podem não ser capazes de lidar com suas intensas reações.

• Estabeleça rotinas construtivas para si mesmo. As pessoas do Tipo Quatro tendem a esperar que surja a inspiração, mas a inspiração tem mais chance de “surgir” se sua rotina diária e seu espaço estiverem organizados de forma a maximizar sua criatividade, sua saúde física e emocional e, acima de tudo, seu entrosamento com o mundo. No seu caso, um pouco de ordem e estrutura pode fazer milagres no sentido de liberar sua criatividade.


Reforçando os Pontos Fortes do Tipo Quatro


As pessoas do Tipo Quatro são mergulhadoras da psique: elas vão até o âmago da alma humana e voltam à superfície para relatar o que encontraram. São pessoas capazes de transmitir suas verdades acerca da condição humana de uma forma profunda, bela e tocante. Elas nos fazem recordar o que temos de mais humano – o que há de mais pessoal, recôndito e precioso a nosso respeito e que, paradoxalmente, é também o mais universal.

Graças a sua sintonia com seus próprios estados de espírito – aos sentimentos e impulsos subconscientes –, as pessoas do Tipo Quatro são geralmente muito intuitivas, algo que alimenta sua criatividade e sua autodescoberta. Embora possam ter muitos dotes intelectuais, elas tendem a basear-se primeiramente no que sua intuição lhes diz a seu respeito e sobre o ambiente a cada momento. Muitas vezes, elas não sabem direito como conseguem chegar a um determinado insight, pois os trâmites de seu consciente são misteriosos e surpreendentes.

Carol, que antes falou a respeito das limitações impostas pela sua inibição, aqui aborda o dom da intuição:


“Eu sinto as coisas, mas nem sempre sou capaz de percebê-lo. Por exemplo, posso ter uma sensação incômoda em certas situações e não saber de onde provém. Com os anos, aprendi a prestar atenção a isso (...). Sou muito intuitiva. Sei certas coisas sem saber como. De repente me vejo sentada na cama no meio da noite e sei a solução de um determinado problema. Nessas ocasiões, não me resta a menor dúvida, mesmo que eu preferisse uma alternativa diferente.”


Ao mesmo tempo, as pessoas saudáveis do Tipo Quatro, não se levam demasiado a sério. Elas têm um sutil senso de humor, normalmente expresso por meio da ironia, que lhes permite ver suas próprias falhas com graça e leveza. Tanto o senso de humor quanto a eloquência que possuem podem transformar-se em grandes trunfos, na cura e no trabalho, para si e para os outros.

As pessoas do Tipo Quatro não são as únicas a ter criatividade, já que as pessoas de qualquer tipo podem ser criativas. Entretanto, elas possuem um tipo especial de criatividade, uma criatividade pessoal que é fundamentalmente autobiográfica. Ela consiste basicamente na exploração de sua história e do seu mundo de sentimentos e, em particular, o efeito que lhes provocaram a família, os amores e os incidentes do passado. É por essa razão que tantos poetas, romancistas e dramaturgos são do Tipo Quatro.

Riva comenta a emoção que lhe dá a compreensão intuitiva da condição humana e a alegria de encontrar formas de expressá-la:


“Em meus melhores momentos, sou capaz de levantar voo. Vejo as coisas panoramicamente, sintetizo diferentes planos e posso comunicar o que vejo em linguagem poética e precisa, que comove as pessoas e lhes permite ver o mesmo também. Tenho a capacidade de extrair das experiências princípios subjacentes profundos, verdades universais e nuances sutis e transmiti-los com força e clareza. Em meus melhores momentos, a percepção espiritual é minha âncora e posso transformá-la numa fonte de cura e sabedoria também para as pessoas. Em meus melhores momentos, consigo expressar o inefável.”


As pessoas saudáveis do Tipo Quatro encontram o espelho que buscam compartilhando as profundezas de sua própria alma. Fazendo isso, descobrem com alívio que sua natureza, no fundo, não difere da de ninguém. Sua relação com a vida interior não é uma forma de alienação, mas sim um meio de ir até as pessoas e unir-se a elas de maneira construtiva.


O Caminho da Integração: O Tipo Quatro Passa ao Um


As pessoas saudáveis do Tipo Quatro entrosam-se com a realidade pela ação bem-orientada. Submetendo-se a princípios e atividades que estejam além do domínio das suas reações subjetivas, essas pessoas descobrem não apenas quem são, mas também que o que elas são é bom. Elas entram em maior contato com a urgência de seus instintos e saem do transe provocado pelos roteiros emocionalmente carregados que são encenados em sua mente.

Quando passam ao Tipo Um, elas percebem também que a auto-expressão não implica complacência diante da instabilidade de humor. Assim, tornam-se autodisciplinadas, esforçando-se por contribuir com algo de significativo para o mundo. Não mais meros transeuntes inacessíveis que esperam ser reconhecidos, essas pessoas participam plenamente da vida e cultivam uma noção mais nítida do próprio eu por meio do trabalho e dos relacionamentos.

Todavia, isso não deve ser confundido com a adoção da crítica e do perfeccionismo típicos do Tipo Um. O superego das pessoas do Tipo Quatro já é punitivo o bastante; portanto, intimidar-se com projetos de auto-aperfeiçoamento pode levar a mais auto-recriminações. Assim, é importante cultivar uma outra característica saudável do Tipo Um: a capacidade de discriminação. Com ela, saberão o que já sabem as pessoas saudáveis desse tipo: que a realidade de uma situação e nossas reações emocionais são duas coisas diferentes.

As pessoas saudáveis do Tipo Um ilustram também a aceitação da realidade – eles trabalham com os elementos que realmente compõem uma situação, em vez de rejeitá-los. Quando tomam o caminho da integração, as pessoas do Tipo Quatro também entendem que a aceitação é a chave para abandonar o passado e abraçar criativamente a vida no presente. Com a auto-aceitação vem o perdão a antigos erros e dificuldades. Com a aceitação dos outros, vem a capacidade de estabelecer relacionamentos mutuamente satisfatórios. Essas pessoas não precisam mais ver nos outros os salvadores idealizados nem derrubá-los de seus pedestais por não conseguirem colocar-se à altura de suas exageradas expectativas – elas veem o outro como outro e podem perceber melhor suas próprias qualidades sem recorrer a um Eu Fantasioso.

Finalmente, as pessoas do Tipo Quatro que se encontram em processo de integração são capazes de construir uma noção realmente autêntica e estável de identidade e auto-estima porque sua base são os fatos e relacionamentos da vida real, e não sua imaginação nem seus transitórios estados emocionais. Elas conseguem ver em si qualidades antes invisíveis: força, determinação e lucidez. Além disso, havendo-se centrado no momento, elas veem em todos os aspectos da vida oportunidades de criação. Em vez de deixar-se levar pela introspecção ou pelo turbulento fluxo de reações emocionais, essas pessoas se mantêm presentes diante de si mesmas e do mundo que as cerca e, assim, começam a despertar para as verdades mais profundas do coração humano. Ao permitir que esse processo se desenvolva, sua verdadeira identidade se revela em cada momento de sua existência.


A Transformação da Personalidade em Essência


No processo de transformação, as pessoas do Tipo Quatro abandonam a auto-imagem segundo a qual têm mais defeitos que os outros e lhes falta algo que eles possuem. Além disso, percebem que não há nada de errado com elas, ninguém precisa salvá-las; elas são perfeitamente capazes de responder por si e cuidar de sua vida. Essas pessoas descobrem que é quando nada fazem para criá-lo ou mantê-lo que seu verdadeiro eu se evidencia. Em outras palavras, “ser quem são” não lhes exige nenhum esforço específico.

Nesse ponto, as pessoas do Tipo Quatro já não precisam sentir-se diferentes nem especiais, pois veem que, de fato, o universo não criou duas de cada uma delas – e que fazem parte de tudo; não estão sós nem isoladas. A vida deixa de ser uma carga, algo a ser suportado. Além disso, elas se sentem, talvez pela primeira vez, gratas pelas dores e sofrimentos passados porque, à sua maneira, essas coisas lhes permitiram tornar-se as pessoas livres que hoje são. “Quem são” continua sendo mistério, talvez mais do que nunca. Mas, em vez de aferrar-se a ideias preconcebidas acerca de sua identidade, elas permitem-se uma abertura para o momento e para a experiência de renovação do eu que ele traz.

King é um terapeuta que, após anos de trabalho interior, aprendeu a reconhecer a riqueza de sua própria natureza interior:


“Em meus melhores momentos, estou cheio de alegria e energia e me relaciono com as pessoas e com a vida: estou vivo! Eu manifesto o que sinto, em vez de ruminar sozinho. Meu combustível é a disciplina da realização daquilo que sei que precisa ser feito e não a busca de ‘razões’ para não ter de produzir como todo mundo. Sou dotado de imaginação e criatividade, sou capaz de encontrar estruturas, padrões e sentidos ocultos em todos os desafios da vida. Sou livre!”

Uma vez libertadas de seu Medo Fundamental, as pessoas do Tipo Quatro deixam de precisar da arte para substituir a beleza, pois a encontram em abundância dentro de si. Como estão conscientes de seu eu Essencial e livres da turbulência das reações emocionais, podem entrar em contato mais profundo com a natureza mutável da realidade e deixar-se inspirar e comprazer com ela.

Diane, uma engenheira, descreve muito bem essa sensação de conexão com as coisas:


“Em meus melhores momentos, sou desinibida e espontânea. Em vez de deixar-me desviar pelas minúcias de meus estados de espírito, sou livre para prestar atenção ao mundo e às pessoas à minha volta. Deixar de lado o habitual e obsessivo processo de automonitoramento, auto-análise e auto-inibição é algo maravilhoso e libertador. Aí é como se o tempo se desacelerasse e o mundo saltasse à minha frente em toda sua riqueza e sutileza. As coisas mudam – ficam mais tridimensionais, mais detalhadas, mais vivas. Consigo concentrar-me sem esforço nas pessoas, vibrar em ressonância com seus estados emocionais e escutar suas histórias sem me perder nas minhas.”


A Manifestação da Essência


O Tipo Quatro nos revela a verdade fundamental de que nosso verdadeiro eu não é algo com atributos fixos; é um processo em constante transformação e renovação. As manifestações de nossa verdadeira natureza estão sempre surgindo e transformando-nos em algo tão maravilhoso e inesperado quanto um caleidoscópio mágico. O trabalho espiritual do Tipo Quatro está em não transformar esse caleidoscópio num instantâneo emoldurado e pendurado na parede. Assim, seus representantes descobrem que realmente são um fluxo de experiência muito mais belo, rico e satisfatório do que tudo que pudessem ver na imaginação.

A experiência do contato íntimo com esse fluxo abre-nos para um contato mais profundo com os outros e com os aspectos mais sutis da realidade espiritual. Esse contato sempre é pessoal – é precioso e momentâneo. De certa forma, as pessoas do Tipo Quatro ajudam-nos a reconhecer a unidade do eu pessoal e outros aspectos mais universais de nossa verdadeira natureza.

Assim, a qualidade Essencial específica do Tipo Quatro é a personificação do elemento pessoal do Divino. Aquilo que é eterno em nós vivencia o mundo mediante nossa experiência pessoal. Um aspecto fundamental da alma é a impressionabilidade – a capacidade de deixar-se tocar pela experiência e crescer a partir dela. Quando estamos abertos e presentes, nosso coração é afetado e se transforma com as nossas experiências. Com efeito, cada vez que nos deixamos tocar de verdade pela vida, modificamo-nos de modo profundo. E, em última análise, não é esse o objetivo de toda forma de auto-expressão criativa – tocar e transformar o coração humano?

Quando permanecem fiéis à sua verdadeira natureza, as pessoas do Tipo Quatro entram em harmonia com a incessante criatividade e transformação que são parte da dinâmica da Essência. No íntimo, elas representam a criação, o constante transbordar do manifesto, transformando o universo em eterno agora. Simbolizar isso e lembrar aos demais tipos que também eles participam da criatividade Divina é o que de mais profundo nos poderiam ofertar as pessoas do Tipo Quatro.


Níveis de Desenvolvimento

Saudável

Nível 1 (Amor à vida, Revitalização): As pessoas do Tipo Quatro deixam de acreditar que têm mais defeitos que os outros e, assim, conseguem libertar-se da absorção em si mesmas. Seu Desejo Fundamental – encontrar-se e definir sua própria importância – também é cumprido e, desse modo, se resolvem os problemas de identidade e estabilidade. Essas pessoas então se renovam, se redimem e se revelam.

Nível 2 (Introspecção, Sensibilidade): As pessoas do Tipo Quatro concentram-se em seus próprios sentimentos e preferências para estabelecer uma noção clara de identidade pessoal. Auto-imagem: “Sou sensível, diferente e atento a mim mesmo”.

Nível 3 (Auto-revelação, Criatividade): As pessoas do Tipo Quatro reforçam sua auto-imagem expressando a própria individualidade pela criatividade. São eloquentes e sutis, exploram suas impressões e sentimentos e sabem compartilhá-los com os demais. Sua criatividade, apesar de extremamente pessoal, muitas vezes tem implicações universais.

Média

Nível 4 (Romantismo, Individualismo): Temendo não poder confiar em seus mutáveis sentimentos, as pessoas do Tipo Quatro recorrem à imaginação para prolongar a intensificar seus estados de espírito. Usam então a fantasia e o estilo para reforçar a individualidade e começam a sonhar com alguém que as salve.

Nível 5 (Auto-absorção, Temperamentalismo): As pessoas do Tipo Quatro receiam não ser reconhecidas ou apreciadas em sua singularidade. Por conseguinte, fazem-se de difíceis para testar os outros e saber se estão realmente interessados nelas. Distantes, acanhadas e melancólicas, mantêm os demais a distância, acreditando que sua fragilidade finalmente atrairá um salvador.

Nível 6 (Autocomplacência, Sibaritismo): As pessoas do Tipo Quatro temem ser forçadas pelas exigências da vida a abrir mão de seus sonhos e jamais desesperam de ser salvas. Têm a sensação de estar deixando a vida passar e invejam a estabilidade alheia. Assim, eximem-se das “regras” e tornam-se sensualistas, pretensiosas e improdutivas.

Não-saudável:

Nível 7 (Ódio, Alienação): As pessoas do Tipo Quatro temem estar desperdiçando a própria vida, o que pode ser verdade. Para salvar a auto-imagem, repudiam todos aqueles que discordam da visão que têm de si mesmas ou de suas exigências afetivas. A raiva reprimida resulta em depressão, apatia e fadiga constante.

Nível 8 (Auto-rejeição, Depressão Clínica): As pessoas do Tipo Quatro, desesperadas por tornar-se aquilo que veem em suas fantasias, odeiam tudo em si que não corresponda ao que é fantasiado. Detestando a si mesmas e aos outros por não salvá-las, podem sabotar o que ainda lhes resta de bom na vida.

Nível 9 (Desespero, Negação da Vida): Convencidas de haver desperdiçado a vida buscando fantasias fúteis, as pessoas não-saudáveis do Tipo Quatro podem recorrer a comportamentos autodestrutivos para atrair salvadores ou tentar pôr fim à própria vida para escapar ao negativismo de sua consciência da própria identidade. Em certos casos, podem cometer crimes passionais.


(Traduzido de "The Wisdom of the Enneagram", de Don Richard Riso & Russ Hudson, por ~mamado frentista)


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