Eneagrama: Tipo Dois – O Ajudante
- 16MM
- 16 de ago. de 2020
- 38 min de leitura
O Tipo Afetuoso e Interpessoal:
Generoso, Demonstrativo, Comprazedor e Possessivo
Medo Fundamental: O de não ser amado ou querido simplesmente pelo que é.
Desejo Fundamental: Sentir-se amado.
Mensagem do Superego: “Você estará num bom se for amado pelos outros e estiver perto deles.”
As pessoas do Tipo Dois costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Quatro, Sete ou Um. As dos Tipos Nove, Seis e Sete costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Dois.
Chamamos este tipo de personalidade de o Ajudante porque há duas possibilidades: seus representantes ou são de fato os que mais ajudam os outros ou, quando menos saudáveis, são as pessoas que mais investem em ver-se como úteis. Sendo generosos e saindo de seu caminho por causa dos outros, eles sentem que possuem a forma de viver mais rica e cheia de sentido que existe. Seu amor e interesse – e o autêntico bem que fazem – aquecem-lhes o coração e os fazem sentir-se dignos. Seu maior interesse está naquilo que eles consideram as melhores coisas da vida: o amor, a intimidade, o carinho, a família e a amizade.
Louise, uma ministra, fala aqui da sua alegria em pertencer ao Tipo Dois:
“Não consigo imaginar-me pertencendo a outro tipo nem gostaria disso. Gosto de envolver-me com a vida das pessoas. Gosto de ser compassiva, interessada, carinhosa. Gosto de culinária e de trabalhos domésticos. Gosto de ter a certeza de que posso ouvir qualquer coisa que as pessoas me disserem sobre si próprias e continuar a amá-las. (...) Realmente, tenho orgulho de mim mesma e me amo por ser capaz de estar com os outros onde eles estiverem. Sei como amar de verdade as pessoas, as coisas e os animais. E sou uma grande cozinheira!”
Quando saudáveis e equilibradas, as pessoas do Tipo Dois realmente são amorosas, solicitas, generosas e atenciosas, atraindo a si os outros como o mel atrai as abelhas. Com o calor de seu coração, a todos aquecem. Com sua estima e atenção, a todos animam, ajudando-os a ver as qualidades positivas que possuem e desconheciam. Em resumo, essas pessoas são a personificação do bom pai ou da boa mãe que todos gostariam de ter: alguém que os vê como são, compreende com imensa compaixão, ajuda e incentiva com infinita paciência e está sempre disposto a ajudar, sabendo exatamente como e quando já não são necessários. Os representantes saudáveis do Tipo Dois abrem-nos o coração porque o seu já está aberto. Eles nos mostram como podemos tornar-nos mais profundamente humanos.
Louise prossegue:
“Sempre trabalhei ajudando as pessoas. Fui uma professora que queria ser sensível às crianças e ajudá-las a ter um bom início. Fui responsável pela educação religiosa de várias paróquias. Eu achava que, se as pessoas aprendessem mais sobre a vida espiritual, seriam mais felizes. (...) A parte mais importante de minha vida é a espiritual. Vivi por dez anos numa comunidade religiosa. Casei-me com um ex-sacerdote, com o qual tenho uma vida baseada na espiritualidade.”
Porém, o lado sombra das pessoas do Tipo Dois – soberba, auto-engano, tendência a envolver-se demasiadamente na vida alheia e a manipular os outros para satisfazer as próprias necessidades emocionais – pode cercear seu desenvolvimento interior. O trabalho de transformação pressupõe a visita aos nossos recônditos mais sombrios, e isso vai radicalmente de encontro à estrutura da personalidade do Tipo Dois, que prefere ver-se apenas nos termos mais positivos e favoráveis.
Talvez o maior obstáculo que as pessoas dos Tipos Dois, Três e Quatro tenham pela frente em relação ao trabalho interior seja enfrentar o medo correspondente à sua Tríade, que é o de não ter nenhum mérito. No fundo, todos os três tipos temem não ter valor e, por isso, creem precisar ser ou fazer algo de extraordinário para conquistar o amor e a aceitação dos outros. Nos Níveis inferiores, as pessoas do Tipo Dois apresentam uma auto-imagem falsa, segundo a qual são absolutamente desinteressadas e generosas e não querem nada em troca do que dão, quando na verdade podem ter grandes expectativas e necessidades emocionais de que não se apercebem.
Os representantes menos saudáveis do Tipo Dois buscam legitimar o próprio valor fazendo o que manda o superego: sacrificar-se pelos outros. Eles acreditam que devem colocar as pessoas sempre em primeiro lugar e ser afetuosos e desprendidos se quiserem ser amados. O problema é que dar essa prioridade aos outros torna essas pessoas secretamente ressentidas e rancorosas. Apesar de esforçar-se por negar ou reprimir o rancor e o ressentimento, eles invariavelmente vêm à tona de maneiras as mais diversas, desestabilizando os relacionamentos e revelando a inautenticidade presente em muitas das alegações de vários dos representantes menos saudáveis do Tipo Dois, seja acerca de si mesmos ou da profundidade do seu amor.
Porém, na faixa saudável, o quadro é completamente diferente. O próprio Don (autor do livro) tem em sua família um exemplo que representa o arquétipo do Tipo Dois: sua avó materna. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela foi uma “mãezona” para metade do contingente da Força Aérea baseado em Biloxi, Mississipi: dava comida aos rapazes, colocava a casa à disposição deles, como se fosse seu segundo lar, dava conselhos e consolo aos que se sentiam sós ou tinham medo de ir para a guerra. Embora o marido não fosse rico e o casal tivesse dois filhos adolescentes, ela cozinhava refeições para os recrutas, dava-lhes pouso à noite e cuidava de seus uniformes, passando-os e pregando-lhes botões. Viveu até os 80, lembrando sempre daqueles anos como os mais felizes e gratificantes de sua vida – provavelmente por ter tido aí a chance de pôr em prática as qualidades saudáveis do Tipo Dois.
O Padrão da Infância
(Favor observar que o padrão da infância aqui descrito não provoca o tipo de personalidade. Em vez disso, ele descreve tendências observáveis na tenra infância que têm grande impacto sobre os relacionamentos que o tipo estabelece na vida adulta.)
Na infância, as pessoas do Tipo Dois começam a acreditar em três coisas: primeiro, que precisam colocar as necessidades alheias acima das suas próprias; segundo, que precisam ceder para obter; e terceiro, que precisam conquistar a afeição dos outros porque o amor não lhes será simplesmente dado. Elas sentiam que a única forma de serem amadas era reprimindo as suas necessidades e satisfazendo as dos outros, desdobrando-se em atenções e gentilezas para serem queridas. A depender do grau de desestruturação do ambiente que tiveram na infância, elas poderão haver aprendido ainda que reconhecer as próprias necessidades era uma forma de egoísmo expressamente proibida pelo superego. (“As pessoas boas não têm necessidades, Devotar muito tempo a si mesmo é egoísmo.”)
Assim, o Tipo Dois aprendeu a agir dentro do sistema familiar e em todas as relações subsequentes – como o ajudante, o amigo desinteressado, aquele que quer agradar e dar atenção e apoio a todos os demais. Quando jovens, os representantes do Tipo Dois podem conseguir um lugar dentro da família cuidando dos irmãos, fazendo as tarefas da casa ou ocupando-se dos pais de várias maneiras. Eles são profundamente condicionados a pensar que, sacrificando-se, serão recompensados com o que a família considera amor.
Lois, educadora e administradora com vasta experiência, fala-nos um pouco acerca das obrigações que as crianças do Tipo Dois sentem como suas:
“Desde que me lembro, sentia que era meu dever cuidar das pessoas da minha família. Achava que precisava ajudar meu pai e minha mãe a aliviar o stress. Eu sou a segunda de seis filhos e ajudei a criar minhas irmãs gêmeas, onze anos mais novas. Lembro-me de sentir muitas vezes que tudo dependia de mim. Passei a maior parte da infância cozinhando, limpando e lavando para ajudar minha mãe, que parecia estar eternamente sobrecarregada com seu próprio quinhão.”
Entretanto, esse tipo de orientação cria um grave problema para as pessoas do Tipo Dois. Para identificar-se inteiramente com o papel de arrimo e manter os sentimentos positivos que ele lhes traz, essas pessoas precisam reprimir muito as próprias necessidades, mágoas e dúvidas. Quando isso acontece, elas têm cada vez mais dificuldade em reconhecer suas carências e sofrimentos e deixam-se atrair automaticamente pelos dos outros. Num nível psicológico mais profundo, elas tentam resolver para os outros os problemas e as mágoas que não são capazes de perceber inteiramente em si.
Maggie é uma talentosa terapeuta que devotou a vida a ajudar a curar as feridas da infância de seus clientes. Aqui ela fala sobre seu precoce auto-abandono:
“No primeiro dia de aula da primeira série, vi várias crianças brincando no pátio da escola. Elas gritavam, corriam, empurravam-se. Eu tive a impressão de estar no inferno, já que não estava acostumada a estar com outras crianças e aquelas me pareciam ‘fora de si’. Que fazer? Vi de repente, no lado oposto do pátio, uma garotinha. Ela chorava sem parar, estava toda desarrumada, o cabelo uma bagunça, os sapatos desamarrados – precisava de ajuda! Bingo, tracei uma reta até ela, abracei-a e lhe disse que não tivesse medo, eu cuidaria dela. Foi co-dependência instantânea. Senti-me segura e necessária. Só muitos anos depois é que vim perceber como eu também estava amedrontada e como aquela criança era meu espelho.”
Em razão dessa dinâmica, as pessoas do Tipo Dois aprendem a lidar com seus sentimentos mais negativos concentrando-se nos outros, esforçando-se por agradá-los e ajudá-los. Todavia, quanto mais desestruturado for o seu ambiente familiar, mais elas esperarão a rejeição e mais ansiosas estarão por provocar reações positivas. Em última análise, acabarão fazendo qualquer coisa para obter um sinal, uma prova de que são amadas.
Os Subtipos Conforme as Asas
Tipo Dois com Asa Um: O Servidor
Faixa Saudável: As pessoas deste subtipo aliam o afeto à seriedade de propósitos enquanto buscam ser boas e colocar-se a serviço dos outros. A combinação da moralidade do Tipo Um com a empatia do Tipo Dois leva a um forte desejo de aliviar o sofrimento humano. Essas pessoas são muitas vezes como o Bom Samaritano, pois se dispõem a assumir as tarefas menos reconhecidas e glamorosas, geralmente evitadas pelos outros. Mais sérias que os representantes do outro subtipo, dedicam-se mais abertamente às pessoas e são frequentemente encontradas no ensino, no serviço público, nas profissões da área da saúde e da religião e naquelas que envolvem o trabalho com os desvalidos ou com os deficientes físicos ou mentais.
Faixa Média: As pessoas deste subtipo sentem-se obrigadas a lutar contra suas atitudes e sentimentos “egoístas”, pois se julgam responsáveis pelo bem-estar dos demais. Costumam ser sóbrias, severas consigo mesmas e cumpridoras de seus deveres. Apesar de emocionais, tendem a dificuldades na expressão das emoções, pois não se sentem à vontade chamando a atenção – mesmo que desejem ser importantes na vida dos outros, preferem trabalhar nos bastidores. Essas pessoas vivem um conflito entre os princípios e as necessidades emocionais que, em geral, as leva a envolver-se com algum tipo de ensinamento moral ou religioso. Elas podem tornar-se extremamente autocríticas e negligenciar a saúde, negando as próprias necessidades e muitas vezes assumindo o papel de mártires.
Exemplos: Madre Teresa de Calcutá, Eleanor Roosevelt, Lewis Carroll, Albert Schweitzer, Desmond Tutu, Jesus Cristo, Danny Glover, Mary Kay Ash, Florence Nightingale, “Ned Flanders”.
Tipo Dois com Asa Três: O Anfitrião
Faixa Saudável: As pessoas deste subtipo são mais sociáveis: buscam o amor pelo estabelecimento de relações pessoais com os demais e de atos que os façam sentir-se bem. Sua auto-estima está associada a suas próprias qualidades e não ao serviço em prol da comunidade. Encantadoras, falantes e adaptáveis, têm muita “personalidade” e gostam de brindar os amigos e familiares com o que tem de melhor – o talento na culinária, na conversação, na música ou a capacidade de saber escutar – como forma de partilhar sua riqueza interior.
Faixa Média: Embora amigáveis e bem-humoradas, essas pessoas são ambiciosas e deliberadas. Normalmente não se dedicam muito a cuidar dos outros; é mais fácil que considerem sua amizade e sua atenção uma dádiva suficiente para eles. Elas podem ter uma faceta sedutora, bem como uma maior concentração nos relacionamentos, que as leve a ser demasiado amigáveis, exageradamente sentimentais e dadas a histrionismos, resultado da mistura entre o desejo de aceitação do Tipo Três e o impulso para a intimidade do Tipo Dois. Menos sérias e mais voltadas para o cumprimento de tarefas que as do outro subtipo, essas pessoas geralmente são também menos dadas a autoquestionamentos e auto-críticas. Elas são objetivas quanto ao que querem, chamando a atenção para o que são capazes de oferecer. Podem ser presunçosas, arbitrárias e, por vezes, arrogantes.
Exemplos: Luciano Pavarotti, Sammy Davis Jr., John Denver, Barry Manilow, Yoko Ono, Harry Styles, “Misa Amane”, “Lily Aldrin”, “All Might”, “Maes Hughes”.
As Variantes Instintivas
O Instinto de Autopreservação (self-preservation/sp) no Tipo Dois
Tenho “Direito”. Os Autopreservacionistas do Tipo Dois reprimem o próprio instinto de Autopreservação para concentrar-se na satisfação das necessidades alheias. As pessoas que se classificam conforme esta Variante Instintiva são as que provavelmente mais se dedicam aos outros em detrimento de suas próprias necessidades, tendo assim pouco descanso ou tempo para si. Geralmente gostam de receber e cozinhar, mas podem não se alimentar bem ou não conseguir divertir-se nas reuniões que promovem. Embora subconscientemente esperem que as pessoas cuidem de suas próprias necessidades de Autopreservação, raramente são capazes de pedi-lo de forma direta. Por isso, estão especialmente propensas a sentir-se como mártires, achando que os outros lhes “devem” uma paga por seus serviços, como se dissessem: “Tenho direito a qualquer coisa de que precise por ter feito tanto por todo mundo”.
À medida que a ansiedade aumenta, os Autopreservacionistas do Tipo Dois começam a satisfazer suas necessidades de modo indireto. Ao mesmo tempo, seu instinto de Autopreservação se distorce pela tendência a reprimir os sentimentos e impulsos. Além disso, eles podem tornar-se presunçosos, vangloriar-se de seus sacrifícios e se sentir-se cada vez mais no direito de fazer tudo aquilo que julguem compensar suficientemente o seu sofrimento. A reivindicação de privilégios especiais passa a coexistir com os excessos na alimentação e o recurso a medicamentos para suprimir a agressividade. A negação dos problemas se alterna às queixas: é “Eu não preciso de ajuda” ou “Ninguém liga para minhas necessidades”. Eles passam a recorrer cada vez mais à manipulação emocional, levando os outros a sentir-se culpados para satisfazer suas necessidades.
Na faixa não saudável, os Autopreservacionistas do Tipo Dois tornam-se presunçosos e caem no extremo de negligenciar ou abusar do próprio bem-estar físico. É comum a obsessão com a comida ou com sintomas físicos. Surgem distúrbios psicossomáticos e sinais de hipocondria. Porém a supressão de necessidades emocionais ou de sentimentos de agressividade pode criar problemas de saúde reais.
O Instinto Social (so) no Tipo Dois
O Amigo de Todos. Na faixa média, o instinto Social se manifesta no Tipo Dois por um forte desejo de ser querido e aceito por todos de seu círculo social. Como os do Tipo Sete, geralmente têm agenda cheia e gostam de apresentar pessoas, fazer contatos e receber. Muitos se surpreendem com sua facilidade em tratar quase todo mundo pelo prenome. Eles gostam de ser o centro de seu grupo social, pois tem muita necessidade de ser notados e lembrados para afastar o medo tremendo de ser excluídos ou desconsiderados.
À medida que sua necessidade de amor e atenção aumenta, os representantes Sociais do Tipo Dois começam a buscar legitimação por meio da popularidade ou do contato mais íntimo com pessoas bem-sucedidas ou bem-vistas em seu grupo. Elas bem podem ter suas próprias ambições, mas estas são basicamente inconscientes e indiretas. Isso pode levá-las a agir visando tornar-se indispensáveis aqueles que julgam ter sucesso: “Uma mão lava a outra”. Se estiverem inseguras de sua aceitação social, podem cultivar seus dotes para aumentar o próprio valor e, assim, ter mais a oferecer (por exemplo, a mediunidade). Essas pessoas tentam impressionar os outros dando conselhos – espirituais, financeiros ou médicos –, mas também citando displicentemente o nome das pessoas importantes e famosas que conhecem. Essa última característica muitas vezes lhes traz problemas, pois seu desejo de mostrar que são amigas de VIPs geralmente as faz cometer indiscrições e revelar segredos. Os representantes do Tipo Dois que estão na faixa médio-inferior arriscam-se a frustrar seus entes queridos por dispersar-se entre inúmeros contatos sociais, sem se fixar muito em nenhum. Tamanha é sua necessidade de aprovação que eles perseguirão mesmo o menor indício de atenção.
Na faixa não saudável, essas pessoas correm o risco de ser extremamente paternalistas, destacando constantemente suas “boas ações” e exigindo-lhes reconhecimento: “Onde você estaria sem mim?”. Da mesma forma, podem mostrar-se “boazinhas”, encobrindo os erros daqueles que estimam para mantê-los em seu poder e, assim, tê-los sempre por perto.
O Instinto Sexual (sx) no Tipo Dois
Ânsia de Intimidade. Na faixa média, os representantes Sexuais do Tipo Dois constituem os verdadeiros viciados em intimidade do Eneagrama. Eles agem conforme o impulso de aproximar-se, tanto emocional quanto fisicamente, dos outros. Isso os leva a empenhar-se em conquistar as pessoas que os atraem, principalmente quando elas parecem indiferentes e representam um desafio. Se, no caso do Tipo Dois, a Variante Social leva as pessoas a querer ser amigas de todos, a Variante Sexual as leva a querer ser as melhores amigas de alguém: concentram-se em poucos e gostam do papel de confidente e amigo especial, único. Elas apreciam as conversas a sós, em que se trocam segredos e se fala “do relacionamento”, e gostam de descobrir quais as coisas que o parceiro valoriza, sendo capazes de pesquisa-las para aproximar-se ainda mais. (“Uau, eu também tenho ouvido muito os discos que Sinatra gravou nos anos 40!”)
A palavra sedução tem sido muito associada ao Tipo Dois em geral, mas se aplica principalmente aos seus representantes Sexuais. Os nove tipos têm sua própria forma de seduzir. A desta Variante Sexual do Tipo Dois consiste principalmente em cumular o outro de atenções. Essas pessoas se dispõem a conversar sobre os problemas do outro para aproximá-lo mais. A atividade sexual propriamente dita pode também entrar em jogo, mas nem sempre é algo consciente.
À medida que a ansiedade quanto ao desejo que despertam aumenta, os representantes Sexuais do Tipo Dois começam a perseguir o outro, temendo que este não lhes desse seu tempo se eles não se esforçassem em consegui-lo. Nos Níveis inferiores, essas pessoas começam a fazer pressões e exigências, não aceitando um “não” como resposta. Mesmo que possuam a afeição do outro, não se sentem próximas o bastante. Enquanto os representantes da Variante Social gostam de fazer muitos contatos e apresentar as pessoas umas às outras, os da Variante Sexual querem manter os amigos distantes, temendo que se descubram e o excluam da relação.
A variante Sexual dota as pessoas menos saudáveis do Tipo Dois de excessivo ciúme, possessividade e superproteção. O medo de perder o objeto de seus desejos as leva a rondá-lo, temendo que se afaste. Por conseguinte, poderão transformar o outro numa obsessão, passando a interrogá-lo compulsivamente e a não aceitar nenhuma rejeição nem qualquer reação que considerem inadequada. Além disso, poderão assediar a pessoa com quem estão romanticamente obcecadas ou agir predatoriamente com aquelas que não conseguem resistir às suas tentativas de aproximação.
A seguir, alguns dos problemas mais frequentes no caminho da maioria das pessoas do Tipo Dois. Identificando esses padrões, “pegando-nos com a boca na botija” e simplesmente observando quais as nossas reações habituais diante da vida, estaremos dando um grande passo para libertar-nos dos aspectos negativos de nosso tipo.
O Sinal de Alerta para o Tipo Dois: “Agradar” as Pessoas
Como vimos, as pessoas do Tipo Dois tendem a ser muito generosas, mas também a ter insegurança quanto ao afeto que despertam. Quando começam a recear que o que fazem por todos não basta, arriscam-se a tentar “agradá-los” – a procurar dizer e fazer coisas que os façam gostar delas. É muito difícil que, uma vez assumido esse comportamento, essas pessoas consigam evitar abordar os outros ou deixá-los ter seus próprios sentimentos e experiências: elas tendem a lançar-se em seu encalço e praticamente sufocá-los.
Essa atitude pode manifestar-se de diversas formas, desde a demonstração forçada de amizade até o excesso de solicitude para promover o bem-estar dos outros, passando pela generosidade exagerada e pela bajulação ostensiva. Além disso, essas pessoas sentem-se impelidas a relacionar-se indiscriminadamente, tornando-se as melhores amigas do carteiro e praticamente adotando todas as crianças da vizinhança porque sua auto-estima depende da proximidade dos outros. Elas estão tentando preencher um vazio no coração com os sentimentos positivos de outra pessoa. Como a maioria dos projetos do ego, esse também está fadado ao fracasso.
No fundo, as pessoas do Tipo Dois não sabem se os outros estariam tão perto delas se parassem de ser tão generosas e incentivadoras. Assim, por mais que suas gentilezas sejam reconhecidas, seu coração permanece intacto: a gratidão não pode curar o desvalor que no fundo sentem. Além disso, os outros percebem que há segundas intenções nessa “generosidade” do Tipo Dois, podendo com o tempo afastar-se e por fim rejeitar as tentativas de aproximação.
Rich, um escritor de 40 anos, casado, recorda uma ocorrência da infância que ilustra o sofrimento por detrás desse comportamento:
“Eu tinha uns 4 ou 5 anos de idade e queria ser amigo de uma garota que vivia na minha rua, embora ela pouco se interessasse por mim. Havia um trenzinho de corda que era um de meus brinquedos favoritos e pensei em dá-lo a ela para que gostasse de mim. Então fui com ele até sua casa e a vi brincando na varanda. Mas, justo quando ia dá-lo de presente, percebi (sem saber ainda qual a palavra) que aquilo era suborno. Mesmo assim, foi uma luta, pois tudo em mim me fazia querer dá-lo para que ela gostasse de mim e se tornasse minha amiga.”
Conquistar as Pessoas
Reserve uma página em um caderno ou diário para fazer anotações sobre os meios que emprega para tentar agradar as pessoas. Você tenta elogiar os outros para faze-los gostar de você? Dá ou empresta dinheiro, faz favores especiais? Como você chama a atenção para o que faz por eles, por mais sutilmente que ache que seja? Você já se viu alguma vez negando ou justificando suas tentativas de agradar? Você tem orgulho ou vergonha disso? E como reagiria se alguém lhe perguntasse algo a respeito? Como se sente ao pensar nessas coisas? Como se sente quando a coisa é na direção oposta, ou seja, quando são os outros que tentam adulá-lo ou agradá-lo?
Papel Social: O Amigo Especial
Os representantes típicos do Tipo Dois definem se como o Confidente ou Amigo Especial. Eles querem que os outros os vejam como o seu melhor amigo e que os procurem para pedir conselhos e contar segredos. Ocupar um lugar especial entre os familiares e amigos para ter informações confidenciais – saber pequenas coisas que ninguém mais sabe – torna-se então uma “prova” de sua intimidade. Eles devotam boa parte de seu tempo a fazer novos amigos e manter contato com os antigos, querendo ser informados de tudo e consultados em todas as decisões importantes.
Essas pessoas querem que os que estão de fora da relação saibam o quanto são íntimas de seus amigos. Tal postura as leva muitas vezes a fazer fofocas para comprovar essa intimidade e, assim, acabam “soltando” detalhes que não deveriam sobre a vida dos amigos. Para elas, esse tipo de indiscrição demonstra o quanto se preocupam com os outros. (“Jack e Mary estão com problemas no casamento – de novo. E agora, para piorar, o coitado do Jack não está muito bem no trabalho.”)
As pessoas do Tipo Dois também se empenham muito em encontrar formas de ter mais a oferecer aos outros. Para isso podem, por exemplo, dedicar-se a aprender coisas como leitura das cartas do tarô, massagem, cura energética, nutrição, culinária, cuidado de bebês e artesanato, no intuito de prestar serviços e fazer os outros se sentirem melhor consigo mesmos – e com elas, as pessoas do Tipo Dois. No fundo, acham que, se tiverem algum tipo de dom ou poder espiritual (saber ler a aura ou ministrar os Sacramentos, por exemplo), os outros sempre desejarão tê-las por perto.
Eles Realmente Gostam de Mim?
Observe o que faz pessoalmente para garantir o contato com os outros. Você faz serviços e favores especiais? Fala muito sobre a relação? Precisa que as pessoas estejam sempre reafirmando a estima que sentem por você? Como você se sente em relação a elas? E em relação a você mesmo?
Soberba, Adulação e Satisfação Própria
Quando o ego tenta ver-se como fonte de amor e valor na vida dos outros, o resultado é a soberba, a Paixão ou “Pecado Capital” do Tipo Dois. (“Se não fosse por mim, onde você estaria agora?”) O verdadeiro amor e o verdadeiro valor fazem parte de nossa natureza Essencial e surgem espontaneamente quando estamos realmente ligados ao nosso coração. Quando não o fazemos, sentimo-nos indignos e vazios, e a soberba é a estratégia que o ego encontra para encobrir esses penosos sentimentos.
A soberba geralmente se manifesta sob a forma de adulação. Sob sua influência, as pessoas do Tipo Dois sentem-se impelidas a elogiar os outros, só que com o desejo inconsciente de ter em troca esse mesmo tipo de atenção. Elas esperam que os outros percebam como estão sendo generosas e carinhosas e paguem-lhes na mesma moeda. Quanto mais inseguras estiverem, maior a tendência a elogiar e bajular, na esperança de serem também apreciadas e elogiadas e contarem com a gratidão dos outros.
Qualquer que seja o tipo, a soberba sempre é uma expressão da indisposição para reconhecer a nossa própria mágoa e pedir ajuda; ela é a incapacidade de admitir a gravidade de nosso próprio sofrimento, carência e vazio. Por causa da soberba, as pessoas do Tipo Dois se ocupam das mágoas de todo mundo, mas se esquecem das suas. (“Não preciso de nada! Estou bem! Estou aqui para cuidar de você.”) A soberba se trai na reação defensiva que surge quando se tem a audácia de sugerir que alguém do Tipo Dois também tem mágoas e necessidades.
Como os demais tipos da Tríade do Sentimento, a auto-imagem amorosa do Tipo Dois esconde profundos sentimentos de vergonha, dor e hostilidade. Enquanto esses sentimentos não forem processados, seus representantes não conseguirão expressar tudo o que sentem. Assim, a soberba não só os impede de receber amor e apoio dos outros, como também os distancia da possibilidade de curar as próprias feridas, camufladas por sua aparente abnegação.
Em Busca de Expressões de Carinho
Quanto menos dignas de amor se sentem, mais as pessoas do Tipo Dois se concentram nas coisas que para elas significam que são amadas. Entretanto, essas “provas” vão variar de pessoa para pessoa podem ser desde um abraço até um ato sexual, passando por um determinado tom de voz, o agradecimento por um favor prestado ou um telefonema.
Chamamos essas provas de expressões de carinho. As pessoas do Tipo Dois tendem a concluir que não são amadas, a menos que o outro lhe diga determinadas palavras, como, por exemplo: “Eu te amo” – e isso com o tom de voz e o olhar esperados. Se o outro quiser demonstrar seu amor de outra forma que não seja a expressão de carinho específica, não adianta nada. Com efeito, elas inconscientemente julgam as reações dos outros e só algumas passam pelo filtro de seu superego. (“Jeff me cumprimentou e perguntou como eu ia, mas se ele realmente se importasse comigo, teria parado para tomarmos um café juntos.”) Naturalmente, quanto mais inseguras estiverem, mais difícil será para essas pessoas aceitar como provas até mesmo as mais evidentes demonstrações de amor.
Para satisfazer sua necessidade de expressões de carinho, as pessoas do Tipo Dois costumam dar dicas acerca do que as fará sentir-se amadas. (“Seu aniversário é em 16 de janeiro, não é? O meu também está perto.”) Se para um representante do Tipo Dois o amor significa receber flores, ele irá dar flores no aniversário de um ente querido, esperando que o presenteado lhe retribua da mesma forma. Infelizmente, aí entra em cena um elemento definível como “dar para receber em troca”.
A depender do quanto necessitemos de expressões de carinho, poderemos deixar de perceber boa parte do amor que nos é oferecido. E, já que suas expressões de carinho são em boa parte moldadas pelo que vivenciaram como amor na infância, o que as pessoas do Tipo Dois consideram “amor” poderá ser bastante peculiar, em função das agressões que possam ter sofrido. Além disso, quanto mais rejeitadas se sentirem em decorrência de problemas de infância, mais difícil será convencerem-se de que alguém realmente as ama. Ao final, elas podem julgar inadequadas ou negativas até as expressões mais convencionalmente aceitas como amor.
Reconhecendo o Amor
Em um caderno ou diário, analise a questão “Como sei que sou amado?” O que para você conta como amor? De quem é o amor que você busca? Quais são os indícios de que essa(s) pessoa(s) o ama(m)? Como você sabe ou saberia que está sendo amado?
Intimidade e Perda de Limites
Aprovar, elogiar, aplaudir e adular podem seduzir muito as pessoas, e os representantes típicos do Tipo Dois sabem disso. Eles conhecem o poder da atenção e não ignoram o quanto a maioria das pessoas está ávida por ela. Sua disposição de dar atenção e interessar-se pelos assuntos das pessoas pode rapidamente criar um grau de intimidade imprevisto e incomum para a maioria. Muitas vezes sem perceber, elas se veem “numa relação” com alguém do Tipo Dois e têm de reagir às suas expectativas. Quando esse alguém está na faixa saudável, aceita a reação que o outro pode oferecer. Porém, a depender da própria carência, a pessoa do Tipo Dois vai esperar que o outro reaja de determinada maneira.
Quase sempre, as pessoas do Tipo Dois querem estar fisicamente próximas daqueles com quem desejam compartilhar sua intimidade. Abraçam e beijam com espontaneidade, para elas é fácil passar o braço pelo ombro dos outros e dar-lhes tapinhas nas costas. Assim, estão quase sempre se arriscando a mostrar-se demasiado familiares em sua linguagem corporal, sua fala e suas maneiras, o que é fácil de ser mal interpretado no trabalho e em outras situações sociais.
Quanto mais empenhadas em estabelecer um relacionamento, mais difícil para as pessoas do Tipo Dois reconhecerem limites. Por isso, são capazes de fazer perguntas altamente indiscretas, seja sobre a saúde, a situação financeira ou a vida sexual dos outros. Além disso, podem dar opiniões e conselhos não solicitados. (“Mary simplesmente não é a namorada certa para você.”) Quando não encontram uma necessidade ou um problema específico, elas podem começar a cria-los, geralmente das formas mais inconvenientes e desnecessárias. (“Sábado eu venho e levo você ao mercado, depois a gente vai para a sua casa, eu o ajudo a fazer a faxina e depois vamos ao cinema.”) Se os outros se esquivarem, achando que está havendo invasão, a reação mais geral do Tipo Dois é redobrar a solicitude.
A intromissão, no caso do Tipo Dois, pode ter matizes sexuais. As Variantes Instintivas Social e Sexual são capazes de levar seus representantes a demonstrar claramente – e até a impor – suas necessidades emocionais e sexuais, queira o outro ou não se envolver com elas. Uma faceta mais inocente dessa característica – mas, ainda assim, problemática – é a tendência a estar sempre presente, seguindo as pessoas, inclusive ao sanitário. (“Por que você fechou a porta?”) Naturalmente, esse tipo de coisa em geral provoca o efeito contrário ao desejado, isto é, afasta as pessoas.
O Equilíbrio na Satisfação das Necessidades
Lembre-se de perguntar às pessoas queridas o que precisam e o que não precisam de você. Disponha-se a escutá-las e aceitar-lhes os limites. Além disso, observe as vezes em que não consegue fazer algo para si mesmo porque teve de desdobrar-se para fazer um favor a alguém. Faça uma lista de coisas que precisa fazer por si diariamente e cumpra-a! Deixe-a num lugar bem visível.
Carência Disfarçada
As pessoas do Tipo Dois aprenderam que não podem expressar suas necessidades e exigências diretamente – têm de fazê-lo de forma indireta, na esperança de que os outros captem suas dicas e lhes deem o troco desejado. Como as pessoas do Tipo Um, elas também têm um forte superego, só que em seu caso ele está sempre julgando o que elas devem fazer para ser amadas, o que “conta como amor” nas atitudes dos outros, o tipo de sacrifício que fazem, etc. Ter necessidades e tentar satisfaze-las abertamente como fazem os tipos assertivos) parece egoísmo ao representante característico do Tipo Dois.
Maria é uma educadora que há muito vem trabalhando para resolver seus problemas do Tipo Dois:
“Para ser direta e clara com as pessoas, eu tive de treinar – o que, no meu caso, representou uma espécie de compensação. O problema surge quando tenho de estabelecer limites, verbalizar uma recusa ou pedir a uma pessoa importante para mim que me faça um favor difícil. Para mim, antes é preciso criar coragem se tiver de recusar alguma coisa ou pedir um favor sem uma justificativa – e é terrível esperar a resposta.”
A maioria das pessoas do Tipo Dois receia que, tendo problemas e necessidades, os outros se afastem. Na verdade, elas podem acabar se convencendo de que não tem nenhum e que existem só para servir os outros.
Apesar de ter um cargo religioso e, por isso, várias pessoas que dependem dela, Louise ainda “precisa ser imprescindível”:
“Uma das coisas de que mais tenho consciência é que acordo de manhã já pensando nas pessoas que estão em minha vida, para saber de antemão o que elas precisarão que eu faça durante o dia. Fiz isso com meus filhos até eles irem para a universidade. Sempre lhes dizia onde estava ‘para o caso de precisarem de mim’.”
Quando esse comportamento se torna habitual, surge algo de compulsivo nessas pessoas: elas não conseguem não ajudar. Torna-se uma obrigação adiantar-se para salvar os outros. Isso os coloca no papel de “filhos carentes” e, ao mesmo tempo, consagra as pessoas do Tipo Dois como os pais ou mães fortes e capazes. Porém, salvando os outros dessa forma, elas lhes roubam a oportunidade de resolver seus próprios problemas e construir sua própria dignidade e auto-estima. É possível que assim se criem ressentimentos de ambos os lados: os que são ajudados se ressentem por serem tratados como crianças e as pessoas do Tipo Dois, por investirem tanta energia sem receber nada em troca. Frequentemente, o que ocorre quando o Tipo Dois ajuda alguém é que, depois de resolvido o problema, o ajudado vai cuidar da própria vida e o ajudante fica com uma nova decepção.
Na faixa menos saudável, as pessoas do Tipo Dois poderão tentar satisfazer as necessidades não admitidas forçando ou constrangendo os outros a fazerem coisas que não querem. Como costumam ter problemas com dinheiro (e pagamentos), elas podem, por exemplo, tomar $1.000 de um amigo ou parente. Na data marcada, devolvem $800, dizendo que vão zerar o débito adiante. O tempo passa, e nada de pagamento. O outro fica na posição de mencionar a dívida ou deixar para lá. Com essa atitude, fazem o outro sentir-se mesquinho se trouxer a questão à tona. Mas não mencioná-la geralmente anuvia o relacionamento ou leva-o diretamente ao fim. Trata-se de um risco muito grande, mas as pessoas do Tipo Dois estão sempre dispostas a corrê-lo por duas razões: se a outra pessoa não falar nada, 1) elas se sentirão de alguma forma recompensadas e 2) se convencerão de que isso se deve ao fato de serem imprescindíveis ao outro. Assim, podem ter certeza de que ainda são queridas.
Reconhecendo Necessidades
Toda vez que você perceber que está precisando fazer algo por alguém, pare o que estiver fazendo, acalme-se e pergunte a seu próprio coração o que é que precisa desta vez.
O Salvador dos Carentes
No lado positivo, a ligação emocional e empática que as pessoas do Tipo Dois estabelecem com os outros as faz querer sinceramente ajudar os aflitos, enquanto sua generosidade e dedicação lhes permite fazê-lo de formas tangíveis. Porém, no lado negativo, esse desejo de salvar os outros as impede de relacionar-se com eles de maneiras mais satisfatórias.
O papel de salvador leva o Tipo Dois a concentrar-se nos mais carentes, inclusive nos chamados casos perdidos. A estima que esperam obter se conseguirem ajudar os mais necessitados traz consigo a promessa da gratidão e da auto-estima. Além disso, quanto mais carente o beneficiário, mais abnegado parecerá o representante do Tipo Dois, ao menos para seu próprio superego.
Entretanto, há certos problemas intrínsecos a essa situação. Nos casos mais radicais, essas pessoas chegam a querer ajudar até quem está literalmente em coma. Já que não conseguem obter uma reação da pessoa afetada, elas se voltam para os familiares do doente e passam a atender também as necessidades destes, assim passando dos limites. Elas podem lidar profissionalmente com crianças pequenas, idosos, órfãos, viciados em álcool e outras drogas ou pacientes terminais, numa opção que contempla aqueles que precisam de sua ajuda, mas não têm condições de devolver todo o seu amor e atenção.
Voltar-se para os incapacitados ou os sofredores não adianta muito quando se busca deles uma reação emocional madura. No entanto, isso é o que os representantes do Tipo Dois emocionalmente mais carentes fazem. Em sua necessidade de ser necessários, eles se dão a pessoas que não têm condições de corresponder a suas secretas expectativas. Ou, como se diz em muitos dos programas de recuperação de doze passos, eles estão “procurando laranjas numa loja de ferragens”.
Limites Razoáveis
Quando se envolver com alguém, explicite aquilo que espera ou deseja dele. Esteja atento a envolvimentos com pessoas que lhe parecem ter alguma carência. Aprenda a não se apaixonar por casos perdidos. (“Ele é muito legal e, sobretudo, honesto porque me contou que é viciado em drogas e que espancou a ex-namorada. Tenho certeza que, se lhe der bastante amor...”) É ótimo ajudar as pessoas, mas só quando isso é feito sem expectativas acerca do que elas poderão fazer por nós no futuro.
Controle e Possessividade
Quanto mais se dedicam, mais os representantes do Tipo Dois sentem que estão fazendo um investimento nas pessoas – um investimento que desejam proteger. Só que esse desejo de proteger o investimento é interpretado pelos outros como possessividade e, quando não é reconhecido, o problema pode dar margem também ao ciúme.
Quando uma pessoa do Tipo Dois se torna possessiva, é sinal inequívoco de que está começando a temer que os outros talvez percam o interesse nela ou a abandonem por causa de uma relação com uma terceira pessoa. Por causa da ansiedade que isso provoca, faz coisas que acabam sabotando o próprio relacionamento, por mais que no momento essa tática lhe pareça ser justamente a maneira de salvá-la e de demonstrar melhor sua devoção. A possessividade pode assumir diversas formas, inclusive a preocupação com o outro e atos que contém toda sorte de segundas intenções, por mais inconscientes que sejam.
A questão do controle é outro problema: em vez de colaborar para que o outro consiga desenvolver as próprias qualidades, as pessoas do Tipo Dois podem tentar moldá-lo para satisfazer suas necessidades emocionais. Assim, correm o risco de aprovar ou incentivar no outro comportamentos que, a longo prazo, serão prejudiciais, mas que na prática garantem que ele não as abandone.
Para compensar a sensação de não serem suficientemente amados e reconhecidos, os representantes do Tipo Dois que estão nas faixas médio-inferiores podem também assumir uma postura paternalista e condescendente em relação aos outros, queixando-se do quanto fizeram ou gastaram por eles: simplesmente não conseguem entender por que não são imediata e totalmente amados, pois estão convencidos de ser indispensáveis, de que não se pode viver sem eles. É típica a sensação de que os outros não os valorizam e de que estão sendo pressionados a ajudar.
Espaço Para os Relacionamentos se Desenvolverem
Analise, em seu Diário do Trabalho Interior, as atitudes possessivas que adota em relação aos amigos e familiares. Por que é difícil para você lhes dar espaço? De que maneiras você demonstra seu apego as pessoas? Você vê os efeitos do ciúme no relacionamento? Em que momento da infância você se apercebeu dessa emoção e como lidou com ela? Quando criança, foi vítima de manipulação por meio da possessividade e do ciúme? Como você se sente quando alguém se mostra possessivo?
Saúde e “Sofrimento”
Quando insistem em desdobrar-se para o bem dos outros, as pessoas do Tipo Dois exaurem-se não só física, mas também emocional e financeiramente. A saúde inevitavelmente acaba sofrendo, pois elas estão, ao mesmo tempo, “engolindo” seus sentimentos (somatizando) e podem apresentar distúrbios alimentares, ganho de peso, doenças psicossomáticas ou abuso de droga e medicamentos.
O sofrimento real (como também o imaginário) possibilita-lhes sentir-se como mártires que carregam a cruz da abnegação, embora muitas vezes superestimem os atos que praticam em nome dos outros. As pessoas mais saudáveis do Tipo Dois não falam muito de seus problemas, as que estão entre as faixas médio-inferior e não-saudável não fazem outra coisa. Cirurgias, cicatrizes, traumas e problemas de saúde de todo tipo são alardeados no intuito de provocar demonstrações de amor e interesse. Inclusive a hipocondria pode entrar em jogo, como mais uma tentativa de obter solidariedade. Tudo isso pode levá-las a erupções cutâneas, problemas intestinais, artrite e outras afecções associadas ao stress.
No caso dos que se encontram nas faixas médio-inferiores, os problemas de saúde ganham o estatuto de “prova” de seu próprio “desgaste pelo bem dos outros”, como sempre alegam. Além disso, a doença é muitas vezes a única maneira de tirar uma folga das responsabilidades e das exigências do superego.
Harold, professor de canto lírico, reconhece em si mesmo esse padrão de comportamento:
“Fico ressentido, patético, me dissocio emocionalmente. Perco a noção das coisas e não consigo agir com sensatez. Grito quando me aborreço; não consigo falar sem que me tremam os lábios. Acho que faço tudo pelos outros e ninguém faz nada por mim. Não consigo parar de remoer as coisas; não paro de pensar nelas um só instante. Assumo responsabilidades demais e depois, quando não consigo cumpri-las, fico doente. Essa é a minha maneira de reagir quando preciso descansar ou tirar férias.”
Cuide de você, também
Aprenda a ouvir seu corpo – especialmente quando se trata de descanso. Preste atenção se você está comendo por motivos emocionais, em vez de por fome. De insistentemente um tipo de cuidado a você mesmo ou a alguém que você ama.
Reação ao Stress: O Tipo Dois Passa ao Oito
Quando o stress e a ansiedade as superam, as pessoas do Tipo Dois passam ao Oito, tornando-se mais incisivas e contundentes. Apesar de geralmente projetarem uma imagem de desinteressada afabilidade, elas mostram, quando isso acontece, que debaixo da luva de veludo há um punho de ferro. Sua habitual obliquidade se transforma numa abordagem mais direta, levando-as a confrontar os outros quando não reagem conforme esperam, tomando satisfações pela falta de gratidão ou da expressão de carinho desejada. Elas podem, surpreendentemente, tornar-se agressivas e provocadoras, alegando com veemência haverem sido injustiçadas. Não é preciso dizer que esse tipo de queixa pega a todos de surpresa.
Ao mesmo tempo, como os representantes da faixa média do Tipo Oito, os do Tipo Dois, quando estressados, preocupam-se com as necessidades básicas e passam a trabalhar com afinco cada vez maior. Eles não querem, porém, que seu empenho passe despercebido e, numa atitude também típica do Tipo Oito, deixam bem claro quem está dando as cartas. (“Espero que você tenha consciência do quanto sou importante em sua vida.”) Em casos mais graves, essas pessoas nem se dão ao trabalho de dissimular o desejo de controle e domínio, passando a ameaçar e tornar inseguros aqueles que delas precisam. A passagem ao Tipo Oito pode ser vista como a atuação de sentimentos ligados à raiva e à sensação de traição que, em circunstâncias normais, elas não teriam coragem de enfrentar.
A Bandeira Vermelha: Problemas Para o Tipo Dois
Se tiverem vivido uma crise sem o devido preparo ou sem apoio externo, ou ainda se tiverem sido vítimas recorrentes de abuso na infância, as pessoas do Tipo Dois poderão ultrapassar o ponto de choque e cruzar a fronteira que as separa dos aspectos menos saudáveis deste tipo. Isso poderá fazê-las reconhecer, por menos que o queiram, que suas tentativas de aproximar-se dos outros na verdade os afastam. E que, com efeito, alguns de seus maiores receios podem ter fundamento.
Se admitirem a verdade que existe por trás desses receios, contudo, essas pessoas poderão dar uma virada na própria vida e rumar para a libertação e para o que é sadio. Por outro lado, é possível que se iludam e se tornem ainda mais manipuladoras, aferrando-se desesperadamente à ideia de não haverem feito nada de errado ou egoísta. Nesse caso, poderão tentar agarrar-se aos outros a qualquer preço, justificando-se com afirmativas como: “Faço isto para seu próprio bem” ou “Entendo seu desejo de ir em frente e dedicar-se à sua carreira, mas o que será de mim?” Se persistirem nessa atitude, elas se arriscam a ultrapassar a linha que as separa dos níveis não-saudáveis. Se seu comportamento ou o de alguém que conhece se enquadrarem no que descrevem as advertências abaixo por um período longo – mais de duas ou três semanas, digamos –, é mais que recomendável buscar aconselhamento, terapia ou outro tipo de apoio.
Advertências
• Extrema tendência ao auto-engano
• Comportamento baseado na ideia falaciosa de possuir “direito” de agir como age
• Episódios de manipulação e coação
• Episódios de amor obsessivo baseados em compatibilidade de idade ou status
• Atuação imprópria da agressividade reprimida
• Sintomas físicos de problemas emocionais (somatização)
Potencial Patológico: Distúrbio Histriônico de Personalidade, hipocondria, somatização, distúrbios alimentares, comportamentos sexualmente coercivos graves, “assédio”.
Práticas que Contribuem Para o Desenvolvimento do Tipo Dois
• Não se preocupe tanto com o que os outros pensam de você e fique particularmente atento às suas próprias tentativas de conquistá-los. Como você provavelmente sabe, independentemente do que fizer, quase sempre desagradará alguém. Portanto, não é possível que todos gostem de você ou sejam seus amigos todo o tempo. O mais importante é pensar em fazer o melhor que puder naquele momento e não se preocupar com o resto.
• Aprenda a reconhecer o afeto e as boas intenções das pessoas, mesmo quando não forem manifestos da forma que você conhece. Embora as pessoas possam não expressar os próprios sentimentos da maneira que você quer, podem estar tentando dizer-lhe o quanto o estimam. A maioria das pessoas não é tão efusiva quanto você nem tão pródiga com a atenção aos outros. Mas, se reconhecer o que estão lhe dando de fato, verá com mais facilidade o quanto é querido e não se sentirá tão frustrado.
• É vital para você estabelecer limites sensatos: eles lhe permitirão solidarizar-se sem se enredar com os problemas alheios. Para isso, você deve aprender a “sentir-se em sua própria pele” quando os outros estiverem em dificuldades ou precisarem de você. Isso não significa que não deva ajudar ou demonstrar seu afeto. Porém significa, sim, que deve estar ligado em si mesmo quando estiver mais propenso a deixar seus próprios interesses para conseguir aprovação. (As práticas de meditação descritas no Capítulo 17 são especialmente úteis nesse aspecto.) Se conseguir respeitar seus limites e dizer “não” quando precisar, haverá menos probabilidade de desrespeitar os limites alheios, o que, sem dúvida, contribuirá para melhores relacionamentos.
• Será extremamente útil detectar quando está lisonjeando as pessoas ou tentando de alguma forma cair em suas boas graças. (Geralmente, a personalidade adota um tom de voz muito especial quando emprega essas táticas. Procure aprender a identificá-lo e silenciá-lo quando se manifestar.) A sinceridade de seus sentimentos pelas pessoas é um dos seus maiores dons, mas eles de nada valerão se você for insincero e pecar pela adulação.
• Sua soberba serve para compensar uma outra coisa: o medo secreto de não valer nada, de não ser querido por ninguém. Procure trabalhá-lo detectando primeiramente as várias formas em que ele sutilmente se manifesta. Não é preciso ter “pensamentos orgulhosos” nem uma cara arrogante para estar dominado pela soberba: a falsa humildade é uma expressão desse sentimento, como também o alarde das boas ações praticadas. Apenas a verdadeira humildade e a certeza de ser amado – a certeza de ser, em seu eu Essencial, a própria expressão do amor – dissolvem a soberba.
• As pessoas do Tipo Dois tendem a dar demais e depois arrepender-se. Procure ter a maior honestidade possível consigo mesmo em relação aos seus motivos quando fizer algo por alguém. Aprenda a duvidar de sua lógica; aprenda a ouvir o corpo e o coração: quando ambos doerem, você saberá que está magoado. Fazer ainda mais pelos outros não ajudará a curar sua mágoa. Por outro lado, fechar-se e cortar relações com as pessoas tampouco resolverá o problema. A única coisa que funciona é ter o máximo de honestidade quanto às suas intenções e necessidades.
Reforçando os Pontos Fortes do Tipo Dois
Quando na faixa saudável, as pessoas do Tipo Dois fazem o que podem para ajudar os outros: ficam acordadas até tarde para tomar conta de crianças e idosos, cruzam a cidade para levar uma refeição para um amigo doente ou tomam providências para que ninguém fique sem tratamento médico. Quando há algo de concreto que possam fazer pelos outros, elas estarão lá, de corpo e alma.
Para elas, o bem que representam suas boas ações fala mais alto que qualquer palavra. Assim, têm a extraordinária capacidade não só de interessar-se pelos outros como também de fazer algo de efetivo que signifique muito para eles.
Essas pessoas têm um que de alegria e espontaneidade que lembra o prazer de viver exibido pelos representantes saudáveis do Tipo Sete. Seu riso é fácil e elas não se levam demasiadamente a sério, podendo simplesmente gozar as coisas boas da vida ao lado de quem apreciam. Além disso, possuem um entusiasmo pela vida que chega a ser como o das crianças, levando-as a querer descobrir novas coisas sobre o mundo, sobre os outros e sobre si mesmas.
Naturalmente, essa liberdade tem muito que ver com a capacidade de manter limites claros – dizer “não” quando preciso e ter sempre presentes as suas reais motivações. Além de distinguir as próprias necessidades das alheias, essas pessoas são capazes de manter um saudável equilíbrio entre as duas.
Louise comenta:
“Estou em minha melhor forma quando estou em paz comigo mesma. Sei o que preciso e digo-o com toda a clareza. Sinto-me tranquila, sem pensar que tenho de cuidar de alguém. É uma sensação que me dá muita liberdade. Deixo que as pessoas sejam como são, sem tentar controlá-las ou manipulá-las. É aí que posso dar e ajudar sem ressentimentos.”
Quando sensatos, os limites permitem às pessoas do Tipo Dois fazer o bem também para si mesmas: ajudar os outros não as desvia de seu próprio caminho; elas não precisam preocupar-se com a vida alheia porque têm sua própria vida. Conseguir fazer as coisas por si e conviver com seus sentimentos é um grande progresso para as pessoas do Tipo Dois.
Além disso, os limites sensatos e o equilíbrio emocional tornam essas pessoas menos dependentes das reações alheias. Elas conseguem identificar uma maior gama de atitudes como positivas e afetuosas – seriam incapazes, por exemplo, de interpretar a falta de um abraço ou outra expressão de carinho como motivo para uma decepção. Mesmo as reações negativas não as afetam a ponto de fazê-las perder o equilíbrio: quando alguém lhes diz: “Acordei com o pé esquerdo; me deixe em paz”, as pessoas que estão na faixa saudável, além de não levar a coisa para o lado pessoal, conseguem evitar fazer pressão para obter uma reação positiva. Em resumo, elas têm recursos e auto-estima suficientes para não interpretar as reações alheias como atestados de seu próprio valor.
Além disso, os representantes mais saudáveis do Tipo Dois promovem a independência das pessoas, incentivando sua segurança, força e capacidade, para que elas possam crescer sozinhas. Eles realmente querem que os outros progridam e não que se tornem física ou psicologicamente dependentes. Seu estímulo é sincero, assim como o valor que dão às qualidades das pessoas – algo especialmente útil aos que não têm uma ideia tão boa de si mesmos.
O Caminhão da Integração: O Tipo Dois Passa ao Quatro
As pessoas do Tipo Dois concretizam seu potencial e se mantêm na faixa saudável quando aprendem a reconhecer e aceitar todos os seus sentimentos sem censurá-los, como os representantes mais saudáveis do Tipo Quatro. Como naturalmente se concentram nos sentimentos dos outros, sua empatia pode tornar-se uma verdadeira antena, chegando a atingir um grau tremendo de sensibilidade. É como se seu “corpo emocional” abarcasse também os outros, permitindo-lhes captar as mudanças mais sutis em seu comportamento. Quando integram as qualidades positivas do Tipo Quatro, essa sensibilidade atinge também seus sentimentos e disposições mentais.
Isso não quer dizer que as pessoas do Tipo Dois precisem agir com base no que sentem. Elas podem estar, por exemplo, muito frustradas ou ressentidas com um ente querido e vivenciar a raiva interiormente, em vez de explodir ou tomar atitudes mais drásticas. Quando conseguem integrar-se, elas gradualmente se familiarizam e se sentem mais à vontade com uma vasta gama de sentimentos, inclusive suas necessidades secretas e seus ódios mais sombrios. Isso lhes permite saber quando e como precisam cuidar de si, além de dotá-las com a sabedoria de verbalizar suas necessidades e receios quando estes surgirem. Da mesma forma que reagem instantaneamente à aflição que veem nos outros, essas pessoas reagem também à que percebem em si mesmas.
É muito útil para essas pessoas explorar novos meios de expressão – música, dança, pintura – ou simplesmente manter um diário. O problema é que, cada vez que vão em busca de maior autoconhecimento – seja por intermédio da arte ou do auxílio que pedem a outros – seu superego as acusa de “egoísmo”. (“Por que gasta tanto tempo consigo mesmo?”) Elas poderão contrabalançar muito essas vozes se conseguirem parar, acalmar a própria mente e distinguir entre a “voz” severa do superego e a verdadeira orientação interior.
Contudo, as pessoas do Tipo Dois não ganharão muito tentando simplesmente imitar as características do Tipo Quatro. Para quem busca o verdadeiro autoconhecimento, não adianta tornar-se emocionalmente mais volúvel nem se absorver mais em si mesmo. A tendência que tem o Tipo Quatro a fantasias românticas e a grandes expectativas em relação aos outros só servirá para piorar a necessidade de intimidade do Tipo Dois. Ao começarem a romper as restrições contra o “egoísmo” impostas pelo superego, as pessoas do Tipo Dois percebem que o alvo está nas qualidades que revelam as pessoas mais saudáveis do Tipo Quatro: sua auto-suficiência, seu autoconhecimento e sua criatividade naturais.
A Transformação da Personalidade em Essência
O verdadeiro amor não é raro, mas a personalidade não sabe disso. Fazemos toda sorte de malabarismos para “ganhar amor” ou “fazer o amor surgir”. Forçamo-nos a sorrir quando estamos tristes, a ser generosos quando nos sentimos vazios e a cuidar das pessoas quando quem precisa de cuidados somos nós, como se dar-nos mais uma vez resolvesse a questão. Mas quem poderia amar-nos de maneira que fizesse todo esse esforço valer a pena?
Para as pessoas do Tipo Dois é crucial perceber que assim não conseguirão tranquilizar seu coração, independentemente de quantos sacrifícios fizerem. O que elas podem fazer, todavia, é voltar-se para a única fonte de realização que possuímos: nossa própria natureza Essencial. A única pessoa que pode amar-nos profundamente e em qualquer circunstância somos nós. Nossa própria Essência é a fonte do amor que buscamos porque é uma expressão do amor Divino e, assim, não pode sofrer restrições nem reduções.
Quando aprendem a cuidar de si e de suas próprias necessidades, as pessoas do Tipo Dois atingem um equilíbrio no qual os relacionamentos afetivos satisfatórios são não apenas possíveis, mas certos. Elas se tornam livres para amar os outros e dar de si irrestritamente, tornando-se desprendidas, altruístas e prontas a fazer o bem, a ver seus semelhantes crescerem e o bem se fazer no mundo. Ao descobrir o privilégio que é fazer parte da vida de alguém, elas atingem a verdadeira humildade e não precisam mais chamar a atenção sobre si mesmas nem sobre suas boas ações.
Num nível mais profundo, as pessoas do Tipo Dois crescem imensamente quando percebem que o amor não é um bem que possa ser ganho, exigido, conquistado ou dado por alguém – nem dado a alguém, pois, em sua forma mais pura e sublime, não é uma função do ego. O amor não é uma ficha de póquer nem um saco de guloseimas, que podem ser dados ou tomados. Se o “amor” que buscamos for assim, então não é o verdadeiro amor.
Quando duas pessoas estão naturalmente presentes uma para a outra, o amor surge naturalmente. Pouco importa que elas tenham sido amigas a vida inteira ou acabado de se conhecer. Além disso, o amor não é basicamente um sentimento, embora muitos sentimentos possam surgir na sua presença. O amor é uma coisa que não pode ser ganha nem perdida porque está sempre à nossa disposição – ainda que, para isso, precisemos estar presentes e, por conseguinte, receptivos a ele.
Não podemos determinar-nos a amar a nós mesmos nem a ninguém. Paradoxalmente, a única coisa que podemos fazer é reconhecer a presença do amor em nós e nas pessoas. Como já vimos, a nossa natureza Essencial é a emanação do amor – o único problema é que ela se bloqueia com os hábitos e as falácias da personalidade. O que está ao nosso alcance é conscientizar-nos desses bloqueios para que nossa natureza essencialmente amorosa possa voltar a se fazer sentir e promover a cura em nossa vida. O amor que vivenciamos nessas condições é real, profundo e sereno. Ele não chama a atenção sobre si. Ele não faz exigências nem cobranças. Ele é duradouro porque não depende das mutáveis condições da personalidade. Ele é cheio de júbilo porque nada pode decepcioná-lo nem o frustrar. O verdadeiro amor em ação não pode ser detido.
A Manifestação da Essência
No fundo, as pessoas do Tipo Dois se lembram da qualidade essencial do amor incondicional e da sua onipresença. Quando conseguem recordar sua natureza Essencial e o estado Divino que esta reflete, elas se apercebem da presença onipotente do amor, de forma que não há literalmente nada que precisem obter de ninguém – nem nada que possam dar. As pessoas do Tipo Dois ajudam-nos a ver que o amor não pertence a ninguém, muito menos à personalidade. Poderíamos dizer que nossa missão na vida não é “fazer o bem” nem “dar” amor a quem quer que seja, mas sim estar abertos à ação do amor.
Esse amor Essencial é vivido como uma doce fluidez – as pessoas do Tipo Dois sentem-se então leves, etéreas e em harmonia com o que as circunda. Além disso, não necessitam de ninguém para vivenciar esse amor. E, se houver alguém ao seu lado, elas não perdem a noção de sua própria identidade. Esse amor – que é equilibrado, puro e estimulante – traz uma grande tranquilidade de espírito.
O reconhecimento da verdadeira natureza do amor traz consigo uma tremenda sensação de liberdade. Quando o amor deixa de ser visto como uma mercadoria para tornar-se parte de nossa verdadeira natureza, algo que não podemos perder nunca, ganhamos uma incrível leveza. A busca desesperada por atenção termina e reconhecemos que não só temos amor e valor, mas, no fundo d'alma, somos amor e valor.
Níveis de Desenvolvimento
Saudável
Nível 1 (Apoio a si mesmo, Amor incondicional): As pessoas do Tipo Dois deixam de acreditar que não têm o direito de cuidar de si e, assim, assumem seus sentimentos e necessidades, tornando-se livre para amar os outros sem expectativas. Ao atingir seu Desejo Fundamental, libertam-se também para amar incondicionalmente a si mesmas e aos demais. São alegres, amáveis e humildes.
Nível 2 (Empatia, Afeto): As pessoas do Tipo Dois concentram-se nos sentimentos alheios com carinhoso interesse como forma de defender-se de seu Medo Fundamental. Auto-imagem: “Sou afetuoso, solícito e desprendido”.
Nível (Apoio, Doação): As pessoas do Tipo Dois reforçam sua auto-imagem fazendo o bem. São generosas com seu tempo e sua energia, estimando, incentivando e apoiando os outros. Além disso, são emocionalmente expressivas e gostam de partilhar seus dotes com todos.
Média
Nível 4 (Boas intenções, Comprazimento): Temendo que o que fazem não baste, as pessoas do Tipo Dois tentam aproximar-se mais dos outros para convencer-se de que são queridas. Empenham-se em cultivar amizades e conquistar as pessoas fazendo o que podem para agradar, adular e ajudar.
Nível 5 (Possessividade, Intrsuão): As pessoas do Tipo Dois receiam que seus entes queridos as amem menos que aos outros e, por isso, querem tornar-se imprescindíveis. Tentam ganhar direitos sobre as pessoas colocando as necessidades alheias acima das próprias. Soberbas, porém, carentes, elas não querem perder os outros de vista um instante sequer.
Nível 6 (Presunção, Autoritarismo): As pessoas do Tipo Dois ressentem-se porque os outros não as valorizam segundo elas acham que merecem, mas não conseguem manifestar livremente a sua mágoa. Reagem queixando-se da saúde, chamando a atenção para suas boas ações e lembrando as pessoas o quanto lhes devem. Sentimentos reprimidos começam a causar problemas físicos.
Não-saudável
Nível 7 (Autojustificação, Manipulação): As pessoas do Tipo Dois temem estar afastando de si os outros, o que, de fato, pode ser verdade. Para salvar a auto-imagem, racionalizam o próprio comportamento acusando-os de “egoístas e ingratos”. Tentam despertar a piedade alheia para substituir o amor e manter as pessoas em sua dependência para impedir que se afastem.
Nível 8 (Pretensão, Coerção): As pessoas do Tipo Dois estão tão desesperadas por obter amor que começam a buscá-lo obsessivamente. Julgam-se no direito de ter o que quer que seja por haverem sofrido tanto, chegando a atuar a necessidade de afeto das formas mais impróprias e perigosas.
Nível 9 (Vitimização, Opressão): A percepção de que foram “egoístas” ou fizeram alguém sofrer é insuportável para os representantes menos saudáveis do Tipo Dois. Eles ficam arrasados física e emocionalmente, passando a agir como vítimas e martirizando-se a ponto de obrigar as pessoas a interferir para cuidar deles.
(Traduzido de "The Wisdom of the Enneagram", de Don Richard Riso & Russ Hudson, por ~mamado frentista)
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