O Eu Triádico
- 16MM
- 1 de mai. de 2020
- 25 min de leitura
SE OS SERES HUMANOS conseguissem permanecer centrados em sua unidade Essencial, não haveria necessidade do Eneagrama. É universalmente reconhecido por todas as grandes tradições espirituais que a natureza humana é dividida – é contrária a si mesma e ao Divino. Nossa falta de unidade é, de fato, mais característica de nossa realidade "normal" que nossa unidade Essencial.
Surpreendentemente, o símbolo do Eneagrama representa ambos os aspectos da natureza humana, em sua unidade (círculo) e na forma como se divide triângulo e héxade). Cada parte do Eneagrama revela verdades psicológicas e espirituais acerca de quem somos, aprofundando a compreensão de nossa difícil condição, ao tempo em que sugere soluções para que a superemos.
Neste capítulo, analisaremos as principais formas assumidas pela divisão da unidade original da psique humana – as Tríades, diferentes grupos de três. Os nove tipos não são categorias isoladas, mas apresentam ricas e profundas inter-relações cujos sentidos ultrapassam os meros tipos psicológicos.
As Tríades
As Tríades são importantes para o trabalho de transformação porque indicam onde está nosso principal desequilíbrio. Elas representam os três maiores grupos de problemas e defesas do ego e revelam os principais meios pelos quais reduzimos a percepção e nos limitamos.
O primeiro agrupamento de tipos diz respeito aos três componentes básicos da psique humana: instinto, sentimento e raciocínio. De acordo com a teoria do Eneagrama, essas três funções relacionam-se a "Centros" sutis do corpo humano, e a fixação da personalidade associa-se basicamente a um desses Centros. Os Tipos Oito,

Nove e Um constituem a Tríade do Instinto; os Tipos Dois, Três e Quatro formam a Tríade do Sentimento; e os Tipos Cinco, Seis e Sete são a Tríade do Raciocínio.
Vale observar que a medicina atual também divide o cérebro humano em três partes principais: o bulbo cerebral – a parte do cérebro que rege os instintos; o sistema límbico – a parte responsável pelas emoções; e o córtex cerebral – a parte responsável pelo raciocínio. Alguns dos mestres do Eneagrama referem-se aos três Centros como cabeça, coração e vísceras ou como os Centros do raciocínio, sentimento e ação, respectivamente.
Independentemente do tipo, a personalidade contém os três componentes: instinto, sentimento e raciocínio. Como os três estão em interação, não podemos trabalhar um sem afetar os outros dois. Porém, para a maioria das pessoas – presa no mundo da personalidade, como quase todos nós – é difícil distinguir esses componentes. Nada na moderna educação nos ensina como fazer isso.
Cada uma dessas Tríades representa um leque de capacidades ou funções Essenciais que foram bloqueadas ou distorcidas. A personalidade então procura preencher as lacunas onde nossa Essência foi bloqueada – a Tríade a que pertence nosso tipo indica onde estão as maiores limitações à Essência e onde é mais forte o recheio artificial da personalidade. Se pertencermos ao Tipo Oito, por exemplo, a qualidade Essencial bloqueada é a força. Assim, a personalidade tomou a frente e tentou imitar a verdadeira força, fazendo-nos agir com rispidez e afirmar-nos de forma às vezes inadequada. A falsa força da personalidade assume o controle e disfarça o bloqueio da verdadeira força diante até de nossos próprios olhos. Se não reconhecermos esse fato, não poderemos reconhecer nem recuperar nossa força autêntica Essencial.
Da mesma forma, cada tipo de personalidade substitui determinadas qualidades Essenciais por imitações com as quais nos identificamos e das quais buscamos extrair o máximo.
Paradoxalmente, o fato de um tipo se inserir na Tríade do Sentimento não quer dizer que as pessoas desse tipo tenham mais sentimentos que as outras. O mesmo vale para os demais tipos: o fato de pertencer à Tríade do Raciocínio não significa que uma pessoa seja mais inteligente que as de outras Tríades. Na verdade, a função primordial de cada Tríade (instinto, sentimento ou raciocínio) é aquela em torno da qual o ego se fortaleceu mais e, por isso, ela é o componente da psique que menos livremente pode funcionar.

A Tríade do Instinto
• Preocupações: Resistência e Controle do Ambiente
• Problemas: Agressividade e Repressão
• Busca: Autonomia
• Sentimento Subjacente: Raiva
A formação dos Tipos Oito, Nove e Um dá-se em torno a distorções nos instintos, a base de nossa força vital. A Tríade do Instinto preocupa-se com a inteligência do corpo, com a sobrevivência e a continuação da vida em seu sentido mais básico.
O corpo tem papel crucial em todas as formas de trabalho espiritual autêntico, pois, quando se leva a percepção até ele, tem-se a base da Presença. A razão é óbvia: enquanto nossa mente e nossos sentimentos podem vagar pelo passado e pelo futuro, o corpo só pode existir no aqui e agora, no momento presente. Essa é uma das maiores razões para que praticamente qualquer trabalho espiritual significativo comece pela volta ao corpo e pela maior conexão com ele.
Além disso, os instintos do corpo são as energias mais potentes com que podemos trabalhar. Qualquer transformação que se pretenda verdadeira deve obrigatoriamente incluí-los e, se não o fizer, certamente haverá problemas. O corpo possui incríveis inteligência e sensibilidade, além de linguagem e conhecimento próprios. As sociedades autóctones, como as tribos aborígenes australianas, mantêm uma relação mais aberta com a inteligência do corpo. Há registro de casos em que membros dessas sociedades foram capazes de saber, por meio de seu próprio corpo, que um parente a quilômetros de distância havia sofrido um acidente. Esse conhecimento proporcionado pelo corpo lhes permite ir diretamente a pessoa ferida e ajudá-la.
Porém, nas sociedades modernas, a maioria das pessoas está quase que inteiramente separada da sabedoria do corpo. O termo que a psicologia dá a esse fenômeno é dissociação; em linguagem coloquial, o chamamos de alienação. Num dia tenso e movimentado, é provável que só notemos o corpo se sentirmos alguma dor. Por exemplo, normalmente nem lembramos que temos pés, a menos que os sapatos estejam apertados. Mesmo que a região das costas seja muito sensível, quase nunca nos damos conta dela, a não ser que estejamos recebendo uma massagem, exageremos na exposição ao sol ou soframos alguma lesão – e, às vezes, nem assim.
Quando de fato nos assenhoreamos do Centro do Instinto, ocupando plenamente o corpo, ele nos dá uma profunda sensação de plenitude, estabilidade e autonomia ou independência. Quando nos afastamos da Essência, a personalidade tenta preencher o vazio deixado por ela, dando-nos uma falsa sensação de autonomia.
Para conseguir isso, a personalidade cria aquilo que a psicologia chama de limites do ego. Com eles, somos capazes de dizer: "Isso sou eu e aquilo não é. Aquilo lá fora não é eu, mas esta sensação (ou pensamento ou sentimento) aqui sou eu". Em geral, pensamos que esses limites coincidem com a própria pele e, por isso, com as dimensões de nosso corpo físico, mas isso nem sempre se aplica.
Isso porque quase sempre estamos sentindo tensões habituais, e não necessariamente os verdadeiros contornos do corpo. Podemos perceber também que quase não temos sensações em certas partes do corpo: elas nos parecem ausentes ou vazias. A verdade é que arrastamos conosco uma noção de eu baseada na sensação, a qual tem pouco que ver com a forma que o corpo realmente tem, como se coloca ou o que estamos fazendo. O conjunto de tensões interiores que gera nossa noção inconsciente de eu é a base da personalidade, a primeira camada.
Presente no Próprio Corpo
Neste momento, enquanto lê as palavras impressas nesta página, você é capaz de sentir seu corpo? Qual a posição em que ele se encontra neste exato instante? Quanto dele você é capaz de sentir? O que contribui para que você o sinta mais profundamente?
Embora todos os tipos recorram aos limites do ego, o Oito, o Nove e o Um o fazem por uma razão especifica – eles tentam empregar sua vontade para afetar o mundo sem serem afetados por ele. Eles procuram influir no ambiente, recriá-lo, controlá-lo, detê-lo, sem que sua noção de eu seja influenciada. Em outras palavras, todos esses três tipos resistem à ideia de deixar-se influenciar pela realidade, cada um à sua maneira. Eles tentam criar uma sensação de completude e autonomia criando um muro" entre aquilo que consideram o eu e o não-eu, embora a localização de tal muro varie conforme cada tipo e conforme cada pessoa.
Os limites do ego dividem-se em duas categorias. A primeira refere-se ao que está fora. Ela geralmente corresponde ao corpo físico, embora nem sempre. Quando cortamos o cabelo ou as unhas ou quando extraímos um dente, não os consideramos mais parte de nós. Por outro lado, podemos subconscientemente considerar determinadas pessoas ou coisas como parte de nós – a casa, o parceiro, os filhos – embora, evidentemente, eles não o sejam.
A segunda categoria refere-se ao que está dentro. Por exemplo, dizemos que tivemos um sonho", mas não achamos que somos o sonho. Alguns de nossos pensamentos e sentimentos também podem ser vistos como distintos de nossa identidade, enquanto nos identificamos claramente com outros. Sem dúvida, pessoas diferentes se identificarão com diferentes sentimentos e pensamentos. Alguém pode vivenciar a raiva como parte de si mesmo, ao passo que outra pessoa a verá como estranha a si mesma. Em todo caso, vale lembrar que essas divisões são arbitrárias e resultam de hábitos mentais.

No Tipo Oito, o limite do ego está voltado basicamente para o que está fora, contrasta com o meio ambiente. A atenção também se concentra no que está fora. O resultado é uma expansão e um transbordamento da vitalidade do Tipo Oito no mundo. Seus representantes estão sempre empregando sua energia para impedir que algo se aproxime demais e os machuque. Sua forma de ver a vida é como se eles dissessem: "Nada vai me controlar. Ninguém atravessará minhas defesas para machucar-me. Manterei a guarda levantada". Quanto mais ferido na infância, mais inflexível o limite do ego e mais difícil a aproximação de alguém do Tipo Oito.

As pessoas do Tipo Um também mantêm um limite que as separa do mundo exterior, mas elas estão muito mais preocupadas em manter seu limite interior. Todos temos facetas que reprovamos, que nos fazem sentir ansiosos e querer defender-nos contra elas. O Tipo Um investe uma grande energia tentando deter certos impulsos inconscientes, no intuito de impedi-los de chegar à consciência. É como se seus representantes dissessem: "Não quero esse sentimento! Não quero ter essa reação ou aquele impulso!" Eles criam assim uma razoável tensão física para manter seus limites interiores e manter determinadas facetas de sua própria natureza interior a distância.

O Tipo Nove, o tipo central da Tríade (o tipo localizado no triângulo equilátero), tenta controlar seus limites do ego em ambas as áreas, tanto a interior quanto a exterior. No que diz respeito à interior, seus representantes não querem que certos sentimentos ou estados perturbem seu equilíbrio. Eles criam um muro contra partes de si mesmos, da mesma forma que os do Tipo Um, suprimindo fortes impulsos e emoções instintivos. Ao mesmo tempo, demarcam um rígido limite egoico contra o mundo exterior para não se machucarem, como as pessoas do Tipo Oito. Muitas vezes, adotam atitudes passivo-agressivas e fazem vista grossa para tudo que possa ameaçar-lhes a paz. Não é de admirar que muitas vezes aleguem cansaço, pois é preciso uma incrível quantidade de energia para resistir a realidade em ambas as "frentes". Se eles empregam a maior parte de sua vitalidade para manter esses limites, ela não estará disponível para um maior investimento no mundo.
Todos esses três tipos têm problemas com a agressividade. (Apesar de todos os nove tipos de personalidade serem agressivos de diferentes maneiras, a energia da agressividade é um componente-chave nas estruturas do ego dos tipos Instintivos.) Às vezes a agressividade é dirigida para o próprio eu; às vezes, contra os outros. No curso do trabalho psicológico ou espiritual, essa energia agressiva muitas vezes emerge como uma forte sensação de raiva. A raiva é a reação instintiva contra a necessidade de suprimir-nos – a necessidade de fechar e restringir nossa vitalidade. O Tipo Oito tende a atuar a raiva; o Nove, a nega-la; e o Um, a reprimi-la.
Podemos entender melhor a função da raiva por meio da experiência de uma criança. Todos nós, consciente ou inconscientemente, achamos que, quando crianças, não tivemos o espaço de que precisávamos para nos desenvolver plenamente. Quando começamos a explorar essa área, descobrimos que, sob o verniz do adulto, estamos suprimindo (ou até mais que isso: reprimindo) uma intensa raiva por esse abuso contra nossa integridade Essencial. (No aspecto positivo, a raiva é um meio de dizer: "Fiquem longe de mim para que eu tenha meu espaço! Eu quero e preciso ser pleno e independente") o problema é que, se trouxermos esses problemas da infância para a vida adulta, continuaremos a pensar que precisamos proteger nosso "espaço pessoal" mesmo quando não há nenhuma ameaça real. Uma vez resolvidos esses problemas, a energia que impulsiona a raiva – bem como a que a mantém suprimida – pode ser liberada e redirecionada para outros objetivos mais gratificantes, inclusive a transformação.
A Tríade do Sentimento
• Preocupações: Amor ao Falso Eu e à Auto-imagem
• Problemas: Identidade e Hostilidade
• Busca: Atenção
• Sentimento Subjacente: Vergonha
Na Tríade do Instinto, vimos como na verdade pouco ocupamos o corpo e estamos realmente presentes com toda a vitalidade. Da mesma forma, raramente ousamos estar inteiramente no coração. Quando o fazemos, é quase sempre algo avassalador. Assim, trocamos a força dos verdadeiros sentimentos por todo tipo de reação. Esse é o dilema central da Tríade do Sentimento: Tipos Dois, Três e Quatro.
No nível mais profundo, a fonte de nossa identidade está nas qualidades do coração. Quando ele se abre, sabemos quem somos e que "quem somos" não tem nada a ver com o que as pessoas pensam de nós nem com nosso passado. Sentimos um que, um sabor único, algo que é íntima e indiscutivelmente nós mesmos. É por meio do coração que reconhecemos e apreciamos nossa verdadeira natureza.
Quando estamos perto do coração, sentimo-nos amados e valorizados. Além disso, como pregam as grandes tradições religiosas, o coração revela que somos amor e valor. Nosso quinhão na natureza Divina significa não só que somos amados por Deus, mas que a presença do amor reside em nós – somos o conduto através do qual o amor vem ao mundo. Quando o coração se fecha e se bloqueia, não apenas nos afastamos de nossa verdadeira identidade, mas também deixamos de sentir-nos amados e valorizados. Essa perda é intolerável, e aí entra a personalidade, criando uma identidade substituta e procurando em outras coisas o senso de valor, geralmente buscando atenção e afirmação diante das pessoas.
O Centro do Sentimento
Agora mesmo, enquanto lê o que está impresso nesta página, concentre-se em seu coração. Respire fundo, tente relaxar e procure sentir o próprio peito. Que sensações você identifica nessa área? O que sente no coração? Suavidade? Adormecimento? Dor? Qual o exato sentimento que tem agora? Se esse sentimento tivesse uma cor, uma forma ou um sabor, qual seria? Que efeito provoca este exercício na noção que você tem de si mesmo?
Assim, os três tipos da Tríade do Sentimento preocupam-se basicamente com o desenvolvimento da auto-imagem. Eles compensam a falta de uma relação mais profunda com as qualidades Essenciais do coração construindo uma falsa identidade e identificando-se com ela. Então apresentam essa imagem ao mundo (e a si mesmos) na esperança de que ela lhes traga amor, atenção, aprovação e valorização.
Em termos psicológicos, o Dois, o Três e o Quatro são os tipos que mais se preocupam com a "ferida narcísica", isto é, com o fato de não terem sido valorizados pelo que eram quando crianças. Como não se pode deixar a infância sem algum tipo de ferida assim, quando adultos temos muita dificuldade em ser autênticos perante nossos semelhantes. Há sempre o medo de que, no fim das contas, sejamos mesmo vazios e indignos. O resultado trágico é que nós quase nunca realmente nos vemos uns aos outros ou nos deixamos ver, independentemente de qual seja nosso tipo. Em vez disso, mostramos uma imagem, como se disséssemos ao mundo: "Eis aqui quem sou – não é? Você gosta de mim, não?" As pessoas podem confirmar o que afirmamos (isto é, a nossa imagem), mas, enquanto nos identificarmos com a personalidade, algo que está num local mais profundo continuará sem confirmação.
Os tipos da Tríade do Sentimento fornecem-nos três diferentes soluções para esse dilema: dedicar-se a agradar os outros para que eles gostem de você (Tipo Dois); conquistar coisas e destacar-se de alguma maneira para que as pessoas o admirem e aprovem (Tipo Três), ou criar uma história elaborada sobre si mesmo e dar uma importância tremenda a todas as suas próprias características (Tipo Quatro).
Dois dos temas centrais nesta Tríade envolvem problemas de identidade ("Quem sou eu?") e problemas com a hostilidade ("Eu odeio você por não me amar da forma que eu quero!"). Como as pessoas dos Tipos Dois, Três e Quatro inconscientemente sabem que sua identidade não é uma expressão de quem elas realmente são, reagem com hostilidade sempre que sua personalidade-identidade não é validada. A hostilidade serve não apenas para desviar aqueles que poderiam questionar ou não legitimar essa identidade como também para defendê-las contra sentimentos de vergonha e humilhação mais profundos.

O Tipo Dois busca ser valorizado perante os olhos dos outros. Ele quer ser querido; tenta obter reações favoráveis dando sua atenção e sua energia às pessoas. As pessoas deste tipo buscam reações positivas às suas tentativas de aproximação e, no intuito de aumentar sua própria auto-estima, mostram-se amigáveis, solícitas e bondosas. O foco de seus sentimentos é externo, está nos outros. Porém, em decorrência disso, elas costumam ter dificuldade em discernir seus próprios sentimentos e distingui-los dos demais.
Além disso, sentem-se frequentemente pouco reconhecidas, embora tentem, na medida do possível, esconder a hostilidade que isso provoca.

O Tipo Quatro é o oposto: sua energia e sua atenção voltam-se para dentro afim de manter uma auto-imagem baseada em sentimentos, fantasias e histórias do passado. Sua personalidade-identidade concentra-se em ser "diferente”, distinto de todo mundo e, por conseguinte, esse tipo costuma sentir-se distanciado das outras pessoas. Seus representantes tendem a criar e manter "climas”, em vez de deixar que os sentimentos que os motivam venham à tona. Em seu aspecto menos saudável, eles se veem como vítimas e prisioneiros do passado, acreditando que não há esperança de mudar por causa de todas as tragédias e ofensas de que são alvo. Essa é também sua forma de chamar a atenção dos outros e despertar pena e, assim, obter uma certa validação.

O Tipo Três, o tipo central desta Tríade (aquele que está situado no triângulo equilátero), dirige sua atenção e sua energia tanto para dentro quanto para fora. Como o Tipo Dois, o Três também precisa da reação favorável e da confirmação dos outros. As pessoas deste tipo buscam a valorização essencialmente pela realização: elas criam ideias sobre como seria uma pessoa de valor e então tentam tornar-se essa pessoa. Mas também se entregam a muita "conversa com os próprios botões", na tentativa de criar e manter um retrato interior coerente de si mesmas, como as do Tipo Quatro. Elas estão sempre sob o risco de acreditar em seus próprios informes" mais que na verdade.
Apesar das várias imagens apresentadas, no fundo esses tipos não acham que têm valor. Entre as prioridades de suas personalidades, está a tentativa de esconder isso deles e dos demais. O Tipo Dois extrai seu amor próprio de afirmações como: "Sei que tenho valor porque há quem me ame e valorize. Faço o bem para os outros e eles me apreciam". O Dois é um tipo composto de salvadores. No extremo oposto, está o Tipo Quatro, de “salvados”. Eles dizem a si mesmos: "Sei que tenho valor porque sou único e diferente de todos. Se alguém se preocupa em aliviar-me a aflição, é porque devo valer a pena". O Tipo Três é o exemplo, o que não precisa de salvamento, como se dissesse: "Sei que tenho valor porque faço tudo como manda o figurino – não há nada de errado comigo. Tenho valor por causa de minhas realizações”. Apesar de seus diferentes métodos para criar auto-estima", todos três carecem de um amor apropriado ao eu.
Se os tipos da Tríade do Instinto estão tentando administrar a raiva, os da Tríade do Sentimento estão tentando administrar a vergonha. Quando não encontramos espelho para nossas qualidades autênticas, Essenciais, na tenra infância, chegamos à conclusão de que há algo errado conosco. O sentimento que resulta é a vergonha. Tentando usar a auto-imagem para sentir que têm valor, esses tipos esperam conseguir fugir de sentimentos de vergonha: o Dois torna-se ultra bondoso, buscando ser carinhoso e útil para todos; o Três se torna perfeito em seu desempenho e em suas realizações; o Quatro dramatiza suas perdas e mágoas e vê-se como vítima.
A Tríade do Raciocínio
• Preocupações: Estratégias e Convicções
• Problemas: Inseguranças e Ansiedade
• Busca: Segurança
• Sentimento Subjacente: Medo
Se a Tríade do Instinto concentra-se em manter uma noção sentida do eu e a do Sentimento, em manter uma identidade pessoal, a do Raciocínio dedica-se a encontrar algo que lhe dê apoio e orientação interior. Os sentimentos predominantes nos Tipos Cinco, Seis e Sete são a ansiedade e a insegurança. Dito de outra forma, os tipos da Tríade do Instinto estão preocupados em oferecer resistência contra aspectos do presente; os da Tríade do Sentimento voltam-se para o passado porque a auto-imagem se constrói de lembranças e interpretações do passado; e os da Tríade do Raciocínio estão mais preocupados com o futuro, como se perguntassem: "O que vai acontecer comigo? Como vou sobreviver? Como posso impedir os reveses? Como sigo adiante na vida? O que tenho de fazer para enfrentar os problemas?"
A Tríade do Raciocínio distanciou-se daquela faceta de nossa verdadeira natureza que algumas tradições espirituais chamam de mente tranquila. Ela é a fonte de orientação interior que nos permite perceber a realidade exatamente como é e tornar nos receptivos para o saber interior que pode guiar nossos atos. Mas, da mesma forma que raras vezes estamos plenamente em nosso corpo e em nosso coração, raras vezes temos acesso ao caráter tranquilo e vasto da mente. Pelo contrário para a maioria das pessoas, a mente é uma grande tagarela interna, razão pela qual é preciso passar anos a fio em monastérios e retiros para que consigam acalmar a mente irrequieta. Na personalidade, a mente não é tranquila nem naturalmente "sábia" – ela está sempre tentando descobrir alguma estratégia ou fórmula para poder fazer o que quer que seja que julgue melhor para nós.
As pessoas dos Tipos Cinco, Seis e Sete não conseguem deixar a mente acalmar-se. Isso representa um problema porque a mente tranquila nos permite sentir um profundo apoio; a certeza e a orientação interior provêm da mente tranquila e dão-nos confiança para atuar no mundo. Quando surge aí algum bloqueio, sentimos medo. Os tipos que pertencem à Tríade do raciocínio distinguem-se por suas reações ao medo.

O Tipo Cinco reage fugindo da vida e reduzindo suas necessidades pessoais. Seus representantes se creem demasiado frágeis para viver sãos e salvos. Como, para eles, o único lugar seguro é a mente, acumulam tudo que acham que os ajudará a sobreviver até que estejam prontos a voltar ao mundo. Além disso, acreditam não ter recursos suficientes com que atender às demandas da vida prática. Assim, batem em retirada até conseguir aprender e dominar algo que lhes permita sentir-se seguros o bastante para sair de seu esconderijo.

O Tipo Sete, ao contrário, se joga de cabeça na vida e não parece ter medo de nada. A princípio, parece estranho que este tipo esteja na Tríade cujo sentimento predominante é o medo, já que exteriormente ele é tão intrépido. Apesar das aparências, contudo, seus representantes estão cheios de medo, só que não do mundo exterior: eles têm medo de seu mundo interior – de ver-se presos a dores e sofrimentos emocionais e, especialmente, a ansiedade. Assim, buscam uma válvula de escape na atividade e na antecipação dessa atividade. Eles inconscientemente tentam manter a mente ocupada para que suas mágoas e ansiedades não venham à tona.

No Tipo Seis, o tipo central desta Tríade (aquele que ocupa o triângulo equilátero), a atenção e a energia dirigem-se tanto para dentro quanto para fora. Os representantes deste tipo sentem-se ansiosos por dentro e, assim, lançam-se à ação e à antecipação do futuro como os do Tipo Sete. Porém, depois que o fazem, acabam receando cometer erros e ser punidos ou não conseguir atender as expectativas despertadas-e, assim, como os do Tipo Cinco, "pulam de novo para dentro de si mesmos". Voltam a ter medo dos próprios sentimentos e então o ciclo reativo continua, com a ansiedade levando-lhes a atenção a ir de um lado para o outro como uma bola de pingue-pongue.
O Centro do Raciocínio
Procure relaxar e aproximar-se mais das sensações e impressões que tem neste exato momento. Tente captar realmente a sensação de estar vivo dentro de seu próprio corpo neste instante. Não visualize – apenas deixe-se vivenciar o que isso lhe proporciona. À medida que vai serenando, você provavelmente perceberá que sua mente se torna menos "barulhenta". Continue por alguns minutos com esse processo. Permaneça com suas sensações e impressões imediatas e veja qual o efeito sobre seu raciocínio. À medida que sua mente se acalma, como você classifica sua percepção: mais clara ou mais confusa? Sua mente parece-lhe mais aguçada ou obnubilada?
Os tipos da Tríade do Raciocínio tendem a ter problemas relacionados como que os psicólogos denominam "fase da separação" no desenvolvimento do ego. Essa é a fase, em torno dos 2-4 anos, quando as crianças começam a se perguntar: "Como posso deixar o aconchego e a segurança de Mamãe? O que é seguro e o que é perigoso?" Em circunstâncias ideais, a figura paterna se torna o apoio e o guia, aquela pessoa que ajuda a criança a desenvolver suas capacidades e tornar-se independente.
Os tipos desta Tríade representam as três possibilidades a que as crianças recorrem para negociar a fase da separação e superar a dependência. O Tipo Seis busca alguém como a figura paterna, alguém forte, confiável e dotado de autoridade. Assim, lida com a perda de orientação interior buscando-a nos outros. Está à espera de algum apoio para tornar-se independente, embora, ironicamente, tenda a depender da pessoa ou do sistema usado para encontrar a independência. O Tipo Cinco está certo de que não se pode contar com esse apoio ou confiar nele, então procura compensar a perda de orientação interior calculando e resolvendo tudo sozinho, mentalmente. Mas, como faz tudo "por sua própria conta", o Tipo Cinco crê que precisa reduzir a necessidade e o apego as pessoas se quiser conquistar a independência. O Tipo Sete tenta libertar-se procurando substitutivos para a proteção da mãe. Ele busca tudo aquilo que acredita poder fazê-lo sentir-se mais satisfeito e seguro. Ao mesmo tempo, reage à falta de orientação interior tentando todas as opções – como se, pelo processo de eliminação, pudesse descobrir a fonte de apoio e abrigo que secretamente procura.
O Estilo Social – Os Grupos Hornevianos
Os Grupos Hornevianos indicam o estilo social de cada tipo, bem como a maneira como eles tentam satisfazer suas necessidades fundamentais (conforme indicado pelo Centro da Tríade). Perceber as formas com que inconscientemente buscamos satisfazer nossos desejos ajuda-nos a livrar-nos de fortes identificações e despertar.
Além das três Tríades, há outro importante agrupamento de três em três) dos tipos: os Grupos Hornevianos, que assim chamamos em homenagem a Karen Horney, psiquiatra que desenvolveu a teoria freudiana identificando as três principais maneiras pelas quais as pessoas tentam resolver os conflitos interiores. Poderíamos dizer também que os Grupos Hornevianos indicam o estilo social" de cada tipo: o assertivo, o retraído e o aquiescente (em relação ao superego, ou seja, "obediente"). Os nove tipos se encaixam dentro desses três estilos principais.


Os assertivos (segundo Horney, aqueles que vão contra as pessoas") são os Tipos Três, Sete e Oito. Eles são voltados para o ego e buscam expandi-lo. Reagem ao stress e as dificuldades aumentando, reforçando ou inflando o ego. Diante dos obstáculos, em vez de recuar, retrair-se ou buscar proteção em outras pessoas, procuram expandir o próprio ego. Todos esses três tipos têm problemas no processamento dos próprios sentimentos.
Cada um dos Grupos Hornevianos tem uma noção do eu própria em relação às pessoas. Reconhecer e entender que essa "noção do eu" é falsa é muito importante para a percepção das principais características do ego. Um exemplo tornará isso mais claro: se você entrar numa sala cheia de gente, sentirá a si mesmo de uma determinada maneira. Se você pertencer ao grupo assertivo, sua reação imediata será: "Eu sou o centro. Sou o que importa aqui. Agora que cheguei, algo vai acontecer". Os assertivos automaticamente sentem que tudo o que importa ocorre em função deles.
As pessoas dos Tipos Sete e Oito sentem-se assim naturalmente. Os que pertencem ao Tipo Sete entram numa sala cheia e subconscientemente pensam: "Cheguei, pessoal! Agora as coisas vão esquentar!" Os que são do Tipo Oito subconscientemente pensam: "Pois bem, aqui estou. Quero ver como vocês lidarão comigo". Eles "ocupam" o espaço e esperam que os outros reajam à sua presença. Já as pessoas do Tipo Três não tem tanta facilidade ou o hábito de sentir-se o centro porque, como já vimos, secretamente dependem da atenção alheia para sentir-se valorizadas. Na medida do possível, elas tentarão sutilmente fazer com que os outros as vejam com bons olhos, de modo a sentir-se no centro, como se dissessem: "Vejam o que consegui. Digam-me se não tenho valor".
Os aquiescentes (segundo Horney, aqueles que “vão ao encontro das pessoas") são os Tipos Um, Dois e Seis. Os três compartilham a necessidade de ser úteis aos outros. Eles são os advogados, defensores, servidores públicos e trabalhadores dedicados. Os três reagem ao stress e às dificuldades consultando o superego para saber qual a atitude certa, perguntando-se: "Como posso atender as expectativas dos outros? Como posso ser uma pessoa responsável?"
É importante entender que os tipos aquiescentes não obedecem necessariamente aos outros, mas sim ao que manda seu superego. Esses três tipos procuram seguir as regras, os princípios e os ditames interiorizados, aprendidos na infância. Por isso, costumam tornar-se – principalmente os Tipos Seis e Um – figuras de autoridade. (Às vezes, o Tipo Dois também se torna figura de autoridade, mas geralmente quando tenta ser uma figura paterna/materna boa ou aquela pessoa confiável, que aconselha os outros.)
Quando entram numa sala cheia, as pessoas cujo tipo se insere no grupo dos aquiescentes pensam em si como sendo "melhores" que os outros, embora o expressem de maneira geralmente muito sutil. Quando entram na sala, os representantes do Tipo Um podem subconscientemente pensar: "Isto aqui está tão descuidado e desorganizado. Se eu fosse o encarregado, as coisas não estariam assim tão bagunçadas".
Quando entram na sala, os do Tipo Dois pensam: "Coitada dessa gente! Ah se eu pudesse dar atenção a todos! Não me parece que estejam bem – precisam de mim!" Aproximando-se dos outros a partir da posição da pessoa carinhosa" que se preocupa em ajudá-los, os representantes do Tipo Dois colocam-se automaticamente num papel superior: são "melhores" que todo mundo.
Os do Tipo Seis já têm mais sentimentos de inferioridade que os dos Tipos Um e Dois, mas sentem-se “melhores" por suas identificações, afiliações e contatos sociais ("Nós, democratas, somos melhores que os republicanos." "Moro em Nova York, que é uma cidade melhor que Los Angeles." "Não há time melhor que o meu.")
Os retraídos (conforme Horney, aqueles que vão para longe das pessoas") são os Tipos Quatro, Cinco e Nove. Esses tipos não distinguem muito o eu consciente dos pensamentos, sentimentos e impulsos inconscientes, não processados. Seu inconsciente está sempre aflorando a consciência por meio de fantasias e devaneios.
Todos esses três tipos reagem ao stress fugindo da relação com o mundo para um espaço interior" dentro da imaginação. As pessoas do Tipo Nove fogem para um Santuário Interior seguro e livre de preocupações; as do Tipo Quatro para um Eu Fantasioso romântico e idealizado; as do Tipo Cinco, para um complexo e cerebral Brinquedo Interior. Em outras palavras, todos eles conseguem facilmente "bater em retirada" e refugiar-se na imaginação. Esses tipos têm problemas em fixar-se no físico e em passar da imaginação à ação.
A noção de eu que imediatamente lhes vem quando entram numa sala é: "Não tenho nada a ver com o que está acontecendo. Não sou como essas pessoas. Não me encaixo aqui". Os Tipos Quatro e Cinco são os que mais distantes dos outros se sentem. Reforçam sua noção de eu mantendo-se a distância e sendo diferentes. Numa sala cheia de gente, os do Tipo Quatro pareceriam tipicamente distantes e inacessíveis, agindo sempre de alguma forma "misteriosa". Por outro lado, se não estivessem com a disposição propicia, poderiam simplesmente ir embora, já que seu sentido de obrigação social é tênue. (“Isso é demais para mim. Simplesmente não estou disposto a tanto.")
Os do Tipo Cinco possivelmente não se importariam de estar lá, mas estariam igualmente bem em casa lendo um livro ou cuidando de suas coisas. Se permanecessem na sala, eles provavelmente se sentariam nas laterais e ficariam observando os demais. Seria mais fácil que se socializassem nessa situação se houvesse algum pretexto – por exemplo, o de fotografar o encontro.
Os do Tipo Nove bem poderiam apreciar a reunião e até participar, mas a mente permaneceria longe. Eles talvez sorrissem e assentissem com a cabeça e, enquanto isso, estariam pensando numa pescaria. Poderiam também "dessintonizar-se" quase inteiramente e apenas acompanhar alguém que se encarregasse da interação social quase toda, enquanto eles permaneceriam benevolamente silenciosos ou bem-humoradamente passivos.
Neste mesmo capítulo, vimos que as Tríades nos dizem o que cada tipo mais queria na infância. O que os tipos da Tríade do Instinto mais desejavam era a autonomia: eles buscavam a independência, a capacidade de afirmar a própria vontade e dirigir a própria vida. Os tipos da Tríade do Sentimento, por sua vez, queriam atenção: ser vistos e validados pelos pais. Finalmente, os tipos da Tríade do Raciocínio almejavam basicamente a segurança: ter a certeza de que o ambiente em que viviam era estável e seguro.
Os Grupos Hornevianos nos revelam qual a estratégia que cada tipo emprega para satisfazer suas necessidades. Os tipos assertivos (Três, Sete e Oito) insistem em obter o que querem – ou até mesmo o exigem. Sua atitude é ativa e direta quando vão em busca do que creem necessitar. Os tipos aquiescentes (Um, Dois e Seis) tentam conquistar algo, para isso apaziguando o superego. Eles se esforçam em ser "bonzinhos" para ver satisfeitas suas necessidades. Os tipos retraídos (Quatro, Cinco e Nove) fogem para obter o que querem. Eles se afastam dos outros para lidar com as próprias necessidades.
Tomando o Eneagrama, podemos arrumar esses grupos de uma forma que caracteriza sucintamente o estilo e a motivação fundamental de cada tipo. Partindo dos tipos pertencentes à Tríade do Instinto, vemos que o Tipo Oito exige autonomia, o Nove se retrai para obtê-la (ter seu próprio espaço) e o Um tenta ganha-la (achando que, se for perfeito, ninguém irá interferir em sua vida).

Passando à Tríade do Sentimento, vemos que o Dois, um tipo aquiescente, tenta ganhar atenção (servindo aos outros e fazendo-lhes gentilezas). O Três, sendo um tipo assertivo, exige atenção (fazendo tudo que possa garantir-lhe o reconhecimento). E o Quatro, retrai-se em busca de atenção (na esperança de que alguém o descubra).
Na Tríade do Raciocínio, o Tipo Cinco se retrai para obter segurança ("Estarei a salvo se me mantiver a distância"), o Seis tenta ganhá-la ("Estarei a salvo se fizer o que esperam de mim") e o Sete a exige ("Irei em busca do que for preciso para sentir-me seguro").
O Estilo de Confronto das Dificuldades – Os Grupos Harmônicos
Os Grupos Harmônicos são úteis ao trabalho de transformação porque indicam como cada pessoa se comporta quando não obtém o que quer (conforme indica a Tríade a que pertence). Assim, eles revelam a principal forma de defesa da personalidade contra a perda e a decepção.
Descobrimos ainda uma terceira maneira importante de agrupar os nove tipos. A esses agrupamentos denominamos Grupos Harmônicos. Cada um dos tipos primários (aqueles que se localizam no triângulo equilátero: Três, Seis e Nove) possui dois tipos secundários que se parecem bastante com ele em diversos aspectos – e as pessoas muitas vezes se identificam erradamente devido às suas similaridades. Por exemplo, as pessoas do Tipo Nove, quando erram, costumam identificar-se como pertencentes ao Tipo Dois ou Sete; as do Tipo Três, como sendo do Tipo Um ou Cinco; e as do Tipo Seis notoriamente erram classificando-se como pertencentes ao Tipo Quatro ou Oito.
Mesmo que não haja linhas que conectem esses tipos no símbolo do Eneagrama, temas e problemas comuns os unem. Os Grupos Harmônicos nos dizem qual a atitude adotada pelo tipo quando não consegue atender à sua necessidade dominante. Em outras palavras, os Grupos Harmônicos nos dizem como lidamos com os conflitos e as dificuldades: como reagimos quando não obtemos o que desejamos.


O Grupo da Atitude Positiva compõe-se dos Tipos Nove, Dois e Sete. Todos eles reagem aos obstáculos adotando, na medida do possível, uma “atitude positiva", re-enquadrando a decepção de alguma maneira favorável. Esses tipos querem frisar os aspectos mais animadores da vida e ver o lado bom das coisas: são pessoas que gostam de levantar o moral e ajudar os outros a sentir-se bem porque também querem continuar bem ("Não tenho nenhum problema").
Esses tipos têm dificuldade de ver seu lado mais sombrio; eles não querem ver em si nada que seja doloroso ou negativo. Além disso, a depender do tipo, há uma certa dificuldade em equilibrar as próprias necessidades em relação às dos outros. O Tipo Dois concentra-se mais nas necessidades alheias; o Sete, nas suas próprias; e o Nove procura pensar em ambas, embora muitas vezes isso o impeça de satisfazer adequadamente a qualquer das duas.


O Grupo da Competência se compõe dos Tipos Três, Um e Cinco. Todos eles aprenderam a lidar com as dificuldades colocando de lado os próprios sentimentos e lutando para ser objetivos, eficientes e competentes. Eles colocam seus sentimentos e necessidades subjetivas em segundo plano; tentam resolver logicamente os problemas e esperam que todo mundo aja da mesma forma.
Esses três tipos também têm problemas relacionados ao funcionamento dentro dos limites de uma estrutura ou sistema. ("Como funciono dentro de um sistema? Posso usá-lo em meu benefício? Ele me impedirá de fazer o que quero?") A atitude desses tipos em relação aos sistemas provém de sua relação com a família. Eles não sabem até que ponto querem render-se aos valores do sistema nem até que ponto querem ficar fora dele. O Tipo Um age conforme as regras, cumprindo-as tão bem que ninguém ousaria questionar-lhes a integridade. O Tipo Cinco, ao contrário, tende a não considerar as regras. O Tipo Três quer fazer ambas as coisas: ter o benefício das regras e estruturas sem as correspondentes restrições.


O Grupo Reativo compõe-se dos Tipos Seis, Quatro e Oito. Esses tipos reagem emocionalmente aos problemas e conflitos e têm dificuldade em saber o quanto confiar nas pessoas: "Preciso de você para saber como me sinto com relação a isto". Quando surgem problemas, eles buscam nos outros uma reação emocional que reflita sua preocupação. Em caso de conflito, os tipos reativos querem que as pessoas espelhem seu próprio estado emocional: "Se isto me perturba, deveria perturbá-lo também!" Os tipos deste grupo têm fortes simpatias e antipatias. Quando há algum problema, logo se sabe. Nos conflitos, eles precisam lidar primeiro com seus sentimentos e, feito isso, geralmente as coisas se dissipam rápido e de uma vez por todas. Se não conseguirem dar vazão ao que sentem, porém, esses tipos podem tornar-se cada vez mais ressentidos e vingativos.
Os tipos do Grupo Reativo também têm dificuldade em encontrar o equilíbrio entre a determinação e a necessidade de independência e a necessidade de ser apoiados e cuidados pelos outros. Eles, ao mesmo tempo, confiam e desconfiam das pessoas: aceitar o apoio e o afeto das pessoas é um dos grandes desejos desses tipos, mas eles acham que isso seria o mesmo que perder o controle sobre si mesmos e as circunstâncias. Eles têm medo de ser traídos, mas precisam de feedback das pessoas para saber qual a posição que elas lhes dão. Assim, estão sempre à procura de aconselhamento e orientação (em busca de "pais”) ou desafiando essa necessidade (mostrando-se “rebeldes”). Subconscientemente, os do Tipo Quatro querem ser tratados como filhos, ao passo que os do Tipo Oito querem o papel de pai/mãe e provedor. Os do Tipo Seis querem ambas as coisas, às vezes comportando-se como pais; às vezes, como filhos.

(Traduzido de "The Wisdom of the Enneagram", de Don Richard Riso & Russ Hudson, por ~mamado frentista)
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