Eneagrama: Tipo Cinco – O Investigador
- 16MM
- 30 de set. de 2019
- 40 min de leitura
Atualizado: 17 de ago. de 2020
O Tipo Intenso e Cerebral:
Perceptivo, Inovador, Reservado e Isolado
Medo Fundamental: O de ser indefeso, inútil, incapaz (desvalido).
Desejo Fundamental: Ser capaz e competente.
Mensagem do superego: "Você estará num bom caminho se conseguir dominar algo."
As pessoas do Tipo Cinco costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Quatro, Seis e Um. As dos Tipos Nove, Três e Um costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Cinco.
Chamamos este tipo de personalidade de o Investigador porque, mais que qualquer outro, é ele o que quer saber por que as coisas são como são. Seus representantes querem compreender como o mundo funciona. Esse mundo tanto pode ser o cosmo quanto o universo microscópico ou o reino animal, vegetal ou mineral – ou o mundo interior da imaginação. Eles estão sempre pesquisando, fazendo perguntas e escrutinando as coisas. Não aceitam doutrinas e opiniões preestabelecidas, tendo grande necessidade de verificar por si a verdade de quase todas as coisas.
John, artista gráfico, descreve essa forma de ver a vida:
“Ser do Tipo Cinco significa estar sempre aprendendo, sempre absorvendo mais informações. Um dia sem aprender nada é como um dia sem sol. Como representante do meu tipo, quero entender a vida. Gosto de ter uma explicação teórica para o porquê de as coisas acontecerem como acontecem. Isso aumenta minha sensação de segurança e de domínio. Eu geralmente aprendo a uma certa distância, como observador, e não como participante. Às vezes, acho que entender a vida é tão bom quanto vivê-la. Não é fácil aceitar que a vida também deve ser vivida e não apenas estudada.”
Por trás da incansável busca de conhecimento, as pessoas do Tipo Cinco escondem grandes dúvidas acerca de sua capacidade de agir com adequação e sucesso. Elas acham que não têm capacidade de fazer as coisas tão bem quanto os outros. Porém, em vez de dedicar-se a atividades que pudessem fortalecer sua autoconfiança, eles buscam “refúgio” na mente, a área em que se sentem mais capazes, convencidas de que lá conseguirão afinal descobrir como devem agir – e um dia reintegrar-se ao mundo.
As pessoas do Tipo Cinco passam bom tempo observando e contemplando – ouvindo os sons de um sintetizador ou do vento ou tomando nota das atividades que se desenvolvem no formigueiro do quintal. Quando se deixam absorver pela observação, essas pessoas começam a interiorizar o conhecimento e a sentir-se mais seguras. Além disso, assim podem descobrir por acaso informações inéditas ou novas e criativas combinações (uma música baseada no rumor do vento ou da água, por exemplo). Quando comprovam suas hipóteses ou veem que os outros entendem seu trabalho, obtêm confirmação da própria competência, o que torna realidade o seu Desejo Fundamental. (“Eu sei do que estou falando.”)
Por conseguinte, o conhecimento, a compreensão e a percepção intuitiva são por elas altamente valorizados, já que sua identidade se constrói em torno da capacidade de gerar ideias e de ser alguém com algo inusitado e procedente a dizer. Por isso, as pessoas do Tipo Cinco não se interessam em explorar o que já é conhecido e estabelecido, mas sim o incomum, o desconsiderado, o secreto, o oculto, o insólito, o fantástico, o impensável. A familiaridade com territórios não-mapeados – saber o que os outros não sabem ou criar o que os outros nem imaginam – permite-lhes criar para si um lugar que não pode ser ocupado por mais ninguém. Elas acreditam que cultivá-lo é a melhor maneira de obter segurança e independência.
Assim, para sua própria segurança e auto-estima, as pessoas do Tipo Cinco necessitam ter pelo menos uma área na qual seu grau de perícia lhes permita sentir-se capazes e ligadas ao mundo. Sua lógica é: “Encontrando alguma coisa que possa fazer muito bem, estarei pronto para enfrentar os desafios da vida. Mas não posso deixar que outras coisas me distraiam e atrapalhem”. Por isso, concentram-se com tanto fervor naquilo em que podem atingir a excelência: pode ser, por exemplo, o mundo da matemática, do rock’n’roll, da música clássica, da ficção científica, da literatura de terror ou um mundo criado inteiramente em sua imaginação. Nem todas as pessoas do Tipo Cinco são eruditas ou têm Ph.D. Todavia, dependendo de sua inteligência e dos recursos e que dispõem, todas se empenham arduamente em sobressair naquilo que lhes interessa.
Para o bem ou para o mal, essas pessoas escolhem as áreas a que se dedicam independentemente de sua validação social. Na verdade, quando suas ideias encontram aprovação muito fácil ou rápida, elas desconfiam de ter sido demasiado convencionais. A história está repleta de representantes famosos do Tipo Cinco, gente que lançou por terra os modos convencionais de compreender e fazer as coisas (Darwin, Einstein, Nietzsche). Entretanto, muitos mais se perderam em meio às bizantinas complexidades de seu próprio raciocínio, tornando-se afinal meros esquisitões socialmente isolados.
Sua profunda capacidade de concentração pode, portanto, levá-los a notáveis inovações e descobertas, mas também pode causar problemas verdadeiramente desanimadores quando a personalidade está mais fixada. Isso porque a concentração serve para distraí-los, sem que o percebam, dos problemas de ordem prática. Qualquer que seja a fonte de suas ansiedades – os relacionamentos, a falta de boa disposição física, a incapacidade de arrumar um emprego –, os representantes típicos do Tipo Cinco tendem a evitar abordá-la. Em vez disso, buscam outra coisa que lhes permita sentir-se mais competentes para fazer. A ironia é que, por maior que seja o grau de excelência que tenham em sua área, isso não resolve suas dúvidas e inseguranças quanto ao seu funcionamento no mundo. Por exemplo, se for uma bióloga marinha, a representante do Tipo Cinco poderá chegar a saber tudo que é possível sobre um determinado molusco. Mas se seu medo for o de jamais conseguir administrar satisfatoriamente o lar, ela não terá com isso solucionado a sua ansiedade.
Lidar objetivamente com o elemento físico pode tornar-se uma tarefa de proporções gigantescas para as pessoas do Tipo Cinco. Lloyd é um cientista que trabalha num importante laboratório de pesquisa médica:
“Desde criança eu fujo dos esportes e de qualquer atividade física mais pesada sempre que possível. Jamais conseguia pular corda nas aulas de ginástica, parei de fazer aulas de esporte assim que pude e até hoje não me sinto à vontade nem com o cheiro de um ginásio. Ao mesmo tempo, sempre tive uma vida mental muito ativa. Aprendi a ler com 3 anos de idade e, na escola, sempre fui um dos alunos que mais se destacavam nas disciplinas teóricas.”
Assim, essas pessoas devotam boa parte de seu tempo a coletar e desenvolver as ideias e habilidades que julgam capazes de fazê-las sentir-se seguras e preparadas. É como se quisessem reter tudo que aprenderam e transportá-lo na cabeça. O problema é que, enquanto estão mergulhadas nesse processo, deixam de interagir com os outros e de cultivar muitas outras habilidades, principalmente as práticas e sociais. Dedicando cada vez mais tempo a acumular informações e destrinchá-las, evitam tocar em qualquer coisa relacionada às suas reais necessidades.
O desafio do Tipo Cinco é, portanto, entender que é possível dedicar-se a tudo aquilo que incendeia a imaginação e manter relacionamentos, cuidar bem de si e fazer todas as coisas características de uma vida sadia.
O Padrão da Infância
(Favor observar que o padrão da infância aqui descrito não provoca o tipo de personalidade. Em vez disso, ele descreve tendências observáveis na tenra infância que têm grande impacto sobre os relacionamentos que o tipo estabelece na vida adulta.)
Muitas das pessoas do Tipo Cinco relatam não haver sentido segurança no ambiente familiar da infância; elas sentiam-se muito indefesas diante dos pais e, por isso, começaram a buscar uma maneira de sentir-se mais seguras e confiantes. Em primeiro lugar, fugiram da família e refugiaram-se – mental, física e emocionalmente – em seu próprio espaço. Em segundo, deixaram de lado suas necessidades pessoais e emocionais e concentraram-se em algo “objetivo”.
Na infância, as pessoas do Tipo Cinco costumam passar a maior parte do tempo sozinhas; são crianças tímidas que não brincam muito com as outras. Elas preferem ocupar a mente e a imaginação lendo um livro, tocando um instrumento, usando o computador, coletando plantas e insetos ou brincando com jogos tipo tabuleiro ou “O Pequeno Químico”. Não é raro que essas crianças sejam excepcionalmente dotadas em algumas áreas (ortografia e matemática, por exemplo), mas não queiram nem tentar outras atividades típicas da infância (como andar de bicicleta ou pescar). Não raro os familiares – principalmente os pais mais ansiosos, que querem que o filho seja mais “normal” – tentam pressioná-las a engajar-se em atividades sociais. Tais tentativas geralmente encontram forte resistência.
Embora brilhante, Michael era uma criança muito isolada que foi, de certa forma, penalizada – inclusive pelos próprios pais – por seus dotes intelectuais:
“Até os 8 anos, eu tinha alergias e muitas infecções respiratórias, o que frequentemente me impedia de ir à escola. Por causa disso, tinha muito tempo para ficar em casa lendo e pouco brincava com outras crianças. Minha coordenação não era muito boa e eu não queria fazer o que a maioria dos meus colegas faziam, de qualquer forma. Então fiquei conhecido como o CDF bobalhão que vivia com o nariz escorrendo.”
Embora a imaginação possa ser para as pessoas do Tipo Cinco uma fonte de criatividade e auto-estima, sua dedicação quase que integral a ela alimenta as ansiedades que nutrem a seu próprio respeito e sobre o mundo. Não se trata simplesmente da capacidade que essas crianças têm de ver o mundo ao seu redor com uma clareza espantosa; elas têm também a de explicá-lo a si mesmas – faculdade essa que terá posteriormente profundas repercussões, para o bem ou para o mal.
Mason, arquiteto e urbanista, relembra os infelizes eventos que acabaram por levá-lo a refugiar-se na própria mente:
“Eu era o caçula de cinco filhos de um pai cego e uma mãe carinhosa que estava sempre ocupada demais com o marido e filhos para dar-me um pouco de seu tempo. Minha irmã mais velha, enciumada, não parava de dizer-me que eu era um equívoco, que ninguém gostava de mim e que eu devia simplesmente morrer ou ir embora. Eu vivia como se aquilo fosse verdade e tinha relações ambivalentes com meus pais e meus irmãos. Simplesmente me encolhi e criei meu próprio mundo, um mundo fantasioso no qual eu era o líder.”
Assim, as crianças do Tipo Cinco começam a não esperar nada de ninguém, a não ser que as deixem em paz para dedicar-se aos seus próprios interesses, sem ter de preocupar-se com as exigências e necessidades alheias, principalmente as emocionais. É como se dissessem: “Não lhe pedirei muito se você tampouco me pedir muito”. A independência – ou, talvez mais exatamente, a não-intrusão – é o que elas procuram como forma de obter segurança e controle sobre sua própria vida.
Quando não há intermissões, elas ganham tempo para cultivar algo que “pôr na mesa” quando por fim se sentirem prontas para estabelecer contato com as pessoas. Por exemplo, podem aprender piano principalmente porque gostam e porque assim ficam muito tempo a sós, e isso também serve para reforçar sua auto-estima e garantir seu lugar na família. A música é potencialmente uma ponte até os outros, mas também é um meio de desaparecer: em vez de conversar, elas podem tocar piano para as pessoas.
As pessoas do Tipo Cinco estão psicologicamente presas à fase infantil da separação – o período entre os dois e os três anos e meio –, quando a criança aprende a agir independentemente da mãe. Por alguma razão, as crianças deste tipo concluem que a única maneira de tornar-se independentes é obrigar-se a não querer o afeto e a ligação emocional proporcionados pela mãe. Assim, desde cedo aprendem a desligar-se das sensações penosas de carência e desejo refugiando-se na mente.
Lloyd especula sobre a causa dessa sensação de distanciamento:
“Não consigo lembrar de me haver sentido ligado à minha mãe. Por duas vezes ela ficou arrasada antes de meu nascimento: primeiro, casou-se com um homem que não conseguiu consumar a união e colocou a culpa na aparência e na falta de atrativos dela; posteriormente se soube que ele era um homossexual reprimido. Depois disso, casou-se com meu pai (que afinal era um homem no sentido convencional, muito confiável e pouco dado a novidades) e o primeiro filho morreu com três dias de nascido. Dois anos e dois abortos espontâneos depois, eu nasci. Acho que minha mãe não tinha condições de entregar-se a mim de coração depois de tudo isso.”
Desligar-se do afeto – e até deixar de desejá-lo – torna-se sua defesa contra novas mágoas e frustrações. Isso é muito importante na vida adulta das pessoas do Tipo Cinco, pois explica a sua relutância em envolver-se mais afetivamente com os outros. Deixar a segurança da mente e reocupar o corpo e os sentimentos implicam experimentar de novo a frustração e a angústia primais da infância. Tais sentimentos destroem completamente a sua capacidade de concentração – a base de sua autoconfiança – e são, por conseguinte, algo contra o qual se defendem com todas as forças. Mesmo o desejar demais algo corriqueiro pode perturbar sua segurança interior; por isso, os adultos deste tipo passam a vida evitando o que mais querem, reprimindo seus desejos e buscando prazeres substitutos em seus interesses, seus hobbies e sua criatividade.
Os Subtipos Conforme as Asas
Tipo Cinco com Asa Quatro: O Iconoclasta
Faixa Saudável: Neste subtipo, a curiosidade se alia à perspicácia para a expressão de uma visão muito pessoal e singular. Seus representantes – mais emocionais, introspectivos e criativos que os da Asa Seis – buscam um nicho ainda não explorado, algo que possam realmente chamar de seu. Não sendo dotados de espirito propriamente cientifico, eles são muitas vezes criadores solitários que mesclam paixão e indiferença. Caprichosos e inventivos, brincando com formas familiares são capazes de chegar a inovações verdadeiramente surpreendentes. Geralmente atraídos pelas artes, usam mais a imaginação que o raciocínio analítico e sistemático.
Faixa Média: Embora identificadas em primeiro lugar com a mente, as pessoas desse subtipo lutam com sentimentos intensos que podem criar-lhes problemas quando trabalham em equipe. Elas são mais independentes que as do outro subtipo e resistem a aceitar imposições. Como podem facilmente perder-se em meio às suas paisagens mentais, seus interesses tendem mais ao surrealismo e ao fantástico que ao racional e ao romântico. A dispersão e a dificuldade de centramento podem roubar-lhes o senso prático na hora de concretizar seus interesses. É possível que essas pessoas se sintam atraídas por temas grotescos, proibidos ou lúgubres.
Exemplos: David Lynch, Stephen King, Glenn Gould, Georgia O'Keeffe, Joyce Carol Oates, Arnold Schönberg, Alan Moore, Friedrich Nietzsche, Tim Burton, Stanley Kubrick, Jorge Luis Borges.
Tipo Cinco com Asa Seis: O Solucionador de Problemas
Faixa Saudável: Observadoras, organizadas e detalhistas, as pessoas desse subtipo são capazes de tirar conclusões procedentes de fatos diversos e, a partir delas, fazer previsões acertadas. Elas buscam para si um nicho que lhes dê segurança e que se encaixe num contexto mais amplo, geralmente sentindo-se atraídas pela técnica: engenharia, ciências e filosofia, além de invenções e reparos. A capacidade de cooperação, a disciplina e a persistência as tornam mais práticas que as do outro subtipo. Essas pessoas podem aliar o talento para a inovação ao tino comercial, às vezes com resultados muito lucrativos.
Faixa Média: Talvez as mais genuinamente intelectuais entre as de todos os subtipos, essas pessoas interessam-se pelas teorias, pela tecnologia e pela aquisição de informações. Analistas e catalogadoras do meio em que vivem, elas gostam de dissecar os elementos de um problema para descobrir o seu funcionamento. Extremamente reservadas quanto aos próprios sentimentos, concentram-se mais nas coisas que nas pessoas, apesar da grande identificação que os representantes desse subtipo têm com as pessoas mais importantes de sua vida. Não sendo particularmente introspectivos, preferem observar e compreender o mundo que os cerca. Eles podem gostar mais de discussões e defender seus pontos de vista com mais veemência que as pessoas do outro subtipo, tendendo a ser agressivos e antagonizar fortemente os que deles discordam.
Exemplos: Stephen Hawking, Bill Gates, Alan Turing, Bobby Fischer, Gottfried Wilhelm Von Leibnitz, Bertrand Russell, Ted Kaczynski, Isaac Asimov, "Gregory House", “Sherlock Holmes”.
As Variantes Instintivas
O Instinto de Autopreservação (self-preservation/Sp) no Tipo Cinco
Isolamento e Armazenagem. Na faixa média, os Autopreservacionistas do Tipo Cinco tentam atingir a separação e a independência reduzindo as próprias necessidades. Sendo pessoas extremamente conscientes de seu próprio dispêndio de energia, elas ponderam quais atividades a adotar, perguntando-se se possuirão os recursos interiores necessários. Em caso negativo, rejeitarão a possibilidade. Seja como for, elas também preservam sua energia e seus recursos para evitar depender demasiado dos outros, tentando tirar do meio o mínimo possível. Por isso, podem ser muito reservadas, além de zelosas do local onde vivem ou trabalham.
Os Autopreservacionistas do Tipo Cinco são os verdadeiros solitários do Eneagrama: amam a solidão e em geral evitam contato social com as pessoas – principalmente quando se trata de grupos. Apesar de poderem mostrar-se amigáveis e falantes, eles demoram a entrosar-se com os outros e muitas vezes sentem-se esgotados pelas interações sociais. Quando isso ocorre, precisam passar algum tempo em casa para recarregar as baterias. Além disso, ressentem-se muito das expectativas que possam ser criadas a seu respeito. Na maioria das vezes, procuram minimizar as próprias necessidades para conseguir viver com menos dinheiro e evitar que interfiram com sua independência e privacidade. Embora possam ser afetuosos para com os mais íntimos, sendo os representantes da Variante emocionalmente mais fria do Tipo Cinco, eles em geral se mostram mais distantes e têm maior dificuldade de manifestar o que sentem pelos outros.
Na faixa não-saudável, os Autopreservacionistas do Tipo Cinco podem transformar-se em reclusos excêntricos, capazes de qualquer coisa para evitar o contato social. O isolamento pode levá-los a distorções de raciocínio e a ideias ilusórias. Não está descartado o surgimento de trações paranoides, principalmente no caso dos representantes do Tipo Cinco com Asa Seis.
O Instinto Social (So) no Tipo Cinco
O Especialista. Os representantes Sociais típicos do Tipo Cinco sabem entrosar-se e conquistar um lugar para si pelo seu saber e por sua qualificação. Eles gostam de ver-se como Mestres da Sabedoria e de valer-se de sua área de domínio para tornar-se indispensáveis (ser os únicos no escritório que sabem consertar um computador, por exemplo). Sendo os mais intelectuais dentre os representantes de seu tipo, eles são muitas vezes atraídos pelas ciências. Além disso, representam o papel social do xamã, o sábio que vive na margem de sua tribo, o senhor de conhecimentos secretos. Eles gostam de conversar sobre questões sérias e teorias complexas, tendo pouco interesse por brincadeiras. Sua interação social se pauta pelo debate de ideias, pela crítica da sociedade e pela análise de tendências.
Os representantes Sociais menos saudáveis do Tipo Cinco mostram-se incapazes de relacionar-se com as pessoas senão mediante sua área de domínio. Eles fazem do cabedal de informação que recolheram seu trunfo, seu meio de acesso ao poder. Assim, são socialmente ambiciosos no sentido de querer fazer parte da elite intelectual ou artística – preferem não “perder seu tempo” com os que não conseguem entender seu trabalho.
Na faixa não-saudável, essas pessoas costumam manifestar pontos de vista polêmicos e radicais. Muitas vezes, são anarquistas e anti-sociais: escarnecendo da raça humana, veem o mundo como uma nau de insensatos. Além disso podem criar bizarras teorias sobre a sociedade e a realidade. Mas, ao contrário dos Autopreservacionistas deste tipo, estarão dispostas a apresentá-las aos outros de qualquer maneira.
O Instinto Sexual (Sx) no Tipo Cinco
“Esse é o Meu mundo.” Aqui existe um choque entre o distanciamento e a esquivança típicos do Tipo Cinco e o desejo de intensa proximidade que confere a Variante Sexual. Essas pessoas gostam de compartilhar segredos com os mais íntimos (“Nunca contei isso a ninguém”), porém estão sempre um pouco divididas entre lutar pelos que as atraem e ceder à falta de confiança nos próprios dotes sociais. Por isso, sentem-se impelidas a entrosar-se com os outros, embora sempre com alguma ansiedade e uma certa tendência a retroceder de uma hora para a outra. Elas são mais afáveis e extrovertidas que as pessoas das outras duas Variantes, mas surpreendem e deixam a todos perplexos quando inopinadamente desaparecem por tempos. Por um lado, são como os representantes do Tipo Nove: quando se interessam por alguém, mostram-se extremamente abertas e acessíveis. Por outro, quando não se sentem estimadas ou compreendidas, logo se distanciam emocionalmente. Assim, alternam fases de muita frequência e intensidade e longos períodos de isolamento nos relacionamentos.
Mesclado ao intelecto, o instinto Sexual produz uma fértil imaginação. Os representantes Sexuais do Tipo Cinco criam realidades alternativas – “mundos” particulares de vários tipos – que só apresentam aos mais íntimos. Essas pessoas buscam o parceiro ideal, o parceiro para a vida inteira, aquele que não se deixará desanimar por sua estranheza. (“Você tem medo da minha intensidade?”) A forte sexualidade lhes dá o ímpeto de arriscar-se ao contato emocional, além de aliviar um pouco a sua constante atividade mental, tornando-se um meio de centramento. Porém, nos menos saudáveis, a mistura entre sexualidade e imaginação pode ganhar matizes sombrios e fetichistas, fazendo-os perder-se em meio a sonhos e fantasias inquietantes.
Na faixa menos saudável, a saudade de um amor perdido e o sentimento de rejeição podem levar essas pessoas a isolar-se e agir de modo autodestrutivo. Muitas vezes o voyeurismo as induz a viver de forma perigosa e a aproximar-se do submundo.
A seguir, alguns dos problemas mais frequentes no caminho da maioria das pessoas do Tipo Cinco. Identificando esses padrões, “pegando-nos com a boca na botija” e simplesmente observando quais as nossas reações habituais diante da vida, estaremos dando um grande passo para libertar-nos dos aspectos negativos de nosso tipo.
O Sinal de Alerta para o Tipo Cinco: A Fuga para a Própria Mente
Sempre que se sentem esgotadas pelas circunstâncias ou pelo contato com os demais, as pessoas do Tipo Cinco imediata e instintivamente se desligam de seus sentidos e emoções e buscam refúgio na mente. No fundo, o que estão buscando com isso é um ponto seguro de onde possam avaliar mais objetivamente a situação.
Quando isso ocorre, essas pessoas interrompem a relação direta com o que estão vivendo e enfronham-se em seu próprio comentário mental dessa experiência. Assim, transformam as experiências em conceitos e procuram então ver como eles se encaixam na sua compreensão anterior da realidade. Por exemplo, um psicólogo do Tipo Cinco está conversando animadamente com um amigo e, de repente, em vez de escutá-lo, começa a analisar as ideias e os sentimentos desse amigo à luz de uma determinada teoria psicológica. Uma escritora do Tipo Cinco faz uma viagem e, em vez de relaxar e simplesmente fazer turismo, passa o tempo quase todo fazendo anotações sobre o lugar para o romance que está escrevendo.
Com o tempo, as ideias, os comentários mentais e as associações livres dessas pessoas começam a juntar-se para formar aquilo que chamamos de Brinquedo Interior. Esse brinquedo pode vir a tornar-se para elas a própria realidade – o filtro através do qual elas vivem o mundo. Assim, acrescentar novas ideias, reconstruir as antigas e tentar descobrir como as diferentes partes dessa estrutura mental poderiam encaixar-se passam a ser o principal passatempo das pessoas do Tipo Cinco. Como sempre conseguem inventar novas ideias o tempo todo, isso se torna um meio muito eficaz de aumentar sua auto-estima e defender o eu. Mas, concentrando-se tanto nesse brinquedo, elas abstraem e conceituam o mundo, em vez de vivenciá-lo diretamente, o que por fim provoca a perda de contato com a orientação Essencial. Em outras palavras, brincar com as ideias pode dar-lhes uma sensação temporária de segurança, mas não traz a solução para os problemas reais do mundo real.
Reconectando-se Com o Mundo
Observe o local em que se encontra agora e faça, em um caderno ou diário, uma lista de todas as coisas que não havia observado até este momento. Verifique o que havia deixado de notar. Quantas coisas, cores, defeitos ou características novas você é capaz de encontrar agora? Quando estamos presentes, somos capazes de observar tudo. Mas, quando estamos dentro de nossa cabeça, não podemos observar muita coisa. Você pode praticar este exercício sempre que entrar num lugar desconhecido. Primeiro, porém, você tem de estar presente – procure respirar e sentir a si mesmo. Em seguida, olhe em torno de si como se jamais estivesse estado ali. Se você for do Tipo Cinco, poderá usar este exercício para retomar seu contato com o mundo e “ativar” seu Sinal de Alerta; se não o for, terá conseguido uma ideia melhor do que é ser um representante desse tipo.
Papel Social: O Expert
À medida que a insegurança aumenta, é cada vez mais difícil para as pessoas do Tipo Cinco relacionar-se com os outros, a não ser por intermédio do papel de Expert. Graças ao seu Medo Fundamental (não ter recursos e ser impotentes e incapazes), elas condicionam a autoconfiança à conquista de um lugar só seu. Isso elas conseguem pelo domínio de conhecimentos e informações aos quais ninguém mais tem acesso (como, por exemplo, os gambitos do xadrez e os aspectos mais arcanos da astrologia ou mesmo do Eneagrama). Além disso, procuram dedicar-se também a alguma atividade criativa com o objetivo de torná-la sua marca registrada.
Entretanto, conhecer o jogo de xadrez a fundo não adianta se as pessoas de seu círculo também souberem jogar muito bem. Os representantes típicos do Tipo Cinco precisam superar a todos na compreensão do xadrez ou encontrar outro jogo: talvez um obscuro jogo dos antigos Incas ou um game diabolicamente complicado.
Embora dediquem a maior parte do tempo ao tema que escolheram, as pessoas do Tipo Cinco estão conscientes das várias outras áreas de sua vida que não dominam. O fato de ser um físico brilhante ou um bem-sucedido escritor de terror não compensa inteiramente a falta de jeito na cozinha, a incapacidade de dirigir um automóvel ou de manter um relacionamento. As atividades físicas costumam ser para elas motivo de muita vergonha: funcionam como provas de algo que não conseguiram dominar. As atividades sociais e outros aspectos dos relacionamentos também podem ser descartados. Se uma pessoa do Tipo Cinco tiver más recordações de um namoro, talvez leve anos até arriscar-se a namorar novamente. Se esse padrão persistir, seu mundo se reduzirá às poucas atividades que a deixam à vontade.
O Que Realmente Trará Segurança?
Observe sua própria dependência de certas áreas de interesse. Qual a sensação que elas lhe dão? Como você se sente relacionando-se com as pessoas sem tocar na sua área de domínio? Existem outras áreas em sua vida que você negligencia porque lhe provocam vergonha ou ansiedade? Você está se concentrando no nicho que conquistou em detrimento dessas outras áreas?
A Avareza e a Sensação de Pequenez
A Paixão do Tipo Cinco (seu “Pecado Capital”) é a avareza, uma certa distorção emocional resultante de sua sensação de pequenez e incapacidade de defender-se no mundo. O medo faz seus representantes recolherem-se a si mesmos, e a avareza os faz procurar armazenar os mínimos recursos. Como as necessidades alheias podem esgotá-los com muita facilidade, eles sentem-se como se não dispusessem do suficiente para a demanda.
Na verdade, as pessoas do Tipo Cinco pertencem a um dos tipos menos materialistas do Eneagrama e se satisfazem com poucos confortos. Porém são avaras em relação ao seu tempo, sua energia e seus recursos. Têm voracidade para adquirir conhecimentos e meios de aperfeiçoar sua perícia e suas habilidades. Além disso, por acharem que precisam dedicar a maior parte do tempo ao cultivo de suas ideias e interesses, não querem que ninguém lhes exija muito tempo ou atenção. Como se sentem impotentes e incapazes, creem que devem acumular e manter tudo aquilo que possa torná-las fortes e capazes. Assim, podem fazer coleção de números atrasados de jornais ou revistas, compilar exaustivamente recortes e livros das áreas que lhes interessam ou acumular discos e CDs até não terem mais onde guardá-los.
Essas pessoas geralmente se sentem sobrecarregadas e oprimidas pelas expectativas alheias. Além disso, como é fácil sentir-se invadidas, elas aprendem a proteger-se retraindo-se emocionalmente.
Mark, especialista em computadores, é dotado de um simpático senso de humor e de uma sinceridade tocante. É casado e feliz há muitos anos, mas ainda luta com esses problemas:
“Minha mãe teve dois filhos antes de mim; um com problemas congênitos de pele e o outro morto num acidente antes de chegar à adolescência. Quando eu nasci, nasceu também a ideia de que eu precisava ser superprotegido. Infelizmente, nada podia ser só meu: meus pais tinham de saber onde eu estava, o que fazia, o que queria fazer, o que havia em meu quarto, etc. Então aprendi desde cedo a fugir para minha mente. Lá eu me libertava das intrusões que faziam parte de meu cotidiano. Ninguém podia ir até lá, a menos que eu deixasse – e isso jamais acontecia. No início da adolescência, comecei a dar mostras evidentes de resistência tornando-me mais indiferente, inacessível e frio. Até hoje, continuo distante emocionalmente de meus pais e dos outros.”
A Incapacidade de Chegar ao Fim: a Fase de Preparação
Os representantes típicos do Tipo Cinco geralmente ficam presos àquilo que chamamos de fase de preparação: recolhem cada vez mais informações e praticam sem parar, mas jamais se sentem preparados o bastante para partir para a ação. Ficam tão enredados nos detalhes da análise e dos ajustes finais que não conseguem ver a floresta por causa das árvores. Assim, nunca se sentem prontos para arriscar-se, como o pintor que reluta em fazer uma exposição ou o aluno que faz mil cursos mas não quer formar-se em nenhum.
As pessoas do Tipo Cinco não estão necessariamente conscientes de sua ansiedade. Geralmente, acham apenas que não terminaram o que haviam planejado e precisam de mais tempo para o aprimoramento. Já que sua auto-estima está tão condicionada aos seus projetos, essas pessoas preocupam-se muito com a possibilidade de seu trabalho ser criticado ou rejeitado. Porém a eterna sensação de precisar preparar-se mais pode deixá-las paralisadas por muitos anos. Assim, podem acordar um belo dia e perceber que não viveram a vida – estiveram simplesmente preparando-se para vivê-la.
Basicamente, o que paralisa as pessoas do Tipo Cinco é a recorrente mensagem do superego, que diz: “Para ser bom, você precisa atingir a excelência em alguma coisa”. Mas, afinal, de quanto conhecimento elas precisam? O que – ou quem – lhes dirá que atingiram domínio perfeito daquilo a que se propunham e estão prontas para a ação? Como esse domínio pode ser mantido?
Morgan reconhece o quanto lhe custou esse tipo de comportamento:
“Batalhei anos e anos para tornar-me compositor e, em retrospecto, vejo que muita gente achava que minhas canções eram muito boas. Mas eu nunca me convencia disso. Mexia nelas sem parar: esta melodia não é muito interessante; o mote é cafona demais; este verso parece mais coisa de fulano. O pior é que eu não compunha nada e passava o tempo todo “fazendo pesquisa”, escutando outras músicas para ganhar experiência e inspiração. Mesmo quando estava em contato com outros músicos que poderiam ajudar-me na criação, eu hesitava em apresentar-lhes o que havia feito ou pedir-lhes que o tocassem. Tentava consolar-me dizendo que assim estaria me tornando um músico melhor, que aquilo fazia parte do processo e que um dia eu seria bom de verdade. Com isso perdi muitos anos.”
Concretizando suas Ideias
Sua maior demonstração de eficiência está em parar de refinar conceitos e partir para los pôr em prática. Procure encontrar pessoas com as quais possa compartilhar suas ideias: um grupo de amigos criativos ou intelectuais que se interesse por seu trabalho pode ajudá-lo a manter-se em atividade. Além disso, embora você não seja muito afeito ao trabalho em equipe, isso contribuirá para impedir que você fique preso à fase de preparação.
Retraimento e Indiferença
Os representantes do Tipo Cinco são os mais independentes e idiossincráticos dentre todos os tipos de personalidade, são aqueles que mais podem ser classificados como solitários e até desajustados. Isso não quer dizer que eles queiram sempre estar a sós ou que não sejam excelente companhia. Quando encontram alguém cuja inteligência e interesses respeitem, invariavelmente se mostram extrovertidos e sociáveis porque gostam de compartilhar suas descobertas e percepções com aqueles que sabem apreciar o que eles têm a dizer. Sua disposição para compartilhar seu conhecimento, porém, não quer dizer compartilhar informações a seu próprio respeito.
Ao contrário das pessoas do Tipo Quatro, que desejam ser aceitas apesar de sentir-se como estranhas, as do Tipo Cinco não têm nenhuma angústia consciente por não se relacionar com os outros. Estão resignadas com isso e procuram concentrar-se em outras coisas, sentindo que seu isolamento é inevitável – coisas da vida. (O filme Edward Mãos de Tesoura, de Tim Burton, descreve perfeitamente a vida interior de uma pessoa deste tipo.) Seus desejos e necessidades emocionais estão profundamente reprimidos. Por trás dessas defesas, elas naturalmente sofrem, mas conseguem desligar-se dos sentimentos que a solidão provoca para continuar agindo normalmente.
Richard, um bem-sucedido empresário, situa as origens de sua reserva emocional na infância:
“Creio que boa parte da minha personalidade distante pode ser atribuída à falta de relacionamento tanto com meu pai – que, como militar, passou quase toda a minha infância fora de casa – quanto com minha mãe – que estava mais interessada na própria vida social que nas necessidades do quarto filho. A lenda na família é que eu tinha sido “um acidente” e que minha mãe já tinha gasto a sua cota de dedicação com meus irmãos mais velhos. Assim, aprendi desde cedo a “me virar" sozinho e tornei-me craque em passar despercebido.”
Como as pessoas do Tipo Nove, as do Tipo Cinco têm dificuldade de perceber o próprio eu e as próprias necessidades quando se relacionam. Porém, ao contrário das pessoas do Tipo Nove, as do Tipo Cinco tentam recobrá-los evitando os outros. A companhia alheia obscurece sua lucidez e implica um esforço – mesmo quando elas estão se divertindo. Por isso, os representantes típicos do Tipo Cinco consideram a maioria das interações pessoais extenuantes, sentindo que as pessoas desejam deles uma resposta que não têm condição de dar.
Mark fala abertamente sobre essa questão:
“Às vezes é difícil lidar com as pessoas e sempre é difícil lidar com as pessoas que têm expectativas. Para desespero de minha mulher, falar, agir, vestir-me e comportar-me em público de forma adequada (isto é, de forma que atenda às expectativas sociais) nunca foram meus pontos fortes. É preciso esforço para conseguir aceitação social, e aí eu penso: ‘Para que tentar?’”
As pessoas do Tipo Cinco podem, na verdade, ter um imenso reservatório de sentimentos. Mas eles foram soterrados e são mantidos assim de propósito. Com efeito, elas evitam muitos relacionamentos para impedir que esses sentimentos as tomem de assalto. A maioria dessas pessoas também costuma rechaçar os que procuram ajudá-las. (Qualquer auxílio aí significaria frisar sua incompetência e impotência, reforçando assim seu Medo Fundamental.) Isso vale especialmente quando a pessoa que quer ajudá-las demonstra possuir segundas intenções ou alguma tendência à manipulação: se não se sentem capazes de cuidar das próprias necessidades, que dirá das necessidades ocultas dos outros.
As Origens do Isolamento
Registre suas observações acerca do isolamento em um caderno ou diário. Que tipos de situações o fazem distanciar-se emocionalmente? Qual a sua atitude diante das pessoas e da vida social nessas ocasiões? Você é capaz de recordar algum incidente da infância que tenha servido para reforçar essa tendência? Sentiu-se invadido pelas necessidades ou pela interferência de outras pessoas? Da próxima vez que estiver com alguém, procure observar se não está se distanciando emocionalmente. O que seria necessário para relacionar-se com as pessoas sem abrir mão de suas próprias metas?
Minimizando as Necessidades: a Mente “Perde o Corpo”
Os representantes da Tríade do Raciocínio tentam compensar a falta de orientação interior desenvolvendo estratégias. A estratégia das pessoas do Tipo Cinco é não pedir muito de ninguém, esperando, ao mesmo tempo, que ninguém lhes peça muito. (Inconscientemente, elas pensam muitas vezes que não têm muito a oferecer.) Essas pessoas tentam manter sua independência minimizando as próprias necessidades. Sua ideia de conforto pessoal é tão elementar que pode chegar ao ponto de ser primitiva. Preocupadas com suas teorias e visões, elas vivem como “mentes incorpóreas”.
Morgan, o compositor, fala com franqueza a respeito do minimalismo característico de seu tipo:
“Quando me mudei para meu apartamento, passei meses dormindo num colchonete inflável – ou mesmo no chão – até comprar um sofá-cama. Levei anos sem quase nenhuma mobília que não as estantes onde guardava meus livros e LPs. Acho que as pessoas tinham pena de mim e me davam os móveis que não queriam mais, os quais eu aceitava satisfeito. Nada combinava com nada, mas eu não me importava. Eu vivia na minha cabeça – meu apartamento era só o lugar em que eu comia e dormia.”
Os representantes típicos do Tipo Cinco podem mostrar-se então cada vez mais distraídos e distantes, não só das pessoas como também de seu próprio corpo. Tornam-se nervosos e começam a ignorar as próprias necessidades, inclusive as físicas: trabalham a noite inteira no computador comendo apenas chocolates e bebendo refrigerantes; quando saem, não sabem onde deixaram as chaves ou os óculos. Sua distração, ao contrário do “viver no mundo da lua” característico do Tipo Nove, é produto de uma inquietude mental extrema, do fluir continuo de energia nervosa.
Quando estão nesse estágio, as pessoas do Tipo Cinco também guardam muito segredo de suas atividades. Embora possam mostrar-se amigáveis e conversadoras com os mais íntimos, mantêm-nos na ignorância de muitas coisas de sua própria vida. Compartimentando os relacionamentos, minimizando as próprias necessidades e mantendo em segredo algumas de suas atividades, elas esperam preservar a independência e manter seus projetos a salvo de interferências.
Permanecendo Centrado
As pessoas do Tipo Cinco precisam assumir mais o próprio corpo. A yoga, as artes marciais, a ginástica, a corrida, os esportes ou uma boa caminhada pode ajudá-las a retomar o contato com seu lado físico e emocional. Escolha uma atividade que possa praticar regularmente e anote-a em um caderno ou diário. Escreva também quantas vezes por semana você se compromete a exercitar-se e depois assine embaixo. Não se esqueça disso! Reserve espaço para comentar esse termo de compromisso e as modificações que nota à medida que se torna mais centrado. O que você sente quando não o cumpre? O que acontece com a sua noção de eu ao realizar a atividade? Como esta afeta seu raciocínio?
Perdendo-se em Especulações e Realidades Alternativas
Após criar o mundo interior no qual se refugiam contra as inseguranças do dia-a-dia, os representantes típicos do Tipo Cinco tendem a preocupar-se com ele. Especulam sobre diversas ideias, preenchendo os detalhes de complexos mundos de fantasia ou desenvolvendo teorias brilhantes e convincentes, porque esse tipo de raciocínio – camuflado de análise ou criação – é o que mais se presta a afastar os problemas práticos e emocionais.
Na medida em que tiverem sido feridas em sua capacidade de sentir-se fortes e capazes, as pessoas do Tipo Cinco poderão recorrer a fantasias de poder e controle. Assim, talvez se sintam atraídas por jogos baseados em temas de conquista, embates de monstros, dominação do mundo e elementos tecno-eróticos de sadismo e poder.
Jeff é um criador de software que conhece bem esse terreno:
“Eu costumava jogar aqueles complicados jogos de tabuleiro. Há uma infinidade de temas, mas a maioria é de guerra ou outro tipo de batalha. Eu passava dias para aprender as regras e depois não achava ninguém interessado em jogá-los. Às vezes eu jogava sozinho! E quando surgiram as versões computadorizadas – rapaz! Eu não precisava depender de ninguém. Uma partida desses games leva horas para ser jogada, mas o legal neles é o detalhe e a sensação que a gente tem de realmente vencer uma batalha, construir uma cidade ou o que seja. Você termina fantasiando que suas tropas estão marchando e derrotando o inimigo. Fiquei viciado neles até que percebi o tempo que exigiam e o quanto seria melhor eu aplicar toda aquela energia e estratégia à minha vida real.”
Os representantes menos saudáveis deste tipo podem encerrar-se em bizarras “realidades” criadas inteiramente por eles, como sonhadores presos num pesadelo do qual não conseguem despertar.
O Equilíbrio Entre o Mundo Interior e o Exterior
Fantasiar, teorizar e especular podem ser agradáveis passatempos, mas aprenda a avaliar honestamente quando os está usando para evitar problemas mais graves na vida real. Quantas horas por dia você dedica a essas atividades cerebrais? O que você poderia fazer de seu tempo se reduzisse seu investimento nelas?
Ansiedades Inconscientes e Pensamentos Aterrorizantes
Por mais estranho que pareça, as pessoas do Tipo Cinco pensam muito sobre as coisas que mais as atemorizam. Elas são capazes, inclusive, de tornar-se profissionais estudando ou criando obras de arte sobre aquilo que lhes provoca medo: as que têm medo de doenças, por exemplo, podem tornar-se patologistas; as que tinham medo de “monstros sob a cama" podem tornar-se, quando adultas, autoras de livros ou diretoras de filmes de terror ou ficção científica.
Rich, hoje autor de psicologia, relembra como superou alguns de seus primeiros medos:
“Certa vez – eu ainda não estava nem no jardim-de-infância – uns amigos mais velhos me levaram ao cinema um sábado à tarde. O filme era sobre vikings e bem sangrento, pelo menos para uma criança da minha idade. Cheguei em casa bastante abalado. A visão de sangue me apavorava e eu tive muitos pesadelos por causa disso. Mas, depois disso, queria ir a todo filme de terror que passasse. Monstros, dinossauros, extraterrestres e destruição em massa eram os meus temas favoritos. Não me cansava nunca de assistir a esses filmes.”
As pessoas do Tipo Cinco tentam controlar o medo concentrando-se na coisa atemorizante em si e não nos sentimentos que ela lhes provoca. Porém, como não conseguem evitar completamente o impacto emocional dessas ideias, acabam consciente e inconscientemente enchendo a cabeça de imagens inquietantes. Como tempo, os sentimentos alienados podem ameaçar voltar até elas em sonhos e fantasias ou de algum outro modo inesperado.
Isso é particularmente perturbador para essas pessoas porque os representantes típicos deste tipo acreditam que seus pensamentos são o único aspecto da realidade no qual podem confiar inteiramente. Quando seus pensamentos lhes parecem fora de controle ou atemorizantes, eles passam a evitar as atividades que possam deflagrar associações temíveis. Se por exemplo já gostaram de astronomia, podem começar a ter medo de sair à noite: o vazio da abóbada celeste os desestabiliza completamente.
Jane, diretora de arte e também escultora, conta-nos uma experiência desse tipo:
“Quando tinha cerca de 7 anos, fiquei muito interessada em estudar o corpo humano. Adorava ler sobre os órgãos internos e ver as transparências correspondentes a eles na enciclopédia da família. Comecei a ler também livros e artigos sobre saúde e doença. Lembro-me de um dia estar lendo um artigo sobre o câncer causado pelo fumo na revista Seleções do Reader's Digest. O artigo descrevia pessoas com traqueotomias, pulmões de aço e outras cirurgias radicais. Fiquei aturdida. De repente, aos 7 anos, eu entendi o que era a morte, e não era do jeito que meus pais haviam explicado. Não conseguia mais parar de pensar nisso. Fiquei taciturna, não queria comer. Todos iriam morrer. Ficava acordada à noite, pensando como seria a morte e se Deus existia. Quanto mais pensava, mais cética ficava. Comecei até a observar animais mortos. Isso durou muitos anos. Acho que, depois de algum tempo, acabei me acostumando.”
Contemplando o Abismo
Observe sua atração pelo lado "sombrio" da vida. Embora ela possa ajudar na compreensão desse aspecto da natureza humana, cuidado com a tendência à obsessão com essas questões. Atente para a influência de tais interesses sobre seu sono. Muitas das pessoas do Tipo Cinco afirmam ser útil investigar possíveis traumas de infância. Esses traumas muitas vezes levam ao interesse compulsivo por temas inquietantes. Seu interesse por esses temas prejudica sua atuação normal?
Gosto pela Discussão, Niilismo e Extremismo
Todos os tipos têm agressividade. Como as ideias são praticamente sua única fonte de segurança, as pessoas do Tipo Cinco as postulam e defendem com ardor – mesmo que, na verdade, nem acreditem na posição que estão tomando quando o fazem.
Nos Níveis médio-inferiores, elas antagonizam tudo e todos que possam interferir com seu mundo interior e sua visão pessoal, sentem-se ofendidas pela calma e segurança que os outros demonstram e comprazem-se em atacar e debilitar as crenças e convicções alheias. Elas podem afrontar, provocar ou chocar os demais com opiniões intencionalmente radicais. Esse tipo de pessoa quer afugentar os outros não só para poder dedicar-se aos seus próprios interesses como também para sentir-se intelectualmente superior à “burrice" e a "cegueira” deles. Deixando de lado o cuidado no pensar, elas tiram conclusões apressadas, impõem sua radical interpretação dos fatos e, quando encontram discordância, tornam-se grosseiras e cáusticas. Quando insistem em comportar-se assim, de fato acabam por afastar a todos.
Quando não conseguem conquistar seu próprio lugar, essas pessoas caem rapidamente numa cética apatia, perdendo a fé em si e na humanidade. Dentre todos os tipos do Eneagrama, o Tipo Cinco é o mais propenso à sensação de insignificância, o que leva muitos de seus representantes a duvidar da existência de forças benevolentes no universo.
Desconcertando as Pessoas
Quando se pegar discutindo ou exaltando-se por qualquer razão, atente para o que seu corpo sente. Quanto realmente lhe importa fazer sua opinião prevalecer? Que efeito você está tentando provocar no outro? Que intenções ou convicções está atribuindo a ele? Do que você tem medo?
Reação ao Stress: O Tipo Cinco Passa ao Sete
As pessoas do Tipo Cinco tentam lidar com o stress estreitando cada vez mais o seu foco e refugiando-se no santuário de seus próprios pensamentos. Quando esse método não consegue aliviar a ansiedade, elas podem passar ao Tipo Sete: reagem ao isolamento lançando-se impulsivamente a toda espécie de atividades. Assim, tornam-se inquietas e agitadas – a mente se acelera e elas evitam pensar nos medos crescentes. Além disso, a ansiedade por encontrar um lugar para si pode torná-las dispersivas em seu empenho. Como os representantes típicos do Tipo Sete, saltam de atividade para atividade, de ideia para ideia, mas não conseguem encontrar ou levar adiante nada que as satisfaça.
Após o desligamento das necessidades, principalmente as sensoriais e afetivas, a passagem ao Tipo Sete culmina na atuação da busca indiscriminada de estímulos e experiências. Geralmente, essas diversões pouco têm que ver com seus projetos profissionais – elas podem deixar-se absorver por filmes, bebidas, drogas ou aventuras sexuais. Podem também começar a frequentar bares secretos, clubes de troca de casais ou "cenários" ainda mais estranhos e pouco habituais, o que surpreenderia todos aqueles que acreditam conhecê-las – se é que conseguiriam descobrir isso algum dia.
Nas situações mais estressantes, as pessoas do Tipo Cinco defendem-se contra suas ansiedades tornando-se insensíveis e agressivas na busca daquilo que julgam desejar, como os representantes menos saudáveis do Tipo Sete. Além disso, podem buscar consolo no abuso de drogas.
A Bandeira Vermelha: Problemas para o Tipo Cinco
Se estiverem sob stress por períodos prolongados, tiverem sofrido uma crise grave sem contar com apoio adequado ou sem outros recursos com que enfrentá-la, ou se tiverem sido vítimas constantes de violência e outros abusos na infância, as pessoas do Tipo Cinco poderão cruzar o ponto de choque e mergulhar nos aspectos não-saudáveis de seu tipo. Por menos que queiram, isso poderá forçá-las a admitir que os projetos a que se vinham dedicando e o estilo de vida que adotaram na verdade eliminam suas chances de encontrar um lugar que seja só seu.
Por mais difícil que seja, admitir isso pode representar o início de uma reviravolta na vida dessas pessoas. Se reconhecerem a verdade desses fatos, elas poderão, por um lado, mudar sua vida e dar o primeiro passo rumo à saúde e à libertação. Mas também poderão cortar relações com os demais, num ato que equivale a dar as costas ao mundo para resguardar-se ainda mais das "intromissões" e poder, assim, seguir seu raciocínio até a "conclusão lógica" – geralmente uma conclusão sombria e autodestrutiva. (“Que vão todos para o inferno! Ninguém vai me maltratar de novo!") Naturalmente, essa fuga só pode contribuir para apagar qualquer resquício de segurança que ainda possam ter. Se persistirem nessa atitude, elas se arriscam a ultrapassar a linha divisória que as separa dos Níveis não-saudáveis. Se seu comportamento ou o de alguém que você conhece se enquadrar no que descrevem as advertências a seguir por um período longo – acima de duas ou três semanas, digamos –, é mais que recomendável buscar aconselhamento, terapia ou algum outro tipo de apoio.
Advertências
• Tendência crescente ao isolamento
• Negligência física crônica, auto-abandono
• Insônia crônica grave, pesadelos e distúrbios do sono
• Excentricidade crescente — perda de interesse nos dons sociais
• Rechaço ou hostilidade diante das ofertas de ajuda
• Percepção distorcida, alucinações
• Menção ao suicídio
Potencial Patológico: Distúrbios de Personalidade Esquizoide, Esquizotípica e Fugidia, surtos psicóticos, dissociação, depressão e suicídio.
Práticas que Contribuem para o Desenvolvimento do Tipo Cinco
• Lembre-se de que sua mente é mais lúcida e potente quando está tranquila. Procure cultivar em si essa tranquilidade e não a confunda com o silenciar de seu mundo exterior. Aprenda a observar os comentários ininterruptos que sua mente faz sobre tudo aquilo que você vivencia. O que acontece quando você simplesmente vive o momento sem relacioná-lo ao que acha que já sabe? Estando mais atento às sensações físicas, você terá mais facilidade de acalmar a mente.
• Use seu corpo! O Tipo Cinco é provavelmente o que mais acha que pode prescindir do próprio corpo – para seus representantes, é fácil ficar horas diante do computador, lendo ou ouvindo música. Embora não haja nada de errado com essas atividades, seu equilíbrio requer mais exercício físico. Experimente a corrida, a yoga, a dança, as artes marciais, a ginástica ou mesmo a caminhada. Quando o corpo está desperto e o sangue flui, a mente se apura e os seus recursos interiores aumentam.
• Esforce-se por procurar as pessoas, principalmente quando se sentir temeroso ou vulnerável. Como representante de seu tipo, você foi condicionado a não esperar apoio de ninguém e até a suspeitar da ajuda que lhe oferecem. Mas essa crença provavelmente não se aplica à sua atual situação. Use sua inteligência para descobrir quem é suficientemente constante para dar-lhe apoio quando você precisar. Fale – manifeste suas necessidades e talvez se surpreenda. Sua tendência ao isolamento só serve para prendê-lo ainda mais em sua própria armadilha.
• Procure refletir sobre as áreas que mais debilitam sua autoconfiança. Estudar geografia mundial não adianta se você se sente fisicamente fraco, mas ginástica e musculação, sim. Compor outra música não adianta se o que realmente quer é conhecer pessoas. Você pode continuar trabalhando em tudo aquilo que lhe interessa, mas também será muito bom explorar mais diretamente algumas das áreas que excluiu de sua vida.
• Arrisque-se a sentir sua própria dor. A maioria das pessoas do Tipo Cinco dissocia-se da percepção de suas mágoas e sofrimentos, principalmente os que envolvem a sensação de rejeição. Você sabe quando esses sentimentos estão prestes a vir à tona. Não os engula simplesmente. Num local apropriado, permita-se sentir o seu coração e os sentimentos nele encerrados. Isso surtirá ainda mais efeito se vivido ao lado de uma testemunha: um amigo, o terapeuta ou qualquer pessoa em quem você confie. Peça a essa pessoa que não faça nada: apenas presencie sua luta e seu sofrimento.
• À medida que se torna mais equilibrado e centrado em seu corpo, deixe que a impressão que tem dos outros e do mundo ao seu redor o afetem – deixe que o mundo entre em você. Você não vai se perder; vai encontrar o mundo. Isso lhe dará a sensação de segurança e bem-estar que tanto vem buscando – além de muitos novos insights no processo. Lembre-se apenas de não se perder em sua análise e de voltar à terra. Lembre-se: esta é sua vida. Você não é uma abstração e sua presença aqui pode fazer – e faz – diferença.
Reforçando os Pontos Fortes do Tipo Cinco
Sem esquecer a especialidade da qual têm pleno domínio, o que as pessoas do Tipo Cinco têm a oferecer ao mundo é principalmente sua tremenda percepção e compreensão. Com esse dom, elas são capazes de entender vários pontos de vista ao mesmo tempo, abarcando o todo e as partes. As mais saudáveis dentre elas podem considerar várias perspectivas diferentes sem se prender a nenhuma delas. São capazes de determinar qual o melhor ângulo para analisar um problema, tendo em vista um determinado conjunto de circunstâncias.
As pessoas do Tipo Cinco são extraordinariamente observadoras e perspicazes. Sensíveis ao ambiente, captam mudanças e incongruências sutis que poderiam passar despercebidas a muita gente. Muitas delas têm um ou dois dos cinco sentidos mais desenvolvidos que a média, podendo apresentar, por exemplo, extrema acuidade visual em relação às cores ou grande facilidade em reconhecer tons e ritmos.
Essas pessoas não perdem a curiosidade típica da infância – continuam fazendo perguntas como: “Por que o céu é azul?” ou “Por que as coisas caem para baixo e não para cima?" Elas não tomam nada por garantido – se querem saber o que está debaixo de um rochedo, pegam uma pá, cavam o chão e olham. Além disso, são dotadas de uma extraordinária capacidade de concentração e atenção, e podem aplicá-la por longos períodos. Para completar, são extremamente pacientes na exploração de tudo aquilo que lhes interessa. A paciência e a concentração lhes permitem seguir com seus projetos até conseguir extrair deles o ouro.
Graças a sua abertura e curiosidade, as pessoas saudáveis deste tipo são muito inventivas e inovadoras. Sua capacidade de explorar e brincar com as ideias pode render descobertas e trabalhos valiosos, práticos e originais – desde paradigmas na medicina e na ciência e surpreendentes avanços no terreno das artes a novas formas de empilhar caixas velhas na garagem. Não satisfeito com o som de um violoncelo, um representante do Tipo Cinco será capaz de gravá-lo e tocar a fita de trás para a frente, além de alterar o tom da gravação. Os que têm vocação científica fazem descobertas precisamente porque se interessam pelas exceções à regra. Eles se concentram nas áreas em que as regras não se aplicam ou nas pequenas incoerências que aos outros parecem pouco importantes.
As pessoas do Tipo Cinco gostam de compartilhar suas descobertas e costumam apresentar suas observações das contradições da vida com um senso de humor muito peculiar. A eterna estranheza da vida não cessa de diverti-las – e horrorizá-las, e elas conseguem transmitir isso aos outros com leves alterações na disposição do quadro, expondo absurdos antes invisíveis. Elas gostam de brincar com as coisas, o que pode manifestar-se pelo humor negro, por trocadilhos e por jogos de palavras. Há nessas pessoas algo de travesso, vivaz e, ao mesmo tempo, delicado. Elas gostam de incitar as pessoas a pensar mais profundamente a respeito da vida, e o humor muitas vezes é um excelente meio de comunicar ideias que, de outro modo, seriam demasiado perigosas.
O Caminho da Integração: O Tipo Cinco Passa ao Oito
As pessoas do Tipo Cinco concretizam seu potencial e se mantêm na faixa saudável quando, como as que estão na faixa saudável do Tipo Oito, aprendem a reclamar e ocupar sua presença física e sua energia instintiva. Isso porque a base da segurança – a sensação de plenitude, força e capacidade – surge da energia instintiva do corpo, não de estruturas mentais. Assim, aquelas que estão no caminho da integração crescem quando “descem” da cabeça e entram em maior contato com o corpo e sua vitalidade.
A perspectiva de um maior contato com a vida do corpo costuma gerar grande ansiedade nessas pessoas. Elas temem perder sua única defesa: o santuário da mente. A mente parece-lhes segura, confiável e inexpugnável; o corpo, fraco, suspeito e vulnerável. Além disso, o contato mais profundo com o corpo dá ensejo à conscientização de fortes sentimentos de dor e pesar pelo longo isolamento que se impuseram. No entanto, só o centramento no corpo lhes dará o apoio interior necessário à assimilação desses sentimentos longamente suprimidos.
À medida que se sentem mais à vontade diante de suas energias instintivas, as pessoas do Tipo Cinco começam a participar mais plenamente do mundo em que vivem e a aplicar seu conhecimento e habilidade aos problemas práticos imediatos. Em vez de evadir-se das responsabilidades fugindo das pessoas, elas sentem-se capacitadas a assumir grandes desafios e, muitas vezes, papéis de liderança. Os demais intuitivamente percebem que elas estão buscando soluções positivas e não agindo por interesse próprio; portanto, unem-se para apoiá-las em seus projetos. Entrando no mundo real, as pessoas do Tipo Cinco não perdem seus dotes mentais nem a especialidade cujo domínio cultivaram em isolamento; em vez disso, utilizam-nos estratégica e construtivamente como os representantes mais saudáveis do Tipo Oito.
Porém, as pessoas do Tipo Cinco não conseguirão muito tentando imitar as características dos representantes típicos do Tipo Oito. Concentrando-se na auto-proteção, dissociando-se da própria vulnerabilidade e vendo os relacionamentos como confrontos, pouco conseguirão no sentido de superar a sensação de distanciamento e o isolamento social. Entretanto, à medida que começam a perceber e trabalhar sua identificação com a mente, a força, a determinação e a confiança que constituem os trunfos característicos dos representantes saudáveis do Tipo Oito naturalmente entram em jogo.
A Transformação da Personalidade em Essência
Quando realmente estamos presentes para a vida, quando relaxamos e nos entrosamos com o corpo, começamos a vivenciar um saber ou orientação interior. Somos conduzidos exatamente ao que precisamos saber e nossas opções se baseiam nessa sabedoria interior. Mas, quando perdemos a base da Presença – da qual surge essa orientação Essencial –, a personalidade se levanta e tenta tomar a dianteira.
O “passo em falso” das pessoas do Tipo Cinco é identificar-se com a observação das experiências, não com as próprias experiências. Elas são o tipo de gente que procura aprender a dançar observando os outros dançarem. (“Vejamos, ela deu dois passos à esquerda, um à frente e uma voltinha. Depois balança os braços...") No fim, podem até aprender a tal dança – mas, quando o fazem, o baile já terminou.
Naturalmente, as pessoas deste tipo enfrentam o mesmo dilema a vida inteira: tentam descobrir como viver a vida sem realmente vivê-la. Quando estão presentes e centradas, porém, as pessoas do Tipo Cinco sabem exatamente o que precisam saber e quando precisam saber. A resposta a uma questão não vem da mente tagarela, mas da mente lúcida, sintonizada com a realidade. A percepção surge espontaneamente conforme o requeiram as circunstâncias específicas. O verdadeiro apoio e orientação interior podem, assim, ser recuperados se elas deixarem de lado uma determinada auto-imagem – a de que têm existência à parte do meio em que vivem, como meras moscas na parede – e começarem a engajar-se à realidade. Uma vez libertadas, as pessoas do Tipo Cinco sabem que não devem temer a realidade porque são parte dela.
Além disso, há um novo imediatismo em suas percepções que as torna capazes de compreender a própria experiência sem o habitual comentário mental. Cheias de lucidez e confiança no universo, elas se deixam maravilhar diante da grandeza da realidade. Einstein disse certa vez: "A única pergunta que vale a pena fazer é: 'O universo é amigo?’" As mais evoluídas dentre as pessoas do Tipo Cinco têm uma resposta. Em vez de mortas de medo, elas sentem-se cativadas pelo que veem, podendo tornar-se verdadeiramente visionárias, capazes de introduzir mudanças revolucionárias no campo a que se dedicarem.
A Manifestação da Essência
O impulso do Tipo Cinco para o conhecimento e a excelência é a tentativa da personalidade de recriar uma qualidade da Essência que poderíamos chamar de lucidez ou saber interior. Com ela vem a qualidade Essencial do desprendimento, que não é distanciamento nem repressão emocional, mas a falta de identificação com um determinado ponto de vista. As pessoas do Tipo Cinco sabem que uma posição, uma ideia, são úteis apenas num conjunto limitado de circunstâncias, talvez apenas no conjunto específico em que surgiram. A orientação interior lhes permite fluir de um modo de ver as coisas a outro sem se fixar em nenhum deles.
Quando se libertam, as pessoas do Tipo Cinco relembram a vastidão e a lucidez da Mente Divina, aquilo que os budistas chamam de “Vazio brilhante" ou Sunyata: a amplidão imperturbável e tranquila da qual tudo provém, inclusive o saber e a criatividade. Elas querem voltar a vivenciar o Vácuo porque ele um dia foi seu lar, já que é (da perspectiva budista) a origem de todas as coisas sobre a terra. Porém esse anseio de retorno ao Vácuo requer uma compreensão adequada, já que não é o vazio do esquecimento, mas o “vazio” de um copo d'água pura ou do céu de um azul perfeito: tudo que existe é possível graças a ele. Quando atingem esse estado, elas se libertam da crença de ser isoladas de tudo e de todos e vivenciam diretamente a sua conexão com todas as coisas que as cercam.
Além disso, esse desprendimento e esse vazio não implicam que as pessoas do Tipo Cinco estejam distantes de seus sentimentos. Pelo contrário, elas se deixam tocar profundamente por um pôr-do-sol, pelo frescor de uma brisa ou pela beleza de um rosto; estão livres para sentir e viver tudo, enquanto reconhecem que o que presenciam é temporário – dádiva fugaz de um universo cuja prodigalidade é infinita. Ao ver mais a fundo a verdade da condição humana, essas pessoas se tornam capazes de uma grande compaixão pelo sofrimento de seus semelhantes e se dispõem a compartilhar as riquezas não só de sua mente, mas também de seu coração.
Níveis de Desenvolvimento
Saudável
Nível 1 (Caráter, Visionário): As pessoas do Tipo Cinco deixam de acreditar na possibilidade de existir à parte do meio – de observar do exterior – e, assim conseguem confiar na vida. Dessa forma, paradoxalmente realizam seu Desejo Fundamental: ter capacidade e competência para estar no mundo. Então, tornam-se lúcidas, sábias, profundas e compassivas.
Nível 2 (Observação, Perspicácia): As pessoas do Tipo Cinco concentram-se no meio em que vivem com o intuito de ganhar segurança e desenvolver recursos com que defender-se de seu Medo Fundamental. Auto-imagem: “Sou inteligente, curioso e independente”.
Nível 3 (Concentração, Inovação): As pessoas do Tipo Cinco reforçam sua auto-imagem dominando um conjunto de conhecimentos ou habilidades que possa torná-las fortes e competentes. Não querendo competir com ninguém, preferem dedicar-se a novas ideias e meios. “Brincando” podem chegar a ideias, invenções e obras de arte profundamente originais.
Média
Nível 4 (Conceituação, Preparação): Temendo não dispor de qualidades suficientes e precisar preparar-se mais para conquistar seu lugar ao sol, as pessoas do Tipo Cinco sentem-se pouco seguras de si em muitas áreas. Preferem então a segurança de sua própria mente: estudam, praticam e acumulam mais conhecimentos, recursos e qualificações.
Nível 5 (Distanciamento, Preocupação): As pessoas do Tipo Cinco receiam que as necessidades alheias possam desviá-las de seus próprios projetos. Por conseguinte, tentam manter os “intrusos” a distância intensificando a atividade mental. A tentativa de minimizar as próprias necessidades as torna irritadiças, cerebrinas e herméticas. Além disso, tendem a passar mais tempo a sós, especulando e elaborando realidades alternativas.
Nível 6 (Radicalismo, Provocação): As pessoas do Tipo Cinco temem perder o lugar que conquistaram e, assim, começam a rechaçar qualquer aproximação. Têm rancor da calma e da segurança que os outros possam demonstrar e comprazem-se em atacar suas crenças e convicções. Embora suas próprias ideias possam ser extravagantes e perturbadoras, elas desprezam os que não conseguem compreendê-las.
Não-saudável
Nível 7 (Niilismo, Excentricidade): As pessoas não-saudáveis do Tipo Cinco temem não ser capazes de conseguir encontrar no mundo um lugar para si, o que pode ser verdade. Para obter alguma segurança, cortam toda a ligação com a realidade, refugiando-se num mundo isolado e cada vez mais vazio. Rejeitam todas as necessidades à exceção das mais básicas e, ainda assim, continuam devastadas pelo medo.
Nível 8 (Horripilação, Delírio): As pessoas do Tipo Cinco sentem-se tão pequenas e impotentes que começam a ver maus presságios em quase tudo. Cheias de estranhas e lúgubres fantasias, resistem a qualquer tentativa de ajuda, fugindo das pessoas e mergulhando na insônia. Já não conseguem controlar a mente febril.
Nível 9 (Buscando Esquecimento, Auto-aniquilação): Convencidas de já não poder defender-se do sofrimento e do terror, as pessoas menos saudáveis do Tipo Cinco partem para a fuga da realidade. Em certos casos, tentam consegui-lo por meio de surtos psicóticos ou retraimento esquizoide. Além disso, podem tentar fugir também pelo suicídio.
(Traduzido de "The Wisdom of the Enneagram", de Don Richard Riso & Russ Hudson, por ~mamado frentista)
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