Eneagrama: Tipo Três – O Realizador
- 16MM
- 27 de abr. de 2020
- 40 min de leitura
O Tipo Pragmático e Voltado para o Sucesso:
Adaptável, Insuperável, Motivado e Consciente da Própria Imagem
Medo Fundamental: O de não ser valorizado, de não ter valor a não ser pelo o que realiza.
Desejo Fundamental: Sentir-se valorizado, desejado e aceito.
Mensagem do superego: “Você estará num bom caminho se for bem-sucedido e respeitado pelos outros.”
As pessoas do Tipo Três costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Cinco, Um ou Oito. As dos Tipos Oito, Sete e Nove costumam identificar-se erroneamente como pertencentes do Tipo Três.
Chamamos este tipo de personalidade de o Realizador porque, quando saudáveis, seus representantes podem atingir – e, de fato, atingem – o sucesso em várias áreas. Por serem as "estrelas" da natureza humana, as pessoas costumam admirá-las tanto por sua gentileza quanto por sua capacidade de realização. Os representantes saudáveis do Tipo Três sentem-se bem em desenvolver-se e dar ao mundo a sua contribuição. Além disso, como personificam o que há de melhor numa dada cultura, as pessoas, vendo neles um espelho de seus próprios sonhos e esperanças, sentem-se motivadas a maiores realizações.
As pessoas do Tipo Três são geralmente queridas e bem-sucedidas porque, dentre todos os tipos, são as que mais acreditam em si mesmas e no desenvolvimento de seus próprios talentos e capacidade. Elas funcionam como modelos vivos por personificarem de maneira tão marcante as qualidades socialmente mais valorizadas. Quando saudáveis, sabem que vale a pena o esforço de ser o melhor naquilo que se faz", e o êxito de sua dedicação inspira os outros a investir em seu próprio desenvolvimento.
As pessoas do Tipo Três fazem tudo para que sua vida seja um sucesso, conforme o definam sua família, sua cultura ou seu círculo social. Em certas famílias, o sucesso significa ter muito dinheiro, uma mansão, carros valiosos e outros símbolos de status. Em outras, o sucesso significa o destaque no universo académico ou científico. E em outras ainda, ele significa a fama como ator, modelo, escritor ou outro tipo de figura pública, como um político. Uma família religiosa pode incentivar um de seus membros a tornar-se pastor, padre ou rabino, já que essas profissões têm destaque em sua comunidade. Independentemente de qual a definição de sucesso, os representantes do Tipo Três tentarão sempre destacar-se na família e na comunidade. Eles jamais se conformam em ser apenas “mais um".
Por isso, essas pessoas definem seus objetivos e agem de forma a angariar atenção e elogios. Quando crianças, aprenderam a identificar as atividades valorizadas por seus pais e amigos e a dedicar-se de corpo e alma a sobressair-se nelas. Além disso, aprenderam também a interessar-se por tudo aquilo que pudesse atrair ou impressionar os outros e a desenvolver as qualidades que os capacitem a dominá-lo perfeitamente.
Eve é uma bem-sucedida mulher de negócios:
“Minha mãe me treinou para a realização. Tinha uns 3 anos de idade quando apresentei meu primeiro solo na igreja. Fui muito afagada e reforçada por isso e daí em diante começaram minhas apresentações – como musicista ou debatedora – ao longo de todo o curso escolar. Até hoje, algo de místico acontece quando estou diante de uma plateia: é como se ‘me desse um clique’. Sou frequentemente convidada a fazer palestras e a falar em público. Meus colegas de profissão dizem que odeiam participar de debates comigo porque sou dura de dobrar!”
Todo mundo precisa de atenção, incentivo e reforço para crescer, e as pessoas do Tipo Três são o melhor exemplo dessa necessidade humana e universal. Elas querem o sucesso não tanto pelo que ele pode comprar (como as pessoas do Tipo Sete) nem pelo poder e pela sensação de independência que ele traz (como as do Tipo Oito). Elas o querem porque temem perder-se num vácuo se não puderem contar com a atenção e a sensação de realização que o sucesso traz. Sem isso, temem não ser ninguém e não ter valor algum.
O problema é que, no afã de conseguir o que pensam que as fará valorosas, as pessoas do Tipo Três podem alienar-se de si mesmas a ponto de perder de vista o que realmente desejam e quais os seus verdadeiros sentimentos e interesses. Desde a infância, quando aprendem a buscar os valores que os outros aprovam, elas começam gradualmente a perder o contato consigo mesmas. Aos poucos, seu recôndito mais íntimo, aquilo que representa o "desejo de seu coração", vai sendo deixado de lado até tornar-se irreconhecível.
Assim, apesar de pertencerem ao tipo básico da Tríade do Sentimento, as pessoas do Tipo Três, curiosamente, não são vistas como "sensíveis": pelo contrário, são associadas à ação e à realização. É como se elas colocassem os sentimentos dentro de uma caixa para poder ir em frente naquilo que querem atingir. Como aprenderam a acreditar que as emoções são um obstáculo às realizações, elas substituem os sentimentos pelo raciocínio e pela ação.
Jarvis, um executivo de sucesso e excelente formação acadêmica, admite que esse padrão se desenvolveu nele desde cedo:
“Eu não estava consciente disso na época, mas não tinha direito a ter nenhum tipo de sentimento quando era criança. Os sentimentos eram o mesmo que nada dentro da concepção de sucesso de meu padrasto. Então criei o hábito de negá-los e concentrar-me nas realizações e nas boas notas na escola.”
As pessoas do Tipo Três relatam que, quando percebem até que ponto adaptaram a própria vida às expectativas dos outros, surge a questão: "Bem, e então o que é que eu quero?" Elas geralmente não sabem; trata-se de algo em que jamais haviam pensado. Assim, o grande dilema das pessoas do Tipo Três é não ter tido permissão para ser quem realmente são e manifestar suas próprias qualidades. Desde bem cedo, recebem uma mensagem que lhes diz que não devem ter sentimentos nem ser elas mesmas: devem, com efeito, ser "outra pessoa" para ser aceitas. Até certo ponto, todos os tipos de personalidade receberam esta mensagem. Porém, devido a sua própria estrutura, as pessoas do Tipo Três não apenas a ouviram, mas também começaram a viver inteiramente de acordo com ela. A atenção recebida por agir de uma determinada maneira torna-se para elas como o próprio oxigênio. Infelizmente, o preço é muito alto.
Marie, terapeuta respeitada, descreve a contradição – e a pressão – desse tipo de orientação:
“Minha vida toda, as pessoas sempre notaram aquilo que eu fazia e geralmente buscavam minha opinião. Isso é uma faca de dois gumes porque, embora eu quisesse ser percebida e admirada, tinha de pagar com a perfeição – e foi muito difícil.”
O Padrão da Infância
(Favor observar que o padrão da infância aqui descrito não provoca o tipo de personalidade. Em vez disso, ele descreve tendências observáveis na tenra infância que têm grande impacto sobre os relacionamentos que o tipo estabelece na vida adulta.)
Na infância, as pessoas do Tipo Três não foram valorizadas por aquilo que eram – como, aliás, a maioria de nós. Em vez disso, elas foram valorizadas por conseguirem ser e fazer determinadas coisas extremamente bem. Aprenderam a legitimar seu valor por meio da realização e do êxito. Porém isso nunca as satisfez de fato porque não legitimava o que elas são: mas sim algo que haviam feito ou tentavam tornar-se.
Marie continua:
“Quando criança, eu sentia que era a favorita da minha mãe. Passávamos horas e horas juntas; ela me incentivava sempre me dizendo que não havia nada que eu não pudesse fazer se realmente quisesse. Se, por um lado, isso foi uma bênção, por outro, foi uma maldição. Lembro-me de convencer-me, quando menina, de que não queria alguma coisa porque, no fundo, sabia que seria muito difícil consegui-la. E sabia que, se fizesse alguma coisa, teria de ser muito bem. Quando estava na escola secundária, fingi estar doente no dia marcado para um concurso de oratória porque tinha medo de não me sair tão bem, e sabia que não havia outra alternativa. Até hoje sinto culpa por isso.”
As pessoas do Tipo Três criam um vínculo emocional muito forte com a pessoa da família que para elas representou o provedor. Geralmente – mas nem sempre – essa pessoa é a mãe. A criança esperava que essa pessoa lhe dissesse, com efeito, coisas como: "Você é sensacional! Gosto muito de você! Seja bem-vindo ao mundo!" Como desejam continuar a ser aprovadas pela figura do provedor, desde bebes aprendem subconscientemente a adaptar-se a fazer aquilo que essa pessoa considera bom.
Muitas vezes as expectativas do provedor não são expressas diretamente, mas as pessoas do Tipo Três podem captá-las e agir de acordo, sem sequer perceber que o estão fazendo. Por exemplo, se a mãe é uma professora que, no fundo, queria ser atriz, o filho provavelmente se sentirá atraído pelo teatro – não necessariamente por gostar de teatro, mas por sentir que é algo que tem de fazer. Mesmo depois de acabada a infância, os jovens do Tipo Três podem não saber ao certo por que resolveram dedicar-se a uma determinada carreira – eles só sabem que estão fazendo o que precisam para que a família (principalmente a mãe) sinta orgulho deles.
Assim, as pessoas do Tipo Três aprendem a representar o papel de Herói da Família. A criança capta a mensagem: "Não é bom não estar bem", por mais sutil que ela seja. A razão para isso é que, num nível psicológico profundo, quando se tenta redimir as feridas e a vergonha da família, não se pode estar ferido nem envergonhado – é preciso pelo menos parecer ter tudo sob controle.
Hoje muito atento à sua própria necessidade de atenção, Albert, terapeuta renomado, reflete sobre a promissora infância de exibicionista:
“Como meu pai estava na Índia durante a Segunda Guerra Mundial, passei meus primeiros quatorze meses de vida, juntamente com mamãe, ao lado de meus avós, um tio e uma tia. Fui o primeiro – e único – filho, neto e sobrinho! Com um ano e meio, já possuía um vastíssimo vocabulário e, aos 3 anos, sabia de cor todos os estados e suas respectivas capitais. É incrível que, com meu detestável vocabulário e meus recitais geográficos, ninguém me tenha jogado escada abaixo!”
Quando o ambiente em que crescem é muito desajustado, resta às pessoas do Tipo Três lutar contra a hostilidade e uma imensa raiva reprimidas porque quase nada do que fazem basta para agradar seu provedor doentio. Por mais que se esforcem para encontrar algo que lhes garanta aprovação e aceitação, quase nada serve. Por fim, elas se alienam (dissociam) de si mesmas, soterrando os próprios desejos e a vida interior, e adotam atitudes mais drásticas para chamar a atenção. O desfecho pode ser uma vida de profunda solidão e frustração, mesmo que tenham atingido algum sucesso material.
Os Subtipos Conforme as Asas
Tipo Três com Asa Dois: O Sedutor
Faixa Saudável: As pessoas deste subtipo são mais emotivas e espontâneas que as do outro. Sua vivaz sociabilidade às vezes lembra a do Tipo Sete. Essas pessoas são amigáveis, solicitas e generosas como as do Tipo Dois, ao mesmo tempo que mantém o aprumo, a auto-estima e o alto nível de desempenho característicos de seu tipo. Elas querem ser amadas e sentem-se impelidas a aproximar-se dos outros, mas às vezes preferem trocar o reconhecimento que podem obter na vida pública por uma maior satisfação e estabilidade na vida particular.
Faixa Média: As pessoas que estão na faixa média deste subtipo tentam suprimir quaisquer características que possam interferir com sua popularidade, pois acham que valem pelo quanto conseguem atrair e até maravilhar os demais. Em resumo, elas querem que os outros as queiram e admirem e, para tanto, sabem como impressioná-los. Porém, caso isso se torne uma preocupação constante, seu comportamento ganhará um que de artificial que prejudicará suas tentativas de mostrar-se populares e confiáveis. As pessoas deste subtipo são muitas vezes extremamente competitivas, embora não o demonstrem abertamente. Elas podem usar várias imagens diferentes para satisfazer suas relações sociais e atuar nas situações da vida particular.
Exemplos: Bill Clinton, Elvis Presley, John Travolta, Paul McCartney, Will Smith, Adam Levine, Arnold Schwarzenegger, Ted Bundy, Ariana Grande, “Roy Mustang”.
Tipo Três com Asa Quatro: O Profissional
Faixa Saudável: As pessoas deste subtipo creem que a auto-estima é algo que decorre mais do sucesso no trabalho e na profissão que de qualidades pessoais. Elas sentem prazer na profissão ou "arte" que escolheram e dispõem-se a grandes sacrifícios pessoais para manter sua integridade profissional. Apesar de sua diplomacia e encanto, elas são geralmente mais sérias e voltadas para seu trabalho e suas obrigações, lembrando assim as do Tipo Um.
Faixa Média: A explosiva mistura de ambição e insegurança inevitavelmente sujeita as pessoas deste subtipo a terríveis pressões. Seu impulso para a perfeição é semelhante ao das pessoas do Tipo Um, porém essa perfeição visa impedir que sejam rejeitadas ou acusadas de inferioridade. Essas pessoas agem como se tudo que fizessem colocasse em jogo seu próprio valor. Embora possam ser socialmente muito reservadas, elas em geral projetam uma imagem de sobriedade e competência (ao contrário das do outro subtipo, mais sociáveis e afáveis). Além disso, podem demonstrar presunção e arrogância e, ao mesmo tempo, criticar-se e menosprezar-se, o que as torna desconcertantes e às vezes contraditórias.
Exemplos: Tom Cruise, Madonna, Richard Gere, Michael Jordan, Steve Vai, Garry Kasparov, Thomas Edison, Adele, “Tom Riddle”, “Celestia Ludenberg”.
As Variantes Intinstivas
O Instinto de Autopreservação (self-preservation/sp) no Tipo Três
Viciados no Trabalho. Os Autopreservacionistas típicos do Tipo Três creem que devem esforçar-se constantemente para ter segurança e estabilidade (como os do Tipo Seis) e criar seu pé-de-meia (como os do Tipo Oito). Porém, ao contrário do que pensam as pessoas do Tipo Seis, para eles a segurança vem do dinheiro, dos bens, da casa própria e não da fidelidade a uma empresa, ideologia ou pessoa. Eles lutam pela eficiência, racionalizando sua vida ao máximo, a fim de aplicar toda a energia na realização de suas metas. Essas pessoas tentam impressionar não por seu sex appeal, mas por sua estabilidade e seu bem-estar material. Como os representantes do Tipo Um, elas observam muito os detalhes em tudo o que fazem. Sua disposição a assumir responsabilidades, fazer sacrifícios e trabalhar duro é motivada pela possibilidade de avançar – elas querem recompensas concretas pelo trabalho bem-feito: aumentos, promoções e relatórios favoráveis.
Os Autopreservacionistas do Tipo Três talvez se concentrem demasiado na carreira, deixando em segundo plano a saúde e os relacionamentos. Eles não conseguem relaxar com facilidade e isso às vezes os leva a tirar férias para iniciar novos projetos e "fazer o dever de casa". Nos Níveis de Desenvolvimento médio-inferiores, eles se tornam cada vez mais ansiosos quando não estão trabalhando e talvez tenham dificuldade em manter relacionamentos íntimos. Convencidos de que a base material de sua segurança pode ser perdida a qualquer momento, eles acreditam que se não nadarem o tempo todo, afundarão. Interromper a cadeia de hábitos estressantes de trabalho é algo aparentemente fadado ao fracasso. A inatividade lhes parece doença ou incapacidade. ("O que há de errado comigo? Por que não estou produzindo mais?") Por isso, eles têm muito medo da doença, seja ela física ou emocional, pois reduz sua eficiência e produtividade. Alguns dias de licença poderiam fazer o mundo vir abaixo.
Na faixa não saudável, os Autopreservacionistas do Tipo Três fazem esforços titânicos para permanecer eficientes, sacrificando os relacionamentos e a saúde por dinheiro e segurança no emprego. Assim, ficam muito propensos a estafas e colapsos nervosos. Quando já não conseguem desincumbir-se bem de suas obrigações, eles tentam desesperadamente esconder todos os problemas de saúde, tanto os físicos quanto os emocionais. ("Está tudo bem comigo.")
O Instinto Social (so) no Tipo Três
O Caçador de Status. No Tipo Três, o instinto Social costuma manifestar-se pela necessidade de reconhecimento e da certeza de estar progredindo, subindo na vida. Naturalmente, isso variará conforme a cultura, mas todos os representantes Sociais do Tipo Três precisam de indícios de valorização de seus pares. (Se fosse um monge em um mosteiro na Tailândia, a pessoa pertencente a este tipo e a esta Variante Instintiva precisaria ter a certeza de estar meditando bem – ou seja, ser um monge exemplar!) Títulos académicos, cargos de destaque, excelentes currículos, boas notas e prêmios são importantes para eles, já que se identificam tanto com seu papel social. ("Sou o que faço.") Eles querem pertencer à linhagem certa, ter as credenciais certas. Esse instinto manifesta-se também pelo cultivo do jargão e da indumentária profissionais, além do alarde de marcas prestigiosas de roupas, carros, etc. Vale lembrar, porém, que o indicador de valor social de uma determinada pessoa deste tipo variará conforme a cultura em que vive e seus gostos pessoais.
À medida que a ansiedade aumenta, os representantes Sociais do Tipo Três começam a sentir uma necessidade cada vez maior de demonstrar o próprio valor. A ambição social poderá tornar-se seu maior combustível, levando-os a fazer contatos e distribuir cartões de visitas. Além disso, podem almejar a fama como compensação de feridas narcísicas da infância. (“Se um milhão de pessoas compram meu CD é porque sou fantástico!") O narcisismo pode ser a fonte de competição e comparação sociais compulsivas: nunca ser menos que o vizinho. A medida que se tornam mais inseguros, eles tendem a vangloriar-se, autopromover-se e exagerar a própria capacidade. Isso se aplica especialmente aos que não conseguiram atingir o que imaginam ser o sucesso.
Na faixa não saudável, desesperadas por atenção, essas pessoas correm o risco de ser desonestas em sua busca de reconhecimento, podendo chegar a mentir sobre sua formação e suas realizações não apenas para conseguir empregos, mas também para impressionar. Não é raro que incorram em problemas cuja solução está acima de suas forças. Sua aflição e sua ânsia os tornam extremamente incapacitados, mas eles recorrem ao charme e até à exploração para impedir que os outros percebam sua real condição.
O Instinto Sexual (sx) no Tipo Três
A Presa. Os representantes Sexuais típicos do Tipo Três caracterizam-se por uma enorme vontade de ser desejados, não só do ponto de vista sexual como também do da valorização social e afetiva. Eles tentam criar uma imagem atraente e sedutora, que corresponda ao ideal de seu gênero e de seu meio cultural, comprazendo-se em induzir os outros a maximizar seu poder de atração. Eles querem ser o tipo de pessoa que seu par gostaria de exibir diante dos amigos. Sejam homens ou mulheres, tendem a cultivar as qualidades que acreditam que fariam os outros interessar-se por eles: querem deslumbrá-los. Ao contrário das pessoas do Tipo Dois, que seduzem o outro cumulando-o de atenções, sua sedução consiste em chamar a atenção para suas próprias e extraordinárias qualidades. Em certos casos, isso pode dar ensejo a ambição de tornar-se artista de cinema, ídolo da juventude ou modelo. Na cultura norte-americana contemporânea, este tipo geralmente se dedica bastante a cuidar do corpo e da aparência.
Os representantes Sexuais do Tipo Três em geral sabem como atrair parceiros, mas costumam não saber manter os relacionamentos, receando não conseguir estar à altura da imagem que projetam. Como seus colegas de Variante Instintiva dos demais tipos, essas pessoas desejam muito a intimidade. Mas, como pertencem ao Tipo Três, temem as ligações emocionalmente mais profundas. Assim, poderão tentar atingir a intimidade por meio da relação sexual, porém, nos Níveis inferiores, as dúvidas quanto ao próprio poder de atração os fará rejeitar até as pessoas que mais lhe interessam. Em alguns casos, eles usam as conquistas sexuais como arma contra o medo de não serem desejáveis. Os representantes menos saudáveis deste tipo tendem também ao exibicionismo – exibem-se para seduzir o outro ou para certificar-se de seu valor e de seu poder de atração.
Na faixa não saudável, a variante Sexual pode levar essas pessoas à promiscuidade. No fundo, elas são extremamente vulneráveis, mas tendem a atacar os que de alguma maneira põem seu valor sob questão. Qualquer golpe em seu narcisismo, seja real ou imaginário, provoca revanches, ira sexual e ciúme, em geral desproporcionais em relação à decepção em si.
A seguir, alguns dos problemas mais frequentes no caminho da maioria das pessoas do Tipo Três. Identificando esses padrões, "pegando-nos com a boca na botija" e simplesmente observando quais as nossas reações habituais diante da vida, estaremos dando um grande passo para libertar-nos dos aspectos negativos de nosso tipo.
O Sinal de Alerta para o Tipo Três: Meu Valor Depende do Meu Sucesso
De vez em quando, pensamos: "Se eu conseguisse isto – se eu tivesse tais ou quais credenciais, se eu me casasse com fulano, se eu pudesse fazer medicina - então eu teria certeza de meu valor e me sentiria bem comigo mesmo". No caso das pessoas do Tipo Três, quando esse tipo de raciocínio se torna a força motriz de sua vida, quando começam a medir o que valem de acordo com seu grau de sucesso, elas estão diante de seu Sinal de Alerta.
O sucesso pode significar várias coisas – em termos monetários, pode ser ganhar um milhão de dólares num ano ou economizar o suficiente para comprar uma nova lavadora. Os representantes típicos do Tipo Três interessam-se muito pelo sucesso e estão decididos a sobressair pelo desempenho profissional ou pela posse de símbolos de status (que podem ser morar numa área privilegiada, obter um diploma de uma universidade prestigiosa, ganhar um troféu numa competição de atletismo, possuir um relógio ou um carro muito caros ou ter filhos bonitos e bem-dotados - enfim, qualquer coisa que sirva para ilustrar a afirmação: "Sou uma pessoa que se destaca").
Jarvis, a quem já conhecemos, fala de sua obsessão pelo sucesso – e de sua conscientização quanto ao que ela lhe tem custado:
“Meu ponto de vista baseia-se em buscar o sucesso e evitar o fracasso em qualquer que seja a situação – no trabalho, nas relações sociais, nos hobbies, na diversão, no descanso, na ginástica, na leitura, na música que escuto (...). Minha preocupação com o sucesso significa que tenho de empenhar-me conscientemente na fruição do belo e no lazer. Não considero natural simplesmente ‘seguir o fluxo das coisas’. Qual a garantia de sucesso que pode haver nisso?”
É como se as pessoas do Tipo Três estivessem sempre sob o risco de tornar-se "feitos humanos", em vez de “seres humanos". A causa de seu comportamento obsessivo é a necessidade de reprimir qualquer possível traço de vergonha. Perder – de qualquer maneira ou em qualquer grau – poderia deflagrar a sensação de não valer nada, que para elas é intolerável. Assim, quanto maior a vergonha, mais elas se sentirão compelidas a atingir as metas que julgam capazes de torná-las valorosas e bem-sucedidas.
De Quem São os Objetivos? De Quem é o Sucesso?
O que o sucesso significa para você? E para seus pares? O que ele significava para seus pais? Você percebe alguma relação?
Papel Social: “O Melhor”
Por acreditar que o que valem depende do seu destaque, as pessoas do Tipo Três convencem-se de que devem brilhar sempre, sobressair sempre. Por conseguinte, imbuem-se de tal forma do Papel Social do Melhor (ou Garoto/Garota Prodígio) que por fim só conseguem relacionar-se com os outros dessa maneira. Vendo-se como os melhores, compensam a insegurança oculta acerca do próprio valor. Tipicamente, essas pessoas não apenas defendem a auto-imagem mas também, como os representantes de outros tipos, tentam de várias maneiras fazer com que os demais a respaldem e apoiem. Naturalmente, a necessidade de ser os melhores não lhes permite o luxo de jamais estar dentro da média – ver-se (ou deixar que alguém os veja) como um fracasso está simplesmente fora de cogitação.
Tawney é uma mulher inteligente e talentosa, que tem filhos e um casamento feliz. Apesar de haver conseguido aceitar muitas de suas verdadeiras características, ela ainda se lembra da opressão que lhe impunha a obediência ao Papel Social:
“Mal consigo lembrar de alguma vez na minha vida em que não tivesse a necessidade de ser ‘a melhor’. Ser a mais bonita, ter as melhores roupas, viver na casa mais espetacular – a lista é infinita. O problema que eu enfrentava diariamente na minha busca do ‘melhor’ era sua variabilidade conforme a pessoa com quem eu estivesse. Não importava quem fosse. Eu queria ser vista da melhor forma possível, a qual consistia em minha interpretação de como seria a pessoa que eles mais desejassem – um processo exaustivo. Eu sempre buscava uma comprovação externa de que estava tudo ‘certo’ comigo.”
O Papel Social do Melhor está relacionado ao papel que o Tipo Três desempenha como Herói da Família. As pessoas deste tipo condicionam a auto-estima à satisfação das expectativas e exigências alheias, mesmo quando estas não são expressamente formuladas. Porém esse é um jogo em que, no fim, sempre se perde, pois exigências e expectativas podem mudar com muita facilidade padrões de beleza e de sucesso saem de moda, e qualquer coisa pode reverter o placar final. Visto assim, um derrame ou um enfarto podem transformar um "vencedor" em "perdedor" da noite para o dia.
Quando Você Se Dá Uma Folga?
Especifique cinco áreas de sua vida nas quais não se sente obrigado a ser o melhor e cinco em que acha que precisa ser o melhor. Leia as duas listas e atente para como elas o fazem sentir. Que diferença de sensação você é capaz de identificar? Você se sente tenso ou relaxado? Calmo ou ansioso? Pense em mais cinco áreas nas quais poderia aprender a relaxar e ser simplesmente você.
Ilusão, Vaidade e Legitimação
A Paixão do Tipo Três é a ilusão. Uma de suas características é a tendência que têm os representantes deste tipo a apresentar-se de uma forma que não condiz com seu verdadeiro eu. E outra, ainda mais importante, é a auto-ilusão: para continuar agindo da forma a que estão habituados, eles precisam convencer-se de que realmente são como a imagem idealizada que projetam. Ao mesmo tempo, precisam também reprimir a sensação de inadequação para manter o auto-engano: temem que, abandonando a imagem, as pessoas percebam seu déficit e os rejeitem – o que confirmaria sua falta de valor.
Assim, a ilusão leva as pessoas do Tipo Três a buscar nos outros a legitimação de sua excelência e é a razão pela qual elas precisam animar a si mesmas constantemente. De certa forma, precisam mentir para si próprias para manter a auto-estima e motivar-se para maiores realizações. ("Você é mesmo fantástico! Um gênio! Ninguém jamais fez um relatório melhor que este!")
Uma forma útil de ver a ilusão é pensar nela como o resultado da "preguiça para o verdadeiro autodesenvolvimento". Os representantes típicos do Tipo Três esforçam-se por aperfeiçoar o ego, a auto-imagem, em vez de procurar descobrir seu verdadeiro eu, pois creem que o ego é o verdadeiro eu. É muito mais difícil cultivar as qualidades inerentes à Essência quando somos sempre incentivados e recompensados se nos adaptarmos e nos tornarmos o que os outros esperam de nós.
O Desempenho e a Perda de Contato com os Sentimentos
Já que não querem ser mais um na multidão, as pessoas do Tipo Três preocupam-se muito com seu desempenho" em todos os sentidos da palavra – profissional, físico, acadêmico, social. Elas se apresentam como pessoas capazes de realizar o que se propõem com domínio perfeito e fácil. O problema é que, quanto mais identificadas com a imagem, mais precisam reprimir os sentimentos, uma vez que estes interferem com o desempenho. E, como são recompensadas pelo que realizam, precisam resistir aos sentimentos, principalmente os mais penosos.
Tawney recorda um dos momentos mais importantes de sua infância, aquele em que ela percebeu que precisava suprimir a si mesma e agradar à mãe para sobreviver:
“A experiência mais significativa de minha infância foi uma briga que testemunhei entre meu irmão mais velho – que devia ter uns 10 anos na época – e minha mãe. Na lembrança que guardei desse momento, ela está irada, gritando e jogando as coisas dele no chão. Não lembro se bateu nele ou não. Pouco importa. Fiquei aterrorizada e, por medo, resolvi ser e fazer tudo que ela quisesse. Passei os trinta anos seguintes vivendo os resultados desse momento.”
O resultado mais comum disso é que as pessoas do Tipo Três tornam-se "máquinas de realização". Mas, como seus atos não provêm do coração, seu desempenho se torna cada vez menos prazeroso e autêntico. Apesar de geralmente fazerem tudo muito bem-feito, elas não têm muita satisfação pessoal com o trabalho. Seja como for, não o abandonam porque é sua principal fonte de atenção e valorização. A partir daí, pode surgir um vício no trabalho que devorará qualquer alegria e liberdade emocional que ainda lhes restarem.
O único desejo que os representantes menos saudáveis do Tipo Três ainda conseguem identificar em si mesmos é o de tornar-se uma “estrela" seja em que for. Como estão em busca de um grande retorno em termos de popularidade, podem desperdiçar os talentos que realmente possuem, jogando fora uma oportunidade atrás da outra. A carência narcísica que está na base de seus atos é geralmente vista pelos outros como constrangedora ou triste (se não questionável ou detestável, a depender do grau de autopromoção). De qualquer forma, a alienação de si mesmos e de seus sentimentos começa a funcionar contra eles de várias maneiras.
Re-despertando o Coração
Coloque a mão sobre o peito, bem em cima do coração, e respire fundo algumas vezes. Concentre-se nessa área de seu corpo. O que você sente? Lembre-se de que não há uma resposta correta – não se espera que você sinta nada de específico. Cabe a você descobrir o que sente ou deixa de sentir. Observe como as sensações localizadas nessa área mudam com o tempo. Pratique este exercício pelo menos uma vez por dia.
Competitividade e Deliberação
Os representantes típicos do Tipo Três correm o risco de entrar em competições veladas as mais várias: quem se sai melhor no trabalho, quem tem a namorada mais bonita ou os filhos mais inteligentes, quem é melhor no tênis, no computador, no xadrez e assim por diante. A principal maneira de reforçar a auto-estima é ganhar na comparação (ou na competição, quando de fato se trata de uma). Infelizmente, sua busca de superioridade pode deixá-los exaustos e afastá-los das coisas que mais desejam atingir.
Essas pessoas entram em competição não porque realmente queiram, mas porque temem ser eclipsadas por alguém melhor que elas. Elas receiam ficar para trás e, assim, ser menos admiradas e solicitadas que os demais. Isso as leva a reunir todas as suas forças para realizar ainda mais o que é um grande desperdício de tempo e energia. ("Estou ensaiando meu recital de piano horas e horas diariamente, mas Mary Lou realmente está ótima naquela peça de Chopin. Acho melhor trocar a minha peça; escolher outra ainda mais difícil.")
Assim, as pessoas do Tipo Três não só competem com seus iguais, como também acabam por introduzir a competitividade em relacionamentos nos quais ela não cabe e pode ser muito destrutiva: é o caso dos pais que competem com os filhos e dos parceiros que competem entre si. A ironia está em que, apesar dessa disposição competitiva, elas querem reconhecimento e afirmação das mesmas pessoas a quem tentam superar.
Lynn, uma bem-sucedida consultora de mercado, entende isso muito bem:
“Se você conhecer a historinha infantil chamada ‘The Little Engine That Could’ (O trenzinho que podia tudo), conseguirá entender o que é pertencer a este tipo de personalidade que é como um dínamo. Tudo que já me propus fazer, foi com uma atitude competitiva, com muito esforço e deliberação. Meu combustível é a maior perfeição possível em tudo, desde que fui treinada a usar o penico com onze meses de idade. A motivação que subjaz ao meu ímpeto é o medo de não me destacar, de fracassar. O fracasso é a morte, é cair em um buraco negro. Deve ser evitado a qualquer custo.”
Impulsionando-se
Em um caderno ou diário, analise as seguintes questões: De que maneiras você se vê como competitivo e movido pelo sucesso? Por que traçou as metas que está tentando atingir? Você já se envolveu em algum projeto que, no fundo, não lhe interessava por causa da necessidade de brilhar ou competir? O que acha que aconteceria se "tirasse o pé do acelerador" ao menos um pouco? Como você lida com o medo ou ansiedade que surge quando se compara a outra pessoa? Como se sente em relação aos seus competidores? Como você lidou com seus próprios fracassos?
Imagem e Auto-apresentação
Desde o início da infância, as pessoas do Tipo Três são capazes de adaptar-se aos outros para apresentar uma imagem atraente. Na faixa média, isso pode manifestar-se tanto como um entusiasmo forçado quanto como uma frieza que parece transmitir a mensagem: "Tenho tudo que é preciso". O mundo da publicidade e da moda frequentemente promove essas imagens – e trata-se de um mundo povoado na maior parte por pessoas deste tipo. Muitos políticos, treinadores, empresários e gurus do potencial humano entraram em sintonia com esse aspecto do estilo da personalidade do Tipo Três, especialmente com seu talento inato para decodificar uma situação e fornecer instintivamente aquilo que é esperado. As pessoas deste tipo são capazes de entrar numa sala e, captando as forças em ação entre seus ocupantes, descobrir imediatamente o que devem fazer.
Como são seguidamente recompensadas por essa capacidade, as pessoas do Tipo Três se acostumam a ela de tal forma que perdem de vista o seu verdadeiro eu. Assim, este permanece atrofiado e fora de seu alcance a ponto de os representantes que estão entre as faixas média e não-saudável muitas vezes não saberem quem são nem o que sentem fora de sua imagem. Em lugar de exprimir o que realmente sentem ou pensam, eles dizem e fazem aquilo que pressentem ser aceitável.
Se essa imagem tiver êxito e aplauso, surge um risco novo e muito maior. O fato de ter uma imagem de sucesso reafirma o desempenho das pessoas do Tipo Três, e não sua real identidade. Quanto mais sucesso tiver, mais tentadas elas serão a manter e cultivar essa imagem, em vez de desenvolver seu verdadeiro eu. O resultado é que seu coração é posto de lado e esquecido. Quem elas na verdade são passa a ser um território cada vez menos conhecido, algo que não querem enxergar porque, quando olham para dentro de si, sentem um grande vazio, um imenso buraco negro.
Cumprindo as Expectativas
Que imagem você está projetando neste momento para si mesmo? E para seus colegas de trabalho, amigos, pais, filhos, animais de estimação? Essa imagem é a mesma em todos esses casos? Como você se vê e como acha que os outros o veem? De que forma você acha que sua auto-imagem difere da imagem que projeta para as pessoas? Como você sabe? A discrepância entre ambas já lhe trouxe alguma espécie de problema ou conflito?
Tratando o Próprio Eu Como Mercadoria
Quando se sentem inseguras, as pessoas do Tipo Três protegem-se administrando ainda mais cuidadosamente a própria imagem. Muitas de suas atitudes se reduzem então a uma espécie de jogo de relações públicas. Por sentirem que a maneira como são percebidas é tudo, elas se dedicam a administrar a impressão que causam nos outros, em vez de cultivar seus próprios dons. Para descobrir uma fórmula de vencer sempre, elas fazem, dizem e se tornam qualquer coisa que lhes permita aproximar se de suas metas ou evitar potenciais humilhações – seja demonstrando (falsa) modéstia, concordância e conciliação ou o contrário.
A sensação de ter a obrigação de superar-se o tempo todo é extremamente desgastante: é como estar numa eterna entrevista de emprego. Mal é possível imaginar-se a ansiedade e a insegurança que pessoas do Tipo Três têm de suprimir para continuar agindo. Por isso, estão constantemente temendo dizer ou fazer a coisa errada. Como não podem baixar a guarda um só instante, elas jamais podem ser realmente espontâneas: têm medo demais de ser ridicularizadas, questionadas ou vista sob uma luz não muito favorável.
O problema é que pessoas do Tipo Três tratam a si mesmas como uma mercadoria. "Tenho que saber como 'vender-me'.") Como já vimos, as crianças deste tipo são frequentemente uma extensão das necessidades narcísicas de outra pessoa. Elas aprenderam que seus reais sentimentos e necessidades não contam; existem apenas como objeto a ser admirado e desejado. Isso provoca tamanho sofrimento que essas pessoas precisam desligar-se do próprio coração. Porém só o coração nos permite discernir a verdade. Assim, quando nos distanciamos dele, distanciamo-nos também de nossa relação com a verdade. A verdade torna-se então também uma mercadoria que muda – passa a ser aquilo que funciona num determinado momento.
A auto-adaptação e o distanciamento causam às pessoas do Tipo Três e a seus entes queridos muito sofrimento, conforme afirma Arthur, um dedicado pastor:
“Sempre fui tão competitivo no trabalho que já me achei melhor que os outros e transmiti a imagem do arrogante e inacessível. Em casa, tornei-me emocionalmente distante a ponto de ficar irritado com minha mulher por não estar à minha disposição sempre que eu queria – na verdade, eu não a via mesmo quando ela estava diante de mim. Sempre me preocupei demais com o que ‘eles’ pensavam de mim sem saber quem eram ‘eles’ – descobri, faz muitos anos, que me vestia para ir ao trabalho visando impressionar um grupo nebuloso de pessoas que eu nem sequer conhecia!”
Adaptação
Observe como se adapta ao que está a sua volta. Quantas vezes por dia você o faz? Atente para as diferenças entre as imagens que você projeta diante de seus amigos, colegas de trabalho, familiares e assim por diante. Identifique quando certas entoações ou ritmos se incorporam à sua maneira habitual de falar. Quando você faz esses ajustes, qual o efeito sobre sua estabilidade, seu eixo? E sobre a sua ligação com o coração? Quando você se adapta, sente-se mais ou menos valoroso?
O Medo da Intimidade
Enquanto as pessoas do Tipo Três tentarem convencer a todos (inclusive a si próprias) de que não precisam de ninguém, não deixarão que ninguém se aproxime um pouco mais: a intimidade permitiria que os outros vissem que, na verdade, elas não são tão auto-suficientes, não são quem aparentam ser. No fundo, essas pessoas percebem a disparidade existente entre o que são e o que aparentam ser e morrem de medo que alguém mais a perceba. Elas temem demonstrar o quanto se sentem sós, vazias e desprezíveis, e assim aumentar a insegurança que já têm em relação a si mesmas. Quanto mais os outros tentam se aproximar, mais elas receiam que, por meio da fachada, descubram seus pontos fracos e as rejeitem. Em vez de correr esse risco, o que normalmente fazem é redobrar o ímpeto de realização – para que os outros fiquem satisfeitos com elas (isto é, com a imagem delas) e não ponham o relacionamento em questão.
Para manter os outros a uma distância segura – e, ao mesmo tempo, reter-lhes a atenção e as boas graças – os representantes típicos do Tipo Três cultivam um certo ar de amizade, uma espécie de jovialidade profissional, como substitutivo da verdadeira intimidade. O medo da intimidade pode inclusive levá-los a manter uma certa distância até do parceiro. De fora, o casamento pode parecer perfeito, mas para o parceiro faltam uma verdadeira proximidade e uma maior relação emocional. Essas pessoas normalmente preferem a imagem de um relacionamento bem-sucedido a um verdadeiro relacionamento, principalmente quando a intimidade pressupuser o reconhecimento da própria carência e vulnerabilidade ou a possibilidade de rejeição pelo fato de elas não satisfazerem as necessidades do outro.
Deixe Que As Pessoas o Vejam
Comente alguma vulnerabilidade sua com uma pessoa de sua confiança. Quando fizer isso, concentre-se na própria sensação de vulnerabilidade. Ela lhe é desagradável? Como você a vê? Como é que ela o faz sentir-se em relação a essa pessoa? O que você temia que ela soubesse?
Narcisismo e Exibição
Quanto menos saudável o ambiente em que cresceram, mais ferido terá sido o amor próprio das pessoas do Tipo Três e mais difícil será para elas encontrar a verdadeira auto-estima. Assim, serão obrigadas a buscá-la mediante a aceitação e a aprovação dos outros – apesar de que, por mais que as obtenham, jamais se sintam dignas e valorizadas. A ferida narcísica costuma manifestar-se pela supercompensação – ou, em outras palavras, exibição.
A depender da gravidade dessa ferida, as pessoas do Tipo Três podem criar expectativas fátuas a seu próprio respeito. Ser simplesmente bem-sucedidas não basta: elas precisam ser famosas ou importantes de alguma forma, "estrelas" reconhecidas e consagradas por alguma razão. Naturalmente, isso serve apenas para predispô-las a frequentes decepções e sentimentos de humilhação.
Além disso, essas pessoas podem recorrer à sedução e às conquistas sexuais para reforçar a auto-estima. Embora muitas vezes se vistam para chamar a atenção, costumam reagir com hostilidade ou indiferença fingida quando alguém as elogia. ("Quero que você olhe para mim, mas não vou lhe dar a mínima.") Preocupadas com a própria reputação e com o impacto que exercem sobre ela as pessoas com quem convivem, elas fazem questão não só de estar sempre atraentes e bem-arrumadas, mas também que assim estejam o parceiro, filhos, amigos e até seus animais de estimação – não esquecendo que, idealmente, não querem ter rivais.
Tawney relembra:
“Nas vezes em que me senti mais isolada foi quando mais me esforcei para estar ‘fantástica’. Lembro-me de estar magérrima, com unhas maravilhosas (postiças, claro), maquiagem impecável, roupas caríssimas, na última moda, cheia de peles e diamantes (verdadeiros, claro). Lembro-me dos olhares estupefatos que provocava, e não sentia nada. Percebi que, quando não estou ligada em mim mesma, raramente consigo lembrar do que acontece. Acho que o que me ajudou a sair desse estado foi o fato de não me lembrar dele. Quase não lembro do dia em que me casei, por exemplo. A tentativa de juntar os pedaços de meu passado foi o que me ajudou a restabelecer o contato comigo mesma.”
Deixe Que as Pessoas o Descubram
Quando estiver em situações sociais, concentre-se primeiro na vida e nas realizações das pessoas. Descubra o que elas têm de interessante. Observe como isso lhes dá a oportunidade de mostrar-se curiosas em relação a você sem que você precise impressioná-las ostensivamente. Considere a possibilidade de que os outros gostem de você sem que precise impressioná-los. Como se sente diante disso?
Reação ao Stress: O Tipo Três Passa ao Nove
Quando o stress aumenta, os mecanismos de defesa das pessoas do Tipo Três podem pifar, levando-as a atuar algumas das qualidades características das faixas inferiores do Tipo Nove. Como são concentradas, movidas a realizações e identificadas com o que fazem, a passagem ao Tipo Nove serve como uma trégua em sua implacável busca do sucesso.
Por terem tanta ânsia de deixar sua marca e provar a que vêm, inevitavelmente acabam criando problemas em seus relacionamentos. Em tais momentos, elas podem reduzir um pouco o próprio ímpeto, tornando-se mais diplomáticas e condescendentes, como os representantes típicos do Tipo Nove. Quando isso ocorre, elas ainda desejarão destacar-se na multidão, mas não tanto quanto de hábito: chamarão menos a atenção e tentarão entrosar-se mais com os outros.
Como já vimos, a busca do sucesso muitas vezes leva as pessoas do Tipo Três a situações em que se veem forçadas a coisas em que não têm nenhum interesse especial. Embora possam continuar assim por algum tempo, se ficarem alienadas de seus reais desejos por um período mais longo – que pode ser o de toda uma carreira ou um relacionamento de uma vida inteira –, elas se distanciarão e dissociarão como as pessoas do Tipo Nove. Em vez de demonstrar sua proverbial eficiência, começam a preencher o tempo com toda sorte de afazeres insignificantes, na esperança de superar as dificuldades sem se deixar abater. Embora sejam normalmente rápidas e eficientes em cumprir tarefas e reagir aos outros, o stress as torna estranhamente apáticas e complacentes.
Os reveses e fracassos na carreira têm impacto especialmente grave sobre as pessoas do Tipo Três, fazendo-as desiludir-se da vida e de si mesmas. O vazio que procuram esconder vem à tona, tornando-as esgotadas e apáticas. Em vez de se valer de sua habitual diligência para melhorar a situação, elas tendem a evitar a realidade e os problemas e a devanear inutilmente com o próximo êxito que as aguarda.
A Bandeira Vermelha: Problemas para o Tipo Três
Se tiverem sofrido uma crise grave sem contar com apoio adequado ou sem outros recursos com que enfrentá-la, ou se tiverem sido vítimas constantes de violência e outros abusos na infância, as pessoas do Tipo Três poderão cruzar o ponto de choque e mergulhar nos aspectos não-saudáveis de seu tipo.
Se sofrerem um revés que arranhe muito sua autoconfiança, as pessoas do Tipo Três poderão ver-se obrigadas a admitir que a base sobre a qual sua vida foi construída é fraca ou mesmo falsa. Além disso, poderão suspeitar ser de fato um fracasso, que seus êxitos não tenham sentido ou que o que pensavam a respeito de si mesmas não é verdade. E, com efeito, alguns desses receios podem ter fundamento. Perceber o que há de verdade neles pode representar o início de uma reviravolta na vida dessas pessoas; o primeiro passo rumo à saúde e a libertação. Por outro lado, elas poderão aferrar-se ainda mais às próprias ilusões de grandeza e tentar negar o quanto estão sofrendo. ("Não estou com problema algum! Está tudo bem." "Farei qualquer coisa que precise para ir em frente.") Se persistirem nessa atitude, elas se arriscam a ultrapassar a linha divisória que as separa dos Níveis não-saudáveis. Se seu comportamento ou o de alguém que conhece se enquadrarem no que descrevem as advertências abaixo por um período longo-acima de duas ou três semanas, digamos – é mais que recomendável buscar aconselhamento, terapia ou outro tipo de apoio.
Advertências
• Estafa e esgotamento físico decorrentes da obsessão com o trabalho
• Auto-imagem cada vez mais falsa, desonestidade, logro
• Falta de sentimentos e vazio interior
• Ocultação do grau de aflição emocional
• Ciúme e expectativas irrealistas de sucesso
• Exploração e oportunismo
• Episódios graves de raiva e hostilidade
Potencial Patológico: Distúrbio Narcisista de Personalidade, hipertensão, depressão (geralmente não hedônica), raiva narcísica e afã de vingança, comportamento psicopático.
Práticas Que Contribuem para o Desenvolvimento do Tipo Três
• Antes de mais nada, aprenda a detectar quando você "aciona" sua imagem, em vez de agir e falar com autenticidade. Você verá que talvez se comporta conforme a imagem mesmo quando não há ninguém por perto! Embora possa não haver nada de errado com a persona que você criou e você queira empregá-la de vez em quando, só a percepção o tornará capaz de escolher quando fazer isso. Sem ela, você fica a serviço da imagem.
• Como as pessoas dos Tipos Oito e Um, você é um dos que mais se beneficiariam relaxando um pouquinho de vez em quando. Sendo um representante do Tipo Três, você não é o primeiro a perceber que está se estressando demais – às vezes, é preciso que haja um problema mais sério de saúde ou de relacionamento para que você conclua que foi longe demais. Procure parar e respirar fundo algumas vezes por dia. Passe alguns minutos longe das tarefas e projetos e perto de si mesmo. Tente descobrir o que está sentindo: ansiedade? Solidão? Raiva? Pressão? Inicialmente, essas interrupções talvez o façam pensar que está se atrasando, mas, a longo prazo, elas contribuirão muito para manter seu bem-estar físico e emocional – é provável mesmo que o ajudem a realizar suas tarefas com mais facilidade.
• Converse sobre seus receios e ansiedades com pessoas de sua confiança. As pessoas do Tipo Três normalmente não têm problemas para fazer amizades e podem estar sempre vendo os amigos, mas isso não é o mesmo que termos pessoas com quem falar sobre o que nos magoa, amedronta ou torna vulneráveis. Procure encontrar quem também consiga fazer isso e veja que não é preciso falar sobre tudo de uma só vez. Começar falando um pouco sobre o que sente o ajudará a abrir-se de uma forma segura. (Um bom psicoterapeuta também é uma excelente sugestão. Além disso, ao contrário do que imagina, revelando um pouco sua vulnerabilidade a um bom amigo você não o decepcionará.
• A criatividade realmente faz muito bem às pessoas do Tipo Três, principalmente quando não têm plateia. Tanto a pintura quanto a cerâmica, a música, a literatura ou o desenho – ou simplesmente a manutenção de um diário – podem ajudá-lo a entrar em contato com seus próprios sentimentos e em maior sintonia consigo mesmo. Se quiser, crie um espaço em casa só para a criatividade e a autodescoberta – nada de tarefas nem trabalho aqui! Esse espaço deve ser sagrado, um refúgio contra as exigências do cotidiano, principalmente as que você mesmo se impõe.
• Embora pertença a um dos tipos menos propensos a meditar, você lucraria muito com a meditação. Ficar "de braços cruzados" sem fazer nada não faz sentido para seu ego voltado para a ação, mas faz muito para a sua alma. E meditar está longe de ser não fazer nada. Na verdade, à exceção da criação de seus filhos, a meditação seja talvez o maior desafio que você pode enfrentar. A capacidade de simplesmente ser é uma das maiores realizações do ser humano – mas é um feito ainda maior no caso do Tipo Três. Mesmo que no início lhe pareça difícil, recorra à sua disciplina e persista: os representantes do Tipo Três costumam fazer avanços repentinos e consideráveis.
• Descubra como pode ser útil participando de um grupo, mas não como líder! Aprender a cooperar e trabalhar com os outros sem ser o centro das atenções não é fácil para as pessoas do Tipo Três, mas lhes dará uma satisfação imensa e imprevista. Você pode tentar o trabalho como voluntário em hospitais, escolas ou asilos. É provável que se surpreenda com o que sente trabalhando com os outros, não só em termos da afinidade que isso revela, mas também do que provoca no que você sente em relação a si mesmo. Talvez encontre aí um grau de auto-estima que jamais sonhou ser possível.
Reforçando os Pontos Fortes do Tipo Três
Quando saudáveis, as pessoas do Tipo Três gozam da bênção da verdadeira auto-estima, que é muito diferente da inflação narcísica. Elas sabem apreciar a própria vida com justeza e realismo, e isso lhes dá segurança, além de uma noção sadia de suas possibilidades. Poderíamos dizer que essas pessoas possuem equilíbrio no amor do próprio eu, o que lhes permite amar os outros livremente e sem segundas intenções. Esse amor ao próprio eu não corre riscos porque se baseia não só na avaliação sincera de suas reais capacidades, mas também no respeito às próprias limitações. Não é preciso dizer que qualquer pessoa desfruta e se beneficia da companhia de alguém que tenha qualidades tão admiráveis.
Devido à sua autêntica auto-estima, elas compreendem o quanto vale investir em si mesmas e em seu desenvolvimento: são ambiciosas, confiantes e persistentes, cuidam do físico e interessam-se em conhecer-se mais e resolver seus problemas da melhor maneira. Estão sempre procurando novas formas de melhorar a própria vida e de ensinar aos outros como podem desenvolver-se.
"Investir em si mesmo” pode ser gastar dinheiro, tempo e energia em si próprio sem ser egocêntrico nem narcisista. Se quisermos atingir alguma coisa que valha a pena na vida, precisamos investir em nós – procurar a melhor formação, estabelecer nossas próprias prioridades e não nos desviar de nossas metas. As pessoas do Tipo Três realmente sabem como dedicar-se a cultivar suas qualidades.
Além de investir em seus próprios talentos, elas contribuem para que os outros deem de si o que têm de melhor, usam seu dom de incitar e motivar para que eles atinjam ainda mais do que imaginavam. Como enfermeiros, médicos, professores e terapeutas, as pessoas do Tipo Três provocam um efeito realmente eletrizante sobre seus alunos e pacientes pela força de seu exemplo. Assim, quando outros fisioterapeutas desenganarem a criança deficiente, o do Tipo Três conseguirá motivá-la a caminhar, o professor de música inspirará os alunos a se superarem e o treinador dará ao time o prazer de saber que fez o melhor que podia.
Os representantes saudáveis do Tipo Três também colocam sua capacidade de impressionar a serviço de causas nobres. Por isso, muitas vezes se destacam como exemplos em suas áreas. Muitas empresas e organizações recorrem a eles para representá-las. Como são bons promotores e comunicadores e sabem apresentar as coisas de uma forma que atraia e inspire, são muito competentes quando se trata de criar espírito de equipe e manter o moral alto.
Eve é uma simpática e agradável profissional de treinamento empresarial:
“Quase sempre adoro ser do Tipo Três: consigo fazer tanta coisa! Há pouco tempo agi assim com uma nova meta. Motivei meu pessoal para que pensasse que faz parte de uma equipe invencível. No fim, cinco das pessoas envolvidas tiveram aumento de salário. Hoje elas são tão leais a mim que fariam qualquer coisa; acham que eu sou o máximo, o que me faz sentir ótima! Adoro motivar as pessoas a darem o melhor de si.”
Nos Níveis mais altos, as pessoas do Tipo Três sabem voltar-se para dentro de si mesmas e aceitar-se – são tudo aquilo que aparentam ser e representam uma honestidade, simplicidade e autenticidade que são extremamente inspiradoras. Elas se veem com realismo, aceitando seus pontos fracos e valorizando os fortes sem se levar demasiado a sério. São meigas, afetivas e dotadas de uma autenticidade tocante - pessoas realmente admiráveis, que apreciam a admiração de que são alvo, mas não precisam dela.
Ao superar a ferida narcísica que sofreu na infância, Lynn passou a ver a si mesma e aos outros de uma forma completamente diferente:
“Sinto-me imbuída de uma presença ou força interior que se irradia até as pessoas. É uma espécie de magnetismo, que atrai sem que eu tenha de realizar nem atingir nada. Alguém me perguntou faz pouco: ‘Você sempre brilha assim?’ Sinto-me transcendente e, ao mesmo tempo, muito humana e centrada.”
O Caminho da Integração: O Tipo Três Passa ao Seis
As pessoas do Tipo Três concretizam seu potencial e se mantém saudáveis quando aprendem a comprometer-se com as pessoas e com as metas que transcendam seus próprios interesses, como as que estão na faixa saudável do Tipo Seis. Isso desloca seu foco da necessidade de manter uma auto-imagem para o real desejo de sustentar o desenvolvimento de algo que está além delas. Com isso, atingem a verdadeira auto-estima de uma forma que jamais poderiam sonhar. Quando se inicia o seu processo de integração, a cooperação com os demais – não só na carreira como nos relacionamentos – as faz descobrir a coragem e a orientação interior inerentes à faixa saudável do Tipo Seis, o que lhes permite revelar mais as suas verdadeiras qualidades. A comunicação se torna simples, direta e sincera – não há necessidade de deslumbrar ninguém.
Por mais que se esforcem, a busca de legitimação pela realização de metas que não são ditadas por seu próprio coração não compensa jamais. Para sua surpresa, porém, as pessoas do Tipo Três encontram a satisfação e a razão para a auto-estima no desprendimento e nas responsabilidades compartilhadas que advém do compromisso com a sinceridade. Assim, elas se deixam tocar por aquilo que criam conjuntamente com os outros, vendo o que existe de belo e de bom no que criaram, independente do aplauso que possam ter recebido ou não por isso. É nesses momentos que, sem muita reflexão, as pessoas do Tipo Três começam a vivenciar o seu verdadeiro valor e identidade.
Os representantes típicos do Tipo Três tendem a sentir-se como solistas – capazes de motivar os outros e criar espírito de equipe, mas vendo-se como essencialmente solitários. A carga de ser o Herói da Família não lhes permitiu buscar apoio nem consolo – o herói não tem direito a precisar de ajuda. Porém, à medida que integram as qualidades do Tipo Seis, eles passam a reconhecer e aceitar o apoio com que podem contar, além de ter a coragem de pedi-lo quando precisam. Apesar disso, essa atitude desperta um grande medo de estar sendo inadequado e de decepcionar os outros. (“Se soubessem como eu realmente me sinto, todos me abandonariam.") Entretanto, ao aprender como construir com parceiros seletos relacionamentos sólidos, baseados na confiança e no respeito mútuo, como fazem os que estão na faixa saudável do Tipo Seis, eles iniciam uma jornada mais importante: a de buscar seu próprio apoio e sua orientação interior.
Naturalmente, as pessoas do Tipo Três não ganharão muito tentando simplesmente imitar as características típicas das do Tipo Seis. Comprometer-se demasiadamente e tentar criar a própria segurança e identidade a partir de afiliações diversas só serviria para reforçar sua preocupação com a auto-imagem e o desempenho. Porém, ao abrir mão da identificação com o desempenho, as pessoas do Tipo Três verão que a resistência, o compromisso sincero e a coragem que revelam as pessoas mais saudáveis do Tipo Seis desabrocharão naturalmente.
A Transformação da Personalidade em Essência
Para libertar-se, as pessoas do Tipo Três precisam deixar de acreditar que seu valor depende da aprovação dos outros, pois só assim poderão voltar-se para dentro de si e ser realmente autênticas. Por mais difícil que isso seja para elas, é o caminho mais direto que podem tomar. No início, só encontrarão o vazio no coração, mas aos poucos, com paciência e compaixão, elas conseguirão abrir-se para a mágoa e a vergonha existentes por trás dele. Quando essa dor for vista, curada e liberada, elas perceberão uma mudança que se processou sem avisar quando ou como, uma mudança que lhes permite ver que são pessoas bem diferentes do que pensavam. Livres da obrigação de dançar conforme a música que os outros tocam, elas encontram a liberdade e a leveza de fazer o que lhes manda o coração.
As pessoas do Tipo Três precisam entender claramente que devem deixar cair a máscara e admitir a sensação de vazio interior se quiserem a cura. A dádiva da salvação, naturalmente, é que não há vazio interior para o eu Essencial. Quando a máscara cai, o vazio se preenche a partir do interior. É como se a própria máscara exercesse uma pressão que reprimia o verdadeiro eu: uma vez removida a primeira, o segundo não pode deixar de revelar-se. Assim, elas descobrem que, em vez de serem vazias e desprezíveis, simplesmente têm algumas áreas por desenvolver (o que não significa que as muitas áreas que já desenvolveram sejam perdidas). É preciso coragem e, idealmente, o apoio de um parceiro, amigo, terapeuta ou conselheiro religioso para que uma pessoa do Tipo Três embarque nessa jornada de auto-revelação.
Tawney explica a diferença que isso faz:
“A diferença é que agora faço opções baseadas no que realmente necessito, e não no que me tornará mais ‘desejável’. Parei de precisar ser ‘a melhor’, a não ser para mim mesma. Sou capaz de expressar livremente as minhas emoções sem me preocupar com o que podem pensar de mim e me permito parecer o que eu quiser sem julgar a mim mesma. Sinto-me mais tranquila. A vida inteira fui um reflexo do meu tipo de personalidade: era uma típica representante do Tipo Três. Agora, sou simplesmente eu mesma.”
Quando se dispõem a correr o risco de perder a aprovação alheia para seguir o próprio coração, as pessoas do Tipo Três podem ganhar o destaque com que sempre sonharam. O amor e a admiração que recebem penetra até o fundo d'alma, permitindo que ali cresça um novo jardim.
Marie, que se tornou terapeuta depois de empreender sua jornada, aprendeu esse importante segredo:
“Minha identidade estava atrelada à ação e, logicamente, ao sucesso. Antes de aprender a simplesmente ser, havia pouca chance de sinceridade e autenticidade (...). Sempre fui ágil, competente e capaz. Ainda sou, mas agora não acho tão importante sair-me sempre bem. É mais importante ser fiel às coisas que realmente têm valor para mim.”
Uma vez deslocado o centro de gravidade de fora para dentro, as pessoas do Tipo Três podem permitir-se a experiência inédita de deixar-se guiar por seu próprio coração. E, uma vez saboreada a sensação, não é provável que elas a troquem por nada.
A Manifestação da Essência
Quando conseguem reconectar-se com o próprio coração, as pessoas do Tipo Três que estão na faixa saudável personificam mais que as de qualquer outro tipo o dom Essencial da autenticidade. Seu comportamento torna-se fiel ao que elas realmente são, permitindo-lhes revelar seu verdadeiro eu com simplicidade, humildade e sinceridade.
A autenticidade não implica uma honestidade brutal: ela simplesmente manifesta aquilo que se é num determinado momento. Além disso, essas pessoas não necessitam de ninguém para vivenciar esse amor. Quando estão presentes, elas são simples, solícitas e capazes de dizer a verdade que emana de seu coração. A primeira vista, isso pode não parecer uma grande realização, mas se pensarmos melhor, veremos como é raro apresentar-nos aos outros dessa forma.
À medida que aprendem a dar lugar à própria autenticidade, sua qualidade Essencial começa a se manifestar. Não é fácil falar a respeito dela, não porque seja abstrata, mas sim porque se trata de algo tão fundamental em nossa existência que nos tornamos cegos a ela. Talvez a melhor palavra para defini-la seja valor – o fato de termos valor por existirmos.
Essa ideia é totalmente contrária ao que diz a cultura popular, para a qual nosso valor está em termos determinada renda, determinadas características físicas, determinada idade ou formação. Porém todos esses superficiais substitutivos do valor são criações da personalidade, a qual não está em contato com a base de seu Ser, a fonte de todo verdadeiro valor.
Se pararmos para pensar, somos nós mesmos que conferimos valor às coisas que valorizamos. Talvez a carreira de ator ou atriz nos de auto-estima. No entanto, essa carreira pode ser trivial ou gratuita para outra pessoa. A auto-estima dela pode depender de uma gorda conta bancária. Os valores não apenas variam de pessoa para pessoa, mas também no curso de nossa própria vida. Obviamente, o fio que liga tudo isso está em nós. Com efeito, projetamos nosso valor Essencial sobre um emprego, uma pessoa ou uma coisa e depois tentamos reavê-lo possuindo aquilo que carrega essa projeção. Porém isso quase nunca dá certo.
Quando estamos em contato com nosso valor Essencial, sabemos que ele é inerente à nossa verdadeira natureza. Não é possível que não tenhamos valor, o que é possível é que nos esqueçamos de sua existência. Não há sofrimento, humilhação nem problema que possa diminuir o valor Essencial de uma pessoa: no máximo, eles conseguem modificá-la por meio da oportunidade de crescer, compreender e aceitar. Assim, quando as pessoas do Tipo Três conseguem perceber diretamente o seu valor Essencial, elas se libertam da implacável busca egoica de auto-estima pelo sucesso. Isso lhes permite o tempo e o espaço necessários para viver com grandeza de espírito, amor à vida, riqueza e gratidão.
Níveis de Desenvolvimento
Saudável
Nível 1 (Concentração em si mesmo, Autenticidade): As pessoas do Tipo Três deixam de acreditar que seu próprio valor depende da opinião dos outros, podendo assim descobrir qual a sua verdadeira identidade e qual o desejo de seu coração. Ao atingir seu Desejo Fundamental, percebem que têm valor em si mesmas, aceitando-se e tornando-se benevolentes e autênticas.
Nível 2 (Adaptação, Admirabilidade): As pessoas do Tipo Três concentram-se no que os outros prezam, adaptando-se a eles para sentir-se mais valorosas. Auto-imagem: “Sou uma pessoa extraordinária, capaz e bem-ajustada (potencial ilimitado)".
Nível 3 (Concentração em objetivos, Auto-aperfeiçoamento): As pessoas do Tipo Três reforçam sua auto-imagem aperfeiçoando-se e cultivando os próprios dons. São competentes, seguras e persistentes, tornando-se um exemplo em tudo aquilo que fazem. Além disso, como são dotadas de grande poder de comunicação, tornam-se muitas vezes um modelo e uma fonte de inspiração para os demais.
Média
Nível 4 (Concentração no sucesso, Desempenho): Temendo que as realizações alheias possam eclipsar as suas – ou seja, que seu esforço não lhes traga toda a atenção que desejam – as pessoas do Tipo Três tentam superar-se no que fazem para distinguir-se dos outros. Assim, esforçam-se continuamente para atingir mais e mais realizações.
Nível 5 (Consciência da imagem, Expediência): Preocupadas em não estar sendo bem-vistas, as pessoas do Tipo Três desejam impressionar os demais, esforçando-se por cultivar aquela que julgam a melhor imagem possível. Ambiciosas porém inseguras, elas querem ser admiradas e desejadas. Não raro, têm problemas nos relacionamentos mais íntimos.
Nível 6 (Autopromoção, Presunção): As pessoas do Tipo Três receiam não ser percebidas se não forem extremamente bem-sucedidas e não atingirem grande destaque. Por conseguinte, tentam convencer a si mesmas e aos outros da realidade de suas fátuas alegações, recorrendo a autopromoção e mostrando-se arrogantes e competitivas como defesa contra suas carências secretas.
Não-saudável
Nível 7 (Falta de princípios, Ilusão): As pessoas do Tipo Três, temendo não estar à altura de suas próprias expectativas, suspeitam que as alegações que fazem a respeito de si mesmas sejam falsas e infundadas – o que, de fato, pode ser verdade. Para salvar a própria auto-imagem, começam a iludir a si e aos demais, dizendo qualquer coisa que possa impressionar ou salvá-las de algum apuro. Interiormente, porém, sentem-se vazias e deprimidas.
Nível 8 (Dubiedade, Oportunismo): As pessoas menos saudáveis do Tipo Três tornam-se tão desesperadas por atenção que são capazes de inventar qualquer coisa que disfarce sua deterioração interior. Não querendo que ninguém saiba a que ponto chegaram, dispõem-se a fazer de tudo para esconder suas malfeitorias e seus males emocionais.
Nível 9 (Monomania, Obstinação): Convencidas de que não há nada que possam fazer para obter a admiração daqueles cuja aprovação necessitam, as pessoas menos saudáveis do Tipo Três poderão perder o controle sobre a raiva e a agressividade que reprimem. Assim, podem querer vingar-se de seus algozes reais ou imaginários, tentando pisar em todos aqueles que elas acreditam que as rejeitaram.
(Traduzido de "The Wisdom of the Enneagram", de Don Richard Riso & Russ Hudson, por ~mamado frentista)
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