Eneagrama: Tipo Oito – O Desafiador
- 16MM
- 27 de abr. de 2020
- 39 min de leitura
O Tipo Forte e Dominador:
Autoconfiante, Decidido, Obstinado e Provocador
Medo Fundamental: O de ser magoado ou controlado; medo de ser invadido.
Desejo Fundamental: Proteger-se; determinar o curso de sua própria vida.
Mensagem do superego: “Você estará num bom caminho se for forte e conseguir dominar as situações.”
As pessoas do Tipo Oito costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Sete, Seis ou Quatro. As dos Tipos Seis, Três e Sete costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Oito.
Chamamos este tipo de personalidade de o Desafiador não só porque, dentre os nove do Eneagrama, ele é o que mais gosta de enfrentar pessoalmente desafios, mas também porque o Tipo Oito é o que mais proporciona as outras pessoas oportunidades que para elas representam um desafio a superar-se de alguma forma. Seus representantes são carismáticos e dotados dos requisitos físicos e psicológicos para persuadir os outros a acompanhá-los em qualquer coisa a que se dediquem – abrir uma empresa, reconstruir uma cidade, administrar o lar, declarar a guerra e declarar a paz.
Dotadas de imensa vitalidade e força de vontade, as pessoas do Tipo Oito não se sentem vivas quando não as utilizam. Elas aplicam-se com inesgotável energia a promover mudanças no ambiente em que vivem – um desejo de deixar nele a sua marca, mas também de impedir que este e os que nele se encontram possam causar algum prejuízo a seus entes queridos. Desde cedo, descobrem que isso exige força, determinação, persistência e muita resistência – qualidades que cultivam em si mesmas e buscam nos demais.
Thayer é uma corretora da bolsa de valores que se dedicou muito ao estudo do seu próprio tipo de personalidade. Aqui ela relembra um incidente da infância no qual esse padrão se evidencia claramente:
“Grande parte de minha resistência e tenacidade vem do meu pai. Ele sempre me dizia que jamais deixasse alguém me dar ordens. Chorar era errado. Aprendi muito cedo a dominar meu lado mais fraco. Aos 8 anos, durante um passeio, o cavalo que eu montava se desgovernou. Quando finalmente alguém conseguiu fazê-lo parar, eu apeei sem uma lágrima. Via-se sem sombra de dúvida o quanto meu pai estava orgulhoso de mim.”
As pessoas do Tipo Oito não gostam de ser controladas e fazem de tudo para não deixar que ninguém as domine (seu Medo Fundamental), seja pelo poder psicológico, sexual, social ou financeiro. Muitas de suas atitudes decorrem do desejo de reter e aumentar ao máximo todo o poder que porventura possuam. Não importa se são generais ou jardineiros, pequenos empresários ou magnatas, mães de família ou chefes de uma comunidade religiosa: ser quem manda e deixar sua marca no círculo em que vivem é sua maior característica.
Seus representantes constituem os verdadeiros "individualistas inquebrantáveis" do Eneagrama porque, mais que os de qualquer outro tipo, prezam a autonomia. Querendo ser independentes e não dever nada a ninguém, essas pessoas muitas vezes se recusam a ceder às convenções sociais, já que são capazes de passar por cima do medo, da vergonha e da preocupação que seus atos possam provocar. Embora geralmente saibam o que os outros pensam a seu respeito, não deixam que isso as influencie e cuidam da própria vida com determinação exemplar e, às vezes, intimidante.
Embora até certo ponto receiem as ameaças físicas, para as pessoas do Tipo Oito é muito mais importante o medo da impotência e do controle, seja este qual for. Dotadas de um extraordinário poder de resistência, elas são capazes de suportar sem queixas grandes provações físicas. Isso, porém, é uma faca de dois gumes, já que geralmente acabam negligenciando não só a própria saúde e o bem-estar como também os dos demais. No entanto, como têm um medo tremendo do sofrimento emocional, elas usam toda a força de que são dotadas para proteger os próprios sentimentos e manter os outros a uma distância segura do ponto de vista emocional. Todavia, por trás da armadura que criam para defender-se está a vulnerabilidade.
Assim, para ser tão diligentes como são, as pessoas do Tipo Oito pagam o preço da falta de contato emocional com muitos daqueles com quem convivem. Os mais próximos podem reagir a isso demonstrando uma insatisfação cada vez maior, o que as confunde. ("Não entendo por que minha família está reclamando. Eu dou duro para conseguir pagar as contas. Por que estão tão decepcionados comigo?")
Quando isso acontece, as pessoas do Tipo Oito julgam-se incompreendidas e podem tornar-se ainda mais distantes. Na verdade, por trás da fachada intocável, elas sentem-se muitas vezes magoadas e rejeitadas, embora raramente toquem no assunto, pois têm dificuldade de admitir sua vulnerabilidade até para si mesmas. Como receiam a rejeição (ser de alguma maneira humilhadas, criticadas, repreendidas ou magoadas), tentam defender-se rejeitando os outros primeiro. Com isso, os representantes típicos do Tipo Oito bloqueiam sua capacidade de amar e relacionar-se, já que o amor confere ao outro poderes sobre eles, re-despertando seu Medo Fundamental.
Quanto mais investem no ego para proteger-se, mais sensíveis se mostram a qualquer desconsideração, real ou imaginária, ao seu amor-próprio, autoridade ou preeminência. E quanto mais procuram tornar se impermeáveis aos sofrimentos e às mágoas, físicos ou emocionais, mais se fecham emocionalmente – e, assim, endurecem-se como verdadeiras rochas.
Quando são emocionalmente saudáveis, porém, as pessoas do Tipo Oito mostram-se mais abertas e confiantes nos próprios recursos. A estabilidade de sua força interior as faz tomar iniciativas e realizar coisas com uma grande paixão pela vida. Sua presença possui uma autoridade que impõe respeito, tornando-as líderes natas. Seu equilíbrio as dota de bom senso e capacidade de decisão em fartas doses.
Sabendo que nenhuma decisão pode agradar a todos, elas se dispõem a responsabilizar-se por suas opções. Além disso, na medida do possível, tentam ser imparciais na consideração dos interesses das pessoas sob sua responsabilidade, pois desejam construir um mundo melhor para todos.
O Padrão da Infância
(Favor observar que o padrão da infância aqui descrito não provoca o tipo de personalidade. Em vez disso, ele descreve tendências observáveis na tenra infância que têm grande impacto sobre os relacionamentos que o tipo estabelece na vida adulta.)
A maioria das pessoas do Tipo Oito relata haver sentido desde muito cedo que precisava tornar-se "adulta". Muitas vezes, isso foi necessário devido a graves problemas no lar – a falta do pai, por exemplo, pode tê-las obrigado a ajudar no sustento da família. Além disso, elas podem ter sido forçadas a viver num ambiente perigoso (como o dos traficantes de drogas, gangues de rua, etc.). Embora o problema possa ter sido outro, mesmo aqueles que cresceram em famílias relativamente normais acabaram tendo a necessidade de proteger seus sentimentos Em resumo, as pessoas do Tipo Oito tendem a crescer rápido, e as questões relativas à sobrevivência adquirem para elas importância capital. É como se perguntassem: "Como posso, ao lado das poucas pessoas que me interessam, sobreviver neste mundo tão cruel e inóspito?"
Roseann recorda a pressão criada pelas condições de sua infância:
“À medida que eu ia crescendo, o fato de fazer testa a meu pai criou, por tabela, uma relação com minha mãe. Ela sempre queria que eu transmitisse a ele os pedidos relativos aos passeios da família, ir ao cinema, coisas assim: ‘Você pede a seu pai; se eu o fizer, ele dirá que não’, era o que ela me dizia. Por um lado, eu me orgulhava de que ela achasse que eu era forte o bastante para lidar com ele. Mas, por outro, eu me ressentia porque, apesar do respeito que havia entre nós, eu sempre tive medo de meu pai. Afinal, era apenas uma menina. Mas eu sabia que não podia demonstrar e nem sequer admitir isso.”
Ainda jovens, as pessoas do Tipo Oito começam a pensar que não é seguro ser meigo ou conciliador. Tais atitudes lhes parecem coisa de "fracos" e "inseguros" e só podem trazer rejeição, traição e dor. Por conseguinte, acham melhor não baixar a guarda – se tiver de haver carinho e afeto em sua vida, terá que ser por obra de alguma outra pessoa.
É comum as pessoas do Tipo Oito afirmarem haver lutado contra fortes sensações de rejeição ou traição quando eram crianças. Por serem curiosas e assertivas, entravam frequentemente em "encrencas" que lhes valiam punições. Em vez de defender-se da rejeição distanciando-se ou mostrando-se indiferentes diante dos que os castigavam, elas pensavam: "Que vão para o inferno. Quem precisa deles? Ninguém manda em mim!" Como todo mundo, as pessoas do Tipo Oito naturalmente queriam ser amadas, mas quanto mais eram rejeitadas e tratadas como inconvenientes, mais seu coração se endurecia.
Arlene pertence a uma ordem religiosa e sempre apoiou e ajudou as pessoas de sua comunidade. Ela relembra um infeliz incidente da infância que contribuiu para fazer desabrochar suas defesas:
“Quando eu tinha dois anos e meio, minha irmã nasceu. Um dia, quando minha mãe estava deitada com ela, insisti em subir na cama, pois também queria ficar ao lado de minha mãe. Ela me disse várias vezes que pedisse à minha tia para pôr-me no colo, pois tinha medo que eu machucasse a minha irmã. Mas eu era teimosa e saía do colo da minha tia para voltar a tentar subir a cama. Minha mãe finalmente me pôs para fora da cama e, quando isso aconteceu, acho que pensei: ‘Vou dar o troco!’ Depois, quando já estava maior, decidi que sairia de casa para um convento após completar a oitava série, mesmo que isso magoasse muito toda a família. Mas eu não pensei na vontade de meus pais e simplesmente o fiz.”
Às vezes, as crianças do Tipo Oito aprendem a representar o papel do Bode Expiatório (Ovelha Negra ou Criança-problema). Segundo a teoria dos sistemas familiares, os “bodes expiatórios" sempre tornam explícitos os problemas da família, seja falando ou agindo. Quando adultas, elas tornam-se inconformistas, rebelando-se contra as restrições e contra o sistema sempre que podem.
Às vezes, a "decisão" de tornar-se tão dura quanto o ferro surge quando a criança se sente traída por um dos pais ou por um adulto importante para ela. Essa traição pode ser, por exemplo, a ida para um internato, para a casa de parentes ou a privação injusta de suas economias ou de algum objeto que para ela tenha valor. Além disso, pode ser a sujeição a maus-tratos ou abuso sexual. Porém, devido ao extremo desequilíbrio de poder entre ela e os que a tratam com injustiça, a criança pouco ou nada pode fazer, exceto tomar a decisão de jamais permitir que isso volte a ocorrer.
Kit é uma empresária bem-sucedida do ramo da moda. Aqui ela nos conta a memorável decisão que tomou quando era menina:
“A morte repentina de minha babá, uma mulher negra, quando eu tinha 7 anos, foi o estopim de uma importante decisão na minha vida. Sem que meus pais soubessem, ela me consolava e apoiava de várias formas quando eles me castigavam. Mas quando de repente ela morreu, eu me senti verdadeiramente só. Fiquei furiosa com eles por não me deixarem ir ao enterro, zangada com meus irmãos por causa de sua evidente indiferença e com raiva dela por me haver abandonado assim. No entanto, não derramei uma lágrima sequer. Resolvi que estaria mesmo sozinha e que não precisaria de ninguém.”
As pessoas do Tipo Oito consideram a traição um elemento fundamental em sua vida porque ela marca a morte de sua bondade e inocência. Ao serem traídas por alguém importante no que possuem de mais íntimo, elas decidem que jamais se permitirão ser inocentes e vulneráveis de novo, jamais baixarão a guarda. Durante algum tempo, podem secretamente lamentar a perda dessa inocência, mas por fim aceitam que isso é o que devem fazer para enfrentar os desafios da vida. A depender do mal que lhes houver causado o ambiente da infância e da juventude, elas podem tornar-se tão implacáveis consigo mesmas como o são com os outros. Depois de enterrado o coração, até a dor da inocência perdida pode ser esquecida.
Os Subtipos Conforme as Asas
Tipo Oito com Asa Sete: O Independente
Faixa saudável: Dotadas de mente ágil e de visão das possibilidades concretas, as pessoas deste subtipo geralmente são carismáticas o bastante para angariar apoio e adesão aos seus projetos. Elas pautam-se pela ação e querem deixar sua marca no mundo. Além disso, essas pessoas conseguem desafiar os outros a superar-se para melhorar a própria vida de alguma maneira concreta. Este subtipo é o mais independente, buscando a auto-suficiência em tudo o que faz.
Faixa média: As pessoas deste subtipo são defensoras dos riscos e da aventura; tendem a nutrir "grandes planos" e a fazer grandes promessas, exagerando seus potenciais para recrutar o apoio dos outros. Além disso, estão entre as mais sociáveis de seu tipo, mostrando-se muito falantes, extrovertidas e autoconfiantes. São pessoas práticas, pragmáticas e competitivas que não se preocupam muito em agradar os outros nem em tolerar o que julgam ser fraqueza ou ineficiência. Elas podem tornar-se impacientes e impulsivas, deixando-se levar pelos sentimentos mais que as do outro subtipo. Sendo mais abertamente agressivas e provocadoras, tendem menos a fugir das brigas.
Exemplos: Franklin D. Roosevelt, Donald Trump, Frank Sinatra, Samuel L. Jackson, Dave Mustaine, G.G. Allin, Al Capone, Slavoj Žižek, Benito Mussolini, “Tony Montana”.
Tipo Oito com Asa Nove: O Urso
Faixa saudável: As pessoas deste subtipo aliam a força, a autoconfiança e a determinação ao equilíbrio e a um certo relaxamento. São mais constantes na busca dos próprios objetivos e menos agressivas e perturbáveis que os demais representantes do Tipo Oito. Além disso, são mais carinhosas e voltadas para a família, demonstrando poder e liderança pelo desejo de proteção. Há em sua constituição menos lugar para "astúcias": elas querem ser independentes, mas à sua maneira. A capacidade de confortar e tranquilizar os outros aumenta sua capacidade de liderança.
Faixa média: Essas pessoas parecem dotadas de natureza dupla, manifestando-se de maneiras distintas em diferentes áreas da vida. Assim, podem ser muito carinhosas em casa, mas extremamente agressivas e determinadas no trabalho, por exemplo. Elas gostam de viver com discrição e tranquilidade, preferindo agir nos bastidores. Além disso, tendem a falar devagar e a prestar muita atenção às mensagens não verbais e à linguagem corporal das pessoas, mostrando-se afáveis, mas tomando nota de todos os detalhes. Estrategistas e observadoras, elas praticamente convidam os outros a subestima-las. As pessoas deste subtipo são às vezes teimosas, impassíveis e veladamente ameaçadoras. Quando perdem a cabeça, a explosão é repentina e violenta, mas termina rápido.
Exemplos: Martin Luther King Jr., Sean Connery, Pablo Picasso, Chris Hemsworth, Johnny Cash, Fidel Castro, “Gundham Tanaka”, “Don Vito Corleone”, “Darth Vader”, “Nick Fury”.
As Variantes Instintivas
O Instinto de Autopreservação (self-preservation/sp) no Tipo Oito
O Sobrevivente. Os típicos Autopreservacionistas do Tipo Oito são os que mais prezam a sensatez. No intuito de ter dinheiro e poder suficientes para garantir seu bem-estar e o de seus entes queridos, concentram-se nas questões práticas e no "ganha-pão". Amantes da privacidade do lar, são eles os mais domésticos dentre os representantes de seu tipo. Porém, independentemente de serem homens ou mulheres, essas pessoas fazem questão de ser quem "veste as calças". Elas tendem a ser mais materialistas que os representantes das outras duas Variantes Instintivas: desejam o dinheiro pelo poder que confere, mas também gostam de adquirir bens (como carros ou imóveis) que simbolizem seu destaque e importância. São também as que mais tendem a viciar-se no trabalho, podendo ter vários empregos ou trabalhar longas horas para conseguir uma renda que lhes dê satisfação e proteção.
Os Autopreservacionistas do Tipo Oito tendem a preocupar-se em proteger suas posses e investimentos. Com efeito, inclusive no lar, são em geral extremamente zelosos de seu território. ("Ninguém entra na garagem sem minha permissão!") Sentem-se seguros quando sabem onde estão suas coisas e têm certeza de que elas estão a salvo. Portanto, estão sempre se certificando de que suas finanças, sua posição pessoal e profissional e suas posses não correm nenhum risco.
Na faixa não-saudável, os Autopreservacionistas do Tipo Oito podem revelar-se tiranos e até ladrões, justificando seu comportamento destrutivo com a alegação de estar contribuindo para tornar os outros "mais fortes". Afinal, o mundo é uma selva. No mínimo, eles veem razão em seu egoísmo e procuram satisfazer suas necessidades – geralmente financeiras e sexuais – sem a mínima consideração pelos sentimentos alheios. Não hesitam em atacar e fragilizar as pessoas para proteger os próprios interesses e garantir que ninguém venha a ameaçar sua segurança material.
O Instinto Social (so) no Tipo Oito
Entusiasmo e Camaradagem. A intensidade do Instinto Social se manifesta no Tipo Oito por fortes laços que seus representantes criam com as pessoas. A honra e a confiança são muito importantes para eles, que gostam de testar os amigos e fazer pactos com aqueles que se mostram confiáveis, criando assim sólidas amizades. A sensação de inadequação e rejeição é minorada quando se cercam de amigos seguros que os aceitam como são. (Nem todos são aceitos em seu círculo mais íntimo, mas, para os que passam no teste demonstrando lealdade e firmeza, o céu é o limite.) As noitadas, excursões de fim de semana e recepções para os amigos são a maneira de relaxar que mais agrada às pessoas desta Variante Instintiva, as quais fazem qualquer coisa pelos seus poucos eleitos. Elas gostam de promover reuniões sociais, comer e beber com os amigos e compartilhar aventuras com "gente boa". Além disso, gostam de debater – o mais acaloradamente possível – questões como política, esporte ou religião.
Nos Níveis inferiores, os representantes Sociais do Tipo Oito correm o risco de negligenciar os amigos ou rejeitá-los após qualquer desavença. Sentem-se traídos com facilidade e tendem a guardar rancor por mais tempo que a maioria das pessoas. Quando banem alguém de seu círculo mais íntimo, dificilmente o deixam aproximar-se de novo, preferindo mantê-lo para sempre "na geladeira". Além disso, seu pendor para criar histórias pode degenerar em flagrantes exageros: tornam-se tratantes e enroladores, cheios de encanto e promessas, mas pouco dispostos a realmente ajudar as pessoas.
Na faixa não saudável, devido à sensação de rejeição e traição, essas pessoas podem tornar-se solitárias e extremamente anti-sociais. Tornam-se irresponsáveis e autodestrutivas, além de particularmente propensas ao abuso de drogas. A mistura entre a raiva e as drogas poderá destruir rapidamente tudo que há de bom em sua vida. Uma vez nesse estado, essas pessoas mostram-se incapazes de compreender o mal que fazem a si mesmas e aos outros.
O Instinto Sexual (sx) no Tipo Oito
Assumindo a Responsabilidade. Os típicos representantes Sexuais do Tipo Oito são os mais intensos e carismáticos de todos os deste tipo. Eles reagem com paixão a tudo aquilo que lhes interessa e querem causar grande impacto na vida daqueles que o rodeiam. (Tal impacto pode ser positivo ou negativo, a depender naturalmente de seu Nível de Desenvolvimento.) Como os seus colegas da Variante Social, eles gostam de diversão e agitação, embora tenham uma veia mais rebelde. Dotados de um malicioso senso de humor, eles gostam de ser "maus". Apesar de capazes de profundo amor e devoção, podem ver na intimidade uma luta pelo poder e uma oportunidade de aumentar sua auto-estima. Assim, talvez gostem de discussões e se mostrem ríspidos com os mais íntimos: reagem à gentileza com impaciência. Como os Autopreservacionistas, podem ser competitivos, porém mais pelo prazer da competição que para obter segurança. Na verdade, perdem o interesse quando ganham rápido demais, e isso se aplica também aos relacionamentos íntimos.
Nos Níveis inferiores, a Variante Sexual pode levar essas pessoas a exigir atenção, coerência e fidelidade e a mostrar-se pouco tolerantes diante de qualquer hesitação do outro. No fundo, elas se veem no papel de mentoras e responsáveis e querem moldar os outros da forma que mais se adapte aos seus planos e necessidades. O fato de terem sempre uma opinião sobre qualquer aspecto da vida do parceiro dificulta-lhes a manutenção de uma relação de igualdade.
Nas faixas menos saudáveis, essas pessoas poderão tentar controlar e dominar completamente o parceiro. Assim, demonstrarão muito ciúme e verão o outro como uma posse sua, além de poderem querer isolá-lo dos amigos e conhecidos. Nos casos mais graves, é possível ocorrerem episódios de agressão e vingança e crimes passionais
A seguir, alguns dos problemas mais frequentes no caminho da maioria das pessoas do Tipo Oito. Identificando esses padrões, "pegando-nos com a boca na botija" e simplesmente observando quais as nossas reações habituais diante da vida, estaremos dando um grande passo para libertar-nos dos aspectos negativos de nosso tipo.
O Sinal de Alerta para o Tipo Oito: A Luta pela Auto-suficiência
As pessoas do Tipo Oito sentem uma necessidade de proteger-se que pode transformar-se em medo de qualquer tipo de dependência. ("Não me sinto seguro, então preciso defender-me buscando mais recursos para proteger-me.") Como não acreditam poder recorrer ao apoio ou auxílio dos outros sem perder a própria autonomia, essas pessoas costumam sentir-se como se estivessem em guerra contra o mundo. Tudo na vida é difícil, uma verdadeira luta, o que as leva a esforçar-se constantemente para se impor num ambiente que consideram desfavorável e até hostil. ("Tive de lutar por tudo que tenho." "Se você não se defender, vão comê-lo vivo.")
Em geral, as pessoas do Tipo Oito não gostam de trabalhar subordinadas a ninguém, preferindo o risco e a aventura de assumir suas próprias atividades. Muitas delas são ladinas empreendedoras que estão sempre de olho num novo projeto. Além disso, são muitas vezes competitivas, não exatamente para mostrar-se superiores, mas sim para garantir a posse dos recursos necessários à sua segurança e bem-estar. Essas pessoas só conseguem relaxar na medida em que tomam o comando da situação.
Evidentemente, ninguém na vida é auto-suficiente de verdade. Todos, inclusive as pessoas do Tipo Oito, precisam dos outros para viver e atingir objetivos comuns. Se analisassem sua vida objetivamente, veriam que na verdade dependem de muita gente para realizar o que desejam. No entanto, devido ao medo da dependência e da traição, não querem admitir isso nem dividir os louros com ninguém, persuadindo-se de que só elas dão duro e de que precisam pressionar os outros a segui-las.
Caso se acostumem a esse ponto de vista, ignorando o Sinal de Alerta, essas pessoas correm o risco de perder-se ainda mais em sua fixação. Quando começam a sentir que os outros precisam ser controlados e que a vida precisa ser conquistada, estão tomando a direção errada. Isso pode manifestar-se por meio de conflitos em casa e no trabalho – ou simplesmente de xingamentos diante de um pote de geleia que não quer abrir
Lutando Contra o Mundo
Observe se não está pondo mais energia que o necessário nas coisas que faz. Quando abrir uma porta ou segurar algo, procure ver se não o faz com demasiada força. Independentemente do que seja, será que você não poderia empregar menos força e, mesmo assim, manter a eficiência? Quando estiver falando, escute sua própria voz. Qual a quantidade de energia economicamente ideal para dizer o que quer?
Papel Social: O Rochedo
Os representantes mais típicos do Tipo Oito veem-se como um Rochedo, o mais forte e indestrutível, a base para os outros, seja na família ou no círculo profissional. ("Sou duro. É de mim que todos têm de depender.") A identificação, seja consciente ou inconsciente, com a força e a inamovibilidade de uma rocha tem vantagens: reforça a autoconfiança e a iniciativa. Mas, por outro lado, implica a necessidade de suprimir as próprias fragilidades, dúvidas e receios. Além disso, como os representantes dos demais tipos, os do Tipo Oito começam a ficar pouco à vontade na presença das pessoas, a menos que interajam a partir de seu Papel Social.
Transformando-se num rochedo, as pessoas do Tipo Oito acreditam que conseguirão defender-se e evitar as mágoas. Infelizmente, isso as leva a defender-se contra muitas das boas coisas que existem na vida – o carinho, a ternura, a intimidade e a abnegação, por exemplo. Elas precisam ser sempre frias e impermeáveis ao sofrimento e as dificuldades, sejam os seus ou os dos outros.
Arlene, a quem já conhecemos, vê tudo isso como simples fatos:
“Sou uma pessoa instintiva. A cabeça demora a seguir o instinto. Eu vivo muito no futuro. Além disso, consigo facilmente negar ou obliterar meus sentimentos e simplesmente levar a vida em frente quando surge alguma perda.”
Quanto maior o stress, mais duras e agressivas se tornam as pessoas deste tipo. As que se encontram nos Níveis médio-inferiores acham que é perfeitamente justo adotar a linha dura com os demais – como se dissessem: "Quero ver o que vocês vão fazer!" –, pois se veem como lutadoras que só tentam sobreviver num mundo frio e inóspito.
Kit relembra a dificuldade que isso lhe criou na infância:
“Não é que eu quisesse desobedecer. Eu teria gostado de ser uma garota ‘boazinha’ ou, pelo menos, aceitável. Mas eu era impulsiva, queria me impor a qualquer preço e me sentia impelida a seguir meu coração e defender a mim mesma e às minhas convicções. Sempre respondia aos meus pais e era considerada muito impertinente. Quando criança, ficava louca quando minhas intenções eram mal-interpretadas e vistas negativamente. Então, desde cedo comecei a isolar meus sentimentos e a fingir que nada me atingia.”
O Resgate da Intimidade
Especifique ao menos uma área de sua vida – um relacionamento, um local, um momento – na qual não se sente obrigado a ser duro. Procure transportar-se até ela. Como essa área o faz sentir-se? De que forma ela difere de outras áreas de sua vida?
Luxúria e “Intensidade”
As pessoas do Tipo Oito querem sentir-se fortes e autônomas – em outras palavras, querem sentir-se vivas e reais. Assim, a Paixão da luxúria (seu "Pecado Capital") as impulsiona a agir de maneira a estimular a sensação de estar vivas, a viver intensamente. Os relacionamentos, o trabalho e a diversão precisam ser intensos, como se elas tivessem de impor-se constantemente sobre a própria vida.
Porém, a depender do quanto cedam à Paixão da luxúria, essas pessoas ficam presas a um padrão segundo o qual precisam impor a própria vontade sobre o meio (e inclusive as pessoas) para obter a intensidade que tanto desejam. Ironicamente, quanto mais se impõem, menos energia lhes sobra para conectar-se a si mesmas ou a quem quer que seja. Em última análise, quanto mais se impõem, menor a sensação de estar realmente vivas. Os outros – e elas mesmas – tornam-se números, objetos que devem ser manipulados. O resultado é um entorpecimento interior que exige um esforço de superação ainda maior. A intensidade só as faz necessitar de mais intensidade.
Além disso, há algo de temerário nos representantes típicos do Tipo Oito. Eles podem não ser pilotos de automobilismo nem jogadores profissionais, mas todos são viciados na intensidade e na adrenalina presentes na vitória contra os desafios. A princípio, isso pode ser emocionante, mas, com o tempo, se torna esgotante e, afinal, prejudicial à saúde. Para algumas dessas pessoas, o risco está em simplesmente ignorar as advertências contra os maus hábitos alimentares, o cigarro e o álcool. ("Isso não acontecerá comigo. Sou forte demais para que esse tipo de coisa me afete.") A auto-afirmação se transforma então num vício – quanto mais vencem, maior se torna a falsa sensação de onipotência que pode levar a trágicos erros de cálculo.
Outra ironia está na relação que se estabelece entre a luxúria e o controle. Como vimos, as pessoas do Tipo Oito querem sentir-se no comando da situação. Mas estar sob o domínio da luxúria é a antítese do controle: a luxúria é uma reação do eu a algo exterior que o inspira. Cobiçar uma pessoa ou um objeto – seja ele o dinheiro, o poder ou outra coisa é estar sob seu domínio. Como ocorre com os demais tipos, a Paixão é uma distorção que afinal provoca o oposto daquilo que o tipo realmente deseja.
Aumentando a Excitação
Em parte, você gosta de riscos e competições porque aumentam sua sensação de estar vivo. Qual a diferença entre essa sensação e a que você obtém quando relaxa? Você é capaz de relaxar mais neste momento? De que forma isso contribui para sua noção de eu?
O Preço do Controle
Sendo dotados de mentalidade pragmática, os representantes típicos do Tipo Oito geralmente nutrem algum sonho, na maioria das vezes ligado a alguma maneira de ganhar dinheiro, um investimento no comércio ou na bolsa. Esse sonho pode variar do simples (jogar na loteria regularmente) ao complexo (abrir e administrar seu próprio negócio). Nem todas as pessoas do Tipo Oito têm fortuna, mas a maioria está em busca de alguma espécie de "sorte grande" que lhes dê a independência, o respeito e o poder de barganha que tipicamente desejam.
Ed, um terapeuta, relembra o precoce desenvolvimento de seu espírito empreendedor:
“Lembro-me de haver ido a um terreno baldio catar sementes quando tinha 5 anos. Dali eu fui à casa de nossa senhoria, que ficava em frente à nossa, e as vendi por cinco centavos, dizendo-lhe que eram excelente ração para passarinhos. Peguei o dinheiro e fui à delicatessen mais próxima, comprar dois bolinhos. Então fui à quadra de tênis da cidade e vendi cada bolinho por cinco centavos. Com os dez centavos arrecadados, voltei a delicatessen e comprei quatro bolinhos. E aí acaba a história porque, quando voltei à quadra, o dono da cantina me pôs para fora aos berros.”
A depender da intensidade de seu medo da dependência, as pessoas do Tipo Oito desejarão certificar-se de que quem manda são elas. Apesar da satisfação que lhes dá o controle, com isso elas jogam nos próprios ombros a pesada obrigação de administrar tudo. Se tiverem filhos, cuidarão dos problemas práticos da sobrevivência deles, fornecendo-lhes boa comida, abrigo, roupas e educação. Quando dispõem de dinheiro, podem achar que lhes cabe dar carros e casas aos filhos, além de arranjar-lhes um bom emprego. ("Seu velho cuidará de tudo para você.") Essas pessoas despendem uma incrível quantidade de energia elaborando planos, tomando todas as decisões e iniciativas e incitando os outros a implementá-las. Assim, criam em torno de si uma espécie de campo de força que pode ser energético e protetor para uns, intimidante para outros, mas sempre esgotante para elas próprias.
Portanto, a intimidade se torna um problema para os representantes típicos do Tipo Oito. Eles muitas vezes gostariam de aproximar-se das pessoas e manifestar seus fortes sentimentos, mas não sabem como relaxar as defesas, principalmente a necessidade de controle. Em virtude de sua incapacidade de manter um contato emocional mais direto, passam a relacionar-se pela competitividade, pelo desafio e pela fisicalidade. O conflito os estimula e isso acaba se tornando uma fonte de mal-entendidos. As pessoas do Tipo Oito gostam de entrar em discussões acaloradas – inclusive brigas – para terem a chance de provar que não levam desaforos para casa, mas às vezes mostram-se surpresas ao saber que sua contundência magoa muito seus interlocutores. Muitas delas manifestam o quanto se sentem próximas de alguém por meio da sexualidade e do contato físico. Ou então demonstram sua afeição por meio de altercações e outros atos violentos.
Porém essas pessoas não querem que os outros percebam o quanto estão estressadas. Por isso, tentam resolver todos os problemas sem contar nada – ou tudo – a ninguém. Elas tendem a trabalhar demais, viciando-se no stress e na adrenalina, e a não mudar enquanto não sejam obrigadas por algum problema de saúde. Sempre gastando a própria energia até esgotar-se, expõem-se muitas vezes a problemas como ataques do coração, derrames, hipertensão e câncer.
Negando a Própria Ternura
As pessoas do Tipo Oito submetem-se a tremendas pressões para sustentar os outros, ser fortes e jamais chorar, demonstrar debilidade, dúvida ou indecisão. Analise as várias circunstâncias em que já se colocou sob esse tipo de pressão. Em nome de quem você o fez? O resultado compensou o esforço? O que acha que teria acontecido se você não tivesse exigido tanto de si mesmo?
A Presunção de Ser “Maior que a Própria Realidade”
Quando suspeitam que as pessoas não reconhecem o quanto lhes custa "administrar" tudo, os representantes típicos do Tipo Oito fazem questão de relembrar quem é que tem a última palavra. Assim, mostram quem é mais importante fazendo muito barulho – na maior parte, bazófia e bravata – como fazem, no mundo animal, os machos alfa quando querem demarcar seu território, pois gostam de mostrar que são os "manda-chuvas". ("Conheço uma pessoa que pode ajudá-lo. Falarei com ela por você.") Eles podem recorrer a aparentes expressões de generosidade para convencer as pessoas a cooperar com seus objetivos, na base do velho método da cenoura pendurada na ponta da vara – ou fazer tratos do tipo: "Faça isso para mim que eu cuido de você depois". Embora normalmente prefiram usar de estímulo e persuasão para induzir as pessoas a fazer o que eles querem, não hesitarão em tentar abordagens mais agressivas para dominá-las se encontrarem resistência.
Encontrar meios de fazer favores torna-se essencial. Sem alguma espécie de trunfo, sentem-se em desvantagem para lidar com os outros. Ou, pior ainda, podem acabar em débito com alguém sem ter condições de paga-lo – algo que pode deflagrar seu Medo Fundamental.
Além disso, essas pessoas procuram aumentar sempre sua esfera de influência – de certa forma, aumentar os limites de seu ego. ("Este é meu castelo, minha propriedade, minha empresa, minha mulher, meus filhos – tudo é um reflexo meu.") Conceber projetos e levá-los a cabo é uma forma de ganhar um pouco de imortalidade, de anunciar ao mundo: "Eu estive aqui". O tamanho de seu império não é tão importante quanto o fato de ser seu – e de serem eles os que controlam tudo. Se tiverem muito sucesso financeiro, gostam de manter uma entourage e viajar como verdadeiros reis, esperando deferência, obediência e respeito. Quando dão uma ordem, querem que seja cumprida imediatamente e sem questionamentos.
Aposentando o Manda-chuva
Você se orgulha de ser sincero e direto. Qual o seu grau de sinceridade quando tenta impressionar ou subjugar os outros? Como se sente ao colocar as pessoas "nos eixos" dessa forma: mais à vontade consigo mesmo ou menos? Você consegue imaginar alguma maneira mais eficaz de angariar o apoio e a colaboração das pessoas?
Impor-se X Agredir
As pessoas do Tipo Oito gostam de abordagens diretas e desconfiam quando acham que alguém está fazendo rodeios – por isso, o estilo de comunicação de alguns dos outros tipos pode representar um problema para elas: não conseguem entender por que não é tão objetivo quanto o seu. Ao mesmo tempo, certos tipos podem ficar perplexos com a audácia e a contundência demonstradas pelo Tipo Oito.
A razão para isso é que as pessoas do Tipo Oito necessitam de limites muito claros: querem saber em que pé estão com os outros e, num plano mais instintivo, onde elas terminam e onde começam eles. Essas pessoas querem saber o limite de tolerância dos outros e o descobrem testando-o. Se aquele com quem se relacionam não reagir, elas continuarão forçando esse limite até obter uma reação. Às vezes isso implica em alfinetar ou pirraçar o outro. Às vezes a pressão é sexual, mas também pode ser simplesmente a de obter uma resposta imediata.
Devido à contundência de sua vontade de afirmação, muitas vezes intimidam os demais. Por mais que afirmem estar apenas tentando chamar a atenção das pessoas e mostrar-lhes qual a sua posição, não é raro que seu tom direto seja interpretado como raiva ou crítica. Parte do problema está no fato de as pessoas do Tipo Oito não saberem a força que possuem. Como já vimos, elas tendem a empregar mais energia que o necessário em quase tudo que fazem. E, quanto mais inseguras estiverem, maior a probabilidade de impor-se agressivamente. A ironia disso é que, assim, acabam por despertar mais resistência que espírito de cooperação.
Arlene comenta seu estilo, típico do Tipo Oito:
“Dou a impressão de ser invulnerável, ou assim me dizem. Em geral, confio em mim mesma e assumo riscos com facilidade. Muitas vezes, ‘improviso’ antes de conhecer os detalhes da situação. Quase sempre, saio-me bem. Por dentro, porém, nem sempre me sinto tão segura quanto aparento. Isso dificulta as coisas, pois me transforma numa ‘ameaça’ para as pessoas.”
Quando se sentem inseguras ou ameaçadas, as pessoas do Tipo Oito podem tornar-se irritáveis e imprevisíveis. Para os que as cercam, é difícil saber o que as fará explodir: pode ser simplesmente uma refeição que não ficou pronta na hora, uma sala que não foi arrumada do jeito que elas queriam ou um tom de voz. Temendo ser desafiadas ou passadas para trás, as mais problemáticas dentre essas pessoas começam a impor indiscriminadamente a própria vontade. ("É do jeito que eu quero ou rua!" "Faça assim porque eu mandei!")
Outras estratégias típicas que adotam para conseguir o que querem sem recorrer ostensivamente à agressividade são as de debilitar a segurança alheia e dividir para conquistar. Além disso, podem usar de violência verbal, gritando na cara dos outros quando estão zangadas ou frustradas. Evidentemente, se continuarem assim, acabarão fazendo com que eles se reúnam contra elas – justo uma das coisas que mais temem. Quando se deixam levar pelo medo da rejeição ou da invasão, as pessoas do Tipo Oito não conseguem discriminar entre os que de fato as magoaram no passado e aqueles com quem convivem no presente. Elas agem como se eles certamente as fossem tratar com injustiça e decidem usar todas as suas forças para impedir que isso aconteça.
Sentindo a Força de Sua Energia Instintiva
Da próxima vez que sentir vontade de reagir a uma situação, tente fazer uma experiência. Em vez de agir sob a força do impulso, pare, respire fundo e tente perceber como essa força age dentro de você. Tente seguir-lhe o percurso. Qual a sua duração? Ela muda ao longo do tempo? Prestando-lhe atenção, você sente despertarem outros sentimentos? Com uma das mãos, toque suavemente a área em que essa energia mais se concentra. O que acontece?
O medo de ser controladas que têm as pessoas do Tipo Oito é muito fácil de deflagrar. Por conseguinte, elas podem sentir-se controladas mesmo quando não lhes estejam pedindo nada de extraordinário. Não é de admirar que isso lhes crie grandes problemas nos relacionamentos profissionais e íntimos. Elas têm, por exemplo, muita dificuldade de acatar instruções, quanto mais ordens. ("Ninguém vai me dizer o que devo fazer!") Assim, seus maiores recursos – a energia e a força de vontade – acabam sendo desperdiçados em conflitos desnecessários.
Quanto mais desajustado o ambiente da infância, mais controle essas pessoas necessitam ter para sentir-se protegidas. E, à medida que decrescem na escala dos Níveis, precisam de cada vez mais “provas" de sua própria força e capacidade de domínio.
O ex-piloto comercial lan fala com franqueza de sua necessidade de controlar a família, principalmente a mulher:
“Hoje isso não me deixa à vontade, mas, quando era mais jovem, precisava provar para mim mesmo que era o rei da cocada preta em todos os aspectos. Fazia meus filhos acordarem cedo como se fosse um sargento no quartel e controlava inteiramente o orçamento de casa. Minha mulher tinha de me pedir cada centavo, e eu fazia tudo para que ela não tivesse renda própria, tentando impedir que tivesse qualquer liberdade para divertir-se. Sem dinheiro, ela não poderia deixar-me.”
A tendência a lutar pelo controle pode levar ao conflito aberto quando essas pessoas acharem que os outros ganharão vantagem injusta sobre elas. Assim, reúnem a determinação férrea à inesgotável energia para demarcar linhas no chão e desafiar quem quer que se disponha a cruzá-las. ("Não haverá aumento algum e, se você não gostar, pode pedir demissão agora mesmo!") Infelizmente, após dar seus ultimatos – mesmo que no calor da hora –, elas acham que devem ir até o fim. Recuar ou moderar-se lhes parece demonstração de fraqueza, além de tornar provável a perda da independência e do controle.
Se não fizerem alguma coisa, a sede de controle pode levar as pessoas do Tipo Oito a ver os entes queridos como posses. Sua lógica é a seguinte: se dependem delas, é porque são fracos e pouco diligentes. Por conseguinte, não merecem ser respeitados nem tratados como iguais. Havendo passado por cima de sua própria sensibilidade e de suas necessidades emocionais, elas são capazes de ridicularizar ou ignorar as dores alheias. Os mais perturbados sentem-se ameaçados também pelos subordinados que demonstrarem alguma força e podem debilitá-los minando-lhes o equilíbrio e a segurança com ordens arbitrárias e, quando esses expedientes falharem, por meio de ataques verbais fulminantes.
E Se Alguém Fizesse Isso Comigo?
Lembre-se de alguma ocasião em que pressionou alguém a fazer algo contra a própria vontade. Você agora pode imaginar uma outra forma de conseguir o que precisava ou queria? O que você desejava era legítimo? Como seriam as coisas se essa pessoa tivesse simplesmente dado o que você queria sem que precisasse pressioná-la? Da mesma forma, procure lembrar-se de situações em que alguém tentou pressioná-lo. De que forma os métodos dessa pessoa influíram sobre seu desejo de colaborar com ela?
Desafio e Rebeldia
Como meio de impor-se e de desafiar a autoridade, as pessoas do Tipo Oito podem casar-se demasiado jovens ou com alguém que sua família não aprove ou recusar-se a prosseguir nos estudos – ou realizar qualquer outro ato de desafio. Mesmo quando ainda crianças, elas são capazes de uma incrível resistência à autoridade.
Ed relembra:
“Um de meus problemas quando criança era o gênio terrível. O que mais me enfurecia era ver alguém tentando mandar em mim. Lembro-me de um dia em que, voltando da escola, vi uma equipe fazendo reparos na rua. Curioso, fui até lá. Um policial mandou que me afastasse. Eu só tinha uns 8 anos, mas respondi que não sairia dali de jeito nenhum. Ele me levou para casa e disse aos meus pais que eu era ‘o guri mais abusado que ele já tinha visto’”.
Os representantes mais problemáticos deste tipo são rancorosos e tendem a provocar e intimidar de várias formas os que se atravessarem em seu caminho. Esperando encontrar rejeição e antagonismo, eles criam rivalidades mesmo entre antigos amigos e aliados e podem inadvertidamente fazer os próprios familiares voltarem-se contra eles. Então, perguntam-se por que despertam tanta rejeição e ressentimento. Segundo seu ponto de vista, só agiram pelo bem dos outros; eles acabarão vendo isso – algum dia. Seu próprio rancor lhes parece suficiente para justificar a mágoa que causam ou a pressão que exercem
Geralmente, não querem briga, mas estão dispostos a seguir até o fim para fazer o outro recuar, inclusive recorrendo a ameaças do tipo "o pior ainda está por vir". ("Você realmente está pedindo que eu lhe faça isso! Você não quer que eu saia do sério!")
Kit exemplifica a força de vontade e o espírito desafiador do Tipo Oito:
“Eu estava sempre sendo castigada enquanto o resto da família tinha privilégios. Determinada a ganhar a batalha das vontades, eu suportava todos os castigos, pensando que ‘Ninguém pode me fazer nada que eu não queira!’. Assim, ria quando tomava uma surra para não demonstrar fraqueza e preferia ficar trancada horas e horas no quarto a ceder”.
Triunfos Que Custam Caro
Muitos dos problemas de saúde e de relacionamento das pessoas do Tipo Oito devem-se a sua intransigência em voltar atrás, ceder ou demonstrar receio. Responda as seguintes perguntas em um caderno ou diário: quais as suas primeiras lembranças de negar-se a negociar ou ceder? Você consegue recordar algum incidente dos tempos de escola? Algum incidente mais recente? Como eles o fizeram sentir-se fisicamente? E psicológica e emocionalmente? (Seja o mais detalhado possível.) O que foi preciso para que você soubesse que havia "ganho" a batalha? O que a outra pessoa teve de fazer? Como isso o fez sentir-se? Por quanto tempo?
Reação ao Stress: O Tipo Oito passa ao Cinco
Quando as pressões se acumulam, as pessoas do Tipo Oito empregam com afinco redobrado os métodos de resolução de problemas que vinham utilizando até então. Por fim, sua postura provocadora e assertiva as leva a situações que estão acima de suas forças. Quando mordem mais do que podem engolir, podem passar ao Tipo Cinco, buscando uma trégua nos conflitos para traçar estratégias, ganhar tempo e reunir suas forças. Em tais momentos, essas pessoas se tornam figuras solitárias, que passam horas a fio remoendo os fatos, lendo e colhendo informações para avaliar melhor a situação, fazendo questão de dispor do tempo, do espaço e da privacidade para estudar as coisas antes de voltar à ação. Como as pessoas do Tipo Cinco, elas se deixarão absorver por seus planos e projetos, passando a trabalhar até tarde da noite, a evitar os outros e a fazer segredo de suas atividades. Além disso, poderão parecer estranhamente quietas e distantes, surpreendendo os que conhecem bem suas características mais assertivas e apaixonadas.
Como no caso dos representantes típicos do Tipo Cinco, o stress também torna as pessoas do Tipo Oito mais nervosas. Elas passam a minimizar seu conforto e suas necessidades e a cuidar mal de si mesmas. Não é rara a presença de insônia nem a manutenção de dietas pouco saudáveis.
A sensação de rejeição também pode induzi-las a demonstrar alguns dos aspectos mais sombrios do Tipo Cinco. Assim, poderão mostrar-se extremamente cínicas e desprezar as crenças e os valores dos outros. Nos casos mais graves, correm o risco de tornar-se niilistas e desligadas de tudo, com pouca chance de relacionar-se com os outros ou de encontrar algo de positivo em si e no mundo.
A Bandeira Vermelha: Problemas para o Tipo Oito
Se tiverem sofrido uma crise grave sem contar com apoio adequado ou sem outros recursos com que enfrentá-la, ou se tiverem sido vítimas constantes de violência e outros abusos na infância, as pessoas do Tipo Oito poderão cruzar o ponto de choque e mergulhar nos aspectos não-saudáveis de seu tipo. Por menos que queiram, isso poderá forçá-las a admitir que sua atitude desafiadora e suas tentativas de controlar os outros na verdade lhes criaram mais riscos – elas tornaram-se menos, e não mais, seguras. Isso poderá ser vivenciado como um medo de que os outros, inclusive as pessoas de quem mais gostam, queiram deixá-las ou voltar-se contra elas. E, com efeito, alguns desses receios podem ter fundamento.
Por mais difícil que seja, essa conclusão pode representar o início de uma reviravolta na vida dessas pessoas. Se reconhecerem a verdade desses fatos, elas poderão, por um lado, mudar sua vida e dar o primeiro passo rumo à saúde e à libertação. Por outro, poderão tornar-se ainda mais beligerantes, desafiadoras e intimidadoras, tentando desesperadamente aferrar-se ao controle de que dispõem. ("É o mundo contra mim." "Que ninguém nem sonhe em procurar confusão comigo – eu acabo com qualquer um que fizer isso!") Se persistirem nessa atitude, elas se arriscam a ultrapassar a linha divisória que as separa dos Níveis não saudáveis. Se seu comportamento ou o de alguém que você conhece se enquadrarem no que descrevem as advertências da página anterior por um período longo – acima de duas ou três semanas, digamos – é mais que recomendável buscar aconselhamento, terapia ou algum outro tipo de apoio.
Advertências • Sensação paranoica de estar sendo traído por gente "do outro lado" • Isolamento e amargura crescentes • Falta de consciência e empatia; dureza cruel de coração • Episódios de cólera, violência e destrutividade física • Elaboração de planos de vingança e retaliação contra "inimigos" • Visão de si mesmo como "fora-da-lei"; comportamentos criminosos • Episódios de contra-ataque à sociedade (sociopatia)
Potencial Patológico: Distúrbio de Personalidade Anti-social, comportamento sádico, violência física, paranoia, isolamento.
Práticas Que Contribuem para o Desenvolvimento do Tipo Oito
• A sugestão de entrar em contato com seus próprios sentimentos pode ser um clichê da psicologia, mas, no seu caso, é útil. Ninguém duvida da paixão de uma pessoa do Tipo Oito e ninguém melhor que você sabe o quanto, no fundo, quer estar mais perto das pessoas. Mas só você pode aprender a deixar que esses sentimentos venham à tona. A vulnerabilidade diz às pessoas que elas são importantes, que você se interessa por elas. Ninguém está dizendo que é para você entregar seu coração de bandeja, mas negar a mágoa ou atuá-la não será a solução.
• A elaboração do luto é muito importante para as pessoas do Tipo Oito. Você não é de ficar parado sentindo pena de si mesmo por muito tempo, porém, quando estiver sofrendo, tente encontrar uma forma construtiva de lamentar suas perdas e mágoas. Essa sua carapaça não está aí à-toa: talvez seja hora de descobrir algumas das razões.
• As pessoas do Tipo Oito possuem um autêntico instinto de camaradagem e gostam de divertir-se em companhia dos outros, mas isso não é o mesmo que intimidade. Procure encontrar pessoas em quem possa realmente confiar e converse com elas sobre aquilo que o consome. Se já tiver alguém assim, tente abrir-se mais e dar-lhe a chance de fazer o mesmo. Não parta do princípio de que ninguém quer saber de seus sentimentos ou de seus problemas. Além disso, procure ouvir o que lhe dizem quando estiver desafogando suas mágoas. Atente para o fato de estar sendo ouvido e faça o mesmo com os outros.
• Procure dar algum tempo para que sua alma possa restabelecer-se com tranquilidade. Isso não quer dizer assistir televisão, comer nem beber – reserve esse tempo para estar realmente consigo mesmo e apreciar as coisas simples. Inspire-se em seus vizinhos do Tipo Nove e deixe que a natureza revitalize seus sentidos. Embora o seu tipo não seja o primeiro da fila para a aula de meditação, as práticas que objetivam a paz e a quietude são muito úteis na redução de seus níveis de stress.
• O trabalho é importante, e sua família e seus amigos de fato precisam de você e apreciam tudo que você faz para o bem deles. Por isso mesmo, você não deve se matar de trabalhar. O mesmo se aplica à sua falta de moderação nos "vícios": as pessoas do Tipo Oito costumam entrar de cabeça tanto no trabalho quanto na diversão. Um pouco de comedimento em termos de intensidade numa coisa e noutra pode garantir-lhe mais tempo para gozar a vida de forma mais sutil e profunda. Questione essa sua necessidade de intensidade. De onde ela vem? O que aconteceria se você ou sua vida fossem um pouco menos agitados?
• Analise suas expectativas de rejeição. Você sabe quantas vezes espera que as pessoas não gostem de você? Sente que precisa comportar-se de forma a evitar a rejeição? Essas expectativas estão por trás de sua sensação de isolamento e, com o tempo, tornaram-se responsáveis por sua raiva. Qualquer um tem raiva e até ódio quando se sente continuamente rejeitado. Talvez você esteja transmitindo sinais que as pessoas decodificam como rejeição de sua parte, não só por causa de problemas específicos delas, mas também por causa de sua autoproteção. Isso nos leva de volta a questão da vulnerabilidade: os sentimentos bons que você almeja só poderão tocá-lo na medida em que você mesmo o permitir.
Reforçando os Pontos Fortes do Tipo Oito
As pessoas do Tipo Oito são gente de ação e intuição prática. Dotadas de visão, satisfazem-se imensamente sendo construtivas – tanto no sentido literal quanto no figurado. Um elemento crucial em sua liderança é a criatividade prática: elas gostam de construir as coisas do zero, transformando material pouco promissor em algo grandioso. São capazes de ver as possibilidades das pessoas e das situações: uma garagem cheia de trastes pode tornar-se uma loja; o adolescente problemático pode ser o líder. Sua disposição de incentivar e instigar, para que as pessoas deem o melhor de si, as faz ajudá-las a descobrir recursos jamais sonhados. Portanto, uma de suas palavras-chave é "capacitação". As pessoas mais saudáveis deste tipo concordam com as palavras: “De a alguém um peixe e ele comerá por um dia. Mas ensine-o a pescar e ele se alimentará a vida inteira". Elas sabem que são verdadeiras porque já ensinaram a si mesmas a “pescar".
A honra também é importante para as pessoas saudáveis do Tipo Oito: sua palavra é sua garantia. Quando dizem: "Você tem minha palavra", estão falando sério. Elas falam diretamente, sem subterfúgios, e buscam o mesmo nos outros, sentindo-se gratificadas quando são reconhecidas por isso – embora não mudem quando sua honestidade não é apreciada.
Além disso, querem ser respeitadas. Se estiverem na faixa saudável, respeitam a dignidade de toda e qualquer criatura, sentindo-se pessoalmente feridas por qualquer violação aos direitos e às necessidades alheios. A injustiça provoca-lhes reações e atitudes viscerais: são capazes de meter-se em brigas para defender os mais fracos e os que se sentem injustiçados. Fortes e corajosas, mas também humildes e gentis, as pessoas do Tipo Oito são capazes de colocar-se em perigo pelo bem da justiça. As que estão nos Níveis superiores têm a visão, a compaixão e a força para deixar no mundo uma marca indelével.
Diz Roseann, a quem já conhecemos:
“É bom ser do Tipo Oito: como somos fortes e capazes de assumir responsabilidade em qualquer situação, as pessoas nos respeitam e nos querem perto delas. Lembro-me de uma sensação muito boa quando cheguei correndo à casa de uma amiga que me pedira ajuda, pois estava sendo perseguida por um ex: ‘Graças a Deus você veio. Tenho a sensação de que a própria Marinha acabou de aportar!’, disse ela.”
O controle, nas pessoas saudáveis, assume a forma do autodomínio. Elas sabem que, na verdade, é contraproducente "declarar guerra ao mundo" todo dia. Num nível mais profundo, o controle não constitui uma meta importante para essas pessoas; em vez disso, ele é o desejo de exercer uma influência benéfica sobre as pessoas e sobre o mundo. Seu equilíbrio as faz compreender que esse tipo de influência decorre da fortaleza interior, e não da contundência, da imposição da própria vontade nem, muito menos, da queda-de-braço. Elas reconhecem que controlar pessoas e situações é, no fundo, uma forma de prisão. A verdadeira liberdade e independência vêm por meio de uma relação mais simples e relaxada com o mundo.
Finalmente, os representantes saudáveis do Tipo Oito são magnânimos, possuindo uma generosidade que lhes permite transcender seus próprios interesses. Eles sentem-se seguros o bastante para demonstrar um pouco sua vulnerabilidade, o que os torna capazes de admitir o quanto se importam com os outros. Isso transparece em sua atitude protetora, defendendo os amigos contra as ameaças do valentão da escola ou os colegas de trabalho contra uma política injusta. Eles estão sempre dispostos a assumir pressões e críticas, fazendo o que é preciso para proteger aqueles que estão sob sua responsabilidade.
Quando isso acontece, os representantes do Tipo Oito atingem um grau ainda maior de grandeza em tudo aquilo que fazem para o bem de sua família, da nação e do mundo, o que os torna muito respeitados e honrados. Assim, atingem uma espécie de imortalidade que os eleva à qualidade de heróis. A História registra diversos representantes da faixa saudável deste tipo que assumiram a defesa de algo superior a si mesmos – às vezes até superior à sua compreensão imediata. O legado de sua determinação e de sua luta persiste até nossos dias em grande parte do bem que existe no mundo.
O Caminho da Integração: O Tipo Oito Passa ao Dois
As pessoas do Tipo Oito concretizam seu potencial e se mantêm na faixa saudável quando aprendem a abrir seu coração para os outros, como as que estão na faixa saudável do Tipo Dois. Elas não precisam adquirir nenhuma nova qualidade para que isso ocorra; precisam simplesmente retomar o contato com o próprio coração para perceber quanto carinho e interesse lhes inspiram os demais. Muitas vezes, essas pessoas descobrem em si esse lado por meio do amor das crianças e dos animais. As crianças conseguem fazer muitas pessoas do Tipo Oito mostrarem o que têm de melhor, pois prezam a inocência infantil e desejam protegê-la. Ao lado delas e dos animais, conseguem baixar a própria guarda e deixar que transpareça um pouco de sua ternura.
Para estar à altura de sua própria grandeza de coração, as pessoas do Tipo Oito precisam primeiro ter coragem de revelá-la. Isso exige que confiem em algo além de sua inteligência e seu poder – o que, naturalmente, requer que abandonem muitas de suas defesas clássicas. Não importa quão rancorosa e fechada possa haver-se tornado uma pessoa do Tipo Oito, a criança sensível que decidiu proteger-se ainda está lá dentro, à espera da oportunidade de rever a luz do dia.
Todavia, é importante observar que a passagem ao Tipo Dois não significa a mera imitação de suas características típicas. A tentativa forçada de agradar ou lisonjear as pessoas não conseguirá muito, a não ser revelar seu artificialismo. Em vez disso, as pessoas do Tipo Oito devem procurar renunciar as suas defesas e ouvir mais seu próprio coração. Naturalmente, surgirá de imediato o medo da vulnerabilidade. Porém, à medida que o admitirem e o deixarem esvair-se, começarão a sentir-se mais à vontade diante de seus sentimentos mais ternos.
Quando seguem o caminho da integração, as pessoas do Tipo Oito podem tornar-se grandes líderes, pois conseguem transmitir claramente o profundo respeito e a estima que sentem pelos seus semelhantes. Além disso, são muito eficientes porque, como as pessoas saudáveis do Tipo Dois, reconhecem seus próprios limites. À medida que aprendem a cultivar-se, cuidar-se e aceitar sua vulnerabilidade, contribuem para melhorar sua saúde e seu bem-estar: podem trabalhar muito, mas sabem quando é chegada a hora de parar para restabelecer as forças. Além disso, mesmo na diversão, dão preferência a atividades que realmente as enriqueçam, e não simplesmente satisfaçam seu apetite de intensidade.
A Transformação da Personalidade em Essência
À medida que conseguem aceitar a própria vulnerabilidade, as pessoas do Tipo Oito descobrem o caminho de volta à Presença, abandonando gradualmente aquela auto-imagem segundo a qual precisam sempre demonstrar força e capacidade de controle. Se persistirem, terminarão por enfrentar seu Medo Fundamental de ser magoadas ou controladas pelos outros e compreender como ele surgiu em sua vida. Vencendo-o, tornam-se menos presas ao Desejo Fundamental de proteger-se a qualquer custo.
Quando alguém se liberta do Medo e do Desejo Fundamentais, o que sucede é o oposto do que acontece nos Níveis de Desenvolvimento inferiores. O desejo de auto-suficiência e de afirmação inerente à estrutura de personalidade do Tipo Oito se desmancha, dando lugar à verdadeira força Essencial. Isso permite as pessoas deste tipo colocar-se a serviço de causas que transcendem o pessoal. Quando o conseguem, elas podem demonstrar espírito extraordinariamente heroico, como é o caso de Martin Luther King, Jr., Nelson Mandela e Franklin Roosevelt. Esses homens renunciaram à preocupação com sua própria sobrevivência para tornar-se veículos de uma causa sublime. ("Se me matarem, matarão apenas um ser humano – cedo minha vida para que a visão continue viva.") Algo profundamente nobre e inspirador surge da liberdade decorrente da superação do Medo Fundamental.
A Manifestação da Essência
No íntimo, as pessoas do Tipo Oito recordam a alegria simples de viver: a incomparável satisfação de estar vivo, principalmente no plano mais visceral e instintivo. Elas ainda mantêm algum contato com a pureza e a força das reações instintivas, lembrando-nos a todos que estas também são parte da ordem Divina. Se não estivermos ligados a nossos próprios instintos, ficaremos privados do principal combustível da transformação.
O reflexo da Essência nas pessoas do Tipo Oito não se deixa levar pelas palavras belas e falsas que a personalidade engendra, mas fomenta o surgimento de representações mais simples e impessoais da verdade. Ichazo chamou a isso "Inocência" e, de certa forma, as pessoas do Tipo Oito anseiam por reaver a inocência que conheceram quando crianças – uma inocência que se sentiram obrigadas a abandonar para tornar-se fortes.
As pessoas do Tipo Oito manifestam também a inocência da ordem natural, aquela na qual todas as criaturas do universo manifestam a própria natureza. Um gato inocentemente age como gato, inclusive quando espreita a presa. Um pássaro inocentemente age como pássaro, e um peixe, como peixe. Só a humanidade é que parece haver perdido essa capacidade nata. Poderíamos dizer que a natureza Essencial do Tipo Oito nos relembra o que é ser inteiramente humano, vivo, parte de uma ordem natural vasta e perfeitamente equilibrada.
Quando deixam de lado sua voluntariosidade, as pessoas do Tipo Oito descobrem a Vontade Divina. Em vez de procurar o poder pela imposição do próprio ego, elas se alinham ao Poder Divino. Em vez de agir como se estivessem contra o mundo, elas veem que têm nele um papel a cumprir o qual, se desempenhado com sinceridade, pode garantir-lhes um lugar no panteão da imortalidade, entre os grandes heróis e santos da História. A libertação lhes confere o poder de inspirar os outros a também agir com heroísmo, o que pode significar uma influência que perdura por séculos.
As pessoas do Tipo Oito recordam ainda a força e a onipotência de participar da realidade Divina. A vontade Divina não é o mesmo que voluntariosidade. Quando entendem isso, elas cessam sua guerra contra o mundo e descobrem que a integridade, o poder e a independência que vinham procurando já lhes pertenciam. Eles fazem parte de sua verdadeira natureza; da mesma forma que são da verdadeira natureza de todos os seres humanos. Quando vivenciam essa verdade em toda a sua profundidade, essas pessoas conseguem simplesmente Ser, sentindo-se em harmonia com o universo e com o incessante mistério da vida.
Níveis de Desenvolvimento
Saudável
Nível 1 (Entrega, Heroísmo): As pessoas do Tipo Oito deixam de acreditar que precisam estar sempre no comando de todas as situações, o que lhes permite baixar a guarda e curar seu coração. Assim, paradoxalmente realizam seu Desejo Fundamental: protegem-se e, ao mesmo tempo, se entregam, tornando-se magnânimas, generosas e, por vezes, heroicas.
Nível 2 (Auto-suficiência, Força): As pessoas do Tipo Oito empenham-se com toda a energia e força de vontade em tornar-se independentes e em controlar a própria vida. São dotadas de muito vigor e voltadas para a ação. Auto-imagem: "Sou uma pessoa assertiva, direta e cheia de recursos".
Nível 3 (Autoconfiança, Liderança): As pessoas do Tipo Oito reforçam sua auto-imagem enfrentando desafios. Provam sua força por meio da ação e da realização, mas também procuram proteger os outros e dar-lhes chances de cultivar as próprias forças. Estrategistas e decididas, gostam de encabeçar projetos construtivos.
Média
Nível 4 (Iniciativa, Pragmatismo): Temendo não dispor dos recursos necessários para levar a cabo seus projetos ou cumprir o papel de provedoras, as pessoas do Tipo Oito dedicam-se com diligência e perspicácia a obtê-los. Seu caráter mais empreendedor e competitivo as torna mais reservadas quanto aos sentimentos.
Nível 5 (Dominação, Auto-exaltação): As pessoas do Tipo Oito receiam não ser respeitadas ou receber o que lhes é devido. Por conseguinte, tentam convencer os outros de sua importância: vangloriam-se, blefam e fazem grandes promessas para conseguir adesão aos seus planos. Orgulhosas e obstinadas, querem que todos saibam que são elas que mandam.
Nível 6 (Intimidação, Provocação): As pessoas do Tipo Oito temem perder o controle da situação e o apoio dos demais. Assim, recorrem a opressão e a ameaça para conseguir o que querem, mostrando-se mal-humoradas e irresponsáveis perante as suas obrigações.
Não-saudável
Nível 7 (Ditatorialismo, Crueldade): As pessoas do Tipo Oito temem que os outros estejam contra elas, o que pode ser verdade. Sentindo-se traídas e incapazes de confiar em quem quer que seja, decidem proteger-se a qualquer custo. Vendo-se como proscritas, comportam-se de modo socialmente intolerável, podendo mostrar-se predatórias, vingativas e violentas.
Nível 8 (Megalomania, Intimidação): Desesperadas por proteger-se e apavoradas com a possibilidade de retaliação contra seus próprios atos, as pessoas do Tipo Oito partem para o ataque de seus supostos rivais antes mesmo que lhes façam alguma ameaça. Não respeitam nenhum limite e, assim, rapidamente perdem qualquer escrúpulo. A ilusão de invulnerabilidade pode levá-las a colocar em risco a si mesmas e aos demais.
Nível 9 (Sociopatia, Destruição): Convencidas de haver criado inimigos capazes de derrotá-las, as pessoas menos saudáveis do Tipo Oito preferem destruir implacavelmente a deixar que alguém triunfe e venha a controlá-las. Assim, podem deixar atrás de si um rastro de destruição que inclui até a possibilidade de homicídio.
(Traduzido de "The Wisdom of the Enneagram", de Don Richard Riso & Russ Hudson, por ~mamado frentista)
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