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Eneagrama: Tipo Nove – O Pacifista

  • Foto do escritor: 16MM
    16MM
  • 25 de abr. de 2020
  • 38 min de leitura

Atualizado: 26 de abr. de 2020

O Tipo Descomplicado, Discreto:

Receptivo, Tranquilizador, Agradável e Complacente


  • Medo Fundamental: O da perda e da separação; o da aniquilação.

  • Desejo Fundamental: Manter o equilíbrio interior e a paz de espírito.

  • Mensagem do superego: “Você estará bem se os que o rodeiam também estiverem.”


As pessoas do Tipo Nove costumam identificar-se erroneamente como pertencentes ao Tipo Dois, Cinco ou Quatro. As dos Tipos Seis, Dois Sete costumam identificar-se erroneamente como pertencentes do Tipo Nove.


Chamamos este tipo de personalidade de o Pacifista porque nenhum outro é mais dedicado a busca da paz interior e exterior, para si e para os demais. Seus representantes muitas vezes abrigam um anseio de busca espiritual, de ligação com o cosmo e com as pessoas. Eles se esforçam por manter sua paz de espírito tanto quanto para estabelecer a paz e a harmonia no mundo em que vivem. As questões mais vivenciadas por este tipo são fundamentais a todo trabalho interior: despertar X adormecer para a nossa verdadeira natureza, presença X transe, tensão X relaxamento, paz X sofrimento, união X separação.

Ironicamente, sendo um tipo tão voltado para o mundo espiritual, o Nove está no centro da Tríade do Instinto e é aquele que potencialmente está mais ligado ao mundo físico e ao próprio corpo. A contradição se resolve quando atentamos para o fato de que seus representantes ou estão em contato com seus instintos e possuem uma tremenda força primitiva, um forte magnetismo pessoal, ou se abstraem deles e tornam-se alheios e distantes, até superficiais.

Para compensar a perda de contato com a energia dos instintos, as pessoas do Tipo Nove também se recolhem à imaginação e as fantasias. (Por isso, seus representantes às vezes identificam-se erroneamente como pertencentes aos Tipos Cinco e Sete, regidos pela mente, ou aos Tipos Dois e Quatro, regidos pelos sentimentos. Além disso, quando suas energias instintivas entram em desequilíbrio, eles as acabam usando contra si próprios, reprimindo sua própria força até tornar-se psiquicamente inertes. Quando essa energia não é utilizada, estagna-se como um lago que transborda até represar a nascente que o alimenta. Porém, quando estão em harmonia com seu Centro Instintivo e a energia que lhe é própria, eles tornam-se como um grande rio que a tudo transporta em seu leito.

O Tipo Nove já foi denominado a coroa do Eneagrama porque está no alto do símbolo e parece abarcar tudo que ele contém. Seus representantes são capazes de exibir a força do Tipo Oito, o espírito brincalhão e aventureiro do Tipo Sete, o caráter consciencioso do Tipo Seis, o intelectualismo do Tipo Cinco, a criatividade do Tipo Quatro, o poder de atração do Tipo Três, a generosidade do Tipo Dois e o idealismo do Tipo Um. Entretanto, o que eles geralmente não demonstram é estar dentro de si mesmos – uma noção mais forte de sua própria identidade.

Ironicamente, portanto, o Tipo Nove só não é como ele mesmo. A ideia de ser um eu à parte, um indivíduo que precisa se impor diante dos demais, apavora seus representantes – eles preferem fundir-se com outra pessoa ou entregar-se silenciosamente aos seus idílicos devaneios.

Red, um consultor de mercado nacionalmente conhecido, comenta essa tendência:

“Estou consciente de que me concentro nas pessoas, quero saber como elas são, onde e como vivem, etc. Nos relacionamentos, geralmente abro mão de meus planos em favor dos planos do outro. Tenho de estar sempre alerta quanto a ceder às exigências alheias em detrimento de minhas próprias necessidades.”

As pessoas do Tipo Nove demonstram a tentação universal de ignorar os aspectos mais perturbadores da vida e buscar um pouco de paz pelo adormecimento, elas reagem à dor e ao sofrimento tentando atingir um estado prematuro de paz, seja ele uma falsa conquista da espiritualidade ou uma negação maior. Essas pessoas demonstram, mais do que a maioria, a tendência de fugir às tensões e aos paradoxos da vida pela tentativa de transcende-los ou de buscar soluções simples e indolores para os problemas.

Pensar no que a vida tem de bom naturalmente não é mau – só que é uma abordagem limitada e limitante da vida. Se as pessoas do Tipo Nove procuram ver o lado bom das coisas para se proteger das vicissitudes da vida, os outros tipos também têm suas próprias distorções. O Quatro, por exemplo, concentra-se em suas próprias feridas e em seu papel de vítima; o Um, no que há de errado nas coisas e assim por diante. Já o Nove se prende ao lado bom da vida, de forma a não deixar que sua paz de espírito se abale. Porém, em vez de negar o lado sombrio da vida, seus representantes deveriam compreender que todas as perspectivas propostas pelos outros tipos também são verdadeiras. Eles precisam resistir ao impulso de fugir do mundo real para um "prematuro estado zen" ou para a "branca luz" do Divino e lembrar-se que a única saída passa por uma coisa e pela outra.


O Padrão da Infância


(Favor observar que o padrão da infância aqui descrito não provoca o tipo de personalidade. Em vez disso, ele descreve tendências observáveis na tenra infância que têm grande impacto sobre os relacionamentos que o tipo estabelece na vida adulta.)


Muitas das pessoas do Tipo Nove relatam haver tido uma infância feliz, mas esse nem sempre é o caso. Quando a infância é mais conturbada, as crianças deste tipo aprendem a defender-se dissociando-se das ameaças e traumas que as afligem, adotando o papel do Pacifista ou Mediador nos conflitos familiares. Elas aprendem que a melhor maneira de manter a harmonia no lar é "desaparecer" e não criar problemas para ninguém e que, se não fizerem exigências nem tiverem expectativas – em resumo, se não derem trabalho – conseguirão acalmar Mamãe e Papai, além de proteger-se. (No contexto de um sistema familiar inadequado, o termo que mais se aplica neste caso é o do Filho Perdido.) A sensação é a seguinte: "Se eu aparecer e me impuser, vou acabar criando ainda mais problemas. Portanto, se não atrapalhar, a família permanecerá unida".

Georgia, uma famosa terapeuta, vem se dedicando ao Trabalho Interior há vários anos:

“Minha mãe era alcoólatra e tinha temperamento instável. Então, quando eu era criança, esforçava-me por não atrapalhar nem criar problemas. Dessa forma, aprendi a ficar à margem da vida e a ser complacente com as necessidades alheias. Eu tinha medo de não ser amada se me impusesse. Optei por viver minha vida de uma forma mais interiorizada, que na verdade me enriquecia muito, e por não enfrentar as pessoas.”

As crianças do Tipo Nove crescem pensando que não é permitido ter necessidades, impor-se, sentir raiva ou criar dificuldades para os pais. Por conseguinte, elas jamais aprendem a impor-se adequadamente ou, por extensão, a realizar-se independentemente de seus pais e entes queridos. Essas crianças aprendem a permanecer em segundo plano, onde as coisas não podem atingi-las. Na vida adulta, seu espaço psíquico é tão ocupado pelos problemas e planos daqueles a quem tentam atender que, muitas vezes, essas pessoas não conseguem distinguir seus próprios desejos e necessidades.

Além disso, elas aprendem a reprimir tão completamente a raiva e a própria vontade que perdem a consciência de nem sequer tê-las. Aprendendo a ajustar-se a tudo aquilo que lhes é apresentado, raramente ocorre a essas pessoas perguntar-se o que desejam, pensam ou sentem. Em decorrência disso, geralmente precisam de algum esforço para descobrir o que querem para si mesmas.

Red passou anos trabalhando as questões da discrição e da raiva reprimida:

“Tenho a clara noção de haver sido deixado de lado por ser um 'menino tão bonzinho'. Minha mãe costuma elogiar o 'anjo' que eu era, pois podia ser deixado sozinho horas a fio e, ainda assim, me distraía. Acho que minha mãe é do Tipo Nove e que eu captei muito de sua filosofia de vida. (...) Quando havia conflitos com meu pai, ela dizia-lhe coisas como: 'Não vire o barco' e 'Se não tem nada a dizer, não diga nada'. Outra coisa que ela sempre dizia era: 'Quando um não quer, dois não brigam' – o que era sua forma de me dizer que podia acabar uma briga evitando discutir.”

Em famílias muito desajustadas, as crianças deste tipo podem haver sofrido trauma emocional, físico ou sexual. Nesse caso, elas aprendem a proteger-se contra os sentimentos mais intoleráveis dissociando-se ou fechando-se. De um certo modo, é bom que elas não estejam conscientes das lembranças traumáticas ou da raiva, mas, por outro lado, isso acarreta um deficit na capacidade de deixar-se afetar profundamente pela realidade. Tais indivíduos poderão perder-se em fantasias ou concentrar-se exclusivamente no que for positivo e pacífico – por mais ilusório que isso possa revelar-se depois.

André é um bem-sucedido corretor imobiliário que atua numa grande metrópole. Boa parte do seu sucesso se deve ao fato de ser natural e despretensioso, traços comuns ao Tipo Nove, embora aprendidos a um custo muito alto:

“Minha mãe passou grande parte da minha infância deprimida. Eu sabia que, quanto menos trabalho lhe desse, mais seguro estaria. Assim, tentava ajustar-me o mais que podia. Ia muito ao quintal da casa da minha avó, ficar entre as árvores enormes e todos os animais que lá havia.”

Os Subtipos Conforme As Asas


Tipo Nove Com Asa Oito: O Árbitro


Faixa saudável: As pessoas deste subtipo aliam a capacidade de agradar e confortar a força e resistência. Fortes e agradáveis, elas facilmente se entrosam com as pessoas e as coisas que as cercam, servindo de mediadoras e atenuando conflitos. Muitas vezes, buscam novos projetos para sair um pouco da rotina normal. Além disso, são práticas e costumam preocupar-se com suas necessidades imediatas e sua situação física e financeira. Mais sociáveis que as pessoas do outro subtipo, elas geralmente preferem trabalhar em equipe. Sobressaem-se nas profissões ligadas à área da assistência e consultoria e podem dar-se muito bem no comércio, principalmente nas áreas de negociações e recursos humanos.

Faixa média: Essas pessoas gostam de socializar-se e divertir-se, estando propensas a excessos que interferem com a capacidade de concentrar-se em metas mais significativas. Elas podem ser defensivas e teimosas, tendendo a empacar e recusar-se a dar ouvidos aos outros. As pessoas deste subtipo são muitas vezes geniosas, embora dificilmente se possa prever o que as provocará – em geral, ameaças ao que consideram seu bem-estar pessoal ou à sua família, emprego ou crenças. Às vezes se mostram explosivas e cortantes, mas logo recuperam a calma habitual.

Exemplos: Ronald Reagan, Wiz Khalifa, Chuck Schuldiner, Austin Richard Post, Rihanna, “Marceline, a Rainha dos Vampiros”, “Saitama”, “Pocahontas”, “Sans” (Undertale), “Harry Potter”.


Tipo Nove Com Asa Um: O Sonhador

Faixa saudável: Imaginativas e criativas, as pessoas deste subtipo muitas vezes são capazes de sintetizar diferentes escolas de pensamento ou pontos de vista numa visão de um mundo ideal. Elas são particularmente hábeis na comunicação não-verbal (arte, música instrumental, dança, esportes ou trabalho com os animais e a natureza) e podem dar-se muito bem em grandes instituições. São tipicamente amigáveis e tranquilizadoras, mas possuem uma noção muito definida de seus objetivos e, em especial, de seus ideais. Geralmente dão bons terapeutas, conselheiros ou pastores, pois aliam a capacidade de ouvir sem julgar ao desejo de ajudar aos outros.

Faixa média: As pessoas deste subtipo querem que a ordem externa seja um meio de ordenar o mundo interior. Apesar disso, tendem a perder-se em ocupações e atividades de pouca importância. Elas podem ser enérgicas, mas de uma maneira distante, que interfere com a capacidade de levar adiante os objetivos de longo prazo ou de cooptar colaboradores. Mais reservadas que as pessoas do outro subtipo, elas demonstram a raiva com comedimento e ardente indignação. Além disso, preocupam-se com a questão da respeitabilidade e muitas vezes sentem-se moralmente superiores às pessoas de classes, culturas e estilos de vida diferentes dos seus. Pode haver nelas um veio um tanto puritano, que dá ao seu estilo pessoal um toque correto e formal.

Exemplos: Hayao Miyazaki, Lionel Messi, Selena Gomez, Lily Collins, Bob Ross, Ed Sheeran, Aurora, “Sally” (O Estranho Mundo De Jack), “Alphonse Elric”, “Luke Skywalker”.


As Variantes Instintivas

O Instinto de Autopreservação (self-preservation/sp) no Tipo Nove

O Que Busca o Conforto. Os típicos Autopreservacionistas do Tipo Nove são pessoas agradáveis, de trato fácil, que não pedem muito da vida. Elas preferem os prazeres simples e de fácil obtenção: comer no restaurante fast-food mais próximo, ver a reprise de um clássico na TV e apagar" numa poltrona confortável. Embora possam ser muito talentosas, em geral são pouco ambiciosas. Sua forma característica de lidar com ansiedade é envolver-se na rotina, podendo valer-se de afazeres corriqueiros para evitar lidar com grandes planos e desafios. Essas pessoas às vezes se deixam atrair cada vez mais por pequenas recompensas como forma de compensar a incapacidade de realizar os seus verdadeiros desejos – mas sempre com alguma ansiedade reprimida por não satisfazer suas verdadeiras necessidades.

A inércia característica deste tipo transparece mais visivelmente nesta variante. A apatia e o desleixo podem dificultar a essas pessoas a iniciativa para obter o que realmente desejam ou cuidar de suas necessidades básicas. Elas podem recorrer cada vez mais à comida e à bebida como meio de suprimir a raiva e a ansiedade e, como geralmente têm bom apetite, há uma propensão ao vício. Essas pessoas não querem que ninguém perturbe sua agradável disposição de espírito e muitas vezes resistem às interferências mantendo-se teimosamente caladas.

Na faixa não saudável, os Autopreservacionistas do Tipo Nove caem em profunda apatia diante da vida e podem sofrer de fadiga e baixo índice de desempenho. Nesse caso, tornam-se sedentárias crônicas, fecham-se emocionalmente e, aos poucos, vão desperdiçando a saúde, os relacionamentos e as oportunidades. Vícios e dependências são comuns.

O Instinto Social (so) no Tipo Nove

A Família Feliz. Os representantes Sociais típicos do Tipo Nove são os que mais se interessam em aproximar as pessoas e promover a paz. Eles gostam de envolver-se com os outros, de tomar parte no que acontece, mas também resistem à ideia de atender a demasiadas expectativas. Assim, podem estar fisicamente presentes, mas mental e emocionalmente distantes. Eles geralmente têm um alto nível de energia e gostam de atividade, contanto que dentro de estruturas familiares, predefinidas. Embora não se neguem a colaborar com as pessoas, gostam de saber exatamente o que se espera deles. Surpreendentemente, essas pessoas podem ser muito convencionais e conformistas, no sentido de cumprir as expectativas de seu círculo social, mas também se mostram ansiosas diante da possibilidade de perder a própria identidade, de tornar-se um apêndice ou "clone" de outrem.

A insegurança quanto ao seu próprio valor, juntamente com o desejo de agradar e adaptar-se, leva essas pessoas a ter dificuldade em dizer "não". Todavia, elas normalmente acabam resistindo de alguma maneira, em geral passivo-agressiva. A tentativa de agradar as diversas pessoas e grupos sociais de sua vida pode levá-las à dispersão e ao desencantamento, como no caso do Tipo Sete. Essas pessoas muitas vezes têm problemas quando precisam traçar metas pessoais e levá-las a cabo.

Na faixa não saudável, os representantes Sociais do Tipo Nove podem mostrar-se resignados e deprimidos diante de sua falta de desenvolvimento. Sua grande insegurança e carência em geral são mascaradas pela insipidez no plano emocional. As demonstrações de raiva e indignação poderão afastar os demais, aumentando assim a sensação de isolamento.

O Instinto Sexual (sx) no Tipo Nove

Fusão. Os típicos representantes Sexuais do Tipo Nove querem assumir as qualidades mais enérgicas do outro, e isso os leva a gravitar em torno de tipos agressivos. Assim, poderão eles próprios também demonstrar alguns traços acessórios de agressividade. Tendem a ser mais atrevidos que os representantes das demais variantes, e sua ira é facilmente despertada quando pressentem ameaças aos seus relacionamentos. Eles buscam uma parceria completa, pensando nela como "nossa" – em vez de "minha" – vida. É como se quisessem que o outro se integrasse a eles. Muitas vezes o idealizam, sem querer enxergar seus defeitos, mas podem também tornar-se críticos e exigentes, principalmente se tiverem Asa Um. Os elogios que o outro merece são elogios ao eu; o mesmo vale para as ofensas e decepções.

O outro torna-se o centro de gravidade, o eixo da identidade dos representantes Sexuais do Tipo Nove. Por conseguinte, podem não conseguir desenvolver uma identidade própria e estabelecer sua independência. Eles podem ser criaturas de um extremo romantismo, lembrando assim os representantes do Tipo Quatro. No quadro final podem entrar fantasias irrealistas de salvação – o "complexo de Cinderela" – ilusões, e apego excessivo aos entes queridos.

Na faixa não saudável, essas pessoas tornam-se extremamente dissociadas e deprimidas, aparentando não possuir um eu central. Incapazes de fundir-se adequadamente ao outro, sentem-se perdidas. Fantasias com o outro mesclam-se a fantasias de raiva e vingança, embora raramente atuadas. Elas acabam tendo relacionamentos cuja tônica é a dependência ou lutando sozinhas, à espera de um. Há também a possibilidade de o eu tornar-se uma função de antigos relacionamentos. ("Meg e eu éramos o mais perfeito dos casais. Sinto tanto a sua falta desde que ela morreu.")

A seguir, alguns dos problemas mais frequentes no caminho da maioria das pessoas do Tipo Nove. Identificando esses padrões, "pegando-nos com a boca na botija" e simplesmente observando quais as nossas reações habituais diante da vida, estaremos dando um grande passo para libertar-nos dos aspectos negativos de nosso tipo.

O Sinal de Alerta para o Tipo Nove: Dizem “Amém” a Tudo


A partir dos Níveis médios, as pessoas do Tipo Nove sofrem a tentação de ser demasiado condescendentes por temer que, entrando em choque com os outros, perderão a relação que têm com eles. Por exemplo, se o parceiro lhes pergunta aonde gostariam de ir jantar, elas bem podem responder: "Tanto faz, amor – qualquer lugar que você queira está bom para mim".

Dito de modo simples, essas pessoas podem criar o hábito de dizer "amém" a coisas que na verdade não querem fazer. Essa estratégia pode evitar discordâncias de imediato, mas inevitavelmente levará a ressentimentos de parte a parte. Além disso, no caso deste tipo o ressentimento geralmente reverte em comportamento passivo-agressivo - concordar em fazer alguma coisa e depois não cumprir o trato – o que por fim gera conflitos e mal-entendidos muito maiores. A acomodação também as sujeita a ser exploradas, já que estão sempre dispostas a pagar caro para manter a paz.

Hope, uma eficiente terapeuta, reconhece esse padrão em si mesma:

“Sempre fui apaziguadora demais, comedida demais, uma "mosca morta". Lembro-me de várias vezes em que devia defender-me, defender alguém, e não o consegui. Geralmente a causa era uma mistura do medo de conflitos, do medo de que a situação piorasse e do desejo de que "todos se dessem bem uns com os outros". Em grande parte de minha vida, subestimei minha capacidade, fosse nos esportes ou na profissão, a fim de ficar em segundo plano e não sobressair. O importante era ajudar os outros a chegar à linha de frente, não a mim mesma.”

A acomodação e a discrição marcam o início do "ato de desaparecimento" do Tipo Nove. Em vez de impor-se e correr o risco de afastar as pessoas, seus representantes começam a sumir adotando papéis convencionais e a esconder-se por trás de slogans e lugares-comuns. Se a ansiedade e os conflitos aumentarem, eles tornam-se quase invisíveis. Isso se deve ao fato de estarem tentando adaptar-se às circunstâncias, “não ser um problema” – só que se acabam perdendo no processo.

Hope fala a respeito de um desses momentos:

“Quando estava no primeiro grau, ainda afirmando minha independência, disse à professora que não copiaria o que estava escrito no quadro. Ela veio até onde eu estava e sacudiu meu queixo com toda a força. Jamais voltei a criar problemas na escola ou na igreja. Tornei-me uma "boa menina" fazia tudo o que lhe mandavam.”

Dizer “Sim” Quando Se Quer Dizer “Não”
Pense nas ocasiões em que concordou em seguir os planos e as preferências alheios, em vez de ficar com suas próprias opções. O que isso representou para sua sensação de participação? E para seu contato consigo mesmo e com sua própria experiência? Você se ressentiu por aquiescer? Como você prescindiu de sua opção? O que esperava ganhar fazendo isso?

Papel Social: Uma Pessoa Como Todo Mundo

Os representantes típicos do Tipo Nove começam a criar um certo Papel Social ao ver-se como Uma Pessoa Como Todo Mundo, aquele individuo modesto que se contenta em ficar em segundo plano e não causar problemas a ninguém. ("Não precisa me comprar um presente de aniversário. Sei que você gosta de mim.") Eles acham que sua presença, suas opiniões e sua participação na verdade não importam e não trazem nenhuma consequência especial. Por mais limitante que isso seja de um certo ponto de vista, essas pessoas sentem-se bem dentro dessa autodefinição – ela lhes permite minimizar as próprias esperanças e expectativas, de maneira a não se expor ao risco da frustração, rejeição, raiva e decepção.

O Papel Social do Tipo Nove é um pouco difícil de perceber a princípio, mas torna-se palpável a partir do instante em que é vivenciado. A sua identidade é como a garra que sustenta a pedra de um anel ou a moldura de um quadro. Sua atenção se volta para a pedra ou a pintura, não para si, e a identidade e auto-estima surgem por meio da relação (mesmo que apenas imaginária) com aqueles que aparentemente têm maior valor.

Identificando-se como Uma Pessoa Como Todo Mundo, os representantes do Tipo Nove ganham uma certa camuflagem, uma capacidade de mimetizar o ambiente que lhes garantirá não ser perturbados. Esse Papel Social lhes dá também a esperança de que, se não cuidarem de si mesmos, os outros percebam sua discreta humildade e corram para ajudá-los. Além disso, essas pessoas imaginam que, sendo discretas e humildes, a vida as poupará da tristeza e dos reveses. Infelizmente, nem sempre as coisas correm dessa maneira e, colocando-se em último plano, elas tendem a atrair a si um certo grau de solidão e depressão. As oportunidades jamais lhes sorriem e os outros começam a não as levar a sério.

Philip é um distinto professor universitário cuja ativa vida acadêmica não nega a noção que ele tem de si mesmo:

“Sempre achei que não era importante e sempre presumi que as pessoas contassem mais que eu, que deveriam ser consideradas primeiro, que suas necessidades eram mais procedentes que as minhas. Um bom exemplo está na minha reação aos problemas de saúde. Quando surge algum sintoma, eu geralmente convivo com ele por um bom tempo até tomar alguma providência. Por outro lado, quando meus filhos eram pequenos, mal pegavam um resfriado e eu imediatamente os levava ao médico.”

Quando não é reconhecido e analisado, esse papel pode levar as pessoas do Tipo Nove a perder a energia e a confiança em sua capacidade de enfrentar a vida. Elas se deprimem e cansam-se facilmente, necessitando de frequentes cochilos e muitas horas de sono. Torna-se então cada vez mais difícil tomar alguma atitude em seu próprio benefício.

Eu Mereço
Faça uma lista das coisas que o estimulam e entusiasmam. Não censure nem revise nada. Que tipo de pessoa você seria se pudesse? O que pode fazer hoje para tornar-se mais parecido com essa pessoa? E esta semana? E este ano?

A Preguiça e o Auto-Esquecimento

A preguiça, no caso das pessoas do Tipo Nove, está relacionada a não querer envolvimento interior com aquilo que estão fazendo. Elas não são necessariamente preguiçosas nas tarefas do dia-a-dia – pelo contrário, podem ser muito ativas no trabalho e no lar. Sua preguiça é interior, uma preguiça espiritual que as faz não querer que a realidade as atinja ou afete profundamente. Essas pessoas não querem tomar a iniciativa por sua vida. Por causa disso, até mesmo as que se encontram na faixa média do tipo ligam o piloto automático, e assim a vida se torna menos urgente e menos ameaçadora – é vivida a uma distância segura, por assim dizer.

A preguiça é, por conseguinte, a da lembrança de si e a da autopercepção. As pessoas do Tipo Nove não se esforçam por manter contato consigo mesmas, com os outros ou com o mundo. Identificar-se com o corpo e seus instintos implica a consciência da mortalidade. Essas pessoas apegam-se a certa disposição interior confortável ou identificam-se com algo além de si mesmas, tornando sua percepção efetivamente difusa, no intuito de evitar que o impacto da mortalidade as atinja. O mundo ganha um foco difuso e elas sentem-se mais seguras, porém à custa de sua vitalidade e vivacidade.

Apesar de poderem buscar o espiritual, as pessoas do Tipo Nove muitas vezes tentam obter os benefícios psicológicos e emocionais do trabalho interior adotando a atitude oposta à de estar presente. Elas adormecem, anestesiando-se para o que realmente sentem e dessintonizando a realidade, ao tempo em que esperam continuar agindo sem esforço no mundo. Ironicamente, querem entrar em união com ele, mas acabam conseguindo apenas um sucedâneo da paz, a falsa paz do sono e da dissociação, uma "paz" tão tênue que tudo pode abalar. Como todos os projetos do ego, esse também está fadado ao fracasso.

A Falta de Consciência do Eu e a Dessensibilização

Por mais paradoxal que pareça, as pessoas do Tipo Nove criam e mantêm seu senso de identidade perdendo a consciência de si mesmas, não se percebendo inteiramente como indivíduos. Todos os demais tipos fazem algo para criar e manter sua noção de eu – o Tipo Quatro, por exemplo, insiste em seus sentimentos e disposições de espírito; o Tipo Oito impõe-se continuamente de várias formas. O Nove, ao contrário, cria sua identidade não tendo consciência direta de si. Em vez disso, seus representantes concentram-se nos relacionamentos com as pessoas. É como se fossem a sala em que os outros se reúnem ou a página de um álbum no qual estão coladas as fotografias alheias. Sua noção de eu é, portanto, uma "habilidade negativa", é a capacidade de conter o outro, e não a si.

Isso permite aos representantes saudáveis deste tipo prestar um apoio extraordinário às pessoas. Porém o erro fundamental que cometem é acreditar que, para manter sua relação com elas, precisam abrir mão da relação consigo mesmos. Isso lhes traz problemas, pois a manutenção dessa habilidade negativa exige que eles resistam cada vez mais a tudo aquilo que possa perturbar seu senso de harmonia e integração. Sua noção de eu depende de manter-se longe de diversas impressões. Eles precisam resistir especialmente a tudo que possa conscientizá-los da raiva, da frustração, do sofrimento e de qualquer outro sentimento negativo.

Exteriormente, essas pessoas podem fazer muita coisa, mas boa parte de sua atividade é constituída de afazeres os mais prosaicos. Elas arranjam mil incumbências, mas adiam a resolução de problemas mais críticos. Enquanto estão às voltas com esse tipo de ocupação, não conseguem entender por que os outros ficam chateados com elas. Se não estão incomodando em nada, por que alguém se aborreceria? O que elas não veem é o quanto sua falta de reação pode ser frustrante para os outros. Além disso, não percebem que estão lançando as bases para uma profecia que traz em si seu cumprimento: a falta de participação dos representantes que se encontram entre as faixas média e não-saudável acabará por promover o que eles mais temem – a perda e a separação das pessoas.

É importante que essas pessoas reconheçam que entorpecimento não é relaxamento. Com efeito, o entorpecimento requer a manutenção da tensão física. Quando estamos relaxados, estamos perfeitamente conscientes da respiração, das sensações corporais e do ambiente que nos cerca. A verdadeira paz tem um que de vivacidade e energia que nada tem a ver com o insosso desapego que aqui vemos.

André prossegue:

“Em meus piores momentos, sinto-me anestesiado. Não é nem depressão, é apenas dessensibilização mesmo. As menores coisas parecem exigir imenso esforço. Pode passar um tempo enorme até que eu resolva simplesmente olhar pela janela e pensar ou cair na frente da TV e fazer zapping. O tempo simplesmente para. É como se eu virasse um zumbi. Ainda consigo agir normalmente, pois consigo ir ao trabalho e mostrar-me gentil, mas por dentro sinto-me inteiramente fechado. Perco a esperança de encontrar um rumo na vida.”

“Sumindo”
Sempre que perceber que "sumiu" e perdeu a consciência de si, volte atrás e tente detectar quais as circunstâncias que precederam essa ausência. O que lhe pareceu ameaçá-lo a ponto de fazê-lo querer fugir da situação? Essa ameaça estava no ambiente ou era um estado ou reação seus? À medida que for se conscientizando do que estava oculto, use essa informação para criar um sistema de alarme que o ajude a não voltar a se fechar no futuro.

Refugiando-se no Santuário Interior

Apesar das aparências, as pessoas do Tipo Nove são na verdade as mais reservadas do Eneagrama. A confusão está em que, pelo fato de não ser física, sua retração não é tão evidente quanto em outros tipos. Essas pessoas continuam a participar enquanto se abstraem de qualquer envolvimento ativo com o mundo. Elas tentam estabelecer e manter um Santuário Interior, um local particular na mente ao qual ninguém mais tenha acesso. ("Estou aqui, estou seguro, ninguém vai me dar ordens.")

Essas pessoas recolhem-se a esse Santuário Interior quando estão ansiosas e aflitas ou simplesmente quando há ameaça de conflitos. Elas o povoam com fantasias e lembranças idealizadas; o mundo e as pessoas reais não são permitidos. Ele é o único lugar em que as pessoas do Tipo Nove conseguem libertar-se das exigências alheias. No aspecto positivo, isso lhes permite manter a calma numa crise, mas também pode trazer-lhes problemas interpessoais e impedir-lhes o autodesenvolvimento.

Nos níveis mais elevados, isso pode manifestar-se mediante uma reserva interior de tranquilidade, conforme nos diz André:

“A maior parte do tempo, sinto-me sereno e tranquilo – um sentimento contido e seguro. Gosto dessa característica de meu tipo. Por exemplo, num recente terremoto, quando minha casa parecia estar sendo partida em duas, não senti nenhum medo especial. Eu estava recebendo hóspedes de Nova York e ouvia seus gritos na sala, mas tinha a sensação de estar observando o terremoto de algum outro plano. Na verdade, achei-o bem interessante. Parecia-me inútil ficar aflito; eu não podia controlar o que estava acontecendo, então por que me preocupar?”

Quanto mais se refugiam em seu Santuário Interior, mais as pessoas do Tipo Nove se perdem em devaneios. O esquecimento do que está acontecendo ao seu redor lhes dá a ilusão de paz e harmonia, mas elas se tornam cada vez mais distraídas, o que só deixa os outros frustrados e as torna menos capazes e produtivas. Caso se entreguem a esse transe, poderão sentir empatia pelos entes queridos e até por estranhos e animais em perigo, mas seus sentimentos não terão relação com nenhuma ação efetiva. Cada vez mais, os relacionamentos ocorrerão na imaginação.

Explorando o Santuário Interior
Seu Santuário Interior é um lugar de paz e segurança, mas você precisa pagar muito caro para viver lá, como provavelmente está começando a perceber. Você é capaz de detectar quando se volta para ele? A seu ver, quais as características que o tornam um refúgio seguro? Quais delas são pouco realistas? Procure discernir com lucidez o quanto ganharia se pudesse permanecer mais no mundo real, em vez de buscar abrigo em seu Santuário Interior.

A Idealização do Outro nos Relacionamentos

As pessoas do Tipo Nove idealizam os outros e vivem por intermédio de uma rede de identificações primárias, em geral com a família e os amigos mais íntimos. Como disse um representante do tipo, "Não preciso estar em constante contato com alguém se sei que posso contar com ele". À medida que isso se acentua, essas pessoas começam a relacionar-se com a ideia do outro, em vez de relacionar-se com este como ele realmente é. Por exemplo, se um dos filhos tiver um problema com drogas ou outra crise grave, elas terão muita dificuldade em lidar com essa realidade, pois idealizam a família.

A idealização permite-lhes concentrar-se em outra pessoa, ao invés de em si mesmas. Além disso, permite-lhes ainda ter uma reação emocionalmente positiva aos demais, atendendo ao superego. ("Você estará bem se os que o rodeiam também estiverem.") Elas muitas vezes são atraídas por pessoas mais fortes e agressivas, que possam criar o "molho" do relacionamento. O relacionamento com pessoas mais dinâmicas e enérgicas fornece-lhes a vitalidade que tendem a suprimir em si mesmas. Esse acordo tácito muitas vezes funciona bem, já que os tipos mais assertivos geralmente procuram quem os siga em seus planos e aventuras. A idealização, além disso, indiretamente mantém (ou até intensifica) sua auto-estima: se uma pessoa tão destacada tem um relacionamento com elas, seu amor-próprio aumenta.

Porém há três grandes riscos nesse trato. Em primeiro lugar, as pessoas do Tipo Nove podem ser exploradas por seus interlocutores mais assertivos, independentes e agressivos. Em segundo, ao cabo de algum tempo, estes geralmente perdem o interesse pelos convencionais e complacentes representantes do Tipo Nove. Finalmente, o mais importante é que, enquanto estiverem tentando ganhar vitalidade pela fusão com outrem, as pessoas deste tipo dificilmente farão o necessário à recuperação da que lhe é inerente.

Descobrindo Forças Insuspeitas
Sempre que perceber estar idealizando alguém, observe as qualidades em que mais se concentra. Você acha que não as possui? Lembre-se que, em sua natureza Essencial, você já possui tais qualidades – e, desse ponto de vista, o outro funciona simplesmente como um lembrete daquilo que você bloqueou em si mesmo. Assim, a idealização pode funcionar como um bom guia no Trabalho Interior de descobrir e reapropriar-se de uma maior porção de suas qualidades positivas.

Viver de Acordo Com Fórmulas ou Uma “Filosofia de Vida”

Os representantes típicos do Tipo Nove costumam agir de acordo com uma "filosofia de vida" que, em geral, é uma mistura de provérbios e aforismos domésticos, bom senso e textos das escrituras, além de ditos populares e citações de toda sorte. Tais fórmulas lhes fornecem um meio de lidar com as pessoas e com as situações potencialmente problemáticas. Eles têm respostas prontas para os problemas da vida. Só que, embora possam aplicar-se em certas circunstâncias, essas "respostas" tendem ao simplismo e não dão conta das particularidades dos casos individuais. O problema é que essas pessoas valem-se dessas filosofias incontestáveis mais para defender-se das inquietações que para chegar a verdades mais profundas ou a uma real compreensão. Além disso, muitas dessas suas filosofias proporcionam-lhes consolo. ("Eu sou Deus", "Tudo é uno", "Tudo é amor".) Sem muito esforço, elas podem tornar-se desculpas para aprofundar o distanciamento e a passividade.

Na faixa menos saudável, essas pessoas poderão usar a espiritualidade para defender um determinado tipo de fatalismo, para aceitar situações desfavoráveis ou mesmo prejudiciais como se não houvesse nada que pudessem fazer. ("É a vontade de Deus.") As mais defendidas vão além e descartam suas próprias intuições, bom senso, percepção sensorial e até a experiência pessoal e profissional para dar lugar ao que desejam que seja verdade. É como se pudessem fingir que podem não dar ouvidos a seus alarmes interiores sem maiores consequências. Tornam-se então prematuramente resignadas, no intuito de convencer a todos e a si mesmas de que não é preciso preocupar-se nem se afligir com nada. No fim, os anjos cuidarão de tudo.

Filosofias a Toda Prova
Toda vez que se pegar repetindo ou pensando num proverbio ou aforismo, faça duas coisas. Em primeiro lugar, observe contra que sentimento desagradável você o está usando. Você é capaz de prestar atenção ao seu corpo e conscientizar-se do que está sentindo? Em segundo lugar, como exercício, imagine uma situação em que o provérbio não é verdadeiro – uma situação na qual valha seu extremo oposto. Talvez a verdade esteja no meio-termo.

Teimosia e Resistência

As pessoas do Tipo Nove podem saber muito bem que é preciso empenho e atenção para o autodesenvolvimento, para a resolução de problemas e para o relacionamento significativo com as pessoas. Mas sentem uma indefinível hesitação, como se fosse necessário um esforço extraordinário para participar mais plenamente da própria vida. Tudo parece ser muito complicado. Quase todos já nos levantamos da cama onde sonhávamos agradavelmente para enfrentar o desafio que o dia nos reservava. Muitas vezes temos vontade de desligar o despertador para sonhar uns poucos minutos mais. Muitas vezes o fazemos – e perdemos a hora. Os representantes típicos do Tipo Nove possuem na psique um mecanismo similar que os leva a adiar o despertar.

Quanto mais pressionados a despertar e reagir, mais se retraem. Como querem ser "deixados em paz", eles apazíguam as pessoas, buscando a paz a qualquer custo.

André fala sobre a inutilidade da tentativa de defender-se das exigências da mãe:

“Aparentemente, a única coisa que dava prazer à minha mãe era decorar a casa. Como é do Tipo Quatro, ela fazia de tudo para personalizar nossa prosaica casinha de subúrbio. Na hora de decorar o meu quarto, ela tirou todos os meus pôsteres e os substituiu por papel de parede em tons pastel. Senti como se tivesse sido apagado. Por mais que eu detestasse aquilo, sabia que ela não mudaria nada e, assim, não me aborreci. Seria perda de tempo até tentar discutir o caso com ela.

Apesar da tendência à acomodação, as pessoas do Tipo Nove têm dentro de si uma teimosia e uma resistência; uma espécie de desejo de não se deixar afetar por nada que possa ameaçar sua paz. Embora possam ser vistas como passivas, elas abrigam uma grande força e determinação – empregadas na tentativa de não se deixar abalar. Por trás da calma aparente, essas pessoas são verdadeiros muros de pedra: além de certo ponto, elas não negociarão.

Embora muitas delas não queiram deixar-se mudar ou influenciar pelos outros, as menos saudáveis tampouco querem deixar-se afetar por suas próprias reações às coisas, temendo qualquer coisa que possa entornar o caldo. Ironicamente, isso se aplica não apenas às emoções negativas, mas também às positivas. Assim, podem ver no entusiasmo um verdadeiro desastre, pois ele pode prejudicar seu equilíbrio emocional

Estranhamente, por mais desagradáveis que sejam as circunstâncias de sua vida, os representantes menos saudáveis deste tipo resistem com todas as forças a possibilidade de melhorá-las. Sua paciência se transforma em soturna resistência: a vida é algo que se deve aguentar, não viver nem, muito menos, gozar. Os prazeres que porventura se permitem servem para fazê-las esquecer da crescente falta de vitalidade interior. Mas as merendas durante as reprises de TV, os papos com os amigos ou a vivencia vicária das qualidades que desejam possuir não contrabalançam inteiramente a dor de perceber que sua vida estancou.

Pare de Adiar Sua Vida
Dedique alguns instantes a analisar os diferentes meios de que se vale para adiar uma participação mais plena em sua própria vida. Quando e como costuma desligar o alarme do seu despertador interior? Há alguma situação específica que deflagre esse comportamento – em casa, no trabalho; determinadas pessoas ou circunstâncias? O que é preciso para que você desperte?

Raiva e Ira Reprimidas

Nas faixas médio-inferiores, as pessoas do Tipo Nove aparentam não ter o mínimo traço de agressividade (ou sequer de desejo de afirmação). Porém, por trás da fachada de contenta mento e neutralidade, muitas vezes estão ocultas boas doses de raiva e ressentimento que elas se recusam a admitir ou muito menos, enfrentar.

A raiva é uma reação instintiva que, se não for assimilada, transforma-se por fim em ira. Quando esta não encontra vazão, impede que vários outros fortes sentimentos – e até a capacidade de amar – se manifestem. Os representantes típicos do Tipo Nove temem que, se deixarem a ira vir à tona, sobrevenha a perda das duas coisas que consideram mais importantes na vida: sua paz de espírito e seus relacionamentos. Na verdade, é justamente o contrário. Uma vez conscientes da ira reprimida, essas pessoas poderão transformá-la no combustível de que precisam para sair de sua inércia.

As pessoas do Tipo Nove podem ter diversos motivos para sentir raiva (ira, negativismo) e nem todos são evidentes. Subconscientemente, tem raiva por achar que não dispõem de "espaço" para ter sua própria vida. Estão tão ocupadas tentando manter a harmonia e apaziguar a todos que acumulam muito ressentimento. Além disso, têm raiva por achar que os outros estão sempre perturbando seu equilíbrio, tentando forçá-las a agir quando só querem ficar em paz ou lembrando-lhes os problemas que prefeririam esquecer. Por último, têm raiva porque as pessoas podem haver abusado ou tirado vantagem de sua passividade e elas se sentiram impotentes para reagir.

As menos saudáveis dentre essas pessoas tendem ao capachismo, sofrendo passivamente tudo que lhes é servido. As típicas paralisam-se sempre que precisam reagir instintivamente para proteger-se. Elas acham-se incapazes de defender-se adequadamente, falar por si ou agir oportunamente em benefício próprio. A sensação de impotência é uma das maiores causas da ira reprimida. Geralmente pensamos na raiva como algo negativo. Mas o seu lado positivo e menos compreendido está na capacidade de destruir os bloqueios que nos prendem a antigos padrões de comportamento. Há um lado salutar na raiva que poderia ser chamado de raiva santa – a capacidade de fazer as pessoas colocarem o pé no chão, estabelecerem limites e defenderem-se. No caso do Tipo Nove, boa parte do trabalho de recuperação está no contato com a energia refreada e na capacidade de sentir a própria raiva.

Integrando a Raiva
Você precisa treinar ficar à vontade diante da raiva e vê-la como uma força a qual tem direito de vivenciar e exercer. Do ponto de vista espiritual, a raiva geralmente nos dá a capa cidade de dizer "não" – de proteger-nos de algo que não queremos na vida. Portanto será útil começar por dizer "não" aquilo que realmente não quer. Se isso o fizer sentir-se culpado ou receoso, apenas observe essas reações e permaneça calmo e centrado. Procure, todavia, dizer "não" nas situações adequadas. Se porventura tiver de errar, que seja por excesso, ao menos durante o período inicial e até habituar-se a fazê-lo normalmente.

Reação ao Stress: O Tipo Nove Passa ao Seis

Como já vimos, as pessoas do Tipo Nove tentam lidar com o stress minimizando a intensidade de seus próprios desejos e refugiando-se em seu Santuário Interior. Quando isso não é o bastante para controlar a ansiedade, elas passam ao Tipo Seis, investindo nas ideias ou relacionamentos que julgam capazes de dar-lhes mais segurança e estabilidade.

Quando as ansiedades e preocupações vêm à tona, essas pessoas concentram-se inteiramente no trabalho e nos projetos. É como se, após deixar as coisas de lado algum tempo, achassem que é possível cobrir tudo de uma só vez, entrando numa fase de atividade frenética. Ao mesmo tempo, mostram-se muito reativas às exigências alheias, tornando-se mais passivo-agressivas e defensivas. Suas positivas "filosofias de vida" caem por terra, revelando as dúvidas e o pessimismo contra os quais se vinham defendendo. Além disso – também como as pessoas do Tipo Seis – quando estressadas, elas podem verbalizar queixas há muito guardadas sobre os outros e sobre seu quinhão na vida. Embora isso possa reduzir temporariamente o stress, a vantagem em geral dura pouco porque elas continuam relutando em chegar à origem de sua infelicidade. Se o stress se intensificar, essas pessoas podem criar uma mentalidade de "estado de sítio": suspeitas paranoides podem descambar rapidamente em acusações de culpa aos outros por seus próprios problemas e reações desafiadoras. Suas explosões de raiva e mau-humor as deixarão tão surpresas tanto quanto os que as presenciarem.

A Bandeira Vermelha: Problemas Para o Tipo Nove

Se tiverem sofrido uma crise grave sem contar com apoio adequado ou sem outros recursos com que enfrentá-la, ou se tiverem sido vítimas constantes de violência e outros abusos na infância, as pessoas do Tipo Nove poderão cruzar o ponto de choque e mergulhar nos aspectos não saudáveis de seu tipo. Por menos que queiram, isso poderá forçá-las a admitir que os problemas e conflitos que têm na vida não desaparecerão – e podem, inclusive, estar piorando – graças principalmente à sua falta de iniciativa. Além disso, a realidade poderá obrigá-las a enfrentá-los. (Apesar da negação, o filho poderá ser levado de volta para casa pela polícia, o parceiro com um "leve problema com o álcool" poderá ser demitido por ir trabalhar bêbado ou o caroço no seio poderá não desaparecer conforme o esperado.)

Se chegarem a essas constatações, poderão dar uma reviravolta na vida: por um lado, podem dar o primeiro passo rumo à saúde e a libertação; por outro, podem teimar ainda mais em manter a cômoda ilusão de que está tudo bem. ("Por que todo mundo quer me perturbar?" "Quanto mais você insistir nisso, mais longe de tomar alguma iniciativa eu vou estar!") Se persistirem nessa atitude, essas pessoas se arriscam a ultrapassar a linha divisória que as separa dos Níveis não saudáveis. Se seu comportamento ou o de alguém que você conhece se enquadrarem no que descrevem as advertências abaixo por um período longo – acima de duas ou três semanas, digamos –, é mais que recomendável buscar aconselhamento, terapia ou algum outro tipo de apoio.

Advertências

• Negação de graves problemas de saúde, financeiros ou pessoais

• Obstinação e resistência acirrada contra qualquer tipo de auxílio

• Amortecimento e repressão da vitalidade e percepção geral

• Sensação de inadequação e negligência generalizada

• Dependência de outras pessoas e falta de interesse em evitar ser exploradas

• Depressão crônica e perda da sensação de prazer emocional (anedonia)

• Extrema dissociação (sensação de estar perdido, confusão, desligamento profundo)

Potencial Patológico: Distúrbios Dissociativos, Esquizoides e de Dependência, depressão anedonica, negação extrema, despersonalização grave e prolongada.

Práticas Que Contribuem Para o Desenvolvimento do Tipo Nove

• Embora a verdadeira humildade seja uma característica louvável, não é ela que você deve cultivar. Aprenda a distinguir entre a autêntica humildade e a tendência a diminuir a si mesmo e a sua capacidade. Em outras palavras, lembre-se do Papel Social de seu tipo – Uma Pessoa Como Todo Mundo – e observe quando começa a representá-lo. Você pode sentir-se sobrecarregado pelos problemas ou achar que tem pouco a oferecer aos demais, mas basta uma rápida olhada na discórdia, na violência e no sofrimento que há no mundo para ganhar uma tranquila sabedoria em relação ao que você pode fazer. Se há uma energia que é necessária ao restabelecimento do equilíbrio neste mundo agitado, certamente é a tranquila energia da cura e da conciliação das pessoas saudáveis do Tipo Nove. Saiba que, quando está realmente em contato consigo mesmo, tem toda a força e capacidade de que precisa em qualquer situação.

• Aprenda o valor da palavra não. É natural não querer decepcionar as pessoas, mas, quando deparar uma proposta que não o deixa à vontade, é melhor deixar seus receios claros desde o início do que concordar silenciosamente e arrepender-se depois. Além disso, os outros provavelmente se aborrecerão mais se você resistir com agressividade passiva após haver inicialmente concordado com eles. As pessoas querem saber qual a sua verdadeira opinião ou preferência – mesmo que estas lhe pareçam pouco importantes.

• Aprenda a reconhecer o que você quer de uma determinada situação. Na maioria das vezes, você estará tão ocupado considerando as posições e opiniões das pessoas que pode acabar esquecendo as suas Graças a esse hábito, você talvez não saiba de imediato o que deseja. Se necessário, não hesite em pedir às pessoas um instante para avaliar as opções. E não hesite em adotar aquela que realmente prefere. Lembre-se de que você também tem direito a ter vontades.

• Faça como os representantes saudáveis do Tipo Três e invista em seu desenvolvimento e no cultivo de seus talentos. Há muitas formas agradáveis e perfeitamente válidas de passar o tempo, distraindo-se ou conversando com os amigos – mas procure ter certeza de não estar negligenciando seu próprio desenvolvimento, O início pode despertar muitas de suas ansiedades e dúvidas em relação a si mesmo, mas as recompensas da persistência serão muito maiores e satisfatórias. Além disso, investindo em si mesmo, você não estará se afastando de ninguém: todos lucrarão se você se tornar mais forte e pleno.

• Observe quando, em vez de relacionar-se de fato, está apenas imaginando uma relação com alguém. Para a maioria das pessoas, sentar ao seu lado no sofá enquanto você devaneia com uma viagem ou o último episódio de sua novela favorita não é a melhor coisa do mundo. Se perceber que está "desaparecendo" diante de uma determinada pessoa, pergunte-se se não está aborrecido ou inquieto com alguma coisa que ela fez. Qualquer que seja a situação, falar sobre o problema poderá ajudá-lo a retomar o contato consigo mesmo e com a pessoa.

• Aprenda a reconhecer e assimilar a raiva. Para a maioria das pessoas do Tipo Nove, a raiva é algo muito ameaçador. De todas as emoções, parece ser a que mais facilmente pode destruir sua paz interior. No entanto, só por meio dela você terá contato com sua força interior – ela é o combustível que consumirá sua inércia. Naturalmente, isso não significa que você precise sair gritando com as pessoas ou agredindo estranhos pela rua, mas sim que, quando sentir raiva, não há nada de errado em dizer as pessoas que está aborrecido. Aprenda a sentir a raiva em seu corpo. Como é essa sensação? Em que parte ela se mostra com mais força? Familiarizando-se com ela enquanto sensação, você terá menos medo.

Reforçando os Pontos Fortes do Tipo Nove

Um dos maiores trunfos das pessoas do Tipo Nove é a imensa paciência, que muitas vezes se traduz numa atitude que deixa os outros à vontade, permitindo-lhes desenvolver-se à sua própria maneira. Essa atitude é a mesma dos bons pais: ensinam pacientemente novas habilidades aos filhos, enquanto permanecem a uma distância respeitosa porém atenta.

Essa paciência encontra seu respaldo na tranquila força e na tremenda resistência características das pessoas do Tipo Nove. Elas conseguem manter a calma mesmo nas ocasiões mais difíceis. É comum relatarem situações em que conseguem vencer rivais mais vistosos no trabalho e nos relacionamentos, ao modo da fábula da lebre e da tartaruga. Quando saudáveis, essas pessoas conseguem trabalhar com constância e persistência na obtenção de suas metas, geralmente atingindo-as. Sua força de vontade se libera e elas demonstram muita garra e pique, como convém ao tipo que está no centro da Tríade do Instinto.

Graças ao seu extraordinário equilíbrio interior, os representantes saudáveis do Tipo Nove são muito eficientes em épocas de crise. Os pequenos altos e baixos da vida não os desestabilizam, como tampouco os grandes. Quando os grandes reveses e vicissitudes deixam a todos ansiosos, essas pessoas são como um baluarte de tranquilidade, seguindo em frente e fazendo as coisas.

André sabe o quanto isso é simples – e difícil:

“Superar um período de mal-estar e dessensibilização é simples: basta admitir para mim mesmo que algo está errado e depois contar como me sinto a alguém em quem confio. O contato com as emoções mais 'agitadas' é penoso, mas é a maneira de diluí-las. Outra estratégia que ajuda é retomar o contato com o corpo fazendo ginástica, massagens, etc. Criar um cachorro também tem sido fantástico nesse aspecto: ele é tão 'ligado' no momento e exige tanta atenção que é difícil eu conseguir ser um zumbi novamente.”

As pessoas saudáveis do Tipo Nove são extremamente inclusivas em relação aos demais, o que constitui um dom especialmente importante na sociedade globalizada em que vivemos. (Isso explica por que as pessoas do Tipo Seis – que tendem a ser exclusivas e a colocar os outros ou no grupo de "dentro" ou no grupo de "fora" – precisam integrar as qualidades do Tipo Nove.) Enquanto os representantes típicos do Tipo Nove veem o bem nos outros (e desejam fundir-se a eles), os realmente saudáveis veem também o bem em si mesmos (e desejam tornar-se mais independentes e envolvidos com seu mundo).

Embora sem dúvida queiram ajudar os outros, eles não se identificam com o papel do Salvador ou Auxiliar. São valorizados por escutar sem julgar, brindando a todos com a liberdade e a dignidade da filosofia do "viva e deixe viver". São capazes de perdoar e conceder o benefício da dúvida, sempre buscando uma interpretação positiva das situações. Sua capacidade de dar espaço e ouvidos aos demais os torna muito solicitados. Além disso, embora possam considerar diversos pontos de vista, são capazes de tomar atitudes firmes quando necessário. Sua simplicidade, objetividade, inocência e falta de malícia colocam as pessoas à vontade e fazem-nas confiar neles.

Para as pessoas saudáveis deste tipo, conflitos, tensões e dissensões são permitidos e, inclusive, apreciados. Elas geralmente demonstram capacidade de chegar a uma nova síntese que resolva de alguma maneira a contradição ou o conflito. Assim, podem ser muito criativas, apesar da tendência à modéstia. Além disso, costumam gostar muito da expressão não-verbal – por meio da música, da arte, da pintura ou da dança. São pessoas dotadas de muita imaginação que gostam de explorar o mundo dos sonhos e dos símbolos. Seu pensamento é holístico, pois elas querem manter a sensação de união com o universo. Os mitos são uma forma de falar a respeito de grandes temas da natureza humana e da ordem moral da existência: no fim, tudo é bom e funciona como deve.

O Caminho da Integração: O Tipo Nove Passa ao Três

As pessoas do Tipo Nove concretizam seu potencial e se mantém na faixa saudável quando aprendem a reconhecer seu valor Essencial, como as que estão na faixa saudável do Tipo Três. Com efeito, elas superam seu Papel Social – o de Uma Pessoa Como Todo Mundo – e reconhecem que merecem seu próprio tempo e atenção. Empenham-se em seu desenvolvimento e lançam-se ao mundo, mostrando a todos o que têm a oferecer.

O maior obstáculo que têm a enfrentar para atualizar seu potencial é a tendência à inércia. Quando dão início ao processo de integração, essas pessoas muitas vezes deparam sensações de peso e sonolência quando tentam fazer algo de bom por si mesmas. Porém, à medida que avançam nesse processo, sua energia aumenta e, com ela, seu carisma. Após passar a maior parte da vida pensando que são invisíveis, elas surpreendem-se ao constatar que os outros não apenas as escutam, mas também buscam sua opinião. Quando elas reconhecem o próprio valor, os outros também as valorizam mais. Ao reclamar a vitalidade de sua natureza instintiva, elas passam a infundir energia aos outros. Assim, ao descobrir seu valor e vê-lo refletido em outras pessoas, elas se surpreendem e deleitam.

Naturalmente, a integração não significa a imitação das características singulares do Tipo Três. O ímpeto, a competitividade e a consciência da própria imagem pouco contribuem para a criação da verdadeira auto-estima – pelo contrário, só ser virão para manter as ansiedades que essas pessoas nutrem quanto a seu valor e mantê-las dissociadas de sua verdadeira identidade. Porém, à medida que conseguirem encontrar a energia de investir em seu próprio desenvolvimento, o amor e a força de seu coração se transformarão num invencível fator de cura dentro de seu mundo.

A Transformação da Personalidade em Essência

Em última análise, as pessoas do Tipo Nove assumem sua natureza Essencial enfrentando seu Medo Fundamental – o de perder a relação com as coisas e as pessoas – e abandonando a ideia de que sua participação no mundo não tem importância e de que, por isso, não precisam "aparecer". Elas percebem que a única maneira de atingir realmente a união e a plenitude que buscam é envolvendo-se totalmente com o momento presente, e não "desaparecendo" na imaginação. Mas isso requer que retomem o contato com sua natureza instintiva e vivenciem diretamente seu lado físico. Isso muitas vezes pressupõe o confronto da raiva e da ira reprimidas, que em geral representam uma ameaça muito grande a sua habitual noção de eu. Mas, quando permanecem consigo mesmas e conseguem integrá-las, as pessoas do Tipo Nove começam a vivenciar a constância e a estabilidade que sempre almejaram. Tendo essa força interior como base, elas ganham o poder indômito que se alinha à vontade Divina, como o que se vê em representantes extraordinários deste tipo como Abraham Lincoln e Sua Santidade, o Dalai Lama.

É o domínio da experiência mortal que as pessoas do Tipo Nove precisam aprender a aceitar e abraçar, a fim de atingir a verdadeira plenitude e união. Embora haja muitos aspectos da realidade que estão além do mundo manifesto, não concretizamos nosso potencial negando esse mundo. Em outras palavras, não conseguiremos nunca transcender realmente a condição humana: só a abraçando inteiramente é que chegaremos à plenitude de nossa verdadeira natureza. Quando reconhecem e aceitam essa verdade, as pessoas do Tipo Nove tornam-se extremamente independentes e donas de si. Elas aprendem a impor-se com maior desenvoltura e a vivenciar uma maior paz, equanimidade e contentamento. O domínio de si mesmas lhes permite estabelecer relacionamentos profundamente gratificantes, pois elas estão realmente em contato consigo – são vivas, despertas, alerta e exuberantes, tornando-se pessoas dinâmicas e cheias de alegria, que trabalham para curar seu mundo e promover a paz.

Longe de reprimir-se ou mostrar-se indiferentes, essas pessoas descobrem o quanto é bom estar presentes para a vida, conforme observa Red:

“Sei exatamente o que preciso dizer e fazer e tenho a força e a coragem de fazê-lo. Parei de querer agradar às pessoas e passei a agradar a mim mesmo. Por mais estranho que pareça, esse esforço para satisfazer minhas próprias necessidades muitas vezes satisfaz as de todos, como se, concentrando-me nas minhas, eu pudesse antever as do grupo.”

A Manifestação da Essência

As pessoas do Tipo Nove relembram a qualidade Essencial da plenitude e completude. Elas relembram a interligação de todas as coisas, sabendo que nada no universo está separado do resto das coisas existentes. Esse conhecimento traz muita paz de espírito, e a missão do Tipo Nove é, do ponto de vista da Essência, ser um lembrete vivo da unidade subjacente de nossa verdadeira natureza.

Quando se libertam, essas pessoas tornam-se inteiramente presentes e conscientes da plenitude e da unidade da existência, ao tempo em que mantêm sua noção de individualidade. As menos saudáveis têm a capacidade de perceber algumas das ilimitadas qualidades da realidade, mas tendem a perder-se e confundir-se com o ambiente em que vivem. Já as que se libertam não se perdem nesse estado nem em fantasias idealistas; elas veem como o bem e o mal estão juntos (“Deus manda a chuva tanto para os justos quanto para os injustos") e aceitam a paradoxal união de opostos – aceitam que o prazer e a dor, a tristeza e a felicidade, a saúde e a doença, a união e a perda, o bem e o mal, a vida e a morte, a clareza e o mistério, a paz e a ansiedade estão inextricavelmente ligados.

Essa é uma conclusão a que Martin, um consultor de mercado, chegou sozinho:

“Quando minha mulher morreu o ano passado, fiquei arrasado até perceber que sua vida e sua morte eram parte de um evento maior. Talvez seja uma coisa que eu não entenda, mas parece ser uma peça pertencente a um conjunto maior. Quando aceitei a plenitude da vida dela, sua morte tornou-se apenas uma parte do todo maior, e eu consegui aceitá-la.”

Outra qualidade Essencial do Tipo Nove é aquela que Oscar Ichazo denominou "Amor Santo". Cumpre, porém, entendê-lo adequadamente: o amor Essencial a que nos referimos é uma característica dinâmica do Ser que flui, transforma e rompe todas as barreiras que encontra. Ele supera qualquer sensação de separação e isolamento dentro dos limites do ego, problemas que assolam a Tríade do Instinto. É por isso que o verdadeiro amor amedronta – ele traz consigo a dissolução dos limites e a morte do ego. No entanto, quando nos rendemos a ação do Amor Santo, retomamos o contato com o oceano do Ser e percebemos que, no fundo do coração, somos esse Amor. Somos essa infinita, dinâmica e transformadora Presença de consciência amorosa, e assim sempre foi.


Níveis de Desenvolvimento

Saudável

Nível 1 (Autodomínio, Espírito Indômito): As pessoas do Tipo Nove deixam de acreditar que sua participação no mundo é indesejável ou pouco importante. Assim, conseguem realmente estabelecer contato consigo mesmas e com os demais. Além disso, paradoxalmente realizam seu Desejo Fundamental – ter equilíbrio interior e paz de espírito – e se mostram donas de si, dinâmicas, tranquilas e presentes.

Nível 2 (Naturalidade, Serenidade): As pessoas do Tipo Nove concentram-se no ambiente ou nos relacionamentos como um todo, desejando manter um equilíbrio harmonioso entre estes e seu próprio eu. Auto-imagem: "Sou uma pessoa equilibrada, gentil e descomplicada".

Nível 3 (Desprendimento, Capacidade de Reconfortar): As pessoas do Tipo Nove reforçam sua auto-imagem estabelecendo e mantendo a paz e a harmonia em seu mundo. Aplicam sua paciência e sensatez na mediação de conflitos e no auxílio aos demais. Em geral, essas pessoas são cheias de imaginação, inspirando a todos com sua visão da vida, que é positiva e dotada de potencial de cura.

Média

Nível 4 (Discrição, Trato Agradável): Temendo que os conflitos possam pôr em risco sua paz de espirito, as pessoas do Tipo Nove começam a evitar potenciais desavenças concordando com os demais, julgam que não vale a pena discutir sobre certas questões, mas assim começam a dizer "sim" a muitas coisas que, na verdade, não querem fazer.

Nível 5 (Isenção, Complacência): As pessoas do Tipo Nove receiam que qualquer mudança significativa em seu mundo ou qualquer sentimento mais forte possa perturbar sua frágil paz. Por conseguinte, estabelecem sua vida de maneira a evitar que as coisas as atinjam. Elas perdem-se em hábitos e rotinas cômodas, inventam afazeres e "dessintonizam" os problemas.

Nível 6 (Resignação, Apaziguamento): As pessoas do Tipo Nove temem que lhes exijam reações que possam despertar a ansiedade e acabar com sua paz de espírito. Assim, minimizam a importância de certos problemas e tentam evitar outros. Cheias de estoicismo, marcham penosamente vida afora, aferrando-se a ilusões e suprimindo a raiva.

Não-saudável

Nível 7 (Repressão, Negligência): As pessoas do Tipo Nove temem que a realidade as obrigue a lidar com seus problemas, o que pode ser verdade. Assim, podem reagir apegando-se à ilusão de que está tudo certo e resistindo teimosamente a qualquer tentativa de enfrentar os problemas. São pessoas deprimidas, sem energia e com baixo nível de desempenho.

Nível 8 (Dissociação, Desorientação): Desesperadas por apegar-se a qualquer farrapo de paz interior que lhes possa ter restado, as pessoas do Tipo Nove temem reconhecer a realidade. Elas tentam bloquear da consciência tudo que as possa afetar pela dissociação e pela negação. Mostram-se desoladas, dessensibilizadas e desamparadas, sofrendo muitas vezes de amnésia.

Nível 9 (Auto-abandono, “Apagamento”): As pessoas muito pouco saudáveis do Tipo Nove sentem-se totalmente incapazes de enfrentar a realidade. Refugiando-se em si mesmas, tornam-se completamente apáticas. Elas poderão tentar bloquear a percepção para salvar suas ilusões de paz fragmentando-se em subpersonalidades.


(Traduzido de "The Wisdom of the Enneagram", de Don Richard Riso & Russ Hudson, por ~mamado frentista)

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