Essência e Personalidade
- 16MM
- 28 de abr. de 2020
- 13 min de leitura
A VERDADE MAIS PROFUNDA que há no Eneagrama é que somos muito mais que a nossa personalidade. Esta não é senão as partes familiares e condicionadas de um leque muito mais amplo de potenciais que todos possuímos. Além das limitações de nossa personalidade, somos um vasto e pouco reconhecido atributo do Ser ou Presença – aquilo que se chama nossa Essência. Em termos espirituais, poderíamos dizer que dentro de cada um há uma centelha do Divino, apesar de havermos esquecido essa verdade fundamental, pois adormecemos para nossa verdadeira natureza. Não vivenciamos nossa própria natureza Divina nem os outros como manifestações do Divino. Em vez disso, tornamo-nos duros e até cínicos, tratando os demais como objetos contra os quais devemos defender-nos ou que devem ser usados para que obtenhamos satisfação.
A maioria das pessoas tem alguma noção do que é a personalidade, mas a ideia de Essência provavelmente é menos conhecida. Quando falamos de Essência, nos referimos ao seu sentido literal – aquilo que no fundo somos, nosso eu Essencial, a base do Ser que há em nós. (Espírito é outra palavra adequada.)
É importante traçar uma distinção entre Essência, ou espirito, e "alma". A base fundamental de nosso Ser é Essência ou Espírito, mas ela assume uma forma dinâmica à qual denominamos "alma". Nossa personalidade é apenas uma faceta da alma. Esta é "feita" de Essência ou Espírito. Se o Espírito fosse água, a alma seria um rio ou lago e a personalidade seria os pedaços de gelo ou as ondas que se formam em sua superfície.
Em geral, não vivenciamos nossa Essência em seus diversos aspectos porque nossa percepção está muito dominada pela personalidade. Mas, à medida que nossa personalidade se conscientiza, ela se torna mais transparente e nos possibilita a vivência mais direta de nossa Essência. Continuamos a agir no mundo, mas com uma percepção cada vez maior de nossa ligação com a Divindade. Conscientizamo-nos de que somos parte de uma Divina Presença que a tudo cerca e a tudo preenche, em constante e maravilhosa multiplicação.
O Eneagrama pode ajudar-nos a ver o que nos impede de lembrar essa profunda verdade sobre quem realmente somos, a verdade de nossa natureza espiritual. Ele o faz por meio de suas precisas revelações acerca de nossa estrutura psicológica e espiritual. O Eneagrama pode ajudar-nos também a descobrir o rumo em que devemos trabalhar, mas só se lembrarmos que ele não conta quem somos, mas sim como limitamos aquilo que somos. Lembre-se: o Eneagrama não nos prende num cubículo; ele simplesmente mostra o cubículo em que estamos encerrados e a saída que devemos tomar.
A Psicologia Sagrada
Uma das mais profundas lições do Eneagrama é que a integração psicológica e a realização espiritual não são processos separados. Sem a espiritualidade, a psicologia não nos liberta nem nos conduz às mais profundas verdades que existem sobre nós. Sem a psicologia, a espiritualidade pode representar uma ilusão e uma tentativa de fuga da realidade. O Eneagrama não é nem psicologia árida nem misticismo confuso, mas sim um instrumento de transformação que usa a lucidez e a precisão da psicologia como ponto de partida para uma espiritualidade profunda e universal. Desse modo, num sentido bastante literal, o Eneagrama representa “a ponte entre a psicologia e a espiritualidade™”.
O fulcro dessa psicologia sagrada é que nosso tipo básico revela os mecanismos psicológicos pelos quais esquecemos nossa verdadeira natureza - nossa Essência Divina – e o modo como nos abandonamos. Nossa personalidade se vale de nossa capacidade inata de erguer defesas e compensações para o que nos magoou na infância. A fim de sobreviver às dificuldades que encontramos nessa época, inconscientemente adotamos um repertório finito de estratégias, auto-imagens e comportamentos que nos permitiram resistir e sobreviver aos primeiros desafios de nosso meio ambiente. Portanto, cada um se torna “perito" numa determinada forma de comportamento que, quando excessivamente utilizada, se torna a base da área desestruturada da nossa personalidade.
À medida que se tornam mais estruturadas, as defesas e estratégias de nossa personalidade nos afastam da vivência direta de nós mesmos, de nossa Essência. A personalidade torna-se a nossa fonte de identidade, em vez de ser o nosso contato com o Ser. A forma como nos vemos se baseia cada vez mais em lembranças, imagens interiores e comportamentos aprendidos, em vez de basear-se na expressão espontânea de nossa verdadeira natureza. Essa falta de contato com a Essência provoca muita ansiedade, assumindo a forma de uma das nove Paixões. Uma vez estabelecidas, essas Paixões – geralmente inconscientes e invisíveis a nossos próprios olhos – começam a dirigir a personalidade.
Por conseguinte, a compreensão do tipo de personalidade e de sua dinâmica representa um modo de abordagem muito eficaz do inconsciente, de nossas feridas e compensações e, em última análise, da cura e da transformação. O Eneagrama mostra onde a personalidade mais nos "puxa o tapete". Ele destaca não só o que podemos conseguir como também o quanto são desnecessários – e por vezes prejudiciais a nosso desenvolvimento – tantos de nossos velhos comportamentos e reações. É por isso que, quando nos identificamos com a personalidade, fadamo-nos a ser muito menos do que realmente somos. É como se ganhássemos uma mansão ricamente mobiliada e cercada de belos jardins para morar, mas nos confinássemos a um cubículo escuro no porão. A maioria das pessoas esquece que o resto da mansão existe e a quem ela de fato pertence.
Como assinalaram muitos mestres espirituais através dos séculos, adormecemos para aquilo que somos e para o que é nossa vida. Boa parte do tempo corremos de um lado para o outro, consumidos por ideias, ansiedades, preocupações e imagens mentais. Raramente estamos presentes para nós mesmos e nossa experiência imediata. Porém, à medida que começamos a nos trabalhar, começamos a ver que nossa atenção foi tomada ou "atraída" pelas preocupações e pelos traços de nossa personalidade e que, na verdade, atravessamos a vida quase toda como sonâmbulos. Essa forma de ver as coisas é contrária ao senso comum e muitas vezes parece ofensiva ao modo como nos vemos: pessoas conscientes e determinadas que têm controle sobre as coisas.
Ao mesmo tempo, nossa personalidade não é "má". Ela é importante para nosso desenvolvimento e necessária para o refinamento de nossa natureza Essencial. O problema é que nos prendemos a ela e ficamos sem saber como passar à fase seguinte. Essa atrofia no desenvolvimento não se deve a alguma falha nossa, mas ocorre porque, nos anos de formação, as pessoas geralmente não estão conscientes de que é possível desenvolver se mais. Nossos pais e professores podem ter tido lampejos quanto a sua verdadeira natureza, mas, como nós, não os reconheceram nem, muito menos, viveram como se fossem sua expressão.
Assim, uma das revelações mais propícias à transformação que nos pode fazer o Eneagrama é que não somos nossa personalidade. Captar essa ideia leva a uma transformação da noção de eu. Quando finalmente compreendemos que não somos nossa personalidade, percebemos que somos seres espirituais que tem uma personalidade por intermédio da qual se manifestam. Quando deixamos de nos identificar com ela e de defende-la, ocorre um milagre: nossa natureza Essencial espontaneamente surge e nos transforma.
A Personalidade Não Desaparece
O objetivo do Eneagrama não é livrar-nos de nossa personalidade. Mesmo que pudéssemos, isso não nos ajudaria muito. Isso talvez tranquilize aqueles que receiam que, se deixarem de lado a personalidade, perderão a identidade ou se tornarão menos capazes e competentes.
Na verdade, o contrário é que vale. Quando nos aproximamos de nossa Essência, não perdemos a personalidade. Ela se torna mais transparente e flexível, algo que nos auxilia a viver, em vez de dominar nossa vida. Quando estamos mais presentes e conscientes – qualidades da Essência –, sobrevêm momentos de "fluxo" e de "desempenho máximo", ao passo que as manifestações da personalidade costumam levar-nos a ignorar coisas, cometer erros e criar problemas de toda espécie. Se estivermos muito ansiosos por causa de uma viagem, por exemplo, provavelmente colocaremos na mala as roupas erradas ou esqueceremos de levar objetos importantes. Aprendendo a permanecer relaxados e presentes em meio às pressões do dia-a-dia, tornaremos a vida mais fácil.
Quando conseguimos nos identificar menos com a personalidade, ela se torna uma parte menor da totalidade que somos. A personalidade ainda existe, mas há uma inteligência mais ativa, uma sensibilidade e uma Presença por trás dela que a utilizam como veículo, em vez de deixar-se guiar por ela. Quanto mais nos identificarmos com a Essência, mais veremos que não perdemos a identidade – nós na verdade a encontramos.
Seria um erro, porém, sugerir que uma experiência de despertar – ou mesmo várias delas – nos libertaria da identificação com a personalidade. Embora cada momento de auto-realização até certo ponto nos transforme, em geral é preciso ter várias dessas experiências para que a percepção se amplie. À medida que elas vão se acumulando, a identidade gradualmente se expande, passando a abarcar mais e mais da natureza Essencial. Surge a capacidade de viver experiências mais profundas e tornamo-nos transmissores mais constantes do Divino. Nossa luz interior torna-se mais forte e brilha no mundo com maior firmeza.
O Medo e o Desejo Fundamentais
O mecanismo da personalidade é acionado pelo que denominamos o Medo Fundamental de cada tipo. Esse medo surge em decorrência da inevitável perda de contato com a natureza Essencial na primeira infância. Várias são as razões para isso.
Como recém-nascidos, chegamos ao mundo com necessidades naturais, inatas, que precisavam de satisfação para que nos tornássemos seres humanos maduros. Todavia, mesmo nas circunstâncias mais favoráveis, nossos pais não puderam – nem poderiam – atender perfeitamente a todas as nossas necessidades de desenvolvimento. Por mais bem-intencionados que fossem, eles enfrentaram problemas ao satisfazer nossas necessidades, principalmente aquelas que eles próprios tiveram e foram inadequadamente atendidas. É próprio dos bebês manifestar uma grande variedade de emoções e estados de espírito. Se essa manifestação tiver sido bloqueada em nossos pais, eles provavelmente ficarão ansiosos e pouco à vontade quando nós o fizermos, assim tornando nosso eu infantil igualmente ansioso e insatisfeito.
Quando um bebê manifesta sua alegria e seu prazer de viver e a mãe está deprimida, é pouco provável que ela se sinta à vontade diante da efusão do filho. Assim, esse bebê aprende a suprimir sua alegria para não perturbar mais a mãe. Outro bebê, de temperamento diferente, pode chorar ou tentar de outras maneiras obter uma reação da mãe, mas de qualquer modo não vê nela um reflexo de sua alegria. É importante notar que essas reações não se devem ao fato de nossos pais serem “maus", mas sim ao de eles só poderem refletir aquilo que neles não tiver sido bloqueado. Essa gama limitada – e muitas vezes desestruturada – de atitudes e comportamentos grava-se na alma receptiva da criança como o pano de fundo que ela usará na vida e em todos os relacionamentos futuros.
Em decorrência de necessidades infantis não satisfeitas e subsequentes bloqueios, começamos a sentir logo no início da vida que certos elementos-chave estão faltando em nós. Naturalmente, essa sensação cria uma profunda ansiedade. É provável que nosso temperamento inato determine nossa reação à ansiedade. Seja como for, independente de nosso futuro tipo de personalidade, acabamos chegando à conclusão de que há algo fundamentalmente errado conosco. Mesmo que não consigamos verbalizar o que isso é, sentimos o puxão de uma ansiedade muito forte e inconsciente - nosso Medo Fundamental.
Cada tipo possui um Medo Fundamental característico, embora todos esses Medos sejam universais. (De um ponto de vista mais sutil, cada Medo Fundamental é uma reação ao medo universal da morte e da aniquilação – o medo que nossa personalidade tem do nada.) Veremos em nós mesmos os Medos Fundamentais de todos os nove tipos, embora o que é inerente ao nosso tipo nos motive o comportamento muito mais que os outros.
Para compensar o Medo Fundamental, surge um Desejo Fundamental. Ele é o meio que encontramos de proteger-nos do Medo Fundamental para de alguma forma continuar a agir. O Desejo Fundamental é aquilo que acreditamos que nos fará bem; é como se nos disséssemos: "Se eu tivesse X (amor, segurança, paz. etc.), tudo entraria nos eixos". Poderíamos chama-lo de prioridade do ego, pois esse desejo sempre nos revela o que o ego se empenha em obter.
Os Desejos Fundamentais representam necessidades humanas universais e legítimas, embora a idealização e a importância que cada tipo dá ao seu desejo específico sejam tantas que afetam outras necessidades. Contudo, é importante frisar que não há nada de errado com nosso Desejo Fundamental. O problema é que, ao tentar satisfazê-lo, podemos tomar caminhos errados que acabam por levar-nos à improdutividade.
Por exemplo, o Desejo Fundamental do Tipo Seis é encontrar segurança. Conforme veremos, as pessoas desse tipo podem buscá-la com tanta ânsia que acabam por arruinar tudo em sua vida, inclusive, ironicamente, sua própria segurança. Da mesma forma, todos os tipos são capazes de tornar-se autodestrutivos se perseguirem cega e demasiadamente seu Desejo Fundamental. Acabamos perseguindo sempre a mesma coisa, usando as mesmas estratégias, mesmo que elas não nos tragam os resultados pretendidos.
Nosso Desejo Fundamental pode também levar-nos a um bloqueio inconsciente de nossa natureza Essencial porque a personalidade não abrirá mão de seu controle enquanto não acreditar que o Desejo Fundamental está satisfeito. O Tipo Seis, por exemplo, não relaxará enquanto não tiver certeza de que seu mundo está em absoluta segurança. Da mesma forma, o Tipo Um não relaxará nem se fará mais presente enquanto tudo em seu mundo não estiver perfeito. Evidentemente, essas coisas jamais se concretizarão.
Entender o Medo e o Desejo Fundamentais ajuda a compreender melhor o milenar ensinamento universal de que a natureza humana é movida pelo medo e pelo desejo. Assim, poderíamos dizer que a estrutura de nossa personalidade é constituída por um movimento de fuga do Medo Fundamental e outro de busca do Desejo Fundamental. O tom geral de nossa personalidade surge dessa dinâmica, a qual se torna a base de nossa noção de eu.
Mensagens Inconscientes da Infância
Todos recebemos de nossos pais (bem como de outras figuras importantes) várias mensagens inconscientes durante a infância. Elas têm um profundo efeito sobre nossa identidade em formação e sobre o quanto nos permitiram ser plenamente o que somos. A menos que nossos pais fossem eles próprios seres humanos muito desenvolvidos e conscientes, o brilho expansivo de nossa alma teve de reduzir-se em graus variáveis.
Embora possamos ter recebido várias das mensagens abaixo, uma delas tende sempre a ser mais importante para um tipo. Quais o afetam particularmente?
Tipo Um: "Errar não é bom."
Tipo Dois: "Ter necessidades próprias não é bom."
Tipo Três: "Ter sentimentos e identidade próprios não é bom."
Tipo Quatro: "Estar bem ou feliz demais não é bom."
Tipo Cinco: “Estar à vontade no mundo não é bom."
Tipo Seis: "Confiar em si mesmo não é bom."
Tipo Sete: "Depender dos outros para alguma coisa não é bom."
Tipo Oito: "Ser vulnerável e confiar nos outros não é bom."
Tipo Nove: "Impor-se não é bom."
Os Medos Fundamentais de Cada Tipo
1. Medo de ser mau, corrupto, malvado ou falho
2. Medo de não merecer ser amado
3. Medo de ser desprezível, de não valer nada
4. Medo de não ter identidade ou importância
5. Medo de ser inútil, incapaz ou incompetente
6. Medo de não contar com apoio ou orientação
7. Medo de sofrer dor ou privação
8. Medo de ser machucado ou controlado pelos outros
9. Medo de fragmentar-se, de perder o vínculo com os outros
Os Desejos Fundamentais e Suas Distorções
1. O desejo de ter integridade (descamba em perfeccionismo e crítica)
2. O desejo de ser amado (descamba em necessidade de fazer-se necessário)
3. O desejo de ter valor (descamba em busca de sucesso)
4. O desejo de ser quem é (descamba em autocomplacência)
5. O desejo de ser competente (descamba em especializações inúteis)
6. O desejo de ter segurança (descamba em apego a convicções)
7. O desejo de ser feliz (descamba em escapismo frenético)
8. O desejo de proteger-se (descamba em briga constante)
9. O desejo de estar em paz (descamba em teimosa negligência)
A Essência é Restringida Pela Personalidade
A psicologia sugere que nossa capacidade de agir como adultos maduros e integrados é, em grande parte, determinada pelo modo como nossas necessidades específicas de desenvolvimento foram satisfeitas na primeira infância. As necessidades que não tiverem sido adequadamente atendidas podem ser vistas como "lacunas" que interferem em nossa capacidade de vivenciar a plenitude Essencial. A tradição espiritual sugere, além disso, que a estrutura de nossa personalidade se forma buscando compensar essas lacunas de desenvolvimento. A personalidade é como o gesso que protege um braço ou perna quebrados. Quanto maiores as fraturas originais, mais gesso terá de ser usado. Sem dúvida, o gesso é necessário para que o membro se recupere e volte a funcionar como antes. Mas, se jamais o retirarmos, ele limitará terrivelmente o uso do membro atingido e impedirá seu desenvolvimento. Algumas pessoas são obrigadas a desenvolver uma personalidade equivalente a um molde de gesso que recobre o corpo todo. Ninguém atravessa a infância sem alguma necessidade de proteger-se contra futuras mágoas.
Vista como um molde temporário, a personalidade é um recurso útil e essencial porque protege as áreas da alma que mais necessitam. Esse molde de gesso é mais reforçado onde nós somos mais vulneráveis. Assim, a personalidade não só nos ajudou a sobreviver psicologicamente como também pode, a partir de agora, orientar-nos quanto ao que mais precisamos fazer em nosso trabalho de transformação.
Mensagens Perdidas na Infância
Se recebemos na infância muitas mensagens que nos limitam, existem também mensagens que toda criança precisa ouvir. É possível que tenhamos recebido pelo menos algumas delas, mas certamente não todas. A Mensagem Perdida, aquela que não foi ouvida (mesmo que tenha sido emitida), geralmente se torna o problema principal da criança e o cerne de seu Medo Fundamental. Assim, a estrutura da personalidade adulta faz tudo que pode para levar os outros a dar-nos a Mensagem Perdida que jamais chegamos a receber como deveríamos.
Leia as seguintes Mensagens Perdidas e observe qual o impacto que provocam em você. Qual delas mais precisava receber? Qual o efeito que tem o reconhecimento dessa necessidade sobre você?
Tipo Um: "Você é bom."
Tipo Dois: “Você é querido.”
Tipo Três: "Você é amado pelo que é."
Tipo Quatro: "Você é visto como é."
Tipo Cinco: "Suas necessidades não são um problema."
Tipo Seis: “Você está seguro.”
Tipo Sete: "Você não será abandonado."
Tipo Oito: "Você não será traído."
Tipo Nove: "Sua presença é importante."
Todavia, como a maior parte da personalidade é simplesmente um conjunto de crenças, medos e reações condicionados e não o nosso verdadeiro Eu, a identificação com ela provoca um profundo auto-abandono. A vivência da identidade deixa de ter seu objeto na nossa verdadeira natureza e passa a fixar-se na couraça de defesas que tivemos de criar. Enquanto acreditarmos que somos nossa personalidade, continuaremos identificados com ela. Uma das maiores razões para a nossa resistência à mudança é que a volta à Essência sempre implica a dor do auto-abandono. Quando nos dispusermos a dizer: "Quero ser quem realmente sou, quero viver na verdade", o processo de resgate de nós mesmos terá começado.
Por isso, ao trabalhar com esse material, estamos sujeitos a descobrir verdades a nosso respeito de que jamais suspeitamos e a reviver antigas mágoas, medos e raivas. É por essa razão que é importante cultivar a compaixão em relação a nós mesmos: temos de amar-nos o bastante para saber que valemos o esforço de conhecer-nos como realmente somos. Temos de amar-nos o bastante para saber que, mesmo que fiquemos ansiosos ou deprimidos, não nos abandonaremos de novo. Quando queremos viver a verdade de quem fomos e quem somos agora e quando queremos curar-nos, nossa verdadeira natureza emerge. O resultado é garantido: só precisamos revelar-nos.
A Essência Não Pode Ser Perdida Nem Danificada
Independentemente de seu passado, pode ter certeza de que mesmo as mais traumáticas experiências de infância não podem danificar nem destruir sua Essência. Ela continua pura e imaculada, mesmo que tenha sido constrangida e obscurecida pelas estruturas da personalidade. Se nossa família for muito desajustada, essa estrutura será extremamente rígida e restritiva. Se nossa família for mais ajustada, a estrutura de nossa personalidade será mais leve e flexível.
Os que provêm de famílias muito desajustadas podem animar-se ao saber que o eu Essencial que há em nós permanece intato e à procura de meios de manifestar-se. No início, talvez tenhamos que empenhar muito tempo e esforçar-nos para suprir as lacunas de nosso desenvolvimento, mas o âmago de nosso Ser sempre nos apoiará. É bom repetir: por mais sofridas que sejam as experiências da infância, nossa Essência não é afetada. Ela está à espera de uma oportunidade de manifestar-se. A verdade é que nós sempre estamos esperando a oportunidade de ser quem somos. Nosso espírito almeja libertar-se, expressar-se, voltar à vida, estar no mundo da forma como deveria.
E, no entanto, ironicamente receamos abrir-nos aquilo que é mais verdadeiro em nós e resistimos a essa ideia. Porém, quando confiamos no processo e nos entregamos a ele, nossa verdadeira natureza vem à tona. O resultado é verdadeira integridade, amor, autenticidade, criatividade, compreensão, orientação, alegria, força e serenidade todas as qualidades que sempre exigimos da personalidade.
(Traduzido de "The Wisdom of the Enneagram", de Don Richard Riso & Russ Hudson, por ~mamado frentista)
Comments